1

      Quê? O que está acontecendo? Eu me desperto, estou no quarto todo escuro. Meu Deus.... Que tontura.... Escuto uma porta se abrindo. E um senhor, corcunda, olhos puxados, baixo, e uma expressão amigável e acolhedora, veio andando até mim.

– Olá meu filho, finalmente acordou!

– Quem é você?

– Oh, me desculpa, eu sou o senhor Takahiro, eu sou parte desse mundo.

– Desse mundo?

– Oh sim, o mundo um. O autor desse conto tem vários mundos, e esse mundo é o original – Sinceramente, eu acho que fui sequestrado pelo japonês maconheiro, porque na moral, não estou entendendo porra nenhuma.

– Pelo amor de Deus, me tira daqui... — Me levanto no impulso da cama, passo por ele e abro a porta. Quando saio, tudo em volta são montanhas, e o céu está com rachaduras escuras, como se fosse uma falha.

– Esse mundo está acabando meu filho. Você veio pra cá por um propósito – Lentamente ele lança essas palavras por trás dos meus ombros.

– Mas que merda... Isso tudo é um sonho não é? Me diz!

– Me siga, quero mostrar a você uma coisa. — O quarto todo escuro, aos poucos se construiu em um belo cenário, bem estilo quarto japonês sabe? Mas não era aqui o lugar, ela abre uma porta e seguimos no corredor. O chão é de madeira, e as paredes tem detalhes da cultura japonesa. Ser sincero não vou saber explicar tudo isso tá, não lá no de nada disso. Entramos em uma sala, e tem vários quadros.

– Esses quadros são histórias que o Autor desse Universo escreveu, contos, e todo ano aumenta os números deles.

    Me aproximo dos quadros, em baixo são os títulos deles, que são: Mirror Of The Souls, Skies on The Spaces, Apartamento 507, Espelhos Paralelos, Silent Remains, Os Irrepreensíveis..... E mais alguns outros

– Esses são os contos e eles representam o mundo que o Autor criou. A história de "A Garota e o Gato" tem conexões com "Impulso" e essa ligação destruiu um pouco do Multiverso. "Lucas: O Irrepreensível" acabou com tudo depois. Porém, esse mundo, onde estamos agora, se chama Mundo Um. Aqui é a fonte do equilíbrio entre o mundo do Autor e o mundo que ele criou. Porém, o lugar onde o Criador se encontra está em colapso. E isso está destruindo o Mundo Um.

– Então aqui é o tal de Mundo Um. Universo do equilíbrio entre esses dois mundos?

– Exatamente.

– Mas eu? Porque eu?

– Eu não sei, eu sou apenas um facilitador — Ele sorriu

– E como faço para salvar esse mundo então?

– Subindo até aquela Montanha — Ele aponta pela janela, é uma Montanha enorme, coberta pela gelo — Subindo ela, você saberá o que fazer. O autor estará contigo nessa jornada.  Estou a tanto tempo nesse lugar. Pro autor trazer você aqui com certeza é um propósito — A forma como ele fala é lento e acolhedor, não me sinto desconfortável. É uma boa pessoa.

– Tudo isso ainda é confuso para mim...

– Olhe para essas histórias... Consegue ver mais alguma coisa nelas?

– Sim, vejo uns nomes...Nicie, Aline, Myza.... Yorranny, .... E tem outros nomes que não consigo ler, mas a grande maioria do tal de grupo chamado Bons Escritores... Esta escrito "Agradecimentos"... Nossa que fofo — Meu tom é de total deboche ta, porque não sei quem são essas pessoas...

– São pessoas que leram e ajudaram ele com suas histórias. Ele é muito grato por essas pessoas.

– Eu percebi.

– Esse é o Universo do Autor, é o único mundo real, todos aqui são ficções. – Ele fala olhando para um dos quadros. Esse lugar é como se fosse um museu, com várias obras desse tal do Autor.

– Mas eu estou vivo, em carne e osso.

– Sim, você está... — Quando ele disse isso, uma porta se abre e apareceram na sala quatro pessoas. Elas estão vestidas com traje de samurai, branco com traços pretos, são dois caras e duas garotas.

– Olá, somos os Guerreiros do Mundo, você é novo por aqui não é?! — O dono dessa voz tem uma vibe engraçada, descontraída. É um garoto, adolescente, cabelo todo arrepiado, cor de fogo. — Sou Emanuel, prazer, esse aqui é o Kevin, a outra Gabriela, e essa aqui é a Giovana. – Continuou ele, apresentando todos do grupo. Kevin é o mais quieto e centrado, a Gabriela é uma garota loira, muito bonita, olhos azuis, e a Giovana é morena e tem uma presença doce e simpática.

– Oi gente, eu... Eu não me lembro do meu nome. — Estranho, não sei mesmo o meu nome.

– Não tem problema, nós damos um para você.. Hmmm.... Que tal.... Breno?

– Breno?... É... Eu acho que eu gostei

– Boa! Então é isso, Breno é o seu nome, prazer Breno!!! — Ele tem um sorrisão enorme, chega ser contagiante, e é o mais animado entre eles.

– Como você é bobo Emanuel, nem deu opção pro menino escolher.

– Ué, mas ele gostou do nome Gaby.

– Claro né, só deu um nome, bobão — Ela riu pra ele, dando tapas no ombro

– Bom, pelo visto você conheceu seus novos amigos. — Disse o senhor, por um momento me esqueci dele.

– Senhor, viemos aqui porque você nos convocou, queremos saber qual problema – Kevin é um garoto que percebi que não tem muita paciência, ele foi logo direto ao assunto.

– Sim Kevin, eu chamei para virem aqui. Porque vocês devem auxiliar o Breno a irem até o topo da Montanha das Angústias.

– Montanha das Angústias?! — Todos exclamaram, espantados com a resposta do senhor.

– Mas mestre, a Montanha é tremendamente perigosa, é lá onde estão conectados todos os Universos. — Pela primeira vez escuto a voz da Giovana.

– Sim, mas vejam, depois de muitos e muitos anos, apareceu uma nova pessoa. Devemos confiar nela. Pois o Breno é a fonte de toda essa conexão.

– De onde você tirou essa conclusão? — Respondeu Kevin com tom um pouco agressivo. Ele tem cabelo liso, branco, pouco mais alto que eu, e é bem sério.

– Estranhamente, eu apenas sei. O autor dessa história tem propósito com esse personagem.

Quando ele disse isso, eu notei uma expressão de frustração no olhar de cada um.

– Você ainda acredita nele? No autor? — Disse Emanuel, cabisbaixo.

– Eu acredito, sempre acreditei — Respondeu o velho, com certa esperança.

– Esse mundo está acabando, é agora que ele resolve trazer um salvador? Isso é ridículo, que deixe a gente morrer, ele só liga para esses Multiversos horríveis que ele construiu. — Kevin saiu da sala revoltado, mais bravo como já demonstrava. Emanuel e a Giovana foram atrás dele, a Gabriela foi a única que ficou, e pelo jeito é a mais tímida do grupo.

– Me desculpe o jeito dele mestre. É difícil para gente.

– Não tem problema minha filha.

– Breno, assim como mestre, eu acredito. Mas para mim é difícil ainda. Estamos vários anos lutando contra as criaturas que estão destruindo esse Mundo, e nada de vitória, só derrota. E aqui nesse mundo temos um livro que diz que virá um salvador unificar os Mundos, e finalmente teremos um descanso. Mas você tá aqui, e nunca ninguém de diferente apareceu nesse lugar. Sim, sei que, para você pode ser um clichê de filme mas.... Você precisa treinar se for para a Montanha das Angústias. Naquele lugar, você enfrenta coisas difíceis, eu nem consigo descrever.

– Desculpe a pergunta mas... Você sabe o que é filme? Vocês tem nesse lugar?

– Eu disse filmes?... Olha, sinceramente, eu só usei a palavra, não sei o que significa filmes...

    Que estranho, mas, tudo está né... Se isso for um sonho, preciso acordar...

– Não assuste ele Gabriela. Uma coisa eu sei. Você acordou nesse mundo Breno, alguma coisa deve ser. E a nossa única esperança é alguém corajoso subir a Montanha, lá, você poderá salvar o nosso mundo. É apenas isso que esperamos há anos.

2

     O tempo nesse lugar é tão estranho. Sinto que passei meses aqui. Fiz o treinamento, já estou entrosado no time. Parece que estou em um jogo de RPG de turno, igual aqueles do Nintendinho, seja Final Fantasy, Chrono Trigger, Persona... Jogos assim... Agora estou com o mesmo uniforme deles, uma roupa de couro branca e detalhes pretos, como um raio. Muito brega mas é o que temos. Uma arma que me adaptei é uma espada, estou muito guerreiro, é muito bom tudo isso.

    Nesse tempo, eu fui compreendendo esse mundo, ainda estou nesse processo de entender. E a cada dia, o céu fica cada vez mais com falhas, mais escuro. Animais desse mundo morre a todo momento, quase nem existem. E os que estão, se tornaram criaturas bem estranhas. Nada aqui é real, tudo é como se fosse uma grande história de fantasia. E tudo que temos que fazer é subir a Montanha e juntar as linhas do Universo todo. São só essas informações que tenho. E eles tão crentes que sou uma espécie de messias nesse lugar. Não m sinto nada disso.

   Me aproximei bastante do Emanuel, da Gabriela, que sim, estamos quase... Namorando, a Giovana amei conhecê-la. Porém, o Kevin eu tive dificuldades, existe uma certa barreira. Mas não ligo.

    Estou aqui fora treinando meus movimentos de combate, o ar aqui fora é maravilhoso, ele é puro, fresco. E as árvores em volta com suas folhas rosas, um toque de primavera infinita, me sinto tão bem aqui, e estranhamente, não me sinto aqui. Sabe quando você vive uma... Mentira?

– Oi — Uma voz tímida voou pelo ar desse jardim. É a Gabriela, na porta me observando. Seus olhos verdes é a minha parte favorita do seu belo rosto. E aquele sorriso... — O mestre preparou o almoço, vem — Ela chamou, larguei a espada em um lugar reservado para ela e fui até a cozinha. Piso os pés na casa e escuto um barulho atrás. Entre as árvores, lá no fundo, vejo uma fumaça preta em forma de gente. Me sinto hipnotizado, meu coração se debate dentro de mim.

– Breno — Gabriela me desperta chamando o meu nome, e a figura desaparece. E sigo para cozinha rapidamente.

Ao chegar, a mesa está completa com todos eles conversando.

– Mestre do céu que comida maravilhosa — Emanuel como sempre, o mais animado. Ele come bem viu, e a mesa tem vários tipos de comida, é com certeza a melhor hora do dia. E o mestre da risada com as palhaçadas do Emanuel.

– Vem Breno, senta ai! — Disse a Giovana, sempre muito meiga, mas não de engane, ela é muito brava quando se precisa viu. — Emanuel para de falar com boca cheia — Te falei, quando precisa, ela é brava.

– A mesa tá ótima aqui hein!

– Sim, e vocês precisam comer para ter energia. A missão já começa amanhã!  — Disse o mestre.

– Senhor, sei que o clima aqui tá bom. Tá todo mundo rindo e conversando aqui e não quero estragar. Mas, eu sinto que esse lugar... essa missão... não sei... Eu tenho visto uma sombra também ... Estou dias ou meses aqui, e... — Não consigo me expressar em palavras. Esse sentimento estranho está a dias comigo.

– Pode falar — Gabriela segura minha mão, olhando nos meus olhos

– Isso tudo é real? Isso tudo parece ser falso... Temos que subir a Montanha para salvar o mundo... Mas porque? E se o autor não quiser? E se eu não quiser? Eu não tenho poder de escolha? Porque eu? Do nada virei Messias? Me desculpem por estragar o almoço de vocês. Eu não estou bem.

– Entendemos você Breno. Sabemos como é está no mundo, e mesmo com muitas pessoas em volta, uma sombra nos acompanha, fazendo parte da nossa rotina.

– Você também ver a sombra? Tenho visto ela já faz alguns dias.

– Não vejo, mas sei que há.

– Como você sabe Mestre?

– Esse mundo é diferente Breno — Emanuel disse, e pela primeira vez, vejo ele pra baixo.

– Me desculpe gente. Eu não queria estragar as coisas.

– Não tem problema, somos seus amigos, você pode contar com a gente — A maneira como a Giovana falou comigo me transmitiu calma. Mas lá no fundo, a dor continua.

– Breno, você pode falar com o autor desse Mundo. Confie em mim, ele responde. O nome dele é Bruno.

– Quase meu chará — Gabriela riu.

– Que bom, olha só, uma piadinha? Eu achei engraçado.

– Meu Deus Gabriela, nem foi piada menina — Eu ri dela, ela é sensacional!

    As coisas começaram a tremer, as luzes se apagaram. Tudo caindo, quadros se quebrando, eu me seguro na parede, mas nada. Todos gritam muito e ninguém sabe o que fazer.... Algo bate no meu rosto... Caio no chão.... Apago....

  Acordo, está tudo escuro... Coisas estão encima de mim e consigo tira elas. Pó e bagunça pra todo lugar. Tudo destruído... A mesma falha que havia no céu, agora está diante dos meus olhos aqui na cozinha. Afasto as coisas do meu corpo. Me levanto com dificuldade e cambaleando, me apoio na parede, tateando no escuro.

– MESTRE....Cof cof.....GABRIELA..... GIOVANA.....Hunfff.......EMANUEL.... KEVIN — Ninguém responde.... Tento olhar em volta e nada deles, devem está no andar de cima, o que aconteceu... Está tudo escuro, até que... Escuto uns passos... E no breu, ouço sons de sorrisos entre os meus ouvidos. Olho para trás... Figura magra com oito pernas de gato, alto, e um sorriso bizarramente sinistro, sem olhos e uma cabeça muito grande.

Estou fraco de tanto terror que pulsa no meu sangue.

– "Breno, não precisa ter medo, você não está sozinho"

    Quem está falando comigo? Meu Deus, eu não consigo pensar, não consigo pensar, não consigo pensar, não consigo pensar. Que criatura horrível... Estou sem minha espada, mas saco uma faca. E vou pra cima da criatura, mas no meio da corrida eu paro. O medo tá muito forte e mim.

– "Breno me escuta. É a sua mente. Nada é real, você consegue. Se concentre"

– Tá... Ta... — Eu fecho os olhos, e respiro, e ao mesmo tempo escuto o sorriso da criatura gato.

– "Isso Breno, estou com você aqui, nada é real."

     Continuo respirando, continuo respirando.

     E aos poucos, a tensão vai abaixando, e a escuridão se afastando. A criatura desapareceu... E agora está somente eu naquele corredor, ainda escuro, mas não sinto medo. Uma fresta de luz surge na janela quebrada, e respiro pouco aliviado.

– Então você existe mesmo... Autor...

CONTINUA