OITO


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"O que vocês preferem? Uma viagem para New York City ou Los Angeles?", Lizzie bateu em duas caixas de papelão, que estavam com aberturas retas e estreitas no topo, como um cofre. "Pensem que esse será o nosso último passeio juntos. Escolham com o coração. Cada um depositará um papel na urna com o destino desejado."

Várias meninas começaram a soltar gritinhos animados, o que fez Leonardo desejar estar em qualquer lugar, menos naquela sala de aula. Até mesmo no Giny's Rock, com todas aquelas pessoas de mal caráter. Uma pena o teletransporte existir apenas no mundo fictício.

"O que fazer quando as duas opções são uma merda?", Leonardo se virou para Ronald que estava com a testa franzida. "Escolher a menos merda?"

"Acho que vou seguir essa sua linha de raciocínio", Ronald rabiscou algo em um pedaço de papel e levantou a cabeça na direção do amigo. "Ei, você não acha a sua irmã a cara daquela atriz que estrelou o filme as Patricinhas de Beverly Hills? Porque ela é. Você acha que se eu chamá-la pra minha casa no sábado ela vai topar?"

"Claro", ele abriu um sorriso animado, cheio de expectativas. "Que não, né. Você acha que minha irmã vai abandonar as amigas que amam Spice Girls e francesinha nas unhas para passar um final de semana ao lado de uma máquina de jogos?"

"Talvez sim. Ela nunca jogou, certo? Pode ser que ela adquira o gosto pelo fliper comigo. Talvez até me agradeça, no fim das contas."

"Cara, a Lizzie Norris que eu conheço provavelmente não é a mesma que você conhece", Leonardo indicou a garota com a cabeça. "Fica vendo só. Quando Samuel Jordan se levantar para colocar o papel na urna, ela vai tentar fletar com ele. Talvez enrole uma mecha do cabelo no dedo ou pior, o toque em qualquer lugar."

Ronald e Leonardo prestaram atenção quando Samuel Jordan levantou-se da sua cadeira e foi em direção às urnas. Lizzie e o restante do comitê de formatura estavam ali na frente de todos com os típicos sorrisos esperançosos e olhos que brilhavam mais que as lâmpadas da sala da aula.

Quando ele se aproximou da urna Los Angeles escrita com canetão preto, Lizzie se aproximou lentamente como um gatinho, em busca de um carinho. Samuel e ela começaram a conversar. Ela realmente começou a enrolar uma mecha do cabelo e piscar os olhos mais vezes que o normal. Não era segredo para Leonardo que sua irmã tinha um fetiche por atletas de todo tipo, principalmente os que frequentavam o colégio, porque ela poderia admira-los de perto. Se o cara praticasse algum tipo de esporte, então ele já estava no radar de Lizzie Norris.

"Como você sabe de tudo isso?", Ronald quis saber, olhando com descrença para a frente da sala.

"Não sei te explicar, só sei. Minha irmã é uma garota totalmente previsível."

"Posso entrar?"

Os garotos viraram suas cabeças em direção a voz. Valerie estava na porta da sala com sua bolsa-saco pendurada em um dos ombros. Suas pálpebras estavam baixas, como se ela não tivesse dormido bem ou se tratando dela podia ser só fruto do tédio, mesmo.

Hannah lançou um olhar intimidador para a garota.

"Não tem professor na sala, esquisita."

"Obrigada pela informação garota-glitter",  Valerie entrou na sala, mas estacionou no meio do caminho e estreitou os olhos em direção a garota. "Ops. Não sei se é apenas uma impressão minha, mas acho que há algo verde entre os seus dentes."

"Eu não vou cair nessa, caloura", foi o que ela disse, mas segundos depois  revirou os olhos e caminhou discretamente até sua bolsa que estava em cima da carteira. Leonardo reparou no minúsculo espelho que ela tirou de lá.

Por que garotas populares são tão inseguras?

"Por que elas se preocupam mais com o que os outros vão pensar do que uma pessoa normal?", Valerie se aproximou à carteira vazia na frente de Leonardo. "Eu fico enjoada só com a a possibilidade de me importar com o que os outros pensam sobre mim. Mas enfim. Como vai ABC?"

"Vocês se conhecem?", Ronald arregalou os olhos. Valerie o olhou de relance para ele, mas voltou seu foco para Hannah, que checava os dentes no seu espelhinho. Ela encontrou o olhar de Valerie e levantou um dedo médio. Ela apenas sorriu acenando ironicamente.

"Tanto quanto eu te conheço, nerd. Se lembra do acontecimento de ontem? Vocês não tiveram a decência de se defenderem daqueles atletas imbecis."

"Eu não estava a fim de levar um murro na cara, obrigado."

Ela apenas soltou um suspiro, sentando-se na frente de Leonardo. Ele sentiu o perfume cítrico que veio do seu cabelo, quando ela se virou de repente para ele.

"Temos que combinar algo."

"Combinar o que?"

"Ué, você sabe", ela fez uma pausa, arregalando os olhos para ele. "Se você não quiser que todo mundo saiba que você vai passar todas as tardes na-"

"O que vocês estão murmurando?", Ronald esticou o pescoço. "Leo vai passar todas as tardes onde?"

O garoto engoliu em seco. Pego no flaga.

Agora ele estava ferrado. Muito ferrado.

"Na minha casa."

Os dois arregalaram os olhos para Valerie.

"Na sua casa?"

"Sim, eu sou nova aqui e esse colégio realmente tem um nível muito bom. Estou meio atrasada em quase em todas as matérias. Seu amiguinho nerd topou me ajudar a botar os conteúdos em dia."

"Ela me paga dez dólares por dia", Leonardo completou, fazendo as rugas de que cercavam os olhos estreitos de Ronald desaparecerem.

"Uau, é um bom negócio. Se lembra quando tive que dar umas aulas de espanhol para aquele aluno do intercâmbio? Ganhei apenas quarenta dólares em três semanas. Me arrependo amargamente disso até hoje."

"Que roubo. Bom, papo super interessante",  Valerie se levantou e apontou para a sua bolsa. "Tenho que ir ao banheiro. Fiquem de olho na minha bolsa."

Ela caminhou em direção à saida, dando um sinal de jóia para Hannah que estava sentada em uma carteira encostada na lousa e checava seu rosto. Hannah levantou  mais uma vez um dedo médio.

"Ela está mexendo com fogo", Ronald olhou para a gente da sala. "Quando você conversou com essa menina? Não acha ela meio esquisita, com essas roupas rasgadas? Me disseram que ela foi expulsa do colégio que ela estava frequentando."

"Quem disse? E por que ela foi expulsa?", questionou, mais para desviar um pouco do assunto.

"Ei, eu não sei. É o que todo mundo está dizendo. Dizem também que ela até arrancou as bolas de um cara.  Aparentemente é a personificação da palavra encrenca."

Leonardo de repente se lembrou sobre ele não dizer coisas que ela não havia feito ou dito e do quanto ela parecia séria (e assustadora) dizendo aquilo.

"Não é como se eu lhe desse motivos para ela arrancar qualquer parte do meu corpo."

***

No horário do intervalo, Melanie Roberts, vice presidenta do grêmio, se sentou do seu lado na cafeteria.

"Norris, você não estaria interessado em integrar ao nosso grêmio estudantil? Você deve estar sabendo que o nosso ex-presidente, o Dylan Ruiz foi morar com o pai em Londres. Nenhum integrante se sente confiante para ocupar o cargo."

Leonardo quase cuspiu o seu suco. A cafeteria estava lotada e sua sanidade mental estava sendo preservada, pois
Lizzie não estava de marcação naquele dia, apesar da noite anterior. Quando chegou em casa, sua mãe estava prestes a ligar para a polícia, mesmo que isso fosse comprometer o segredo que eles haviam prometido não revelar a ninguém. E ele só havia chegado uma hora a mais que o estipulado, o que não era nenhum tipo de catástrofe.

Ronald abriu um sorriso.

"Parece que todas as meninas estão atrás de você hoje, cara."

Melanie lançou um olhar feio ao garoto, e ele se apressou em fingir que estava totalmente concentrado no livro que estava no seu colo.

"Eu não acho uma boa ideia", Disse Leo. "Tomar um cargo como esse e bem no meio de ano, é loucura. Estou concentrado e ocupado em outras coisas."

"Tudo bem, era apenas um convite. O diretor Hunt nos indicou você. Disse que é um dos melhores alunos que já pisaram neste colégio."

"Ele disse isso?"

"Sim. Eu ficaria honrada se dissessem algo de mim assim", ela deu um aceno para uma garota do clube de teatro. "Ah eu tenho que ir. Caso mude de ideia, não tenha hesitação em me procurar. Tenham um bom almoço, garotos."

Leonardo sentiu algo estranho cruzar sua espinha ao pensar naquele convite. O diretor Hunt era um bom sujeito, mas não era de ficar bajulando tanto assim os alunos. Na verdade, ele sempre dizia que fazer o colégio crescer era a obrigação de cada indivíduo matriculado na instituição.

"Eu não ia pensar duas vezes antes de aceitar esse convite. Dylan Ruiz era uma espécie de Albert Einstein. Nos últimos três anos ninguém além dele ocupou esse cargo!"

"Eu pretendo é fugir dele. Do cargo eu quero dizer."

"Ah sim, me lembrei. Você vai estar muuuito ocupado ensinando o abecedário pra garota-eu-arranco-órgãos-genitais."

"Aí está o problema: se eu não ensiná-la, darei motivos para que faça picadinho de mim."

"Você está ferrado, cara."

O garoto assentiu. Ele estava mesmo ferrado, só que ninguém além dele imaginava o quanto.

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