NOVE


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Quando o último sinal do dia soou, alunos pularam das suas carteiras se espreguiçando com sorrisos de alívio em seus rostos e jogando os materiais com pressa nas bolsas. Para muitos ali, o último sinal soava como um acordo mundial de paz.

Leonardo fechou o zíper da mochila e colocou as alças nos ombros, se afastando o mais rápido que podia da irmã. Ela parecia bem distraída, conversando com uma garota do comitê de formatura (Hannah não fazia aquela aula com eles). Desceu os degraus até estar nos portões de saída e torceu para que ninguém o flagrasse andando na direção oposta à da sua casa.

"Ei fracassado, me espera!"

Ele se virou com aquela voz. Valerie correu ao seu encontro, jogando o cabelo com mechas rosas que batia no seu rosto para trás.

"Pensei que você não quisesse andar comigo."

"Dentro do colégio ABC. Aquele não é meu território. Aqui na rua é totalmente diferente. Sei me defender."

Ao contrário de você suas sombrancelhas franzidas diziam, mas ele tratou de ignora-las rapidamente. Bem, Valerie carregava uma expressão convincente, o tipo de expressão que sugeria que a menina conseguiria se proteger de até um lutador de sumô de 120 quilos, se fosse preciso. E isso de alguma forma, lhe causava arrepios nada bons.

"Aquele homem que você brigava na delegacia naquela noite era um inimigo em potencial?", a pergunta era para ter ficado na sua mente, não sair em voz alta, entretanto foi isso o que aconteceu. Ele praguejou a si mesmo baixinho. "Olha, ignora isso. Eu só queria dizer-"

"Não é da sua conta." Ela retrucou, ajeitando o colete jeans. "Você não tem nada a ver com isso."

"Me desculpe."

Ela não respondeu, apressando os passos e se afastando dele.

***

"Ei seu otário." Travis bloqueou a escadaria que dava acesso à sala inacabada. "Tem um isqueiro?"

"Não", ele respondeu rapidamente. Estava um pouco ansioso. Depois de Valerie praticamente fugir da sua presença, ele parou para comprar um milk-shake, no mesm McDonald's que ele havia ido ontem, com seu mais novo grupo de colegas delinquentes. Agora ele devia estar uns 10 minutos atrasado.

"Um fósforo? Qualquer coisa que acenda a merda do meu cigarro?", ele sacou um maço de cigarros do bolso frontal da sua calça jeans. "Preciso esvaziar um pouco a mente."

"Bem, acho que há outras maneiras mais saudáveis de-", ele reparou que o garoto estava lhe encarando. "Ah. Eu... eu não tenho."

"Acho que era só isso mesmo o que eu queria saber", ele tirou o braço da parede, dando espaço para que Leonardo pudesse passar, mas interceptou-o novamente. "Ei calma. Lembrei de algo. Quero uma resposta sobre ontem."

"O monitor Roger vai descer aqui se  começarmos a demorar", ele olhou nervoso além dos degraus, esticando o pescoço. Travis fez um estralo com língua, chamando a sua atenção.

"Não há segredo, nerd. Se você me dar o que eu estou querendo, nós dois vamos sair ganhando."

Os olhos escuros do garoto estavam totalmente fixados no rosto de Leonardo. Trevor estava tão perto que ele conseguia sentir o seu bafo de tabaco.

"Bom, se for sobre a lanchonete, eu não fiz nada. Além de aconselhar todos vocês. Ia ser burrice pedir uma quantidade absurda de comida e todo mundo sair correndo sem pagar."

"Você está querendo dizer que nós somos burros? Que eu sou burro?", era claro o seu tom ríspido. "Se foi isso o que quis dizer-"

"Interprete como bem quiser. Eu já te dei a minha resposta. Agora pode me dar licença, por favor?"

Travis piscou os olhos, parecendo estar surpreso. Leonardo também não sabia muito bem o que estava fazendo, afinal, aquele cara não parecia ser uma pessoa que gostava de ser tratado com desdém. Na realidade, tudo indicava que ele era a pessoa que tratava a todos com desdém.

Ele se aproximou ainda mais, obrigando Leonardo usar o bom senso e dar alguns passos para trás.

"Não faça mais isso", foi o que ele disse com os dentes cerrados. "Dizer o que devemos ou não fazer, eu quero dizer. Mas continue com essa coisa de tentar bancar o corajoso, valentão. Te faz parecer menos idiota."

Leonardo apenas se desvincilhou do garoto e subiu a escada com pressa e com uma espécie estranha de orgulho. De alguma maneira, Travis tinha o elogiado no meio da ofensa.

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