1. O abominável mundo de Gia - Degustação

"Por que eu não nasci uma Kardashian?" era uma indagação recorrente no abominável mundo de Gia. Em especial quando perdia parte do meu precioso tempo livre esperando numa fila idiota para comprar café.

Apostava que as Kardashian não enfrentavam fila nenhuma. Nem me admiraria se elas tivessem uma cafeteria particular em cada lugar que fossem. Enquanto isso, a única coisa que eu havia herdado, além de dezenas de roupas brancas para "treinar para quando eu fosse médica", era o fardo de ser algo que eu não queria ser.

Mas, antes que eu pudesse me aprofundar na camada mais obscura do meu abominável mundo, o celular apitou com a chegada de uma nova mensagem:


Olá, Geórgia, já estou aqui no local marcado. Tomei a liberdade de comprar um donut para você.


Contive um revirar de olhos devido à formalidade da mensagem. O indivíduo poderia estar em qualquer lugar da cafeteria. Era difícil notá-lo porque era tão franzino! E era mais difícil ainda desprezá-lo porque estava salvando minha pele.

Aliás, por falar em pele, olhei em volta na tentativa de localizar alguém pálido e de aspecto insalubre. Nada feito. Aquele menino era tão sem sal e sem açúcar que, mesmo depois de quatro encontros, eu ainda não tinha gravado seu nome.

Como era mesmo? Yung? Chang?

Qualquer coisa que soasse bizarra nesse estilo.

De qualquer forma, havia salvado o contato como Japa. Muito embora, no café que tomáramos anteriormente, ele houvesse esclarecido que não tinha ascendência japonesa, que alguém da sua família, que não me lembrava quem, viera de outro canto da Ásia.

Desnecessário dizer que tampouco lembrava qual canto.

Francamente, a Ásia era o maior continente do mundo, tenha dó! Como eu ia me lembrar das características específicas de cada lugar?


É de doce de leite.


O Japa que não era japa mandou outra mensagem, ainda que eu não tivesse respondido a primeira. E insistiu:


Lembro que da última vez você disse que era seu sabor de donut favorito.


Parecia que estava zombando da minha falta de memória quanto às origens dele com sua lembrança supersônica sobre um detalhe que havia mencionado por alto. Horripilante como uma mesma situação afetava as pessoas de forma tão distinta. Meus encontros com aquele rapaz se baseavam em disfarçar o tédio enquanto ele guiava uma conversa mole, cheia de formalidades a respeito de coisas aleatórias e dos progressos de nossos trabalhos.

Eu assentia, fingindo que entendia o que ele falava. Ele tomava notas, fingindo que eu ajudava em alguma coisa.


Já estou indo.


(Continua...)

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