❛⭒003 - a última dança ❜
⭒capítulo três ⭒
a última dança
𔓕 MAEVE TARGARYENㅤׅ ノ ୨ৎ
﹙quatorze dias de nome﹚ | vigésimo
segundo dia da primeira lua
de 122 depois da conquista
Se Maeve pudesse confessar qual comemoração era a sua favorita, com certeza diria que eram os dias de nome.
Adorava como tais datas traziam uma certa leveza peculiar aos deveres tediosos de seu cotidiano; um brilho efêmero ao celebrar mais um ano de vinda ao mundo dos vivos. Sempre que tinha a oportunidade, perguntava até aos serviçais a data de seus dias de nome, organizando discretas ─── mas significativas ─── comemorações; apreciando os sorrisos genuínos e gratos que recebia em troca de tal feito.
E hoje era o seu dia de nome.
Mas este não era um ano qualquer como todos os outros aparentavam ser ─── era especial. Pela primeira vez, Maeve o comemorava como oficialmente uma mulher.
E, é claro, a Lady estava mais que radiante.
Parecia finalmente completa.
Havia algo de significativo na sensação de euforia que a envolvia, como se um desejo profundo finalmente tivesse se concretizado. Embora, é claro, ainda evitasse constantemente qualquer contato com Aegon após o incidente no Beco da Doninha ─── detalhe qual não conseguia esquecer, e que sempre lhe arrancava uma vermelhidão em suas bochechas ao lembrar-se de tal coisa.
Enquanto caminhava com passos ligeiros e cuidadosos pelos corredores do palácio, Maeve repassava mentalmente os possíveis presentes que receberia naquele dia. Além de sorrisos corteses e calorosas felicitações, sua mente estava ocupada com a ideia de expandir a própria e adorável coleção de bordados e pinturas de aves ─── uma paixão iniciada desde seus oito dias de nome.
Mas havia algo ─── ou melhor, alguém ─── em particular que a fazia disparar pelos passadouros da Fortaleza Vermelha à primeira luz da manhã.
Ao dobrar uma esquina, uma figura esguia postou-se inesperadamente em seu caminho, fazendo-a tropeçar nos próprios passos por um breve momento. Aegon.
Ele pareceu tão alarmado quanto ela, escondendo um livro atrás das costas rapidamente, como se a garota tivesse pegado-o em um ato proibido.
Maeve aproximou-se com cautela, o desconforto evidente em seu olhar enquanto examinava o primo dos pés à cabeça. O rapaz, no entanto, não disse nada, ─── o que era minimamente
suspeito para si ─── limitou-se a mirá-la por alguns instantes antes de continuar seu caminho, como se tivesse acabado de cruzar com um fantasma.
Não era exatamente uma surpresa. Desde o encontro com o feiticeiro desconhecido em Porto Real, o príncipe vinha agindo de maneira estranha, evitando-a sempre que possível. E Maeve, por sua parte, não fez muito esforço para mudar isso. Ambos estavam empenhados em manter a distância, e mais uma vez sucederam-se em tal feito.
Mas era, no mínimo, questionável vê-lo de pé àquela hora da manhã, considerando seus hábitos notoriamente irresponsáveis. A jovem estranhou ainda mais ao reparar que o mesmo retirava-se do gabinete dos meistres.
Com a testa ligeiramente franzida, ela atravessou os portais, deparando-se com um dos aprendizes da Cidadela, que organizava as novas correspondências reais. O rapaz, cuja idade parecia equiparar-se à dela, sobressaltou-se ao vê-la tão cedo ali.
Não era algo fora do comum, pois pelo menos duas vezes por semana Maeve não hesitava em interromper os afazeres do velho colega, obrigando-o a revirar o recinto à procura de notícias de seu pai.
─── Não sabia que era amigo de Aegon. ─── comentou Maeve, com um toque de curiosidade na voz.
Os cabelos cor de caramelo do garoto balançaram levemente enquanto ele, em evidente nervosismo, negava rapidamente a suposição da jovem.
─── E não somos. ─── ele apressou-se em esclarecer, seu tom vacilante.
Maeve arqueou uma sobrancelha antes de soltar uma leve risada, cheia de confusão.
─── Oh, Abraxas, acha que ele está cortejando alguma dama? Enviando cartas de amor para alguém? ─── o escárnio em seu comentário era quase tangível, como se lamentasse por qualquer donzela que pudesse estar assombrando os pensamentos de seu primo. ─── Lembre-me de lamentar aos deuses pela má sorte da Lady.
Abraxas em resposta sorriu, constrangido, enquanto coçava a cabeça.
Após a breve troca de palavras, Maeve começou a caminhar pelo gabinete, seus passos ecoando suavemente no chão de pedra. Os olhos, atentos e meticulosos, percorreram as pilhas de pergaminhos empilhados e dispersos em diferentes mesas, o aroma familiar de pergaminho velho e tinta fresca invadindo seus sentidos. Ela passou a mão suavemente sobre um dos rolos mais próximos, sentindo a textura do papel áspero sob a ponta dos dedos.
Havia uma calmaria estranha naquele ambiente ligeiramente desorganizado, no entanto, a mente da platinada não estava igualada àquele lugar.
─── Então, Abraxas, meu pai... ─── começou ela, desviando o olhar para o jovem que a observava com uma mistura de reverência e nervosismo. ─── Por acaso há alguma correspondência enviada por ele?
Sua voz, ainda que suave, carregava uma expectativa mal disfarçada. Os dedos dela brincanvam com as bordas de um pergaminho enquanto aguardava a resposta, sentindo uma ligeira tensão espelhando-se em sua postura, como se temesse que a resposta fosse negativa.
O aprendiz, observando-a à distância, hesitou por um instante antes de responder.
─── Hoje... é seu dia de nome, não é, lady Maeve?
Maeve apenas assentiu levemente, como se aquela informação não tivesse importância, mas seus olhos a traíam, assim como o tom de suas palavras.
─── Meu pai não se esquece dessas datas. ─── acrescentou, virando-se para Abraxas com uma expressão quase interrogativa.
─── Eu... ainda não vi nada em nome do Príncipe Daemon adereçado à senhorita…─── respondeu ele, cauteloso, remexendo alguns dos rolos de pergaminho para se certificar. ─── Mas posso verificar novamente, se desejar, milady.
Maeve assentiu levemente, contendo qualquer sinal de decepção que pudesse transparecer. Ela não queria parecer afetada, mas notou o peso crescente em seu peito. A ideia de que Daemon não havia lhe escrito, nem mesmo em seu próprio dia de nome, parecia incompreensível.
Ela forçou-se a lembrar de suas últimas cartas enviadas ao pai. Havia algo de errado? Alguma palavra ou expressão que pudesse ter ofendido o pai? Maeve sempre tentara expressar sua admiração por ele, mas, em contrapartida, será que havia soado infantil ou despretensiosa demais? Ou quem sabe, havia tocado em assuntos que o mesmo preferiria ignorar?
Uma pontada de desilusão atingiu-a.
Era difícil não se sentir desprezada, especialmente em um dia como aquele.
O jovem acólito finalmente se virou, o semblante traindo uma expressão de lamento.
─── Milady, sinto muito, mas não encontrei nada do príncipe. ─── a voz dele era cautelosa, como se estivesse prestes a anunciar uma má notícia. ─── Contudo, deixaram um presente para você, de forma anônima, aqui no gabinete.
Os olhos de Maeve brilharam ao ouvir a palavra. A expectativa começando a florescer dentro de si, ofuscando momentaneamente as emoções negativas em seu interior.
Um presente? Poderia ser de seu pai?
Talvez Daemon desejasse surpreendê-la, como quase sempre o fazia.
Abraxas indicou um pequeno alaúde repousado sobre uma mesa. A luz da manhã refletindo sobre a madeira polida, qual obtinha talhados de cisnes que pareciam ganhar vida a cada contorno.
Ela estendeu a mão para tocá-lo, sentindo a textura da madeira sob os dedos.
─── É... realmente belo. Embora, é claro, talvez agora eu precise de algumas aulas de música.
O rapaz riu em resposta.
─── Você acha que é do meu pai?
Abraxas balançou a cabeça, como se não pudesse revelar qualquer informação da situação.
─── Não posso dizer, milady. Mas é uma obra de arte admirável.
A lady observou o objeto mais uma vez, os cisnes esculpidos pareciam um toque pessoal, algo que apenas alguém que realmente a conhecia poderia ter escolhido.
E outro sorriso delineou-se nos lábios rosados de Maeve.
─── Minha gratidão é sua, Abraxas.
O acólito inclinou a cabeça em agradecimento, sorrindo com seus olhos castanhos, quais lembravam-na a mais pura âmbar à luz do sol.
Com o alaúde firmemente segurado, ela se despediu e retirou-se do gabinete, caminhando pelos corredores do palácio novamente, o som de seu vestido roçando o chão de mármore ecoando suavemente pelos arredores silenciosos.
Aparentemente, os deuses destinaram este dia em específico para que a garota esbarrasse com todos os seus famíliares em apenas um curto intervalo de tempo, pois avistou ao longe a figura familiar de Rhaenyra dobrando as passagens para sair do pequeno conselho, o semblante sério, mas suavizado ao ver a prima aproximando-se.
─── Maeve, querida, feliz dia de seu nome! ─── disse Rhaenyra com um sorriso acolhedor. ─── Estava mesmo à sua procura.
A mais nova assentiu gentilmente.
─── Como está Joffrey?
─── Acredito que neste momento esteja chorando pela mãe.
Maeve engoliu em seco por um instante, ao perceber que um pensamento ansioso e incômodo atravessava sua mente.
Ela havia passado pela transição simbólica de tornar-se uma mulher recentemente, mas não era tola, sabia que tal coisa não resumia-se apenas aos rituais de maturidade ou ao fato de agora finalmente sentir que todos à sua volta finalmente a levassem a sério. Significava também casar-se ─── algo qual a mesma desejava para si, porém, o que viria depois a deixava inquieta.
Sabia que, eventualmente, seria esperado de si gerar herdeiros, perpetuar uma linhagem... e enfrentar o perigo do parto. E tal pensamento lhe arrancava diversos pesadelos em madrugadas chuvosas e solitárias.
Maeve disfarçou a própria inquietação com um sorriso suave, mas dentro de si o medo pulsava entre suas entranhas, latente e desagradável. Por um momento, se perguntou se alguma mulher realmente estava preparada para aquilo.
E se ela falhasse?
Pior.
E se, como a mãe, também não sobrevivesse ao parto?
─── Podemos conversar por um instante? ─── A voz de Rhaenyra impediu-a de afogar-se novamente em seus anseios. E a Lady não evitou de notar em como a prima remexia nervosamente os próprios anéis.
Maeve assentiu, ao tempo em que a princesa ajeitava a postura e lançava um olhar breve para os lados, certificando-se de que estavam longe dos ouvidos curiosos que habitavam os corredores do palácio.
─── No conselho desta manhã, Alicent mencionou algo a respeito de seus quatorze dias do nome... A rainha sugeriu um grande baile em sua homenagem ─── começou a platinada, seus olhos buscando os de Maeve, como se quisesse medir a reação da garota. ─── Mas durante o baile, a coroa pretende avaliar os pretendentes mais adequados para desposá-la.
O coração de Maeve pareceu saltar do peito ao ouvir tais palavras. O casamento, o tão sonhado casamento, finalmente parecia uma realidade próxima.
Mas Rhaenyra, como se pudesse prever a reação da prima, apertou os lábios antes de continuar:
─── Sei que casar é algo que você sempre desejou, Maeve, mas ainda é tão nova... ─── a voz dela suavizou-se, quase como se estivesse tentando protegê-la de algo que a jovem ainda não havia percebido. ─── Posso tentar reverter a situação, se você não estiver pronta. Posso impedir que esse baile tenha segundas intenções.
Maeve, no entanto, sentiu o sangue em seu rosto esquentar. Ela sempre soube que haveria muitas responsabilidades dispostas à si envolvento este assunto, mas Rhaenyra parecia subestimá-la.
Por que ela estava questionando tal coisa? A garota não era sua filha.
─── Nova demais? ─── murmurou, contendo a irritação em seu tom. ─── Sempre serei nova demais aos olhos de alguém, Rhaenyra. E o casamento é uma honra.
Rhaenyra mirou-a com os olhos violáceos pesando sobre a mesma, ponderando as palavras de Maeve. Sabia que sempre desejara ser levada a sério, almejava o prestígio de um matrimônio nobre, mas ainda assim a Lady não parecia completamente ciente das desvantagens do casamento.
─── Não se trata de honra, Maeve…
A mais nova suspirou.
─── Eu quero isso, Rhaenyra. ─── disse Maeve com firmeza, embora sua voz carregasse uma leve tensão.
A herdeira permaneceu em silêncio por um momento, os olhos percorrendo o rosto da prima como se tentasse encontrar algo não dito. Seus dedos voltaram a brincar nervosamente com os anéis sob as mãos, um hábito que Maeve reconhecia como um sinal de incerteza.
Rhaenyra, então, esboçou um sorriso suave, mas suas expressões não refletiam a mesma leveza.
─── Se é isso que deseja, então que seja. O baile acontecerá, e os pretendentes virão. ─── Ela pausou, como se procurasse as palavras certas para suavizar o que diria a seguir. ─── Só desejo que saiba que o casamento nem sempre será fácil, Maeve.
─── Obrigada, princesa. ─── Maeve sorriu, tentando aliviar a tensão.
─── Apenas pense bem sobre isso, querida. ─── Rhaenyra lhe guiou um leve sorriso em resposta, mas havia algo suspeito na forma como seus lábios se curvaram, como se quisesse dizer mais, mas decidira não o fazer.
A luz dourada do entardecer atravessava os vitrais dos aposentos de Maeve com um brilho suave, enquanto a mesma encarava a própria figura novamente diante do espelho. Ela observava com admiração a forma como o decote ombro a ombro das vestes destacava sua pele de alabastro, enquanto correntes douradas caíam sobre seu peito e capturavam o resplendor dançante das chamas das velas ao seu redor. Um cinturão delicado adornava seu cós, como uma faixa banhada em puro ouro.
A lady baixou os olhos para apreciar enquanto seus dedos dançavam pelas saias opulentas e esbranquiçadas do vestido, qual parecia refletir a promessa de um futuro grandioso.
Helaena trabalhava atentamente, os dedos ágeis ajustando pequenos detalhes do traje da prima, os tecidos fluindo por entre suas mãos com uma elegância silenciosa. Ela observava Maeve de cima a baixo, e o sorriso que iluminou seu rosto tinha um toque de afeto.
─── Você está parecendo uma divindade, Evie. ─── Helaena proferiu com os olhos brilhando de admiração genuína. ─── Talvez a própria reencarnação da Donzela.
Maeve ergueu uma sobrancelha e sorriu, sempre apreciando os elogios sutis da prima.
─── Eu já sabia disso, mas obrigada por confirmar. ─── A loira respondeu com uma pontada leve de ironia na voz, e a doçura em seus olhos desfez qualquer impressão de arrogância que pairasse no ar.
Helaena inclinava-se para ajeitar mais um detalhe no vestido da dama à sua frente, quando prontificou-se a falar, aparentemente esforçando-se para alertá-la sobre algo:
─── Aliás, ─── começou a Targaryen em um tom mais sério, mas ainda leve. ─── estive com minha mãe esta tarde, e ela parecia estar organizando uma lista de seus possíveis ‘pretendentes’...
Maeve suspirou, virando-se para encarar o espelho, mas sua expressão permaneceu tranquila, quase como se já esperasse por isso.
─── Claro que está. ─── Ela murmurou, endireitando-se sobre os toques delicados em sua pele e observando o reflexo da prima. ─── Mas na verdade, eu já tenho alguém em mente.
Helaena franziu o cenho, surpresa.
─── Oh? E quem seria esse misterioso cavalheiro? ─── A curiosidade era palpável na voz de Helaena, seus olhos se estreitando com interesse.
A jovem garota desviou o olhar por um momento, como se estivesse buscando palavras certas para descrevê-lo, um leve sorriso tocando os lábios ao repassar mentalmente suas virtudes. Helaena sentou-se na borda da cama, ansiosa pela resposta.
─── Ele… tem uma beleza que poucos reconhecem de imediato, mas eu consigo ver. Seus cabelos são ruivos como as chamas suaves de uma lareira, e seus olhos... azuis como cristais recém-polidos. ─── Maeve começou, virando-se para a encarar diretamente, suas orbes claras refletindo um brilho velado e sútil de fascínio. ─── É nascido na sétima lua de 106, um vassalo da casa Lannister. Também descobri esta tarde que ele aprecia cavalgar… e sua cor preferida é cinza.
Helaena inclinou a cabeça, aparentemente descobrindo de imediato o rapaz ao qual referia-se.
Martyn Reyne.
─── Você descobriu tudo isso em um dia?
─── Ah, por favor, descobri entre a terceira e quarta hora. ─── Maeve fez uma pausa. ─── Sabe, os servos deste palácio podem ser bem mais úteis do que imagina se souber persuadí-los. ─── a Lady girou, indicando as saias brancas do vestido espalhando-se pelo ar, enquanto sorria, totalmente naufragada em suas fantasias. ─── E aparentemente, ele vestirá branco, assim como eu.
A princesa, observando Maeve com um olhar atento, levantou uma sobrancelha.
─── Sinto que está tentando ocupar sua mente com esses detalhes para não se concentrar em outra coisa, não é? ─── sua observação era direta, mas não maldosa. Helaena sabia que, em meio aos preparativos e excitação de Maeve, havia uma parte em seu peito que dedicava-se a concentrar-se em tais assuntos para que a lembrança da ausência de Daemon não a consumisse.
Maeve virou-se bruscamente, o rosto marcando uma expressão de irritação.
─── Não estou tentando me distrair, Helaena. ─── Ela respondeu com um tom mais seco e defensivo do que pretendia. ─── E quem sabe, talvez você possa utilizar seus sonhos para prever como eu e Martyn seremos felizes juntos, com lindos filhos de cabelos ruivos e olhos violetas.
A leve provocação da jovem fez a expressão de Helaena escurecer-se em alguns segundos. Maeve percebeu quase de imediato a mudança da mesma; fazendo-a engolir em seco e, com um suspiro de arrependimento, aproximar-se da prima à beira da cama.
Ela parou por alguns segundos, concentrando-se nos dedos de Helaena traçando os padrões bordados no tecido esverdeado de suas vestes.
─── Me desculpe… ─── a loira proferiu em um sussurro quase indistinto, sua voz agora suave, buscando o olhar da princesa. ─── Não era minha intenção chateá-la.
─── Sei que não quis. ─── Helaena respondeu, a voz mais baixa, quase hesitante. ─── Mas você não precisa esconder seus sentimentos de mim. Estou aqui para isso…
Maeve hesitou, o olhar perdendo-se por um momento nos vitrais ao redor, onde os raios do entardecer dissipavam-se para dar espaço ao luar, que infiltrava-se nos aposentos sutilmente através das cortinas, lançando padrões suaves nas paredes.
Embora confiasse plenamente em Helaena, havia uma hesitação em seu âmago que dificultava qualquer sinceridade. Um aperto inexplicável lhe enchia o peito, como se uma mão invisível estivesse pressionando seu coração, enquanto sua garganta tornava-se um nó ao tentar articular as palavras que há muito acumulam-se em sua mente.
Mencionar Daemon era um passo perigoso; uma possibilidade que a fazia sentir-se vulnerável, como se o simples ato de compartilhar minimamente o que sentia, tornasse tudo ainda mais real. Era mais fácil comentar sobre Martyn e seus sonhos, sobre o futuro brilhante que almejava…
─── Eu só... ─── começou, a voz trêmula, mas rapidamente calou-se, engolindo as palavras como se estas fossem venenosas a quem as ouvisse.
Helaena pareceu notar a hesitação da prima, então moveu as mãos para tocar a jovem, seus olhos violetas fixos nos de Maeve, encobertos por uma compreensão qual a garota não estava familiarizada.
─── Tenho algo para você. ─── ela interrompeu o assunto, levantando-se do colchão. Agachou-se em frente ao baú adornado que estava à sombra do dossel e, após mover a parte superior com um leve esforço, retirou de lá uma mantilha branca.
Maeve espiou, curiosa, enquanto Helaena se aproximava, o manto drapeando-se graciosamente em suas mãos. Assim que ela estendeu a peça, a Lady ficou encantada ao notar os detalhes: o tecido era suavemente bordado com traçados dourados representando ilustres figuras de dragões, e as runas que rodeavam a extremidade do manto apresentavam uma clara homenagem à casa Royce. A linhagem de sua mãe, seu legado.
Helaena, percebendo o olhar admirado da prima, sorriu com satisfação.
─── Pensei que seria perfeito para usar esta noite.
Maeve agarrou a veste, deslizando os dedos sobre o bordado com cuidado, apreciando a habilidade e dedicação que a prima havia colocado na peça.
─── É deslumbrante, Hel! ─── exclamou, os olhos brilhando com fascínio. ─── Nunca poderia ter algo tão belo.
─── Aqui, deixe-me ajudá-la a vestir. ─── ela indicou, aproximando-se da Lady e virando-a suavemente para que pudesse ajustar a veste em suas costas, garantindo que tudo estivesse perfeito.
O som da escotilha dos aposentos fizeram ambas as garotas moverem-se ligeiramente em direção aos portais, apenas para avistarem a silhueta de Alicent adentrar porta afora.
─── Maeve, você está deslumbrante! ─── declarou a rainha, um sorriso caloroso nos lábios. ─── Mas ainda falta uma coisa.
A rainha avançou, atravessando o quarto apressadamente, ao tempo em que as orbes de Maeve capturavam uma jóia reluzindo nos dedos da mulher suavemente.
─── Soube que aprecia pássaros. ─── explicou, enquanto revelava à garota um belo colar com um pingente de garças azuis talhadas em seu centro, fazendo-a lembrar-se do anel de sua mãe. A ruiva repousou a jóia em torno do pescoço de Maeve, seus dedos cuidadosamente ajustando o fecho. ─── Elas simbolizam pureza, qualidade que você deve sempre carregar consigo, e transição, como a nova fase que está por vir, querida.
Maeve tocou o pingente, sentindo a superfície gélida do metal encontrar-se junto da calidez de seu toque, e mordiscou os lábios.
Ela não queria acabar com aquele momento, mas, aparentemente Alicent não estava ciente de que garças azuis eram um sinal de um mau presságio.
─── Agora querida, nesta noite, você deve portar-se como uma verdadeira dama. ─── disse a rainha, afastando-se alguns passos para observar a garota com atenção. ─── Lembre-se de que não deve dançar até a última melodia iniciar-se, e é essencial que escolha seu acompanhante com sabedoria.
Maeve franziu a testa.
─── É uma tradição, uma maneira de mostrar que você está aberta a novos pretendentes.
A Lady agora assentiu, embora o pensamento deixasse-a um pouco apreensiva. A expectativa pela noite parecia ter acumulado-se em seu interior, e apenas agora Maeve percebia como o nervosismo apossava-se de seu peito semelhante a uma enxurrada.
─── Certo. ─── a platinada proferiu, numa tentativa de esconder a ansiedade que começava a brotar dentro de si. ─── Farei o meu melhor.
Perambular pelo salão havia tornado-se cansativo para Maeve após as três primeiras horas. Não recordava-se ao certo quantas taças de vinho havia agarrado neste ínterim, para que pudesse, de alguma forma, aliviar o tédio que a envolvia enquanto observava os convidados desfrutarem da pista de dança.
Amaldiçoava internamente quem quer que tivesse criado aquela tradição tola, e nos últimos minutos, chegou até a considerar a possibilidade de simplesmente ignorar as regras e aceitar o primeiro convite que recebesse.
E este era o problema.
Ninguém sequer a havia convidado para dançar.
Com um suspiro frustrado, agarrou outra taça de vinho da bandeja que um dos servos passava, mantendo uma fachada impecável de compostura. Afinal, ela deveria portar-se como uma dama, e não apenas esta noite, mas para sempre, como sua tia Alicent tão bem a havia lembrado.
Enquanto permitia que seu olhar vagueasse pelo salão, as orbes da Lady captaram um grupo de jovens nobres, todas com aproximadamente a sua idade. No centro delas, destacava-se Cassandra Baratheon, que parecia fazer um comentário mordaz, os lábios curvados em um sorriso condescendente. Ao lado, mais afastada, Helaena cochichava sozinha, perdida em seu próprio mundo, como sempre.
Ela franziu o cenho ao ouvir fragmentos da conversa entre as moças.
─── …Ela jamais conseguirá um marido, pobre criatura. ─── Cassandra murmurou, em meio a risinhos abafados. ─── É uma pena que nossa rainha, tão graciosa, tenha uma filha tão... desajustada.
O sangue ferveu dentro de si.
Ela sabia que Helaena era peculiar, mas também sabia o quanto a princesa era doce e gentil. Não suportaria ouvir mais um insulto dirigido à prima.
Sem hesitar, Maeve aproximou-se do grupo, fingindo tropeçar levemente e esbarrar em Cassandra, permitindo que seu pé pisasse na sapatilha da Baratheon com uma sutileza quase ensaiada.
─── Oh, perdão, Lady Cassandra. ─── ela desculpou-se com uma falsa doçura, forçando um sorriso educado enquanto observava o desconforto da outra ao sentir o peso sobre seus pés.
Cassandra estreitou os olhos, quais carregavam miradelas cortante direcionadas únicamente a Maeve.
─── Tudo bem... ─── começou ela, sua voz carregada de veneno. ─── Suponho que não tenha tido tempo para aprender a se portar como uma verdadeira dama enquanto era criada por selvagens na Triarquia.
As palavras da garota perfuraram Maeve como uma lâmina afiada. Era um golpe pessoal, pois a Baratheon sabia bem que sua criação vinha sendo um grande assunto para a corte até os dias atuais. Por um momento, o salão pareceu desaparecer ao redor da platinada, dando lugar às memórias que ela raramente permitia alcançar a superfície.
Após a morte precoce de sua mãe, o futuro de Maeve havia sido traçado de maneira brusca e quase impessoal. Viserys, em um esforço para trazer Daemon de volta de suas atividades em Stepstones, acreditou que entregar a responsabilidade de uma filha a ele o faria abandonar a guerra e retornar a Westeros.
Mas o príncipe rebelde não carregava tal título por capricho, e recusou-se a renunciar o campo de batalha. Em vez disso, tomou a decisão de criar a filha em meio à guerra, mantendo-a ao seu lado até sua vitória final em 115.
Maeve controlou a raiva em seu peito com um brilho frio nos olhos. Ela sabia que ceder àquele jogo seria exatamente o que Cassandra desejava, então, ao invés de revidar com fúria, a jovem inclinou levemente a cabeça, mantendo a compostura.
─── Curioso, Lady Cassandra… Ao menos em meio aos ‘selvagens’ aprendi algo que falta em damas da corte como você: respeito. ─── a Targaryen replicou, sua voz gélida e firme, um contraste afiado com a agressividade disfarçada da morena à sua frente. ─── Seria interessante ver como o rei reagiria ao saber que tais ofensas estão sendo proferidas contra a princesa Helaena.
Reparou quando o sangue que corria pelo rosto da morena pareceu dissipar-se rapidamente de seu posto, perdendo a cor nas bochechas ligeiramente, enquanto as acompanhanter da jovem ficavam em silêncio, tensas. Maeve se inclinou levemente, mantendo o sorriso afável, enquanto tocava o ombro da Lady.
─── Não se preocupe. Sei que, no fundo, você não quis dizer o que disse, e se desculpará com minha prima em breve, não é mesmo?
Cassandra assentiu com o maxilar cerrado em reposta.
Maeve afastou-se de imediato, o olhar ainda firme, mas uma satisfação oculta acompanhando-a enquanto o fazia. Voltava a atenção para uma pequena princesa platinada, que encontrava-se em um dos cantos do salão.
─── Deveria estar desfrutando da melodia, Helaena.
A princesa parecia obter um olhar distante a medida que Maeve aproximava-se, como se estivesse perdida em pensamentos, e então, ao notar sua presença, ela inclinou a cabeça ligeiramente para sussurrar:
─── Há espinhos no sangue do dragão… ─── Helaena disse, seus olhos mirando a multidão com um ar de cautela. ─── Deveria tomar cuidado com seu vinho, pois o veneno é denso entre vocês…
Maeve parou ao auscultar a última frase ser proferida. Estava acostumada a presenciar tais... visões. A princesa parecia ver além do presente, como se sonhasse com profecias de um futuro próximo, mas nunca citara algo diretamente para si.
O veneno é denso entre vocês…
Uma onda nada agradável percorreu seu corpo ao recordar-se de tais palavras. Ouvira pela primeira vez do feiticeiro que Maeve e Aegon encontraram há dez dias atrás. A jovem Targaryen engoliu em seco, tentando manter a compostura, e desviou o olhar para o salão repleto de convidados. Ambas as garotas permaneceram como estavam por longos minutos, antes de Maeve novamente quebrar o silêncio entre elas rapidamente:
─── Descobriu algo sobre a lista de Alicent?
Helaena hesitou, os olhos baixando um pouco, antes de falar.
─── Bem… poderia citar algumas opções aceitáveis, ─── ela murmurou, lançando olhares discretos a jovens lordes espalhados pelo salão. ─── Como Willem Blackwood, e o filho de Lorde Jason, Loreon Lannister…
A garota fez uma careta.
─── Se Loreon for tão arrogante quanto o pai, apenas seria capaz de me casar com ele se em troca lhe arrancassem sua língua, ou meus ouvidos. ─── ela reparou quando a expressão de Helaena pareceu se sobressaltar por alguns segundos, antes de sorrir com ternura. Maeve deu de ombros. ─── Mas eu não ligo para eles, Helaena! ─── a jovem insistiu, um ‘quê’ frustração transparecendo na voz. ─── Desejo saber se Martyn é uma opção.
─── Não está na lista atualmente, mas… ─── sua prima ponderou, uma expressão cautelosa cruzando seu rosto. ─── Na verdade, poderia passar a ser, se sua única e última dança for junto dele.
Maeve grunhiu com impaciência.
─── E a última dança será…? ─── ela apressou-se a perguntar, porém, uma melodia flutuou suavemente pelo salão quando a garota o fez, interrompendo suas palavras.
Ambas as damas entreolharam-se ligeiramente, enquanto os acordes enchiam a atmosfera, então buscaram ao redor, observando os pares que formavam-se e moviam-se em direção à pista de dança.
Quando seus olhares se fixaram em Martyn, que caminhava em sua direção, Maeve sentiu o coração acelerar. Estava vestindo branco, assim como havia sido informada pelos serviçais mais cedo, e o mesmo carregava algo em sua expressão que deixava a garota ansiosa, fazendo-a sentir o estômago contorcer-se a cada passo do rapaz.
─── A última dança. ─── Helaena sorriu encorajadoramente para a prima, enquanto a mesma preparava-se para dar um passo à frente.
A garota engoliu em seco, repousando a mão atrás de suas costas para que pudesse remexer nervosamente em seus anéis sem que qualquer um percebesse o nervosismo que a preenchia. Então, como se um ladrão de sonhos tomasse seu posto para saqueá-la, a visão da silhueta de Martyn fora bloqueada por um gibão verde musgo junto de correntes prateadas.
Ela soltou uma careta desgostosa.
─── Me concede esta dança? ─── Aegon perguntou, um sorriso travesso nos lábios, mas havia algo autoritário em seu tom.
─── Não. ─── Maeve respondeu de imediato, a frustração pulsando em suas veias, enquanto erguia o braço direito discretamente para que retirasse o primo de seu caminho. Porém, antes que pudesse fazer mais, Aegon a interrompeu, agarrando suas mãos no ar com firmeza.
─── Não é uma pergunta.
─── Aegon! ─── a loira rebateu em um sussurro no mesmo instante, assombrada com a atitude do mesmo, que a conduzia cada vez mais próximo a pista de dança, sem dar ouvidos à suas queixas. Ela ousou olhar para trás. Martyn parecia aborrecido, seus olhos fixos na cena, antes de solicitar a mão da princesa Helaena para uma dança. ─── Está arruinando minha noite.
─── Considere este o seu presente. ─── provocou o príncipe, enquanto girava a garota de frente para si, uma mão segurando a dela firmemente, ao tempo em que a outra deslizava até suas costas com uma suavidade assustadora. ─── Não estou tentando arruinar sua noite.
Maeve ergueu uma sobrancelha contraditória, esperando que um sorriso travesso se espalhasse pelos lábios do príncipe e que o mesmo terminasse a sentença com um comentário ácido, qual sempre vinha após uma frase como essa. Talvez algo como 'sua noite já estava arruinada'.
Mas, para sua surpresa, ele ficou em silêncio.
A lady encarava-o com confusão ao rodopiarem pela pista, sentindo os olhos de todos os convidados no salão voltados a si, alguns julgando-os, outros surpresos com tal coisa… e claro, Maeve apenas estranhava o fato de Aegon não ser, de todo modo, um péssimo dançarino. Na verdade, quem pisava nos pés de seu acompanhante era ela, ─── propositadamente ─── aguardando para arrancar uma confissão explosiva do primo.
O príncipe grunhiu quando ela o pisoteou pela quarta vez.
─── Pelos deuses! ─── ele apertou seus dedos instintivamente. ─── Só estou tentando fazê-la parecer mais interessante.
─── Desculpe? ─── a Lady franziu os cenhos, incrédula.
─── Se estiver com sorte, ─── Aegon murmurou, ignorando a expressão ofendida da garota e aproximando-se ligeiramente da mesma, o que a fez afastar o rosto para trás por alguns segundos. ─── Martyn talvez esteja encarando-a com um olhar naufragado de ciúmes.
─── Não quero que ele tenha ciúme de mim.
─── Tsc, essa é a parte em que sorri, eu digo o quão bela está, e então você desvia o olhar como se estivesse envergonhada. Não é difícil.
Maeve, no entanto, não seguiu o roteiro. Sua expressão endureceu-se ainda mais, e Aegon umedeceu os lábios com um movimento ansioso.
O rapaz era fácil de se irritar.
─── Engraçado como conseguem embrullhá-la nas melhores sedas e jóias, apenas para vendê-la ao homem que oferecer a melhor aliança, ─── o príncipe apontou as vestes da garota com um aceno sútil. ─── E você aceita, como uma mártir.
─── Engraçado como você é tão solitário ao ponto de sentir a necessidade de infernizar minha vida, apenas para que, de alguma forma distorcida, isso alimente seu ego. ─── A resposta veio rápida, e Maeve percebeu o leve tremor nos lábios do primo. Algo nas palavras dela parecia tê-lo atingido.
Aegon sorriu amargamente, como se as afirmações dela tivessem arrastado-o involuntáriamente de volta para uma lembrança desagradável.
─── Não estarei tão solitário em breve, loirinha. Estou noivo.
A confissão fez Maeve franzir os cenhos.
─── Viu só? ─── ele continuou, o desprazer em sua voz evidente. ─── Está tão concentrada em si mesma que nem se dá ao trabalho de perguntar à minha irmã sobre isso. Seria bom, para variar, mostrar que é uma amiga, ao invés de sempre trazer tudo de volta para seus próprios problemas.
O príncipe girou-a abruptamente, e quando Maeve voltou a posição inicial, percebera como os pares haviam sido alternados. Suas mãos não estavam mais agarradas às de Aegon, mas nas de Martyn Reyne.
O coração dela deu um salto.
Maeve piscou algumas vezes, confusa com o último comentário de Aegon. Noivo? E o que ele queria dizer com aquilo de 'concentrada em si mesma'? Ela sentia a cabeça girar como um furacão com o fluxo inesperado de informações. Estava tão absorta que mal percebeu quando as mãos de Martyn acariciaram as suas suavemente.
─── Planejava convidá-la para a dança. ─── o ruivo murmurou com um sorriso sincero, seus olhos fixos nela enquanto a conduzia com uma leveza que seu primo não havia mostrado.
Ela ergueu os olhos para ele, mas não conseguiu disfarçar o fato de que sua atenção ainda estava voltada para Aegon. A cada giro que davam, seus olhos seguiam o príncipe pelo salão, como se esperasse que ele dissesse mais, que terminasse a frase inacabada.
─── Maeve? ─── Martyn chamou-a suavemente, puxando-a de volta para o presente.
─── Ah… claro. ─── respondeu ela, piscando rapidamente como se despertasse de um sonho. ─── Também planejava desfrutar de sua companhia esta noite.
Uma faísca de ódio novamente tomou conta de seu âmago. Maeve dançava com alguém cuja a presença desejou a noite toda, e mesmo assim, o príncipe conseguiu fazê-la prender sua atenção em outra coisa que não seja os olhos cristalinos do rapaz à sua frente.
Martyn, por outro lado, parecia alheio aos sentimentos da garota, e apenas a conduzia com facilidade, seus passos firmes, mas suaves, trazendo a ela uma sensação de segurança. Ambos rodopiaram pelo salão, trocando apenas ligeiros olhares envergonhados entre si, porém o brilho de desconforto nas orbes de Maeve não passariam despercebidos por Martyn por mais tempo, entretanto, antes que o cavalheiro pudesse questionar tal coisa, os pares começaram a se reorganizar.
Maeve foi suavemente afastada do Reyne, e ao virar-se, encontrou Aegon novamente à sua frente, sorrindo com uma expressão que ela reconhecia de imediato: provocação em sua mais pura forma.
─── Parece que terei de ser o seu amante, ─── murmurou ele, com um sorriso travesso curvando seus lábios. ─── você não consegue tirar os olhos de mim.
Maeve ergueu o olhar para o Targaryen, contendo um brilho de frustração e desdém.
─── Eu não mancharia o nome do meu marido com bastardos… ─── ela atirou logo de imediato, como se sua voz cortante fosse capaz de quebrar o humor questionável do primo, embora a mesma ainda tentasse manter a compostura. ─── muito menos de alguém tão repugnante quanto você.
Aegon arqueou uma sobrancelha ofendida, os lábios ainda sendo traçados com um sorriso travesso nos mesmos.
─── Creio que a senhorita não seja a mais apta para enfrentar o leito de um parto… seja a criança legitima ou não. ─── ele provocou, a menção fazendo-a estreitar os olhos logo de imediato. ─── Sabe como funciona, não é? ─── a jovem sentiu um frio na espinha, como se o estranho agora dançasse junto deles naquele momento, espreitando… aguardando para capturá-los.
─── Você não faz ideia do que está dizendo. ─── retrucou, a voz carregando um tremor que não sabia se fora capaz de ocultar, enquanto tentava se recompor. Aegon era um homem, não tinha capacidade nem para cuidar de seus próprios deveres, quem dirá opinar ou ter o conhecimento dos dela. ─── Na verdade, acho que sei o que está fazendo. ─── O rapaz soltou uma gargalhada de escárnio, como se a desafiasse a terminar o raciocínio. ─── Está agindo estranho desde o Beco da Doninha. Não sei o que aquele feiticeiro fez com você ou lhe mostrou, mas só porquê a sua vida será miserável, o que não me surpreende, não significa que a minha será igual.
O olhar de Aegon endureceu, fazendo a jovem sentir a mão sobre suas costas tornar-se ligeiramente brusca e indelicada.
─── Eu prometi para minha mãe que seria um cavalheiro e não estragaria a sua noite, mas vê-la iludida me causa náuseas. ─── ele retrucou, as palavras saindo com uma crispação amarga e direta, cada sílaba cravando-se no ar como um golpe, fazendo Maeve se sentir exposta, como se Aegon estivesse destruindo qualquer sonho que pudesse alimentá-la. ─── Acha que casará com o Lorde que desejar, terá belos filhos com ele e viverão felizes para sempre, como nos contos de fadas que lê? Não funciona assim, querida.
Maeve revirou os olhos com desdém, porém cada palavra proferida pelo rapaz parecia carregar um peso que a fazia recuar mentalmente, lembrando-se dos avisos de Rhaenyra mais cedo.
─── Mas, de qualquer forma, não importa, ─── Aegon continuou, a voz agora carregando em si um murmúrio mordaz. ─── pois todos aqui a veem como uma simples égua reprodutora. Deverá gerar belos herdeiros de sangue legítimo para a sua casa até que seu útero seque. Nada mais, nada menos. Esta é a sua realidade. Não há amor, não há liberdade, apenas dever…
E você caiu na armadilha.
A lady engoliu em seco, o salão ao redor dela transformando-se em meros borrões indistintos, como se o mundo se desfizesse em uma neblina e a sufocasse. Maeve vacilou o aperto entrelaçado nas mãos do rapaz, e tentou respondê-lo amargamente, mas nada veio à mente ─── e Aegon não parecia esperar por um contra-ataque, seu olhar firme refletia uma certeza fria, como se estivesse revelando uma verdade que ela recusava-se a ver.
Até agora.
Era como se a realidade estivesse desmoronando ao seu redor, e Maeve simplesmente se mantivesse imóvel. Incrédula. Incapaz de fazer algo.
O príncipe soltou as mãos entrelaçadas de ambos para agarrar com a ponta de seu dedo indicador o pingente de garças que repousava no pescoço da prima.
─── Garças azuis… ouvi dizer que indicam um mau presságio.
Então, a música cessou por completo, e um silêncio ensurdecedor pareceu apoderar-se do salão, por mais que a mente de Maeve parecesse urrar com diversos pensamentos e anseios.
Se a perguntassem novamente, Maeve diria que passou a odiar os dias de seu nome.
❛ ⚜️. 001 ▮espero que tenham gostado do capítulo, não está completamente revisado, então me desculpo desde já por qualquer erro que possa conter (ou alguma repetição, porque isso me dá agonia) ❜
❛ ⚜️. 002 ▮o aegon humilhando ela nesse capítulo *choro*, sei que ele pegou pesado, mas pelo menos agora ela sabe como o casamento funciona (pelo menos naquela época) ❜
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