03: Furacão Holly [🍂]

Yoongi arrancaria os cabelos da cabeça se houvesse cabelos suficientes para isso.

Era quase meio-dia e sua mãe havia saído a meia hora e ele se encontrava em casa completamente sozinho. O que, ao invés de ser algo agradável se tornou seu tormento quando enfim se deu conta que estava de fato sozinho — a casa estava em completa paz, o que não era de se esperar uma vez que havia ficado trancado junto com Holly.

Yoongi já havia olhado em todos os cantos da cozinha e da sala; seu quarto, o quarto de seus pais e até mesmo o de seu irmão – que embora sempre ficasse com a porta bem fechada, Yoongi havia descoberto um jeitinho de abri-la sem deixar vestígios –, e ainda assim nada do sapeca de pelos marrons.

Com um suspiro e um par de lábios que declarava seu aborrecimento, Yoongi voltou para o quarto e caminhou até a janela na expectativa que o visse brincando próximo a cerca, mas nada avistou. Estava tudo em silêncio e estranhamente organizado.

— Onde ele está – resmungou para si mesmo desviando o olhar para o quintal da frente da casa dos Jeon.

Tudo ali também parecia pacífico, nada destruído ou coisa parecida. E então Yoongi se questionou se por acaso o cãozinho sorrateiro não havia entrado no carro junto com sua mãe sem que percebesse, ou que havia fugido em algum momento entre os sermões de sua mãe e voltar para o conforto da sala de estar e que estivesse andando solto pelas ruas movimentadas.

Yoongi gemeu ao imaginar ele aprontando e sendo perseguido por um bando de pessoas raivosas e nada daquilo pareceu promissor. E, como uma última tentativa – o que, de verdade, não seria – ele desceu e saiu para o pequeno quintal na frente da casa caminhando e parando na calçada enquanto olhava para o fim da rua.

Não sabia se seria certo sair caminhando à procura do cãozinho sem ter uma certeza. Sua mãe o mataria se algo acontecesse, mas de uma forma ou de outra ele morria caso algo acontecesse com seu Holly.

— Yoongi! – a voz de Jungkook soou anima ganhando o par de olhos negros do pálido especialmente para si — O que faz parado na calçada? Tá esperando alguém?

— Talvez – deu de ombros umedecendo os lábios ressecados — E você, o que faz aqui nessas horas? Não devia estar na escola?

— Oh, isso... – Jungkook riu coçando a nuca — Bom, eu fui expulso.

— Expulso?!

— Na verdade, não só eu. A turma toda – deu de ombros — O diretor perdeu a paciência com a minha turma depois que um grupinho se juntou pra pregar uma peça no professor de Química.

Jungkook explicou tudo, pacífico, como se estivesse apenas tirando um simples curativo do dedo ou coisa parecida. Yoongi ficou confuso, mas afastou os pensamentos quando o mais novo voltou a falar.

— Então, o que está acontecendo?

— É o Holly. Ele sumiu de casa depois que minha mãe saiu.

— Ele não tá na casinha? – Yoongi negou, voltando a olhar esperançoso para o final da rua — Será que ele não está no quintal da minha casa? A gente podia dar uma olhada.

— Eu não sei – falou sem muita convicção.

Jungkook pressionou os lábios fracamente antes de voltar a andar, agarrando o braço de Yoongi e o puxando em direção a sua casa. Yoongi quis contestar mas estava curioso e ansioso demais para recusar qualquer que fosse a oferta para encontrar seu cãozinho sapeca.

— Vamos por aqui, – afirmou guiando o mais velho pela lateral da casa a caminho dos fundos do quintal. — Não quero que a minha mãe me veja...

— Por que eu não devo te ver, em Jungkook?

A voz soou autoritária ali próximo. O menino que se encontrava fardado pela roupa escolar paralisou sentindo um leve arrepio pela espinha. O Min se juntou a ele um segundo depois, tomando em vista Sra. Jeon que regava um canteiro junto da casa.

— Ah, Yoongi. Que bom te ver novamente – a mulher sorriu amistosa ao cumprimentar.

— Oi Sra. Jeon – retribuiu, cutucando a costela de Jungkook para que ele pudesse se mexer — Por acaso a senhora viu o Holly por aqui? Ele não está em casa, nem no quintal. Imaginei que ele pudesse ter invadido o seu quintal.

— O Holly, ah... – ela murmurou olhando em volta a procura do cachorro — Ele estava aqui agora a pouco. Acho que deve ter dado a volta pelo outro lado da casa – falou com um resquício de incerteza, voltando sua atenção para o filho — Jungkook, por que não está na escola?

— A gente precisa encontrar o Holly antes, mãe. Depois conversamos – sua voz era embargada de nervosismo. Ele agarrou novamente a mão do Min antes de sair correndo pelo outro lado da casa.

Ele seria um homem morto se continuasse no alcance do olhar fuzilante de sua mãe. Mas de qualquer modo, ele seria um homem morto quando houvesse de contar sobre sua expulsão...

— Ele deve ter entrado!

Afirmou ele puxando o Min para dentro da casa, com mais pressa em seus passos quando percebeu que alguém havia deixado a porta lateral da casa aberta e que no tapete havia pequenas pegadas que claramente seriam de Holly.

— Acho que sei onde ele pode estar... Eu preparei um espaço para o Bam e...

Jungkook se calou parando bruscamente quando Yoongi firmou seus pés contra o chão, fazendo que o garoto o olhasse com dúvida estampada no rosto.

— Será que... eu posso sentar?

A voz de Yoongi saiu quase como um sussuro de tão arrastada. E embora esperasse por uma resposta do Jeon, ele já estava caminhando devagar até o sofá ali próximo onde afundou o corpo apoiando os braços contra suas pernas. Ele precisou puxar o ar algumas vezes para manter sua respiração regulada, o que era difícil quando havia acabado de correr o que seria – na sua percepção – uma maratona ao redor da casa da família Jeon.

— Está tudo bem, hyung? – Jungkook perguntou se aproximando devagar antes sentar ao seu lado. Ele se perguntava se havia feito besteira.

— E-esta sim – murmurou engolindo a seco.

— Tem certeza?

Yoongi voltou a concordar em silêncio. Ele odiava aquilo. Odiava se mostrar vulnerável. Mas havia momentos – e aquele era um desses – em que simplesmente não podia esconder. O cansaço, a falta de ar, as tonturas... Era tudo estranho e o consumia de dentro para fora, não deixando espaço para agir e ser uma pessoa aparentemente normal e saudável.

Mas o pálido ainda assim era um garoto temeiso. Gostava de afrontar a si mesmo. Na sua cabeça funcionava que para curar algo, teria que senti-la ainda mais.

— O que estava... – inspirou erguendo o olhar para Jungkook — O que estava dizendo sobre o Bam?

— Ah, eu... – o moreno murmurou incerto se deveria responder uma vez que Yoongi claramente ainda não estava bem — Eu fiz um cantinho na lavanderia para o Bam. Acho que o Holly pode estar lá...

— Ótimo, vamos, preciso buscá-lo... – afirmou mencionando se levantar, porém o Jeon o impediu de antemão.

— Seria melhor se ficasse. Ainda parece cansado... Eu vou buscar ele e você – apontou para o pálido já se levantando — fica aqui e espera eu voltar.

Yoongi sequer teve tempo de abrir a boca para contestar e Jungkook já havia saído correndo, sumindo ao entrar em em corredor. Não levou mais do que um minuto para Jungkook voltar às pressas trazendo Holly em seus braços.

— Ele estava mesmo lá – afirmou sorrindo ao afagar os pelos macios do cãozinho.

— Obrigado agora...

— Agora... – Jungkook cortou a fala com seriedade, o que no fundo acabou sendo engraçado e fofo aos olhos de Yoongi — Vou te acompanhar até sua casa.

— Eu posso muito bem ir sozinho.

— Eu insisto – sorriu caminhando para abrir a porta principal esperando que Yoongi se levantasse e o acompanhasse.

— Minha casa é ao lado, Jungkook. – resmungou finalmente parando em frente ao menino, estendeu os braços para receber seu cãozinho, mas o pequeno parecia confortável demais nos braços do Jeon para ousar sair dali.

— Ainda assim eu quero ir. Não posso?

Yoongi mordiscou o interior do lábio ao assentir. Tendo noção do que aquele era apenas o primeiro passo para se tornar frágil e incapaz aos olhos de Jungkook.

Quando entraram na casa de Yoongi foram primeiro recebidos por um par de olhos esbugalhados de preocupação da Sra. Min. Yoongi precisou levar cerca de dois ou três minutos ouvindo-a desabafar sobre o recente susto de não encontrá-lo em casa como normalmente esperava.

Jungkook sorriu discreto, percebendo como o pálido parecia constrangido com aquela reação da mãe. Ele colocou Holly no chão, que saiu a pulos para a cozinha. Quando a Sra. Min finalmente havia se acalmado e Yoongi pode explicar a situação, Jungkook se permitiu aproximar-se.

Um suspiro cansativo escapou pelos lábios de Yoongi, seu olhar parecia arrastado ao redor da sala e Jungkook notou algo que normalmente o Min não deixava transparecer. Algo entre uma irritação e uma tristeza profunda. Ele até quis dizer algo, na verdade, seus lábios haviam se mexido contra sua vontade, mas ele havia sido rápido ao se conter. No entanto, Yoongi o surpreendeu, falando exatamente o que ele queria saber.

— Não aguento isso. Ela... Eu sei que ela se preocupa, mas às vezes é um pouco cansativo ficar apenas aqui... – sua voz ia se arrastando conforme falava. Por um segundo, quase inaudível; Jungkook até chegou a abrir mais os olhos como se ajudasse a ouvir.

Quando Yoongi se deu conta que havia aberto a boca mais do que normalmente fazia, ele desceu o olhar para os cantos, nervoso em como fugir daquela situação.

Jungkook, levou dois segundos para deixar um sorriso tomar seus lábios, ele bateu levemente as mãos contra os bolsos e avistou Holly agora deitado próximo a porta.

— Bom, acho melhor voltar pra casa. Tenho certeza que a minha mãe deve estar furiosa pela expulsão da escola. Mas... – ele andou devagar até onde Holly estava, se agachou e acariciou os pelos do animalzinho. Yoongi o seguiu com um olhar discreto — hm, até depois, Yoongi.

Murmurou por fim, saindo finalmente. Yoongi suspirou levemente, sentindo que suas palavras haviam sido estranhas e que talvez houvesse assustado o garoto. Não apenas com seu desabafo, mas com sua franqueza, suas crises e tudo mais.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top