Família

    Novo dia. Mesma rotina. Preso dentro dessa casa com a minha família,  completamente estranhos, apesar de amar muito eles. Os últimos dias aqui em casa não tem sido muito normais, talvez seja essa quarentena maluca que estamos vivendo, não sei. Talvez seja essa rotina, essa loucura toda, eu não sei, é um vazio enorme. Falta algo aqui, mas não sei o que é.

    Sinto um bom cheiro de café. Já são quase dez horas da manhã. Após escovar os meus dentes, ando quase lentamente no corredor, desço as escadas, rádio ligado no volume médio, sala com um cheiro agradável. A primeira pessoa que vejo é o meu pai sentado na mesa mexendo no celular. Vejo minha irmã e meu irmão mais velhos, minha mãe na louça. Todos quietos. Meu pai pega o copo de café e leva até os seus lábios. Aquele barulho que ele faz ao tomar o café me irrita. Meus irmãos estão pálidos, quietos, é estranho, eles não eram assim, e a minha mãe olha feio demais para eles.

– Come logo isso. - Ela disse pra mim

Ela se senta na mesa e fica imóvel.  Meu pai ficou paralisado com copo na sua boca e segurando o celular. Meus irmãos, estáticos.

– Mãe? Pai? — Minha voz trêmula, sentir um certo arrepio nos meus braços naquele momento.

Eles não respondem. Até que de repente eles caem na gargalhada, mas era uma gargalhada estranha. Não entendo a graça, não parecem que estavam fazendo pegadinha comigo. Eles não são assim. Eles não paravam de rir, era contínuo. E eu não entendia nada daquilo.

– PARA, PARA, PARA, PARA, PARA, PARA. - Gritava minha mãe, ainda rindo.

– AGORA SÃO SETE DELES — Dizia o meu pai, com aquela gargalhada.

Sete? Eles? O que está acontecendo? Com a luz do dia e em toda a casa. Tudo de repente se tornou numa completa escuridão. Volta ao normal em instantes, e toda minha família agora são manequins. Não tinham boca, olho, nariz, nada. Apenas manequins. Eu não sei o que sentir, mas um estranho sentimento de medo vinha crescendo, meu corpo queimando. Meus braços ardiam como se fossem cortados e jogados em um lugar qualquer. O que está acontecendo…

…….

Me levanto da mesa, trêmulo, a casa é tomada pelo sangue nas paredes. Minha família toda virou manequins. Tento não encontar em nada, tudo está mais escuro do que antes. Vou até a porta. Trancada.

– ANDY! — Droga que susto p#rra, que voz é essa??? Ela parece ser.… Dele.…

– ANDY, CADÊ VOCÊ?! – Olavo? A voz vem do seu quarto. Corro mais rápido possível. Vou até a porta de seu quarto. Está trancada.

– OLAVO! O QUE TA FAZENDO AQUI?! – Eu não entendo, não tô entendendo o que está acontecendo, não era pra ele está aqui. — Abre a porta Olavo.

– Eu não consigo irmão. — Ele começa a chorar, o tom de desespero de sua voz e a tentativa de abrir a porta, mostra isso. Estou confuso. Não era para ele está aqui. Porém, eu tentei abrir a porta... Facilmente eu conseguir... Que???…

Entro no quarto, não tem ninguém aqui. Tudo que vejo é o sangue espalhado por aqui, o cheiro é horrível. Olavo não está aqui. Porém, escuro um som.. ao olhar para o espelho, meu reflexo não aparece, somente o meu quarto. Passos atrás de mim...

– Xiii, calma calma... Sou seu amigo… — Quando olho para trás, vejo uma pessoa igual a mim. Todo sujo de sangue, sua expressão é pesada, seus olhos mostram um ódio mortal. Sua voz é estranhamente calma e cheio de horror.

– Não entende o que ver... Você está vendo as coisas como elas são na minha mente... — Responde ele, colocando o seu dedo na própria cabeça.

– Quem é você?

– Eu sou a sua outra personalidade… — O sorriso ganha vida em seu rosto, mostrando sua verdadeira essência. — A sua loucura chegou no ápice. Veja no espelho, somos só a gente. Essa história é curta, é apenas um dia na vida de alguém que é louca. A sua família está estranha não está? É a forma como eu os vejo, como nós vermos… Todo esse sangue, sua família sendo manequins, ah garoto, não se lembra né? Olhe para o espelho, e assista o espetáculo que você fez.

O espelho começou a transmitir imagens como se fosse um filme, fiquei ali com outro eu assistindo. E o protagonista sou eu. Caminho até a cozinha, pego uma faca, subo as escadas... Meu pais estão dormindo, abro a porta lentamente. Entro no quarto, e os vejo ali, indefesos. Ergo os braços e enfio a faca no pescoço do meu pai. Pulo pra cima da cama, e minha mãe acorda no susto, e ataco ela. Ambos gritam muito, se contorcendo de dor... Eu estava assustadoramente com uma força fora do comum.

Dou sete facadas.…. Me lembrei do meu pai dizendo na mesa algo relacionado ao número sete.… Voltei a focar nesse "filme" estou.… Em choque.…

Nisso, meus irmãos, ao escutarem o grito dos nossos pais, foram até o quarto assustados. Eles tinham quase a mesma idade que eu, tenho quartoze, eram razoavelmente mais velhos. Eles estavam em choque, a minha irmã colocou a mão na boca e começou a chorar, meu irmão, mais velho, avançou pra cima de mim. Mas como disse, estava com uma força descomunal. Acabei tirando a vida dele... Não quero entrar em detalhes da cena... Depois... Dei fim a vida da minha irmã… Sabe o que me chamou atenção? Não existe Olavo, na minha cabeça, eu tinha esse irmão, que morreu por causa do sui#cidio… Mas não foi, ele é um personagem que criei na minha mente... Tudo tá fazendo sentido.

Ainda as imagens rolando no espelho, no dia seguinte enterrei toda a minha família no quintal. No mesmo dia, roubei manequins. Voltei pra casa, e coloquei cada um deles na mesa da cozinha... Estão da mesma forma quando os deixei e vim ver o... Olavo…

– Viu tudo meu irmão? Eu livrei você de pessoas tóxicas… — Ele diz as coisas no pé do meu ouvido. Estou rendido...

– Sim, você tem razão… — Estou distante, com olhar distante… Eu dei acabei com toda a minha família em questão de minutos... Meu coração está explodindo aqui dentro... Eu me encolho no chão, fico deitado ali, somente eu.… E apago

…..

Acordo no meu quarto, na minha cama, até escuto sons de pássaros por. Cheiro de café, me levanto e vou até a cozinha. Minha família está lá, na mesa, reunida.

– Ou dorminhoco, só dorme hein — Disse minha mãe, em tom de brincadeira.

– Senta filho – Falou meu pai

Me sento na mesa, meus irmãos está presentes também, mas não falaram comigo. Olho para eles, ali, reunidos, eu me sinto aliviado... Algo me chama atenção, na parede pendurado, um braço de um manequim, mas volto pro café, ignorando esse estranho objeto na cozinha. E eu apenas curto ali o momento com a minha família.

FIM

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