XII - Atração

     Da coxia, Olivia ouvia Richard agradecer a todos pela presença. Já era domingo e aquele era o quarto dia desde que ela retornou aos palcos. Na quinta-feira, assim que saiu do palco debaixo de palmas, ela chorou abraçada à Megan. Na sexta, conseguiu conter suas lágrimas. No sábado, saiu sorrindo. No domingo se sentiu parte do espetáculo mais uma vez. Oscar estava apoiado na parede combinando o próximo ensaio enquanto Olivia removia a sua maquiagem quando Megan chegou saltitante.


– Liv, seu irmão convidou a gente pra uma festa de alguns ami... Oi Oscar, tudo bem? – a ruiva abriu um sorriso forçado e ele acenou a cabeça para ela.

– Você quer ir em festa dos amigos do meu irmão?! – torceu o nariz – Você sabe que o pessoal normalmente é meio babaca.

– Qual é, Liv! A gente não sai desde que você estourou seu pé! – cruzou os braços feito uma criança contrariada – Vai ser aqui perto, é uma casa... Vamos, por favor!

– Exatamente, vai que eu estouro o outro?! – riu.

– Oscar, fala pra ela vir com a gente? – virou-se para ele.

– Você deveria ir com eles – Oscar deu de ombros e Olivia percebeu um sorriso querendo se formar em seu rosto, deixando claro que ele falou apenas para contrariá-la.

– Eu vou com uma condição – encarou Megan pelo espelho e desviou os olhos para o rapaz – Eu vou se o Oscar for também – sorriu ao vê-lo fechar a cara.

– Bom, eu não estava esperando por isso, mas... que ótimo, nesse caso vamos em dois carros, vou pegar a chave da caminhonete. Beijinhos!


     Megan saiu apressada atrás da chave do carro, já Oscar encarava Olivia com cara de poucos amigos. Ela já estava acostumada com a cara amarrada dele e sequer se importou, apenas sorriu para o rapaz e voltou a remover sua maquiagem.


– Eu não acredito que você fez isso – Oscar cruzou os braços e negou com a cabeça.

– Isso o quê? – Olivia abriu um sorriso cínico.

– Me obrigou a ir nessa festa.

– Eu não coloquei uma faca no seu pescoço.

– Mas se eu não for, as pessoas vão me culpar por você não ir, e você sabe bem que eles já não gostam muito de mim.

– Isso não é verdade...

– Olivia... eu não sou idiota.

– Tá, você tem razão. Mas se estiver chato, o que provavelmente vai estar... eu deixo você vir embora – deu de ombros.

– Ou seja, eu vou sair de casa à toa.

– Não vai ser à toa, você vai comer e beber de graça.


     Olivia piscou um olho e foi até seu trailer para trocar o figurino por uma calça jeans e uma blusa menos chamativa e circense. Precisou parar para ouvir todas as recomendações do pai enquanto se arrumava, mesmo já sabendo todas elas de cor.


– Não encher a cara, ficar de olho no Adam, não chegar tão tarde, não sair sozinha com a Megan na rua... tudo bem, pai, já entendi – falou ao calçar suas botas e pegar sua bolsa.


     No estacionamento, Oscar a esperava ao lado do carro enquanto os outros conversavam entre si. Estava arrependido de ter aceitado ir nessa festa, nem haviam saído do circo ainda e já se sentia deslocado. Não demorou para que a visse caminhando em direção ao grupo com um sorriso nem tão animado assim. Assim que chegou até eles, todos se dividiram nos dois carros. Adam, Jack, Jacob, Grace e Alice foram confortáveis no carro de cinco lugares, já Benjamin e Oscar foram na cabine da caminhonete enquanto Olivia e Megan sentaram-se na carroceria aberta.

     Quando chegaram na festa, não esconderam o espanto. Pensaram que estaria muito mais vazia – principalmente por se tratar de um domingo ­– mas o local estava cheio e a música alta. Benjamin estacionou no pátio de terra batida em meio a outros carros e foi atrás de algo para beber junto de Jack e Jacob. Logo o restante do grupo se dispersou. Adam foi cumprimentar seus amigos, Grace e Alice estavam dançando e interagindo como se conhecessem todo mundo, já Megan, Olivia e Oscar ficaram parados na entrada, observando aquele mar de gente.


– Onde será que está a comida? – Megan falou ao ficar na ponta dos pés, procurando entre as pessoas.

– Eu só queria um lugar pra sentar – Olivia reclamou ao sentir o tornozelo fisgar.

– Pode parar com seus ataques de velhice! – Megan a repreendeu e se virou para o rapaz – Oscar, aproveita toda essa sua altura aí e vê se encontra a comida.

– Segue reto e vira à direita, parece ser a cozinha.


     Oscar respondeu enquanto esticava o pescoço para ter certeza. Megan agradeceu e saiu em direção ao cômodo indicado por ele, muitas vezes desviando das pessoas que dançavam e conversavam pela sala. Olivia pediu para o rapaz aproveitar toda a sua altura também para encontrar um lugar onde pudessem sentar. Ele sorriu e a guiou até os degraus de uma escada, saindo em seguida à procura de algo para tomarem. Não passou muito tempo até que retornasse com duas garrafas de cerveja.


– Obrigada – pegou a cerveja de sua mão – Você viu a Megan por aí?

– Nem sinal dela – sentou-se ao seu lado – Deve estar comendo alguma coisa.

– Ou deve estar atracada a alguém por aí – Olivia riu.

– Você pensa muito mal de mim, Liv! – Megan surgiu com uma vasilha cheia de salgadinhos – Estão servidos?

– Você estava ouvindo a nossa conversa?! – sua amiga perguntou.

– Vocês estão falando alto – deu de ombros – Mas vocês vieram pra ficar sentados aí?! Pode parar com isso, Olivia. Eu sei o quanto você gosta de dançar, vem!

– Mas e o meu pé?!

– Ainda está grudado na perna! Sem desculpas, vem!


     Olivia sequer conseguiu se defender e já estava sendo arrastada por Megan até o local em que a música estava mais alta. As duas dançavam em meio às outras pessoas, já Oscar as observava de longe enquanto terminava sua cerveja. Era engraçado como a morena estava mais contida em seus passos, já a ruiva dançava como se ninguém estivesse olhando – além de estar com sua vasilha de salgadinhos, o que tornava a cena ainda mais cômica.

     O fim da noite foi chegando e a maioria das pessoas foram embora, deixando o lugar quase vazio. Olivia percebeu quando Megan começou a conversar de forma galante com uma moça desconhecida e se afastou com a desculpa de que iria ao banheiro. Andou pela casa à procura de seu irmão e o encontrou onde menos queria – sentado em uma mesa de jogos. Não pensou duas vezes, foi até Adam em passos duros e o arrancou da mesa o puxando pelo braço.


– Você não vai fazer isso de novo! – Olivia tentou arrastá-lo para fora do cômodo, mas não conseguiu.

– Eu já falei pra você cuidar da sua vida, Olivia! – Adam sussurrou para que seus colegas não ouvissem.

– Eu cuidaria, se meu irmão não fosse um babaca e eu não precisasse me preocupar com ele a cada cinco minutos! – ela praticamente gritou.

– Vai embora, Olivia – Adam falou calmamente.


     Olivia olhou ao redor da sala e viu os amigos de Adam dando risada disfarçadamente. "Vocês são ridículos. Todos vocês", falou em alto e bom tom, fazendo questão que todos ouvissem. Soltou o braço do irmão e saiu bufando de raiva. Desceu as escadas e encontrou Benjamin conversando com Jack, os dois estavam claramente bêbados. Pediu a chave do carro para Jack e saiu pela porta, sentindo a noite gelada que até então era camuflada pelo calor da casa.


– Você vai embora?


     Olivia ouviu a voz de Oscar e se virou. O rapaz estava sentado em um degrau de concreto com seu cigarro como companhia. Caminhou até ele com os olhos cheios de lágrima, mas não derramou nenhuma. Sentou-se ao seu lado e pegou o cigarro de sua mão. Deu uma tragada e tombou a cabeça para trás, a apoiando na parede de pedras. Soltou a fumaça no ar.


– Você quer conversar? – ele perguntou.

– Eu estou de saco cheio.

– De quê?

– Não quero falar sobre isso agora senão vou chorar, e eu não quero chorar na sua frente.

– Tudo bem – acendeu mais um cigarro, já que Olivia roubou o seu.

– Você conseguiu aproveitar a festa? – virou o rosto para ele.

– Estou sentado aqui fora há pelo menos duas horas.

– Por que você não me chamou?!

– Você estava se divertindo – deu de ombros – Não queria atrapalhar.

– Você poderia ter aproveitado pra conhecer alguém. Acho que todos os meninos se deram bem hoje. E a Megan também... – esboçou um sorriso.

– Não tem ninguém que me interesse lá dentro – sorriu.


     Olivia poderia ter entendido isso como uma indireta, mas era ela quem pensava nele com mais frequência desde o ensaio da quinta-feira, não o contrário. Oscar no fundo queria que ela tivesse entendido, mas tinha a certeza de que ela jamais se atrairia por alguém como ele. E era apenas isso – uma atração. Ambos tinham medo de se deixar levar pelo clima propício daquela festa e perderem a amizade que vinham construindo.


– Tem certeza que não quer falar sobre o que te estressou? – Oscar perguntou ao perceber seu rosto tenso, só não imaginou que ela estava pensando justamente nele.

– Eu não aguento mais ter que cuidar do meu irmão – deu um trago em seu cigarro.

– Você fala como se ele tivesse quinze anos.

– Ele tem o dobro disso – revirou os olhos – Mas age eternamente como um adolescente.

– Ele é responsável pelos próprios atos, não você.

– Mas as atitudes dele acabam prejudicando o meu pai. Eu não me importo comigo, sabe? Mas meu pai já passou por tanta coisa que não merecia mais os problemas que o Adam causa.

– Qual é o problema dele com o seu pai?

– Todo mundo sabe, Oscar – ergueu as sobrancelhas.

– Eu não sou todo mundo, já te disse.

– O Adam é viciado em jogos. Ele aposta todo o dinheiro dele e quando já perdeu tudo, ele pega empréstimo com agiotas. Da última vez ele foi ameaçado de morte, desde então a nossa vida ficou mais difícil, aí teve o meu acidente e tudo começou a se complicar de novo.

– Ele vive sem pensar nas consequências – tragou seu cigarro mais uma vez – Você pensa pelos três.

– É exatamente isso. E é por não pensar nas consequências que ele tá jogando lá em cima e já me mandou ir embora. Mais uma vez eu estou vendo ele vai acabar com a nossa família e não consigo fazer nada.


     Dessa vez Olivia não conseguiu segurar as lágrimas. Pensar no que poderia acontecer dessa vez a deixava nervosa demais, não sabia se aguentaria ver sua família desmoronar mais uma vez. Oscar se aproximou e passou o braço por seu ombro. Olivia tombou a cabeça em seu peito e se deixou chorar até acalmar, o que não levou tanto tempo.


– Obrigada por me emprestar seu ombro – ergueu seu rosto em direção ao dele.

– Não sou muito bom em consolar, mas meu ombro está à sua disposição.


     Oscar esboçou um sorriso ao responder e sutilmente abaixou seu rosto até ficar bem próximo ao dela. Suas respirações estavam misturadas e por alguns segundos o medo de perder a amizade desapareceu. Oscar a olhou nos olhos e Olivia sustentou o olhar.

     "Meu Deus, minha amiga foi embora sem mim! Olivia, cadê você?!", ouviram a voz completamente bêbada de Megan vindo do lado de dentro da casa e recuaram rapidamente, sentindo uma vergonha evidente. Agradeceram mentalmente pela interrupção de algo que tinham certeza de que se arrependeriam depois. Ou não.

Olá meus amores! Como estão?
Hoje eu decidi colocar uma foto do Oscar na mídia porque sim haha

E quando pensamos que o beijo ia finalmente sair, Megan atrapalhou... será que vai demorar pra rolar de fato?

É isso, espero que estejam gostando, estou tentando terminar esse livro o quanto antes e estou ansiosa pra postar tudo!
Beijinhos e até a próxima! ♥

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