DOZE
O final de semana finalmente havia chegado, o que antigamente traria alguma espécie de alívio na vida de Leo Norris. Mas não agora, quando ele era obrigado a estar no Giny's Rock às exatas nove horas da manhã, faça chuva ou sol. Ele puxou suas cortinas com blackout e observou o céu azul e límpido. Para sua sorte ou azar, o dia estava ensolarado. Era como se aquele clima agradável estivesse caçoando dele por estar fadado a passar o dia inteiro pintando paredes quando podia estar fazendo outras coisas mais interessantes.
Quando desceu as escadas para tomar café, se deparou com seu pai e Lizzie sentados à mesa conversando e rindo. O senhor Norris, um sujeito que sempre estava de terno e tinha cabelo grisalho, abriu um sorriso para o filho.
"Fala aí, garotão!", ele bateu no assento vazio ao seu lado. "Se junte a nós! Venha tomar o café ao lado do seu velho!"
Ele se segurou para não fazer uma careta para o pai. Geralmente Steve Norris era um homem que não dava muita importância em conversar com ninguém, além dos seus sócios. Ele não era um homem mal, só não considerava se socializar com a família uma prioridade.
Entretanto, naquela manhã ele realmente parecia a fim de conversar, o que era o que Leo menos queria naquele momento.
"Na verdade, eu só vou pegar uma maçã. Tenho alguns compromissos hoje."
"Tipo o quê? Jogar fliperama?", Cuspiu Lizzie com uma clara acidez.
"Tudo bem então, filhão. Podemos conversar outra hora. O lugar que você vai é longe? Eu posso te dar uma carona."
"Não, muito obrigado. Vou me encontrar com o Ronald. A mamãe está por aqui?"
"Ela está dando um trato no jardim. Diz que o paisagista que nós contratamos semana passada estragou todo o quintal."
Ele pegou sua maçã e saiu pela porta dos fundos, à procura da sua mãe.
Ela estava de joelhos, próximo a um canteiro todo revirado. Segurava uma embalagem com sementes de girassol e cantarolava uma música, quando Leo chamou sua atenção.
"Mãe. Tudo bem?"
"Ah! Sim", ela estreitou os olhos para ele. "Por que? Algo parece que não está bem?"
"Aham. Você está fugindo do papai."
Ela desviou o olhar para a embalagem de sementes e bufou. Seu semblante era semelhante a uma pessoa que estava acompanhando um paciente em coma em um hospital.
"Eu só queria um tempo comigo mesma."
"Mãe, a senhora sempre tem a maior parte do tempo para estar consigo mesma. A pergunta realmente é: Você quer estar com o meu pai?"
Tabitha Norris olhou para o filho como se ele tivesse acabado de dizer que ela era um monstro. Os olhos claros começaram a brilhar e ela se levantou, batendo a sujeira das suas mãos no avental de lona preta que estava amarrado ao redor do seu corpo. Leonardo se arrependeu automaticamente do que havia dito. Por que ele tinha que estragar tudo? Por que não fazer as coisas certas pelo menos uma vez? Lizzie tinha razão. Ele era um grande insensível. Sempre encontrava uma maneira de magoar sua mãe.
Mas o que se seguiu, o surpreendeu. Ela tirou o avental, jogando em um canto qualquer e seguiu em direção a garagem, fazendo sinal para que Leo a seguisse.
"Mãe o que está pensando em-"
"Vou te dar uma carona ao Giny's Rock", ela o cortou, forçando um sorriso no seu rosto confuso e um pouco triste. "Já vai dar nove horas. E você ainda está aqui."
Tabitha Norris olhou para sua nova Mercedes e apontou para que Leo entrasse no banco de passageiro. Mesmo confuso, ele apertou a trave que abria o carro.
"Tudo bem. Mas a senhora me deve algumas explicações. Não vou aceitar essa sua carinha triste. Sei que tenho sido um filho péssimo, mas eu estou tentando melhorar."
Ela concordou, girando a chave da ignição e tirando o carro da garagem. Lizzie e Steve provavelmente estavam ouvindo o barulho do motor e se perguntando pra que diabos de lugar eles estavam indo. Leo resolveu não ligar. Ele estava a sós com a mãe e não queria ninguém para interrompê-los.
***
Eles chegaram no Giny Rock's poucos minutos depois. Não sem antes Leo permanecer no carro por tempo suficiente para tentar arrancar alguma coisa da sua mãe. Era claro que alguma coisa estava incomodando. Seus olhos estavam vacilantes, como se ela não tivesse certeza do que dizer ou fazer.
"É só essa vida, meu filho", ela soltou um suspiro. "Sinto que ela não está completa para mim. Lizzie e você com certeza foram as melhores coisas que aconteceram na minha vida, mas ultimamente eu tenho pensando em mudar um pouco."
"Mudar em que sentido? Se for o seu cabelo, eu prefiro que a senhora pinte de vermelho. Vai lembrar um pouco aquela integrante da Spice Girls, mas tenho certeza que você vai ficar bonito."
Ela riu, colocando uma mão no volante.
"Vou considerar isso. Mas eu estava falando sobre usar o meu diploma de pedagogia, sabe." Ela fez uma pausa, olhando para os muros do futuro centro de lazer da cidade aberto ao público. "Sei que muitos colégios públicos da nossa cidade vem enfrentando dificuldades com a falta e competência de docentes pra lecionar. Principalmente nos bairros mais distantes do centro, onde o números de crianças carentes ou com alguma deficiência parecem ser maiores. E bem, essa minha insatisfação já está acontecendo há algum tempo. Seu pai não concorda muito comigo, porque acha que isso pode nos deixar com uma má reputação, nos deixar mal falados."
Leo não respondeu a mãe de imediato, deixando aquelas palavras frescas rodearem sua mente. Ela parecia realmente animada falando sobre aquilo. Ele sabia que ela tinha um diploma, mas que havia desistido de lecionar por causa do seu pai e a sua grande empresa.
"Eu não vejo nada de ruim nisso, mãe. Se ensinar crianças carentes te deixa feliz, por que não fazer isso?" Ele olhou para ela. "Se quer a minha opinião mais uma vez, saiba que agora não vou deixar de te associar a professora boazinha da Matilda."
"Ah não!", ela riu novamente. "Ela é magrinha demais para se parecer comigo. E tem um rostinho tão angelical que me faz parecer a mãe da própria Matilda."
"Ah tá. Mas sobre o que a senhora disse, mãe. Se é o que você realmente quer, vá lá e faça. A senhora é maior de idade e Steve Norris não devia te impedir de seguir o seu sonho. Acho que não é errado fazer algo que vai te deixar feliz."
Leo notou que uma lágrima tímida escorreu pela bochecha direita da sua mãe enquanto ela assentia e suspirava.
"Acho que vou pensar mais um pouco. Não sei se a reação de Steve e Lizzie seria tão positiva quanto a sua e talvez-"
"Mãe, para com isso. Se você teve a audácia de seguir em frente e ter duas crianças na sua adolescência, então pode tudo. Vai dar tudo certo, a senhora vai ver. Bem, queria continuar conversando com a senhora, mas infelizmente preciso ir", ele abriu a porta e antes de se levantar, olhou para a mãe. "Ei, e talvez minha reação esteja apenas sendo uma farsa. Já que a senhora está guardando todo um segredo terrível sobre mim, não é? Tenho que puxar bastante o seu saco."
"Não Leo. Isso é meio que impossível. Sua cara de blefe é horrível."
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