TREZE
Naquele dia Shawn e Caio não apareceram. Leo estranhou na hora. O monitor Roger disse que eles haviam cumprido todos os seus horários e que agora eram pessoas livres.
"Eles estavam aqui há mais tempo que vocês três", foi apenas o que ele disse, antes de seguir com a programação normal. "Bom. Hoje há bastante coisa pela frente, afinal, são 4 horas a mais."
"Infelizmente", Valerie disse baixinho, olhando para os seus converses. Naquele dia ela parecia um pouco mais leve no quesito estilo, usando uma blusa listrada seguindo as cores do arco-íris e um jeans de cintura alta, que deixava suas canelas um pouco à mostra. Suas mechas estavam amarradas em um rabo de cavalo alto. Para a surpresa de Leonardo (e de muitas outras pessoas, assim ele esperava) ela não estava usando nada escuro no rosto também, o que contribuiu absurdamente para o tipo estranho de serenidade que ela passava.
"Eu ouvi isso mocinha. Devia ter pensando em tudo isso quando estava infringindo alguma lei", ele lançou um rápido olhar a sua inseparável prancheta. "Hoje vocês vão configurar os computadores do Giny. Eles chegaram ontem à tarde e não sairam de suas caixas."
"Eu tenho cara de técnico agora?", Travis cuspiu em um tom bastante ácido. O monitor Roger levantou uma sombrancelha.
"Vai ter cara de um detento se continuar falando comigo desse jeito", ele lançou um olhar gélido ao garoto e depois apontou para as largas e compridas escadas que davam acesso ao prédio. "Vamos lá, garotada."
Leo subiu as escadas animado. Aquela coisa sobre computadores só podia ser coisa do destino! Não que ele pudesse ficar fuçando em algo que não era seu, com um supervisor na sua cola, observando tudo. Mas desde que Lizzie cortara o plug da sua máquina, ele sentiu a grande necessidade carregar consigo os CDs que armazenava todos os dados a respeito do seu segredo. Não podia arriscar a perdê-los também. Naqueles últimos meses, aquelas informações eram seus bens mais preciosos.
Ele não os acessara desde a noite em que foi levado à delegacia. Não se lembrava direito de todas a teorias que ele havia montado em cima do sistema de ensino em que milhões de jovens eram obrigados a se submeter em todos os dias úteis da semana, mas tinha certeza de que se tudo o que ele havia reunido fosse verdade, aquela pequena cidade nunca mais seria a mesma. O país não seria mais o mesmo.
Eles entraram em uma sala mais estreita, que parecia bastante com um gabinete de trabalho. Haviam quatro caixas de papelão em cima de algumas mesas que estavam separadas por uma divisória branca, como aquelas típicas de escritório. Uma música do Michael Jackson soava ao longe, como se ele estivesse preso em algum canto por ali e tivesse decidido cantar para passar o tempo. Leo riu daquele pensamento.
"Não é nenhum bicho de sete cabeças. Tudo está escrito no manual. Volto daqui alguns minutos para checar o progresso de vocês."
Ele saiu com pressa, como se precisasse urgentemente ir a algum lugar. Travis e Valerie levantaram dedos médios para as suas costas.
"Bom, eu odeio computadores", Travis se jogou em uma cadeira rotatória, olhando com desinteresse para as caixas. "Não lido muito bem com tecnologia."
"Meu irmão mais velho é viciado em qualquer coisa que tenha uma tela e acenda, então acho que sei um pouco", comentou Valerie. "E você, Leonardo?"
Leonardo. Ele se assustou com aquela garota dizendo seu nome pela primeira vez. Sem um tom irônico ou nada do tipo. Ficou enrrusbecido por um milésimo de segundo.
"Ah eu... Eu tenho uma máquina. Como Robert disse, não é nenhum bicho de sete cabeças."
Ela concordou rapidamente com a cabeça. Depois começou a abrir as caixas e pediu ajuda aos dois garotos para organizar os equipamentos e conectar seus devidos fios.
Durante todo aquele processo, nenhum dos dois fizeram comentários sarcásticos à Leonardo nem riram das suas roupas. Pela primeira vez, ele parecia estar sendo respeitado naquele lugar e ironicamente não estava gostando muito daquilo.
"Eu acho que está tudo okay", ele olhou para as máquinas, já instaladas em suas devidas mesas. De repente, se lembrou do bolso interno da sua jaqueta e dos dos seus CDs que estavam escondidos nele.
"Por que vocês estão assim?"
"Assim como?"
"Diferentes comigo. Não fizeram piadinhas com meu visual hoje nenhuma vez, por exemplo."
"Por que, quer que eu comece?", Travis ergueu uma sombrancelha. "Esses seus sapatos são horríveis. Me lembram a vez em que-"
"Cala a boca Travis", disse Valerie entredentes. Ele levantou as duas mãos como se tivesse se rendido. "Olha, Leonardo... Caramba seu nome é tão estranho! Por que Leonardo e não Leonard?"
"Minha mãe queria honrar o lado italiano da família."
"Ah...", ela se recostou em uma mesa. Seus olhos pareciam sérios. "Eu só queria te dizer que aquela coisa de te ficar zoando ficou no passado. Até porque ficar procurando defeitos em uma pessoa para depois criticá-la, demanda de muita energia e só Deus sabe o quanto eu estou cansada com todos esses trabalhos manuais."
"Eu ainda tenho muita energia", Travis comentou por cima.
"Eu já te disse para calar a boca", ela olhou feio para ele mais uma vez. Travis desviou o olhar e começou a assobiar. "Eu acho que você nem é assim tão careta. Só não foi apresentado devidamente a qualquer coisa da moda."
"Sinto muito, mas se a definição de estar por dentro da moda é ouvir Backstreet Boys e usar camisas que parecem ter sido tingidas por hippies drogados, estou muito feliz sendo um careta."
"Agora é você que está nos ofendendo", Travis disse em meio ao assobio. "Parece que o jogo está virando, não é mesmo?"
"Ninguém aqui disse nada sobre Backstreet Boys", Valerie cruzou os braços. "Estamos falando sobre você começar a entender nosso estilo de vida e nós entendermos o seu."
"Vocês querem ser meus... amigos?"
"Acho que trégua seria a palavra mais indicada pra definir o que estamos prestes a selarmos aqui", ela desviou o olhar e mexeu repetidamente em uma mecha do cabelo. Parecia um tanto desconfortável. "Tá, eu sei que não somos exatamente pessoas que você sonhava em estar próximo, mas depois de ontem eu decidi que não devíamos ficar te atacando ou coisa parecida."
Aquela frase o surpreendeu. Ele não conseguiu disfarçar e um sorriso surgiu aos poucos nos seus lábios. Travis olhou para o teto, como se não quisesse fazer parte daquela conversa.
"Eu acho isso demais. A coisa da trégua, eu quero dizer. Também não concordo sobre todas estas coisas ruins que estavam rolando entre todos nós."
Valerie assentiu e encarou o garoto, parecendo lutar para não sorrir também. Travis bufou, levantando-se da cadeira.
"Tudo está bem então. Paz mundial. Agora vamos fazer alguma coisa maneira, além de ficar enfurnado aqui olhando essas telas cheias de pixels?"
"Eu poderia pedir um favor a vocês?", Leonardo pediu, se sentindo um tanto motivado. "Eu realmente estou a fim de quebrar alguma regra hoje também. Uma que tem a ver com essas máquinas, na verdade."
"Sério? Você o garoto n-"
"Sim, o garoto nerd. Já pensei que havíamos passado dessa fase, Travis", ele olhou para os dois. "Posso contar com vocês? Para vigiar a porta por alguns minutos?"
"Vai ter que nos contar alguma coisa sobre isso então", foi a exigência de Valerie ao caminhar em direção a porta. "Se mentir algo sobre também está ferrado."
Leonardo deu um olhar a garota como se perguntasse que tipo de trégua era aquela e ela fingiu não notar.
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