DEZ


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Quando finalmente terminaram de pintar as quatro paredes da futura sala de música, todos se livraram dos materias de pintura como se eles tivessem começado a pegar fogo. Leonardo teve um pouco mais de educação do que seus outros colegas, que jogaram os pincéis de tinta no chão e começaram a soltar gritos de guerra.

"Ei, vocês!", Roger olhou para os foliões com olhar repreendedor." Que bardeneira é essa? O trabalho não acabou. Aliás, há muito o que fazer, então tratem de tirar essas expressões aliviadas dos seus rostinhos."

"Ah monitor Roger", O cara de moicano que Leonardo acabou descobrindo que se chamava Shawn, não tentou sequer esconder seu sorriso e caminhou em direção ao monitor sério, passando um braço envolta dos seus ombros."Fala serio. A gente não pode mais comemorar um pouco? Sei que ficar vigiando um bando de infratores adolescentes não é a melhor coisa do mundo, mas todos nós estamos na merda, certo? Cada lado, uma coisa ruim. Comemorar um dia a menos nessa merda parece justo, certo?"

A expressão otmista do garoto não teve efeito nenhum no monitor Roger.

"Vocês podem fazer a bagunça que quiserem, depois de cumprirem com seus horários", ele se desvincilhou de Shawn e checou a prancheta. "Agora uma pista de patinação e outra de boliche estão esperando os cinco para uma organização justa. Me sigam, por favor."

Todos caminharam atrás do monitor Roger em fila indiana. Leonardo ficou por último, na frente de Valerie que parecia não estar a fim de conversar (leia-se: insultá-lo) ou não havia mesmo prestado atenção na pessoa que estava atrás dela. De qualquer modo, ela não se virou para ele, enquanto todos desciam as escadas e se dirigiam as melhores partes do Giny's Rock.

Na verdade as pistas ficavam em uma espécie de ginásio gigante. Eram dividas por grades brancas de ferro e duas catracas davam acesso a qualquer um dos locais. Além disso, o ambiente era cercado por arquibancadas daquelas que se assemelhavam a degraus e uma lanchonete instalada entre as duas pistas, dava uma pincelada final em todo aquele ambiente que exalava diversão.

"Nossa, isso é bem legal", Disse Caio e depois riu. Sua voz que ecoou pelo ambiente. "Muuuito legaaal!"

"Bom, o trabalho de vocês aqui é organizar os sapatos para o bolche, as bolas de boliche e os patins na da patinação. Também devem montar uma playlist para nós usarmos nos primeiros dias de funcionamento das pistas."

"Tá brincando?", Shawn olhou para Roger e ele não retribuiu as suas sombrancelhas franzidas. "Não que eu esteja reclamando da tarefa, mas-"

"É bom que não esteja mesmo. Vocês estão pegando coisas muito boas. Conheço infratores que foram obrigados catar fezes de cavalo durante um desfile que tivemos aqui, na cidade. Outros tiveram que limpar praças ou qualquer local público por aí. Em comparação à eles, vocês parecem estar dentro de um filme hollywoodiano."

Leonardo observou o monitor se sentar nas arquibancadas, na área mais alta e afastada das pistas. Travis colocou as mãos no quadris, parecendo admirar cada centímetro daquele lugar.

"Não vou mexer em sapatos com chulé", ele lançou um rápido olhar para Leonardo, que fingiu ignorar. "Faça isso por mim, nerd."

"Eu acho que quero dar uma tocada nessas bolas", Caio atravessou uma das catracas e começou a passar a mão nas bolas pretas, fazendo expressões que Leonardo definiu na sua cabeça como um certo êxtase. Então do nada ele começou a cantar Whole Lotta Love.

"Ele é... gay?", Leonardo perguntou a Valerie que estava totalmente imersa na cantoria do amigo.

"Talvez", ela se virou para encara-lo, com os braços cruzados. "Por quê? Você tem problemas com isso?"

"Não. Problema nenhum. Só acho que essa música pode ser a nossa primeira da nossa playlist. Led Zepplin."

"Ah tá. Duvido que você gosta deles. Você tem cara que só escuta bandas britânicas de uns 30 anos atrás."

"Também. Mas curto as mais recentes. Nirvana. Red Hot Chili Peppers. Gun's N' Roses. A-ha."

"Vem comigo então. Quero ver se você tem mesmo o conhecimento de boa música."

Todos se dividiram nas tarefas. Caio e Travis ficaram responsáveis por organizar todas as bolas. Shawn foi para atrás de um balcão, onde todos os calçados para o boliche estavam localizados. Valerie e Leonardo correram em direção ao rádio portátil pousado em cima de uma velha cadeira de madeira e algumas caixas enormes e recheadas de álbuns de distintos gêneros.

"Que utrapassado", ele olhou para as caixas e depois para o rádio cinza escuro." Não seria melhor eles gravarem todas as músicas num CD pelo computador? Ou sei lá, talvez comprar aquelas coletâneas de músicas específicas?"

"Acho que isso tudo faz parte de criar uma dificuldade para nós. Os pobres infratotes que estão ouvindo musiquinhas enquanto muitos outros recolhem cocô no chão."

"Ontem vi dois caras recolhendo entulhos, na quadra de basquete. Acho que em comparação a eles, estamos no céu."

"Isso me lembrou a música do Brian Adams. Mas não podemos botar essa, é muito casalzinho apaixonado. Também vamos prometer não colocar nada das Spice Girls ou aqueles caras versão masculina delas."

"Você realmente parece uma pessoa aversa à pop adolescente. Mas acho que é isso o que teremos perambulando por aqui, futuramente. Jovens viciados em música pop."

Valerie lançou uma careta para Leonardo e pegou o álbum Nevermind do Nirvana, colocando o disco no suporte do rádio que se assemelhava a um prato. Ela girou a barra de volume no máximo quando a primeira faixa começou a tocar. Os garotos levantam os olhares animados e começaram a se mexer, no ritmo da música.


"Load up on guns", Valerie acompanhou a voz de Kurt Cobain, fazendo um gesto de revólver. "Bring your friends, it's fun to lose and to pretend... she's over-bored and self-assured... oh, no, I know a dirty word."

Carregue suas armas, traga seus amigos/ É divertido perder e fingir/
Ela é muito tediosa e autoconfiante/ Ah, não, eu sei um palavrão

"Hello, hello, hello, how low", de repente todo mundo começou a repetir o pré refrão como um mantra. Caio começou a bater palmas, como se estivesse dentro de um show. Shawn estava tocando uma bateria imaginária por trás do balcão. Travis parecia o próprio Kurt Cobain, cantando com a expressão raivosa, mas os olhos cheios de animação. Leonardo resolveu bater os pés para não se sentir tão excluído. Ele gostava da música, mas não tanto quanto eles que pareciam considerar ela uma espécie de hino nacional.

Valerie começou a berrar o refrão, fingindo que a caneta preta simples na sua mão era um microfone.

"With the lights out, it's less dangerous! Here we are now, entertain us... I feel stupid and contagious... Here we are now, entertain us!"

Com as luzes apagadas, é menos perigoso/ Agora estamos aqui, nos entretenha/ Eu me sinto estúpido e contagioso/ Aqui estamos agora, nos entretenha

Ela puxou Leonardo pelo braço e esticou a caneta na sua direção, como estivesse convidando-o a cantar. Ele murmurou o segundo verso pós refrão baixinho, fazendo a voz da Kurt Cobain se sobrassair e corrigir qualquer desafinaçao da sua parte. De qualquer modo ninguém parecia mesmo estar ligando para sua voz, já que todos cantavam juntos e mexiam seus corpos, como se estivessem mesmo em um show do Nirvana. Quando a música acabou, todo mundo começou a bater palma, rir e gritar.

"Isso foi louco", Valerie ofegava, olhando para todos os amigos. "Performance massa, caras!"

"Bem, parte boa já foi. Agora vamos ter que ouvir Spice Girls e Boyz II Men."

"Que saco ABC. Você sabe mesmo como estragar uma parada boa."

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