Ainda Bem Que Somos Amigos

      O castelo de areia montado de frente ao mar. A imagem é claramente uma mensagem poética sobre a perda, a desintegração dela se encontrando com as águas, uma mistura que a tornam únicas. O castelo já não existe mais, é levado pelas águas, e toda aquela arte se perde e retornam a sua forma original. Da construção a perda, do castelo ao amontoado de areias.

     O som do mar, pássaros voando, dia nublado e frio. As ondas dançam entre si fazendo o contraste com o pôr do sol. Olho para as águas e observo umas fotos. Sou eu... E uma outra pessoa. Está borrada. Seguro elas em minhas mãos e sensações claustrofóbicas ganham proporções abstratas na minha alma.

      Quando me dou conta, vejo uma moça parada estaticamente olhando para o mar. Seus cabelos loiros são levados pelo vento. Meu corpo quer se aproximar dela. Ando lentamente em direção a moça, e os seus olhos se encontram com os meus.

— Me desculpa — Digo a ela, esperando uma resposta.

— Eu desculpo — Ela dar mais passos em direção as águas. A sigo entrando também.

— Me desculpa, me perdoa — Ela não responde, e entra completamente no mar. A sigo, fazendo o mesmo.
  
       Entrando nas águas do mar, me vejo caindo em um lugar escuro, e em minha volta, memórias da minha vida inteira. Vejo vários clones dela junto comigo. Conversando, rindo.

— Ainda bem que somos amigos — Escuto minha voz dizendo isso a ela, alegre, leve, momento bom. Vejo muitas risadas, cantadas sem graça, brincadeiras de bons amigos. Somos tão jovens.

      Eu continuo caindo e caindo sobre esse céu debaixo do mar. Estou sozinho no meio dessas águas. Paro na superfície. E vejo uma carta com uma palavra.

                                  
                         "Desgaste"

 
     Difícil ver aqui em baixo. Eu não me afogo. Estou unido a essas águas como um só, ao lado da escuridão que cobre aqui embaixo.

      Escuto passos em minha direção e a vejo novamente, ela está carregando uma corda e me entrega e puxa até estica-lo. Fico segurando esperando ver o que ela fará. Ela pega uma faca, ergue a mão, e corta a corda. Nisso, uma outra carta cai em minha direção ainda flutuando sobre as águas.

        “Existe amizades que duram a vida inteira, e aquelas que ciclos se encerram, e tem outras que terminam em dor"

— Porque está longe? — Digo a ela, e a mesma somente me olha. Seus olhos estão vazios e frios para mim.

— Cortamos a corda.

— Eu tô tentando voltar. Perder você, a sua amizade, me quebra em pedaços.

— Eu te entendo... Mas não será a mesma coisa...

      Ela desaparece. E aparece uma porta na minha frente. Ando até ela, e abro a porta lentamente. E na parede do quarto onde me vejo, está escrito

      “Erros existem, percas é o mau que o pecado trouxe. Se perdoe, siga o seu caminho”  

— Se eu fosse naquele dia, eu ainda a teria na minha vida. As águas da ansiedade me derrubam em ambiente com tanta gente... — Caio de joelhos no chão, e as águas invadem o quarto me cobrindo por inteiro. Móveis caem e se quebram, janelas explode caindo vidros no chão. Tudo é invadido pelas águas...

      Ela aparece novamente. Caminha até a parede e desenha um ciclo. Eu me levanto, pego a caneta na mão dela, e passo uma linha no meio do ciclo...

       Ela desaparece... E a última carta aparece no chão. Pego e a abro.

         “Da construção a perda, do castelo ao amontoado de areias.”

        As lágrimas naturalmente se manifestam nos meus olhos. Preciso seguir em frente. Preciso aceitar isso, apesar de ter tentado voltar.

— Ainda bem que fomos amigos... — Digo a mim mesmo ao abrir os olhos, me vendo novamente na praia.

             
                                FIM

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