Vidros

     Todo encharcado da grande chuva que cai sobre a sala. Pessoas em pé segurando o guarda chuva. Lugar pequeno, minúsculo. No meio dela vejo uma maquete da casa de vidro, ando lentamente até ela, enquanto as pessoas fazem uma passagem para eu passar. Tudo quieto, solitário, gente vazia, sem vida. Eles ficam lado a lado, com roupa preta, como se estivessem de luto. E todos são idosos.

    Sigo andando devagar até a maquete. A arte dela é muito bonita, tudo é feito de vidro, e tem dois andares essa casa e alguns bonequinhos. Toco devagar na maquete.

— Você está acabado — Uma voz arrastada e sem força, olho para trás, é um idoso, olhando para mim com um olhar raivoso, profundo, de ódio.

   Mas ignoro e volto a minha atenção para maquete. O andar de cima fica o meu quarto, o único lugar que se encontra diferente. Os vidros estão rachados, ao contrário do quarto da minha mãe, que está perfeito.

— Os vidros cortantes rasgaram as três folhas. Submundo cruel, dividido em dois. De volta ao quarto, sozinho, após. Vemos sua dor, sua solidão, a contemplamos. — Uma senhora no meu lado disse essas palavras. Seu rosto é tão sem vida. Sua voz é doce porém, sombria e estranha. Eu volto minha atenção para maquete.

     Os bonecos de vidros caminham e todos sai de casa. Apenas sobra um nela. E mais partes dela se racham enquanto o homem anda sobre ela.

— O homem está só, o mundo o abandonou em sua sala da alma. A sociedade corrompida sufoca a fraca flor no meio da guerra. 9 Sóis, 9 Luas, 9 madrugadas... chorando e chorando — Na frente da maquete uma outra senhora pronúncia essas palavras.

     A maquete se racha com violência quando o homem sobe as escadas, a escuridão o persegue quando ele chega ao seu quarto. Uma parte se quebra e o vidro bate no meu corpo me machucando. Sangue nas minhas mãos. Dor horrível. O boneco de vidro sobe no último andar da casa. E repente toda a maquete se quebra. Espalhando seus vidros na sala minúscula e pequena, e cacos me machucam ainda mais.
   
     Fico de joelhos no chão, com uma dor no meu corpo. Os velhos olham para mim, com um semblante triste. O senhor se aproxima de mim, a chuva continua se espalhando pela sala, ela se mistura com o meu sangue. O senhor se aproxima de mim, se agacha a minha altura e olha no fundo dos meus olhos.

— Porque pensa em fazer isso? — Não tenho resposta

— Seus vidros se espalharam, cacos o machucam, o espelho o mata. Versões na sua cabeça se desfazem em completa agonia. Agonia, agonia, agonia. Você é a nossa energia, jovens morrem para os seus, a vasta vida que nos deu. Você é o nosso escolhido. Entendemos você, tenha uma boa vida, um eterno após o fim.— Uma outra senhora fala comigo, suas palavras remetem a uma poesia para os meus ouvidos. Mas estou fraco demais para entender, para compreender... E todos os velhos começam a andar pela sala, e todos eles vão embora, me deixando sozinho com aquela maquete quebrada. Caio no chão fraco, e o sangue aumenta, aumenta... aumenta... Fecho... os meus... olhos.

       

                                           
FIM

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