Minha Mãe
– Mamãe? Mamãe... Porque está chorando? — Fico na porta da cozinha observando a minha mãe, ela esta jogada no chão em lágrimas, e uma garrafa de bebida no chão denunciando que ela bebeu.
– Mamãe? — Pergunto novamente, me aproximando devagar dela
– VAI EMBORA, SAIA DAQUI — Dou um pulo susto do grito que ela me deu, eu corro daquela cozinha e subo para o meu quarto. Fecho a porta e entro na minha barraca e a fecho. Aqui é o meu refúgio, uma pequena lâmpada no lado e uma mesinha no canto dando um toque de casa em formato menor. Fico ali parada enquanto o meu corpo treme pelo susto e o medo. Eu odeio quando ela fica assim. Fecho os olhos e tento pensar em qualquer outra coisa, qualquer coisa, só pra fugir dessa situação.
Escuto passos arrastados pelo corredor. Uma explosão de cores escuras se rasgam dentro de mim. A porta lentamente se abre e me encolho ainda mais na minha barraca.
– Jesus me ajuda, Jesus me ajuda — Cochicho, para ela não me ouvir. E o quarto fica em silêncio, porém a presença dela é real. Eu sinto. Abro os olhos devagar e vejo sua grande sombra na frente da barraca. Automaticamente começo a chorar. Ela começa a chutar a barraca.
– Mãe, para, para!!!! — Ela não para de chutar, até que vejo o quarto e de relance sua face. Caio no chão em direção a porta. E quando a olho, sou pego de surpresa. O rosto dela está todo deformada.
– Você não deveria ter nascido... Marie... Acabou com toda minha vida.... Marie, eu odeio você Marie.... — Sua boca cheio de sangue, os seus olhos pretos e o rosto rasgado pelo arranhão que ela causou em si mesma. A sua forma é de um completo monstro, ela parece um zumbi. Fico ali jogada no chão, sem reação alguma.
– Mamãe... Por favor... — Aquelas palavras me rasgaram ao meio, não ser desejada pela própria mãe é um sentimento mais cruel da vida.
Consigo puxar a porta e atrapalhada me levanto e corro pela casa tentando me despistar dela. Ela corre descontroladamente. Desço as escadas me cuidando para não cair, vou descendo e descendo e as escadas não terminam. Elas não acabam. Os gritos da minha mãe foram ficando mais silenciosos e eu não paro de correr. Continuo, continuo e continuo, e fica cada vez mais escuro cada vez mais que vou descendo.
– Dorian, merion, Dorian tir rarion — Que canção é essa? São vozes femininas com uma língua estranha e bonita. A música envolve o meu corpo e a minha alma no meio daquela escuridão, até eu chegar no fim da escola e me deparar com um espelho. Quando olho, vejo cinco garotas cantando essa canção. Me aproximo do espelho devagar, ao tocar, meus dedos atravessam como se fosse água. E logo puxo de volta, com medo daquilo. Uma garota se aproxima do espelho com belo sorriso no rosto, quando ela olha para trás, ela projetou uma imagem no espelho para mim, mostrando uma mulher idêntica a minha mãe. Ou melhor dizendo, aquela moça é a minha mãe, mas ela está diferente, com cabelo mais curto e preto. E ela é loira.
– Ela vai amar você, sempre te desejou. Mas nunca pôde te ter, pois ela não pode engravidar.
– Quê? Mas ela pode sim, ela me teve, sou filha dela. — Ela dá um sorriso como se estivesse me debochando.
– Não essa. Acho bom decidir se quer vir para cá logo, antes que a sua mãe desça e mate você. — Essa proposta é tentadora. O desejo é mais forte. Uma raiva e frustração ganha força dentro de mim. Coloco meu dedo no espelho... Sou sugada para dentro dela...
....
Flores rosas caem dançantes num dia chuvoso e fechado. O caixão a minha frente e a família em volta ainda está sem acreditar no que aconteceu. Simplesmente estou sem palavras. Desde quando isso ocorreu, eu não me lembro o que houve de fato. Tenho vagas lembranças, mas só de cogitar, a culpa é enorme mas nunca saberei. Lembro de uma discussão enorme no meu quarto que tive com ela, eu corro de medo dela ... Depois tudo fica confuso e escuro na minha mente, nem meu terapeuta, o Bryan, tem me ajudado tanto, apesar de sim, tá fazendo efeito aos poucos. A única coisa que lembro é um barulho muito forte na escada. Só isso... A minha cabeça cria tanta coisa aqui dentro de mim, que não sei o que aconteceu.
Pego minhas flores e coloco dentro do caixão da minha mãe, fico ali olhando para ela enquanto minhas lágrimas andam sobre o seu rosto, eu sempre amarei você mãe, apesar de nunca ter sido desejada por ti.
FIM
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