Luxúria, Pecado e a Morte

     Eu vejo ela sentada de frente ao piano, com seu belo vestido azul, cabelos negros e pele branca, um ar tímido e acanhado. Ela dar seus primeiros toques assim se formando a melodia. Apenas eu estou aqui na sala de casa, nesse dia frio contemplando a arte que é gerada nela.

     Ela continua tocando formando uma melodia com ritmo lento e melancólico.

"Você não vai
Conseguir
Ser feliz
Você não vai"

     Ela canta as primeiras palavras, se preparando para mais delas.

"Você estará
Sozinho mais uma vez
Você gritará de novo
E ninguém te escutará

Você cuspirá seus versos
E ninguém entenderá
Que você tem medo
Do futuro ser sombrio

Terminar sozinho
Abandonado na rua
Sonhos adormecidos
Você não vai conseguir sorrir"

      Todo meu corpo, meus sentidos, minha cabeça, cada sensação e sentidos são tomados por uma paralisia irreconhecível em mim. Meus olhos apenas se enchem de lágrimas. A moça vira seu pescoço em minha direção, com sua expressão séria e vazia, e ela apenas me observa ainda reflexiva. A mulher se levanta e devagar vem em minha direção, e permaneço sentado no sofá.

— Você está manchado — Ela faz a pergunta, mas continuo suando frio, sem conseguir dar a resposta, sem conseguir dizer uma palavra — Você nunca sairá daqui. 

     Após escutar essas palavras, a minha visão, tudo em minha volta fica escuro e apenas enxergo triângulo, raios e coisas abstratas, figuras difíceis de entender, vejo quadros de rostos com expressões de angústia e desespero. Eu me desperto… estou na sala de novo.

     Eu vejo ela sentada de frente ao piano, com seu belo vestido azul, cabelos negros e pele branca, um ar tímido e acanhado. Ela dar seus primeiros toques assim se formando a melodia. Apenas eu estou aqui na sala de casa, nesse dia frio contemplando a arte que é gerada nela.

     Ela continua tocando formando uma melodia com ritmo lento e melancólico.

"Você não vai
Conseguir
Ser feliz
Você não vai"

     Ela canta as primeiras palavras, se preparando para mais delas, tudo está se repetindo de novo

" Você estará
Sozinho mais uma vez
Você gritará de novo
E ninguém te escutará

Você cuspirá seus versos
E ninguém entenderá
Que você tem medo
Do futuro ser sombrio

Terminar sozinho
Abandonado na rua
Sonhos adormecidos
Você não vai conseguir sorrir"

     Espera, isso está acontecendo de novo?

— Você ainda não entendeu? — Tudo se repetiu de novo, que bizarro. E olhando a janela vejo um idoso de pé com seus olhos focados para fora, contemplando a chuva. Ele não nos ver, é como se nós fossemos invisíveis. 

     Eu ainda não consigo me mexer, permaneço em silêncio apenas assistindo tudo ao meu redor. O idoso tira uma faca de dentro da sua calça e anda até a moça que voltou ao seu piano.

— Eu não fiz isso, eu não fiz isso, eu não fiz isso — O idoso começa a repetir a mesma frase várias e várias vezes, se aproximando e ficando ao lado da moça em seu piano.

— Luxúria, pecado e a morte. Luxúria, pecado e a morte. Luxúria, pecado e a morte — A moça do piano também começa a repetir a frase, e aos poucos os dois começam a cair na risada, ambos em completa sintonia, o velho continua com a faca na mão. E ainda com sua expressão risonha, o senhor passa a faca no pescoço da moça, espirrando sangue para todo o lugar. O velho permanece dando risada descontroladamente, ao ponto de segurar sua barriga, de tanto rir.

      Meus olhos continuo se enchendo de lágrimas, o chão e as paredes ganham uma forma pegajosa, deslizante e a textura delas lembram uma carne humana.

     O velho para de rir, mas ainda mostra aquele sorriso assustador andando em minha direção, e seus olhos, agora com as cores amarelas, estão fixados aos meus.

— Paredes de carne, o sangue tem o contato com ela. Pecado consumado. — Um novo som surge na sala, é um choro de um bebê. O velho se vira para a moça e anda até dela, e com os seus pés, ele levanta o vestido dela. O senhor agacha e leva seus braços para o corpo morto da mulher, ao se levantar, está com um bebê em seus braços.

— Oh meu menininho, que foi, que foi, já passou, já passou — O velho segura o bebê que continua chorando, e ele anda pela sala com a faca ainda em sua mão. 

— A tentação quando consumada, é gerada o pecado, que em processo vem a sua morte. Você é desprezível, nojento e cheio de luxúria, paredes de carne como ver, representando a intimidade do pecado. Você morreu sem ao menos se arrepender, esse bebê seria o novo você, mas o vosso homem preferiu a vida cheia de mulheres. A sua desgraça, meu caro homem — Ele abre a janela, e ergue os braços colocando a criança para fora da janela. O vento forte e um céu escuro ganha um cenário sombrio e estranho. Eu não consigo falar uma palavra sequer.

— A sua pureza não existe mais, a criança é apenas uma doce e bela ilusão — Ele joga o bebê na janela, voltando a dar risada daquele jeito descontrolado.

— Para… Para… — Conseguir falar, meu Deus… Conseguir falar.

     A porta da sala se abre e dois homens aparecem de repente me tirando da cadeira. Não consigo debater e nem nada… O velho continua na janela dando risada e os homens me puxam para fora da sala, fechando a porta, e tudo fica escuro…

      E eu me lembro… 

     O corredor ganha luzes, e as paredes é a mesma o da sala, todas tem uma forma de carne, e vejo celas em volta, e… Eu me vejo nelas… E todas as minhas versões estão tendo relações com a parede.

— LUXÚRIA, PECADO, MORTE, TRAIÇÃO… EU TRAIR… EU TRAIR — Todos eles falam isso… Estou me lembrando…

      Sou jogado em uma sala, e é a mesma de onde eu estava. Aquela moça de azul está viva de novo, e o velho está calado com uma expressão séria e melancólica.

— Você não será feliz, porque está no inferno. Sozinho eternamente, mas em vida, estava cheio de mulheres. Nosso casamento não estava bem, mas você me traiu com outras moças, e ainda me matou quando descobri tudo, passou a faca no meu pescoço… — Minhas mãos começam a enrugar rapidamente, e eu fico com a mesma aparência daquele velho ao me ver pelo espelho que tem na sala.

— Eu… O que eu fiz? — Ela me entrega uma carta.

— Eu estava grávida a oitenta anos atrás. Você me matou… E a culpa e a morte o encobriu, após os seus atos de luxúria — Ela se volta para o piano, e começa a tocar uma melodia triste que desconheço.

     Eu não sei o que pensar no momento, eu apenas me sinto travado e vazio por dentro, ando até a janela e a abro… E lá fora vejo uma grande onda de fogo, os céus são vermelho como sangue e vejo muitas pessoas gritando, se agonizando, rangendo os dentes por causa da dor… Vejo uns tentando se jogar de prédios, caindo e não morrendo, vejo outras pessoas matando uma as outras mas revivendo. Todas desesperadas, todas pagando pelos seus pecados. Todas julgadas pelos seus atos.

     Vendo toda aquela confusão, eu olho para a moça de azul, que por sinal era minha esposa, e vejo o sofá, e me vejo mais jovem lá, repetindo o mesmo looping de antes.

"Você não vai
Conseguir
Ser feliz
Você não vai"

   Ela toca aquela música, cantando com aquela mesma melodia enquanto meu outro eu escuta com lágrimas nos olhos. Eu volto a olhar a janela, e dentro de mim, uma vontade descontrolada de rir nasce na minha alma, e dou o meu primeiro sorriso, iniciando a risada.

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