Antes da Meia Noite

– Então é isso que você acha? — Não consigo olhar no rosto dele. Meu psicólogo tem pegado pesado hoje comigo. Eu apenas confirmo com a cabeça. E tudo ficou num completo silêncio.

Meu psicólogo, um homem elegante, sério e ao mesmo tempo amigável. Negro, alto, muito sábio. Ele tem me ajudado muito nesses tempos, mas hoje, tem sido difícil. A terapia terminou, e já estou na rua.

Passo a maior parte do tempo sozinho. Ele é a única companhia que tenho. Moro sozinho no meu pequeno apartamento no centro de São Paulo. Caminho até o ponto de ônibus que tem aqui no lado do prédio onde faço terapia.

Já são quase três horas da tarde, sol muito forte, algumas pessoas andando na rua. Por mais estranho que pareça, o ponto está vazio, geralmente tem no mínimo cinco pessoas aqui parada esperando o busão. Me sento no banco aqui no ponto, e um jornal jogado me chama atenção. Eu a pego e leio a primeira página.

"Casos frequentes de desaparecimentos nas ruas de São Paulo. A polícia está dias investigando e ate o momento não chegou a uma reposta. O novo detetive Carlos Oliveira está a frente da investigação."

     Que bizarro, coloco o jornal ao lado. E continuo esperando o ônibus aqui no ponto. Quando olho para a rua. Percebi uma mudança repentina do clima. A neblina tomou conta das ruas. Aquele sol de fim da tarde já não está mais presente. E tudo está vazio e quieto demais. A neblina está muito forte, difícil ver algo mais a frente. Me levanto atento, meu corpo está tremendo. Inseguro, saio do ponto e penso em voltar para o consultório do meu terapeuta. Mas quando chego no local. Ele está fechado. Que?

Escuto sons de choro de uma mulher. Volto para a rua, e a vejo bem lá frente correndo.

– Ei, espere! — Ela não me ouviu,  saiu correndo. Eu começo a correr atrás dela no meio de toda essa neblina.

– Moça, calma, me espere... O que tá acontecendo? — Sem respostas, as ruas estão complemente vazias... Meu Deus, o que está acontecendo por aqui?

     Ela entra numa rua e a vejo entrando em um pequeno mercado. Escuto a porta se fechando e logo em seguida eu entro também. Que lugar escuro. Pego meu celular e ligo a lanterna, pois é impossível enxergar alguma coisa aqui. Ainda bem que eu trouxe carregador portátil pra caso descarregue o celular.

    Meu Deus, onde está as pessoas? O que está acontecendo? Em um momento tudo mudou tão de repente. Andando devagar pelo pequeno mercado, meu coração bate muito forte a cada passo que dou nesse lugar.

– Moça?! — A chamo, mas nada até agora. Até que, vejo rastros de sangue pelo chão. Eu sigo elas, gota a gota, até que ela vai aumentando e aumentando até chegar numa porta que há nos fundos. Escuto risadas. Risos de uma pessoa lunática. Coloco o ouvido atrás da porta afim de escutar alguma coisa. Só escuto mais risadas, e alguns sons esquisitos.

     Abro a porta. Bem devagar. As risadas foram ficando distantes. Talvez a pessoa tenha saído do local. Eu entro na sala. O cheiro é horrível aqui. Há sangue em todo lugar. Desligo a lanterna do celular pois pode chamar atenção. Ando lentamente por aqui, com coração na boca.

    Nessa sala, tem uma cortina de plástico preto, dentro dela é a única parte que tá iluminado. Lembra bastante um hospital. Não escuto nada aqui, nem aquela risada. Devagar, eu abro a cortina. E o que eu vejo me causa náuseas. Por trás das cortinas, há vários corpos nas macas. Eu vou mais a fundo e entro lá dentro. Levo minha mão no coração. Uma ansiedade tomou conta de mim, sensação de desespero... Os corpos estão sem rosto, e há um buraco no peito de cada corpo.

     Escuto a porta se abrindo e rapidamente me escondo atrás de uma das mesas que há aqui. Consigo ver a pessoa. É um homem. Bem estranho. O corpo dele está com os rostos de todas as pessoas que estão na maca. É a coisa mais horrível que vi na minha vida. A cara dele tem três rostos de uma das vítimas. Ele está com mais uma maca. E é aquela moça.

– Seu rosto é lindo garota — Ele ergue o facão, e apenas vejo o braço dele indo com tudo cortar o rosto da moça. O sangue espirrou por toda roupa dele.

– VOCÊ ME SUJOU DE SANGUE VADIA — Ele ficou completamente irritado, e do nada, caiu na risada sozinho. Mas ele se conteve, e usou ferramentas para retirar a pele de seu rosto. Depois ele esfaqueou todo o corpo dela. E retirou o coração e colocou em uma sacola.

Merda, preciso sair daqui o mais rápido possível. Mas acabo fazendo barulho. E desperta atenção dele.

– Eu sei que você está ai — Eu fiquei sem chão, estou sem chão. Não quero morrer assim. Jamais.… Eu jamais quero morrer assim... Meu Deus, Meu Deus… Eu saio de onde estava, tremendo. Estou chorando… Droga, engole o choro...

– Que delícia de rosto – Ele pega o rosto da mulher, pega também um aparelho e começa a colocar na minha frente o rosto dela na sua cabeça.

– P#$&#TA QUE PARIIIIU — Ele se contorce todo pela dor.

– CAR@&#LHOOO, PO@$#&RRA — Que cena horrível, eu não tenho estômago para isso... Eu quase vômito, mas seguro... Ele conclui seu procedimento. Eu aproveito que ele tá sentindo essas dores e corro o mais longe possível. Por desespero não volto pela mesma porta que entrei, vou numa outra. Eu não sei o que fazer... Quando entro na sala, eu tranco a porta. Bem lá na frente, vejo um altar, essa sala onde estou parece ser um templo. Lá no fundo da sala tem um altar. Ando até ela devagar. Em cima dela, vejo uma sacola pendurada no teto. Ela se mexe, como se fosse um coração. E na parede, no lado do altar, tem uma frase:

"Vinde Salaniel, vinde a todos nós, seus filhos e filhas o amam, o todo poderoso nos chamam. Clamamos o seu nome, vinde a todos nós com sua paz em mundo que pertence você"

    Mas que merda é essa? A porta se abriu atrás de mim. Aquele cara, dando risadas lunáticas. Com seu novo rosto adquirido em sua cabeça. Agora que percebi que ele usa uma roupa de açougueiro.

– Você... O que faz aqui?

– Que merda toda é essa, eu não sei como tudo isso está acontecendo...

Ele começa a rir.

– Ele chamou você — Ele continua rindo, seu corpo tem vários rostos. Me sinto em um grande pesadelo. Ele se aproxima de mim.

– Ah, você foi chamado... — O tom da voz dele é de total admiração. Estou ofegante, não há saída por aqui... Ele saca uma arma, e rindo, ele atira em mim.

Caio no chão... Não consigo pensar, a dor é imensurável… Eu só escuto risadas dele... Ele pega minha perna, e me coloca no altar.

Não consigo ver mais nada, estou agoniado de dor.... Meus olhos não conseguem mais ficar abertos, e no pouco que vejo, percebo um ser horrível com uma asa enorme... Apago de novo …

….….

Me desperto... Estou sentado de frente ao espelho... Estou com dois rostos de outras pessoas sobre o meu. Não me sinto mais eu.… Sinto como se algo está.… Dentro de mim.…

Uma música clássica começa a tocar na sala onde estou. Pessoas entram no local com muitas máscaras bizarras, são os meus irmãos. Estou vestido igual a eles, mas estou com um smoking, me sinto todo elegante. Há homens e mulheres, todos sorridentes, com uma áurea sombria e sem vida. Torno a me olhar no espelho... E um sorriso surge em meu rosto.

FIM

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