Oh, my queen
O tempo está exageradamente frio, e eu aperto meu grosso casaco contra o corpo, na falha tentativa de me aquecer. Não sei se todo esse frio vem de dentro de mim, do vazio em meu corpo que já está tomando todo o meu ser. Afinal, essa região não costuma ser fria.
Subo o grande morro verde com os dentes batendo uns contra os outros. Uma laje com dezenas de flores de diversas cores se ergue do topo do mesmo a cada passo lento que eu dou.
Ofegante, paro na frente do túmulo que eu já visitei tantas vezes que se ele tivesse vida própria, já teria me desferido um soco pela falta de privacidade que eu dou a ele.
Aqui jaz Lucy, que você alegre a eternidade dos anjos no céu com o seu sorriso.
1990-2016
- Oh, minha rainha. - Minha voz está embragada enquanto eu deposito uma margarida branca em cima do túmulo.
"E aqui estamos novamente, com seus olhos solitários e sua pele enferrujada." Penso, sem condições de continuar em voz alta. "Você se foi por um longo tempo. E eu te enterrei tão longe, onde nada cresce, e ninguém vai. Tudo porque eu só a quero para mim, e você não merece ser enterrada em um cemitério, junto com tantos outros corpos esquecidos e onde você seria apenas mais uma."
Deito-me ao lado da lage, tomando cuidado para não esmagar nenhuma flor.
- Por quê, Lucy? Por quê? - Uma lágrima solitária escorre pelo canto do meu olho. - Por que você não se levanta daí e vem me abraçar, me beijar? Eu entendo que você esteja brava, mas... eu preciso. Levante-se, por favor!
Se o túmulo fosse um ser animado, provavelmente ele estaria revirando os olhos, impaciente. Sempre que eu venho aqui, eu falo isso; imploro para que minha amada se levante de sua cama de madeira e me abrace. Mas, por isso, eu não me culpo. Afinal, todas as vezes que eu olho para essa laje, vejo nela gravada as feições de Lucy. Em cada nuvem, em cada árvore, na escuridão da noite, refletida de dia em cada objeto, por toda a parte eu vejo a imagem dela. Nos rostos mais vulgares dos homens e mulheres... até mesmo as minhas próprias feições me enganam com a semelhança. O mundo inteiro é uma terrível testemunha de que um dia ela realmente existiu, e eu a perdi para sempre... Sei que já disse isso inúmeras vezes, mas, o que eu posso dizer a mais?
Afinal, é tudo culpa minha.
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