Lee Yura

Aquele idiota estava me zoando até não poder mais, se fosse possível esganar alguém por telefone eu já teria perdido o meu réu primário com o Heeseung.

—"Heeseung, eu não sei me virar sozinha"— Meu primo fez uma voz fina e irritante enquanto dizia aquilo em um tom provicativo, seu amigo estava rindo de fundo. —E não foi você quem disse que sabe se virar sozinha?

—Cala a boca Heeseung.— revirei os olhos. —Ah, por favor, você sabe que a única coisa que eu sei fazer é café, mas só porque eu trabalho como batista!

—Você não pode jantar café, você sabe disso, né?

—Heeseung, eu posso ser um pouco idiota e dependente, mas eu ainda não sou burra.— Cruzei meus braços.

—Vou te dar uma dica: pesquisa no Google alguma receita, vai te ajudar bastante.— Heeseung disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

—Tá bom, eu faço isso da próxima vez.

—Mas e aí? O que você jantou?— Ele parecia meio curioso.

—Macarrão instantâneo.

—Miojo?— O Lee tinha um tom de voz impressionado. —Caramba, o tio ia te matar se ele ficasse sabendo.

—Bom que eu já não tô mais de baixo do teto dele, essa coisa mortífera tem um gosto ótimo!

Eu fiquei por um bom tempo conversando com Heeseung por telefone até ele precisar desligar. Mas antes disso, ele me deu um último aviso.

—Se cuida e lembre-se, nem pense em pisar naquela pista de skate.

—Tá bom, tá bom.— Revirei os olhos. —Pode me explicar o porquê disso?

—Por que só tem gente esquisita e muita cocaína naquele lugar.— Ele sussurrou. —Já tô indo, tchau Yura.

—Tchau Hee.— Eu disse e ele desligou.

Aquela história de ter "gente esquisita" estava me deixando cada vez mais curiosa, eu já conheci muita gente esquisita na vida e me pergunto qual é o nível de esquisitice que essas pessoas devem ter chegado para fazer tanto o Heeseung quanto a Nako me alertarem para não entrar naquela maldita pista.

Meu skate estava quebrado já que a minha mãe o jogou da janela do meu quarto durante a nossa última discussão mas eu poderia ficar lá, olhando as pessoas, —algum skatista bonitinho— matando a saudade do meu falecido skate —talvez com um skatista bonitinho. Com tantas motivações válidas, eu tenho três palavras "me perdoa Heeseung" e dois pés que poderiam "acidentalmente" me levar até aquela pista de skate.

...

Era uma manhã de primavera ensolarada, lindas flores por toda a parte, o sol brilhando de forma mágica e linda, aquele era um dia incrível qual eu estava desperdiçando com um lugar onde meu primo descreveu basicamente como "equivalente a um manicômio, só que com skate e cocaína" o que eu poderia esperar de melhor? Mas então, assim que eu parei na frente da pista, minha visão sobre tudo mudou.

De alguma forma ninguém estava fumando cocaína e nem cometendo nenhum ato ilegal. As pessoas andavam de skate, riam, conversavam juntos e em geral, parecia um lugar bem agradável. Eu estava em choque, aquele lugar parecia legal demais para ter esse tipo de "gente esquisita", a atividade mais ilegal que eu vi acontecer por lá foi uma mulher com uma bolsa da Chanel falsificada e absolutamente nada mais.

Decidi chegar mais perto da pista, algumas pessoas estavam sentadas em bancos enquanto outras andavam de skate. Me sentei em um dos bancos e deixei a minha bolsa ao meu lado, eu estava maravilhada com aquele lugar, o meu eu adolescente estaria surtando em apenas ver aquilo, eu passei o meu olhar por todo o local e meus olhos pararam alguém.

Ele parecia ter no máximo um e oitenta de altura, cabelos tingidos em uma cor próxima a um roxo acinzentado que caiam sobre seus olhos que tinham uma coloração castanha escura, quase um preto. Seus olhos eram grandes e charmosos, seu sorriso poderia contagiar qualquer um, especialmente quando um par de covinhas rasas aparecia nos cantos de suas bochechas e seus olhos se fechavam. Em resumo, o cara era muito bonito, tipo muito mesmo.

Ele estava acompanhado por mais dois garotos, um com cabelos longos e castanhos com apenas uma mexa loira e o outro tinha uma aparência levemente estrangeira, não parava de sorrir e eu conseguia ouvir a sua risada a cerca de vinte metros de distância. Os dois não eram nada mal, mas o primeiro rapaz mencionado conseguia ofuscar os outros dois, não sei se é porque ele faz o meu tipo —eu tenho um penhasco por qualquer skatista bonitão, principalmente quando o skatista em questão tem cabelo colorido— ou se o cara é realmente ofuscante, mas eu não conseguia tirar os meus olhos dele.

É agora que vem a questão: o que eu faço quando vejo um bonitão atraente e quero saber qual é o Instagram dele 'pra ontem? Eu poderia simplesmente me levantar e perguntar para ele o bom e velho "oi tudo bom, você tem namorada? Porque eu adoraria ser a sua" mas a última vez que eu tentei isso, recebi um incrível "eca, que nojo" como resposta, aliás, seria precipitado até porque eu nem sei o nome do indivíduo. Talvez eu poderia abordar ele com o clássico "é que eu sou nova por aqui, eu preciso de informações", assim, eu consigo conquistar ele com os meus charmes.

Por tudo o que é mais sagrado, por que eu estava agindo igual uma idiota só porque eu vi um cara bonitão? Eu achei que era melhor esquecer toda essa história e eu de fato planejava esquecer, até que eu notei algo: o bonitão olhou para mim.

O. BONITÃO. OLHOU. PARA. MIM.

A última vez que um cara bonitão olhou para mim ele estava pedindo para copiar a minha tarefa de casa porque ele tinha esquecido, sim, isso foi ridículo, mas para o meu eu de dezesseis anos isso foi o máximo. Não que eu seja feia, o problema é que eu exalo completamente a aura de figurante o que quer dizer que é difícil para as pessoas notarem a minha presença, mas agora o skatista bonitão que eu nem ao menos sei o nome aparentemente olhou para mim, já é um avanço.

Emocionada? Talvez, mas eu precisava ficar um pouco mais e ter uma visão melhor daquele cara, tudo bem, eu não conheço ele, mas qual é o problema de olhar um pouquinho para um cara bonito? Infelizmente o problema aqui não foi olhar para ele e sim o fato de que eu fui deserdada e agora tenho que trabalhar para conseguir sobreviver, triste realidade, mas pelo menos eu não estou apodrecendo na cadeira de uma faculdade chique enquanto escuto sobre algo que odeio, eu já fiz isso por anos suficientes na escola.

—Tudo bem, eu volto amanhã.— Eu murmurei para mim mesma enquanto dava uma última encarada no bonitão.

...

Passando aqui pra desejar um feliz natal pra vocês! Boas festas pessoal, que vocês tenham um ótimo natal.