Símbolo do Infinito

— Me diz Amanda, me diz — Ela anda lentamente pela sala, se apoiando nos livros da biblioteca. Ela usa uma roupa toda preta, camisa manga longa, calça.

— Esse planeta desperta coisas que a nossa alma esconde Thomas. Você reprimiu algo muito íntimo não é mesmo? — Insinuou Amanda

— Do que está falando ? — Questiono, prestes a perder a minha paciência com toda essa enrolação.

     Na mesma hora, minha cabeça volta a doer de novo. Dessa vez é mais forte do que as anteriores. De repente, me vejo em um parque. Espere, eu me lembro disso. Nova visão?

....

— Oi filha, assistindo e desenhando esse desenho de novo? — Brinquei com ela, dando cosquinhas na cinturinha dela enquanto ela desenha o símbolo do infinito. Uma risada gostosa e cheio de vida. Seus olhos castanhos, cabelos pretos amarrado com laços e uma pele clara, vestidinho vermelho cheio de bolinhas. Fico ao lado dela, a coisa mais linda e que mais amo nessa minha vida toda.

— Eu amo esse desenho papai, e desenhar isso também. — Ela está toda empolgada, olhando pra mim, quando dar esse olhar já sei o que tem que dizer, e juntos nos preparamos para cantar uma das canções favoritas da Haley.

— Eu a amo infinitamente! — Juntos cantamos a canção do desenho, e eu a abraço muito forte dando mais cosquinhas nela. A minha esposa foi trabalhar e estou de folga, então quero fazer o que ela quiser hoje.

— Bom, se prepare, vamos pro parque hoje, depois vamos ao McDonald's e no fim iremos ao cinema!

— Ebaa — Empolgada, ela se levanta e me abraça, e foi ao seu quarto. Meu sorriso é tão bobo quando estou com ela.

     Já no carro, ela canta uma música do desenho. E fui seguindo e dirigindo o carro rumo ao parque. Ela faz mais um de seus desenhos, e me mostra. É um astronauta vendo o símbolo do infinito em uma grande pedra. Olha, ela será uma grande artista quando tiver minha idade, é tão bem feito, fiquei impressionado com desenho.

— Você é muito boa meu amor — Digo orgulhoso dela, e ela apenas sorrir e volta a desenhar. Chegamos ao parque. Ela desce do carro toda empolgada.

— Epa, calma, me espere.

— Pai, é logo ali. — Insiste ela.

—  Tá bem, fique onde eu posso vê-la.

     Ela corre bem animada para o escorredor, mês que vem ela fará sete anos. Como eles crescem rápido né? Me sento em um banco, fico observando a Haley. Ela escorrega, e volta, não há muitas crianças hoje no parque, só algumas. Haley fica em pé antes de escorregar, se exibindo e dando tchauzinho pra mim.

— SENTA HALEY — Grito, mas ela não me escuta. Ela se desequilibra, e cai. Corro imediatamente, outros pais também vão até a minha filha. Ah não, Haley.... Não, não, não.. A cabecinha dela não para de sangrar, não consigo escutar nada, uma onda gigantesca pressiona a minha alma. O mundo se tornou de cabeça pra baixo em fração de segundos, outras pessoas ligaram para a ambulância. Meu corpo treme. Minhas mãos geladas. Haley não acorda e permanece desacordada. Minhas mãos sujas de sangue dela. Meu Deus... Porque? Porque Senhor?

     Meses se passaram, me divorciei de minha esposa, ela me culpa pela morte da Haley. Meu pai sempre dizia que não conseguiria ser um bom pai, é, ele acertou, sou um fracasso. Bancar de um astronauta vai realmente fazer esquecer tudo isso? Eu não sei, eu só quero morrer, apenas isso e nada mais. Eu escuto a voz da Barbara toda noite "A culpa é sua, eu odeio você, você matou a nossa filha seu desgraçado" Não Bárbara, eu não matei a nossa filhinha, eu jamais faria isso. E amanhã vou partir para a missão, e não tenho coragem até hoje de visitar o túmulo da minha filha. Há meses estou sozinho, sem amigos por perto, todos acham que tenho culpa.

.....

    Me desperto, e estou novamente em frente da Amanda. Está tudo rápido demais

— Agora você lembra, não lembra?

— Eu estou ficando maluco, está tudo rápido demais e... Eu lembro... Eu lembro...

     As lágrimas descem com facilidade sobre a minha face. Meu coração queima e fica apertado de tanta escuridão que há aqui dentro. Agora eu entendi tudo. Caio no chão de joelhos, fraco, e o meu artefato triangular sai no meu bolso. Olho para o rosto de Amanda, ela ficou surpresa e com um olhar cobiçador.

— O Artefato?.... Os Guardiões deram a você? — Ela pergunta, curiosa, se aproxima de mim enquanto fico ainda caído no chão, sem forças de levantar. Ela pega, e contempla aquela coisa. — Isso, é a chave de tudo o que está acontecendo aqui. É o porquê de toda essa maldição. Os guardiões são uma trindade que protege o verdadeiro deus desse planeta, Salaniel, o deus adorado em todos os universos. Esse artefato é a chave para vinda dele. Aqui, ele concluiu a sua missão, habitar esse planeta. — Ela ergue o artefato, a sala se tornou de repente um templo. Toda a biblioteca, a mesa com um computador, tudo se torna em um templo, como no passe de mágica.

— O que está acontecendo? — Pergunto, ainda fraco de tanta dor, e me levantando devagar.

— O poder, Thomas. Poder de Salaniel, colocado nesse pequeno Artefato. Vou poder voltar pra casa com isso. Seres do passado que habitavam esse planeta eram fiéis ao Salaniel, por isso tantos símbolos triangulares. — Amanda está completamente diferente, estranha.

— Você... Você matou o Philip não foi? Estava atrás disso o tempo todo não é?

— Isso não me faz de mim uma vilã, Thomas. Eu apenas abracei esse lugar com a minha mente, eu aceitei a minha escuridão.

— Aceitou? — O que ela está falando? A sua postura está estranha, o seu rosto demonstra ganância, uma esperança brilhando em seus olhos.

— Depois de ter abortado gêmeos, eu mudei. Não preciso viver com culpa... — Amanda toma um jeito melancólico, e a sua voz fica baixa.

    Aquele monstro que eu lutei, tinha dois bebês nas costas. Que bizarro, seria coincidência?

— Quando disse que você era familiar. É que me lembra a minha esposa. Só me pergunto porque o meu quadro de fotos está na sua nave.

— Que quadros de fotos? — Pergunta ela. De repente, algo acerta Amanda, fazendo abrir a barriga dela. A sua expressão confusa, olhos arregalados, boca cheia de sangue, suas mãos na barriga. Ela cai morta no chão, e alguma coisa aparece na escuridão do templo, andando em direção ao artefato que começou a flutuar.

— Quem é você? — Gaguejo, trêmulo. Eu pego minha arma, já me preparando para o pior.

— Sua... Esposa... — Essas palavras me fizeram tremer, congelar.

— Bárbara? Não é possível... Eu estou louco...

— Está? Você foge de si mesmo, sempre fugiu a vida toda — Sua expressão está tão diferente. Olhos claros, cabelos loiros, pele macia. Mas sei que aquela Bárbara não é a que conheço. Porém, é estranhamente real.

— Eu... Quem é você... — Que loucura...

— Você matou a nossa Haley, Thomas. Você matou a nossa filha.

— Não, não eu não faria algo assim, eu estava olhando ela.

— Irresponsável. Assassino.... — Ela começa a chorar. Suas costas estouram, e asas surgem nelas. Ela começa a se contorcer, sua pele fica cheia de sangue, e ela repete "Assassino, a culpa é sua, você matou a Haley, está tudo acabado". Bárbara se transforma em um monstro. Ela ganha mais duas pernas, e umas vozes aleatórias fica repetindo tudo o que ela disse para mim.

    Ela vem pra cima de mim. Desvio de seu ataque, e atiro nas asas dela. Ela novamente me persegue, consegue me pegar, e voa. Bárbara começa preparar um golpe, mas consigo me soltar. Caio no chão. Minha arma cai junto e rapidamente a pego. Observo que um portal está se abrindo aos poucos. É o artefato. Bárbara me ataca e desvio e atiro nela. Acerto, dou mais um tiro, agora na cabeça. A criatura cai no chão se contorcendo de dor e gritando muito. E finalmente ela morre... Deu menos trabalho que o monstro anterior, mas esse em específico, era o meu monstro.

     As vozes durante essa batalha cessaram. O portal se abre completamente. Estou cansado. Minhas lágrimas começaram a sair de meus olhos, meu coração queima de angústia. Uma atmosfera melancólica dentro de mim ainda cobre o meu coração.

— Me perdoa Haley...— Digo em lágrimas - Eu sempre te amarei infinitamente meu amor - Continuo, me lembrando do símbolo do infinito e da canção que cantávamos juntos.

    Eu olho para o portal e não consigo conter as lágrimas ao que estou olhando agora, é a minha.... Minha filhinha, brincando no parquinho igual aquele dia, mas ela está viva... Meu Deus, é como fosse uma realidade paralela... Ando lentamente em direção a ela, lembrando das nossas brincadeiras, das nossas conversas, das perguntas que ela me fazia, dos penteados que eu fazia na minha bonequinha, dos doces que ela me fazia comer. Me aproximando daquela coisa estranha e cheia de barulho e energia, e devagar, lentamente, eu atravesso aquele portal.

FIM

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