❛⭒001 - a targaryen sem dragão ❜
⭒capítulo um ⭒
a targaryen sem dragão
𔓕 MAEVE TARGARYENㅤׅ ノ ୨ৎ
﹙treze dias de nome﹚ | décimo dia da
primeira lua de 122 depois da conquista
⭒ Porto Real -
Westeros
─── Pareço uma meretriz com essas vestes! ─── a garota retrucou ao encarar o próprio reflexo diante do espelho, seus dedos explorando o tecido requintado e dourado qual adornava a pele pálida da mesma.
Um dos muitos presentes enviados por seu pai de Pentos. Maeve encantou-se com as estampas luxuosas e o toque suave do material dos vestidos, mas apenas por um efêmero instante.
Segundo as miradelas escandalosas de Alicent e a guardiã da pequena, Amelie, a moda Essosi indicava ser... demasiadamente extravagante para as damas de Westeros.
A Targaryen concordara, de qualquer forma. O decote reto nos ombros faziam-na sentir o beijo gélido da brisa sob seus músculos, e a peça não parecia adequada para o cotidiano. Embora os trajes fossem realmente belos, seu pai nunca fora conhecido por desejar evitar atrair olhares para si ou sua família.
─── Maeve! ─── a rainha repreendeu-a em um tom sobressaltado, aproximando-se da pequena. ─── Isso não são modos portados por uma dama! Onde ouvira tal linguajar?
Maeve notou quando seu rosto aqueceu-se de imediato, o olhar sendo ligeiramente desviado para uma pequena princesa sentada ao pé da cama. As duas garotinhas trocaram miradelas quais pareciam conter segredos audaciosos, antes de soltarem um sorriso ladino.
─── Perdão, Vossa Graça.
Alicent acenou rapidamente com ambas as mãos, seguindo as orientações da garota como seguiria as mentiras de um nobre. Parecia estar aborrecida demais para questionar sobre as fontes de tal conhecimento vil.
─── De fato, é um ultraje Daemon enviar vestes tão... inapropriadas. ─── a ruiva aproximou-se da pequena figura de Maeve postada diante do objeto, seus dedos repousaram-se sobre os ombros nus da lady ao tempo em que uma careta desgostosa formava-se em seu rosto. ─── Solicitaremos para que a costureira real torne-o mais apropriado, entretanto, ainda deverá usá-lo apenas quando se tornar uma mulher, querida.
A jovem garota sentiu um calafrio percorrer a espinha ao ouvir tais palavras e imediatamente sorriu com expectativa, permitindo que sua mente explorasse o desejo de finalmente ser vista como mais do que apenas uma garotinha desamparada dentre uma corte liderada por dragões.
Se tornar uma mulher...
Maeve esforçava-se para encontrar motivos e compreender porquê tantas garotas temiam este fatídico dia, porém, sempre fora em vão. Ela não entendia o motivo de tanto desespero, sempre apreciou observar jovens Ladys em suas vidas pacatas, provando algo do qual ela um dia sonhava em ter.
─── Não entendo, ─── um vozear doce, qual Maeve tendia a comparar às ondas serenas do mar ao amanhecer, arrastou-a para fora de seus devaneios com uma rapidez surpreendente. ─── o que há de errado com o vestido?
Alicent voltou-se para a garota que a encarava com olhos violáceos cobertos por uma névoa de expectativa e curiosidade genuína, então um sorriso terno e maternal, porém sério, escapou pelos lábios da rainha, fazendo Maeve encolher-se ligeiramente ao perceber algo beliscar em seu peito quando notou a maneira como a rainha parecia iluminar sua expressão ao dirigir-se à filha.
Ela apertou os lábios, tomada por uma nota de amargura, como se a proximidade entre Alicent e Helaena tivesse traçado uma muralha que a afastasse de ambas.
─── Helaena, querida, ─── começou Alicent, ─── não há nada de errado com o vestido em si. É uma peça muito bela e bem trabalhada. No entanto, em Westeros, possuímos costumes e tradições diferentes dos de Essos. Algumas vestes que são consideradas apropriadas lá podem parecer inadequadas ou escandalosas aqui. ─── ela pausou, aparentando procurar uma maneira de explicar-se sem parecer severa.
Então, estendeu os braços para tocar os ombros da garota, ato qual fizera a princesa esquivar-se ao notar o movimento repentino. A ruiva engoliu em seco quando Helaena o fez.
Maeve mordiscou os lábios ao longe, franzindo as sobrancelhas ao sentir a tensão recair-se sobre o cômodo como uma tempestade repentina. ─── Oh! Quase me esqueci! ─── Ela atirou apressadamente, fechando os punhos ao redor das formosas saias de seu vestido e descendo do pequeno estrado que postava-se à frente do espelho.
Ajoelhou-se ao lado de uma pilha de vestidos e esticou o braços para procurar algo ao fundo do mar de tecidos, um sorriso ansioso apossando-se de seus lábios. Maeve sentiu o toque frio de uma superfície em seus dedos e agarrou-a prontamente.
─── Pedi para que meu pai trouxesse a mais peculiar do mercado. ─── proferiu ao caminhar em direção a Helaena e a entregar um pequeno frasco contendo um inseto em seu interior. ─── Sei que possui um apreço especial por aranhas.
Os olhos de Helaena brilharam em um instante, curiosos e radiantes, enquanto a mesma posicionava o recipiente o mais próximo que conseguisse de seu rosto, quase como se não desejasse perder um detalhe sequer da pequena e estranha criatura.
─── Ela é linda!
─── De fato. Alguns dizem que ela pode conter um veneno mortal... ─── Maeve retrucou, com seu tom de voz mórbido e coberto de zombaria, como se desejasse assustar sua amiga ao lhe informar sobre tal coisa. Helaena batera delicadamente no vitral ao perceber que o pequeno aracnídeo exibia uma variedade de tonalidades que, conforme a posição e refletição da luz, revelavam-se distintas. ─── Também ouvi dizer que o mesmo pode ser usado para a enfermidade que assola o rei...
Alicent ─── que parecia enxergar o inseto como um monstro prestes a penetrar as garras sobre sua pequena e inocente filha ─── revirou os olhos antes de interromper a fala da garota.
─── Por favor, Maeve! ─── a mulher exclamou, movendo os ombros com graciosidade ao respirar fundo, sua voz carregada de impaciência. ─── Espalhar superstições sobre venenos e curas milagrosas só trará mais problemas para a coroa. Devemos confiar nos meistres e na medicina verdadeira, não em rumores e mitos de comerciantes.
A jovem piscou os olhos e com um aceno furtivo de seu queixo mostrou que havia entendido a repreensão da rainha, seus dedos deslizando pelas mãos à procura de um pequeno anel, como se buscasse por um apoio inexistente.
As pontas dos dedos da garota circulavam os adornos quais imitavam pequenas garças, girando-o com movimentos ansiosos, ao tempo em que seus lábios moveram-se para quebrar o silêncio que cobria os aposentos como um manto frio e incômodo, mas a garota fora interrompida quando a silhueta de Sor Criston mostrou-se presente ao pé da porta.
O dornês inclinou-se em uma pequena reverência antes de dirigir-se à sua subordinante:
─── O Pequeno Conselho solicita sua presença, Vossa Graça. ─── Alicent levantou-se apressadamente, mas não antes de mais uma vez tentar aproximar-se de sua filha, repousando um beijo sorrateiro no topo da cebeça de Helaena antes que a mesma pudesse esquivar-se novamente.
Maeve pressionou o anel que remexia com uma força repentina e nada agradável.
─── Cuidem-se crianças, Amelie estará ao seu dispor. ─── então, com um movimento gracioso, Maeve observou as vestes esverdeadas da mulher moverem-se para fora do alcance de sua visão, deixando-a apenas junto da companhia de sua amiga e prima, Helaena.
A Targaryen pulou do chão com uma rapidez surpreendente.
─── Sua mãe se movimenta como pluma, não acha? ─── ela comentou, subindo no pequeno estrado novamente e replicando os últimos movimentos de Alicent em frente ao espelho. Uma tentativa de se mostrar tão graciosa quanto a mulher, qual fora falha, fazendo com que a mesma se frustrasse e assentasse suas saias com tabefes indelicados.
Maeve não era conhecida por desistir facilmente, e continuou persistente em sua tentativa de parecer-se ligeiramente com a rainha, enquanto Helaena ria de seus movimentos com um sorriso de orelha à orelha, e claro, juntamente do novo inseto em suas mãos.
─── Acha que papai escreverá para mim em breve, Hel?
Helaena franziu os cenhos em confusão.
─── Claro, você recebe cartas de Daemon ao menos duas vezes por semana.
─── Certo... ─── Maeve traçou os fios dourados do tecido envolto em sua cintura, perdendo-se novamente entre seus pensamentos. ─── Mas... já fazem duas semanas que não tenho notícias. Estes presentes foram entregues, sim, mas sem nenhum pergaminho... ─── A garota não pôde ver, mas sabia que sua amiga mordiscava os lábios à procura de alguma solução para as dúvidas da mesma.
Mas não havia desculpas. Daemon talvez cansou-se de lhe informar sobre a rotina pacata durante sua estadia nas Cidades Livres, ou, na pior das hipóteses, finalmente esqueceu-se da garota, dado a companhia de suas outras filhas e esposa.
Ela bufou, novamente notando um amargor ao fundo de seu âmago, mas também havia algo mais... um desconforto ─── que, segundo a garota, parecia assemelhar-se à uma onda de gelo ─── começava a tomar conta de sua barriga como uma peste a cada segundo que mantinha tais pensamentos vivos.
Maeve sentiu um leve impacto na parte de trás da cabeça, como se algo pequeno e firme tivesse tocado sua pele, o que felizmente ─── ou não ─── fizera com que a sensação em seu estômago sumisse e sua mão fosse guiada ao local atingido.
E novamente, outro impacto, seguido por um som estrondoso, como se alguém tentasse conter uma risada abafada, mas falhasse em sua missão.
A loira respirou fundo, uma centelha de irritação ameaçando ascender-se dentro de si, antes de se virar e encontrar a silhueta esguia e relativamente alta de seu primo. E claro, o mesmo sempre caminhava pelos corredores do palácio acompanhado de seus amigos.
─── Que comovente, priminha!0 ─── Aegon proferiu, os cantos da boca curvando-se para baixo de uma forma exageradamente entristecida e um tanto teatral. Os olhos ametistas brilhavam com uma leve diversão, traindo a genuinidade da expressão enquanto o mesmo esforçava-se a fazê-la parecer abatida.
─── Talvez possa tentar a carreira de ator se falhar com a de bobo da corte. ─── Maeve retrucou com um sorriso venenoso em resposta ao garoto, o que fizera com que uma risada fosse arrancada dos lábios de Martyn, recostado ao batente da porta.
O príncipe fechou a expressão em uma carranca quando seu amigo o fez, antes de retirar uma única unidade de uva do cacho em uma bandeja e arremessar a mesma em direção à garota. Novamente. Maeve se esquivou, grunhindo com a ação do rapaz.
─── Pare com isso!
─── Não estou me sentindo disposto a fazê-lo.
Outro arremesso.
A Lady bufou irritada novamente, os olhos faiscando enquanto ela se endireitava, pronta para responder com um comentário afiado. Porém, antes que pudesse abrir a boca, uma outra uva veio voando em sua direção, desta vez atingindo seu ombro. Ela encarou Aegon incrédula, que junto do amigo encontrava-se gargalhando abertamente.
─── Isso é ridículo! ─── ela cruzou os braços. ─── Somos crianças ou o quê?
─── Acho que estamos só nos divertindo ─── respondeu Aegon com um sorriso presunçoso. ─── Você deveria tentar também, ao invés de lamentar como um bezerro recém-nascido o fato de que seu pai finalmente enjoou-se de você, assim como fez com sua mãe.
Maeve estreitou os olhos, a raiva fervendo em seu interior diante do insulto direto porém perspicaz do rapaz. Havia ofensas que nem mesmo Aegon deveria usar, não quando a memória de sua mãe ainda parecia tão viva, pelo menos para ela. A lembrança de que, assim que as luas avançassem e seu décimo sexto dia do nome chegasse, ela assumiria Runestone como uma superior.
Herdeira do sangue Royce que corria como água em suas veias.
─── Minha mãe foi a Lady de Runestone, você deve respeito à ela.
Aegon dera de ombros com o comentário da garota, aparentemente alheio à tal coisa. Seus passos circundaram os aposentos, como se o mesmo ponderasse algo em seu subconsciente, antes de virar-se para a prima novamente:
─── Sunfyre já está grande o suficiente para duas selas, sabia?
A Targaryen ergueu uma sobrancelha com o comentário do rapaz, percebendo a forma abrupta como o mesmo mudara de assunto.
Enquanto caminhava em direção à Helaena, que encontrava-se ajoelhada aos pés da cama, respondeu com desdém ao cruzar os braços sobre o peito:
─── Que ótimo para ele. ─── os lábios de Aegon comprimiram-se em uma linha reta e carrancuda com a resposta da garota, ao tempo em que lançou um olhar frustrado para seu amigo, aparentemente aborrecido por algo não ocorrer conforme o planejado.
Maeve manteve-se em silêncio por um momento, aconchegando-se ao lado de sua amiga para fazer-lhe companhia, porém, quando a garota o fez, notou o toque sutil da Targaryen ao empurrá-la ligeiramente com o cotovelo.
─── Esse é o mais próximo que meu irmão conseguirá chegar para te convidar a dar uma volta em Sunfyre.
Ela franziu os cenhos, lutando para conter uma risada incrédula. Não que achasse alguma graça na situação, mas porque convidá-la para tal coisa seria o mesmo que sugerir que alguém com medo de água nade em um lago profundo.
─── Oh, certo! Então quando estivermos há centenas de pés do chão, Aegon me empurrará de seu dragão.
O rapaz soltou um sorriso ladino.
─── Se insiste tanto...
─── Eu não vou.
─── Por quê?
─── Porque... ─── Maeve pausou sua frase por alguns segundos, ponderando alguma desculpa coerente para o pedido do príncipe. ─── Bem, temos aula de etiqueta na terceira hora do dia.
─── Você é uma péssima mentirosa. ─── Aegon bufou ao revirar os olhos, claramente descrente às palavras da garota. ─── Não é segredo para ninguém que costuma faltar às aulas de etiqueta para estudar sobre aves. ─── seus cenhos franziram-se, observando-a com uma expressão de esmero junto a um leve desdém. Ele levantou uma sobrancelha sutilmente, como se questionasse internamente o interesse incomum da platinada por tais animais.
Maeve sentiu uma pontada de desconforto em seu peito ao perceber a forma como o príncipe parecia julgá-la com apenas uma miradela arrogante.
─── Bem, aves são criaturas fascinantes. Uma pena eu não ser capaz de dizer o mesmo sobre...
─── Pelos Sete! Vocês dois não têm nada melhor para fazer do que discutir? ─── Martyn, que até então encontrava-se sobre uma perfeita posição de espectador, bufou, cruzando os braços com impaciência. ─── Sua presença seria mais que bem-vinda no fosso, Maeve. ─── o ruivo voltou-se para a garota com um sorriso terno, aparentemente tentando disfarçar a irritação em seu tom, enquanto erguia uma mão sugestiva para a mesma.
Ela sentiu o calor apossar-se de suas bochechas imediatamente ao desviar o foco de sua atenção para o Reyne, oscilando dentre os olhos azuis profundos do rapaz e sua mão, como se não soubesse o que fazer com a mesma.
Deveria cumprimentá-lo?
Ao invés disso, Maeve entrelaçou os braços atrás de seu tronco, contorcendo os dedos nervosamente à barra do vestido.
─── Ah... você também iria? ─── indagou, percebendo uma breve falha em sua voz por míseros segundos. A platinada respirou fundo. ─── Tem permissão para tal coisa?
Ambos voltaram os olhares para Aegon, que retribuira da mesma forma, os três questionando-se em silêncio.
─── Eu sou o príncipe. ─── o Targaryen respondeu, erguendo o queixo em um gesto arrogante. ─── Faço o que quero, assim como meus acompanhantes.
Maeve entreabriu os lábios para questionar a resposta do rapaz, entretanto, Helaena opôs-se as ações da garota ao agarrar um de seus pulsos com delicadeza, interrompendo a mesma antes que pudesse proferir uma palavra sequer.
A princesa encarou-a com um brilho travesso em seus olhos púrpura, então erguera uma sobrancelha de forma sugestiva e, com um gesto discreto, apontou para Martyn, um sorriso sutil agora dançando em seus lábios.
─── Pode ser divertido, Evie... ─── Helaena murmurou para que apenas a amiga a ouvisse, persistente em encorajá-la.
─── E quanto a você?
─── Bem, farei companhia à minha nova garota. ─── a princesa indicou o inseto em suas mãos. Maeve notou quando Aegon desviou o olhar para a aranha e dera passos sobressaltados para trás, quase como se temesse a criatura.
─── Muito bem, então! ─── proferiu com um suspiro resignado, as mãos indo de encontro ao seu colo por breves segundos antes de levantar-se do lugar ao lado da amiga. ─── Espero que não seja mais uma de suas travessuras mesquinhas, Aegon.
O príncipe lançara um olhar ligeiramente ofendido para Maeve ao tempo em que sacudia a cabeça levemente, como se tentasse afastar o comentário da mesma.
─── Oh, você me julga tão mal! ─── retrucou ele, um sorriso forçado descortinando-se sobre os lábios ao dirigí-la uma reverência exagerada e indicar o caminho afora da câmara com as mãos ─── Podemos?
Maeve fitava a pulseira de mão qual encobria uma pequena marca indesejada em seu dorso esquerdo, os dedos brincando com os pingentes dourados quais recaíam como cascatas e lhe traziam a doce e agradável sensação fresca para sua pele.
Contando em sua mente, esforçava-se para seguir as instruções que seu pai havia lhe lecionado durante os anos em que passaram em Stepstones. Quando avistava algo aterrorizante ou apenas temia pela vida dos homens de Daemon, o príncipe rebelde a acalmava ─── ou ao menos preparava-a para o pior.
"Respire fundo, estrelinha", ele costumava dizer, a voz grave e firme, mas com um toque brando. "Inspire pelo nariz, deixe o ar preencher seus pulmões e, então, expire lentamente pela boca. Repita até sentir a calma te envolver como um manto."
A garota o fez desesperadamente. Fechou os olhos, inspirou profundamente pelo nariz, sentindo o oxigênio preencher cada lacuna de seus pulmões; expirou lentamente pelos lábios. Uma, duas, três, quatro vezes...
Mas suas mãos ainda tremiam.
"Observe o mundo, Maeve. Veja as cores, ouça os sons, sinta as texturas. Permita que sua mente prenda-se às pequenas coisas, e não ao que te causa terror."
─── Dohaerās! ─── Jacaerys sibilou seu comando bravamente à Vermax. A besta aproximando-se do montador lentamente, como se para confirmar a ordem do mesmo; com os olhos predatórios analisando cada indivíduo à frente de si.
Maeve engoliu em seco, sentindo os pelos em seu corpo eriçarem-se ligeiramente quando o dragão repousou as orbes amarelas em si por longos e torturantes segundos, como se a alertassem do perigo iminente. A garota inspirou novamente, lutando contra a voz em seu interior que a aconselhava a sair correndo dali o mais rápido que pudesse. Lamentou pelo pobre bezerro alguns metros distante, que em breve seria o banquete de Vermax.
─── São grandiosos, não acha? ─── Martyn sussurrou ao pé do seu ouvido, arrancando um rubor nas bochechas da Lady ao fazê-lo. Luke, ao lado de Martyn, observava a cena com um olhar curioso, sempre sussurrando algo para Aemond.
Seu estômago revirou-se ao tempo em que notava como o ar que tanto dedicava-se a inspirar, aconchegava-se desconfortavelmente em sua garganta, impedindo-a de formar uma sentença decente e sincera como "me tire daqui".
─── Hm? ─── Maeve murmurou, tentando manter a compostura apesar do nó que formava-se sobre sua faringe.
─── Os dragões. ─── o Reyne continuou, ignorando a inquietação evidente da garota. ─── São criaturas fascinantes e intimidantes.
A loira assentiu levemente, olhos ainda fixos em Vermax. 'Intimidante' parecia um eufemismo para descrever a presença opressiva do dragão. Lembrava-se das palavras de seu pai, Daemon, sobre como enfrentar seus medos, mas naquele momento percebia como era difícil aplicá-las na prática.
─── Parece que você não consegue ficar longe, Martyn. ─── Aegon comentou amargamente enquanto encarava-os de soslaio, uma insinuação sutil em seu tom de voz, tal qual Maeve infelizmente não fora capaz de distinguir em meio à situação. Estava ocupada demais em manter o coração em seu peito para auscultar as provocações do primo ou irritar-se com o mais simples e sutil movimento do mesmo.
O dragão agora parecera captar a presença do mamífero com a ajuda dos instrutores, aproximando-se cada vez mais do mesmo e afastando-se dos garotos, apenas aguardando o comando de Jace para incinerar o pobre animal.
─── Dracarys, Vermax!
Maeve não tivera tempo para cerrar os olhos quando avistou as chamas apossarem-se da superfície ligeiramente, a besta cobrindo seu banquete com as flamas alaranjadas em uma rapidez eficiente. A presa não tivera tempo sequer para fugir e Maeve reconheceu o berro reprimido do bezerro, o que fizera com que sua mente evocasse memórias quais a mesma desejava apagá-las.
Ela lembrou-se dos corpos carbonizados no chão, das paisagens devastadas que testemunhara em sua tenra idade...
Crescera ouvindo os relatos das batalhas sangrentas em Stepstones, onde seu pai, Daemon Targaryen, lutava ferozmente. Os gritos de agonia e o cheiro acre de carne carbonizada tinham tornado-se parte de suas noites, assombrando os sonhos da garotinha.
Assim que seu pai levou a melhor sobre a longa guerra, Maeve recordava-se de avistar uma parcela do horror de um ataque dracônico durante uma visita aos campos de batalha ─── Daemon aparentemente parecia ansioso para exibir à filha sua vitória, sugerindo acompanhá-la ao local devastado.
Sua mente perdera os detalhes mórbidos com o passar dos anos, mas Maeve ainda podia avistar meramente os corpos mutilados e carbonizados jazidos ao chão, poças de sangue tingindo a areia sob seus pés; a recordação de como as labaredas dos dragões consumira tudo ao redor, transformando a vida em cinzas num piscar de olhos.
Tal coisa cravou-se em sua alma de alguma maneira, e a presença de dragões, desde então, era a principal razão para seu coração bater descompassado e seu corpo enrijecer-se com temor.
Monstros.
Maeve conteve um grito estrangulado sobre a garganta, mas não pôde evitar que desse alguns passos para trás ao encarar a besta com horror, agarrando as mãos de Martyn ─── que estava ao seu lado ─── numa ação desesperada e inconsciente. O rapaz encarou-a com zombaria, como se achasse engraçado a reação da mesma.
─── Qual o seu problema?! ─── o ruivo perguntou genuinamente, quebrando o toque de Evie com um movimento brusco.
─── Qual o meu problema? ─── ela sibilou com a voz trêmula de indignação e medo, porém, a garota não fora capaz de evitar que seu rosto também demonstrasse constrangimento por entrelaçar suas mãos às do rapaz repentinamente. ─── Você não faz ideia do que é crescer cercada por essas... ─── hesitou, a palavra 'monstros' quase escapando de seus lábios. ─── ...bestas.
Martyn lhe dirigiu uma careta desgostosa, como se questionasse silenciosamente o porquê de Maeve agir tão repressivamente com tais criaturas, quase como se acusasse-a sutilmente de ser ingrata por carregar tal legado e desprezá-lo de toda forma.
Maeve sentiu um peteleco em sua nuca retirá-la da areia-movediça que eram seus pensamentos, captando em alto e bom som a caçoada do primo:
─── Deixe-a em paz, Martyn. ─── o rapaz proferiu com sarcasmo, abraçando-a ligeiramente, seu toque coberto com falsa preocupação. ─── Maeve prefere ser conhecida como a Targaryen sem dragão.
A garota grunhiu, movendo os ombros afastando o toque do príncipe com os mesmos.
─── Lembra-se de como nos obrigou a passarmos uma hora ouvindo um de seus contos favoritos, estrelinha? ─── Aegon perguntou, proferindo o apelido qual o pai da loira havia lhe dado com a voz infantilizada e coberta por sarcasmo. Maeve sentiu a raiva queimar em suas entranhas e cerrou os punhos de imediato. ─── Aparentemente você nos inspirou a fazermos uma pequena boa ação.
Ela franziu os cenhos, virando-se para Jacaerys e Lucerys, que a cercavam enquanto riam de maneira travessa, Aemond observava a cena ao longe com os olhos violáceos atentos e curiosos.
─── Embora seja de sua escolha não reivindicar um dragão, nem todos nós almejamos o mesmo. ─── Aegon entrelaçou os dedos no pulso esquerdo da garota, guiando-a em direção à Aemond, antes de realizar um simples movimento de sua cabeça, indicando algo para os sobrinhos e o amigo. ─── Meu irmão precisa de um dragão, não acha?
Ela dera de ombros, demonstrando sua falta de interesse. Aemond, por outro lado, assentiu exasperadamente, como se advinhasse o que os garotos fariam a seguir.
─── Sabe, ele é o único de nós sem um dragão... ─── o rapaz começou, puxando o irmão para também partilhar uma caminhada junto dele. ─── E nós nos sentíamos péssimos com isso... ─── o mais novo assentiu ao compreender as palavras de Aegon, uma expectativa contida em seus olhos. ─── Então, encontramos um para você, irmão.
─── Um dragão?
Maeve bufou em descrença, afastando-se do toque do príncipe.
─── Como? ─── indagou a loira, permitindo que sua desconfiança transparecesse dentre um tom de voz levemente alterado.
─── Os deuses proveram.
Antes mesmo que a Targaryen pudesse retrucar a resposta do mesmo, um guincho cortara o ambiente ao redor dos nobres, seguido pelos passos apressados dos irmãos Velaryon. Ambos postando-se furtivamente ao lado do tio e trazendo consigo algo em seu encalço.
Os cantos dos lábios de Maeve contraíram-se de imediato ao reconhecer o animal qual acompanhava os príncipes, e a mesma esforçou-se para suprimir o riso que ameaçava escapar de si a cada segundo. Ela inspirou, mas teve a certeza de que todos ainda eram capazes de notar o ruído reprimido, fazendo-a forçar uma tosse na tentativa de disfarçar a gargalhada.
Era um porco.
Um porco com asas.
A Lady deveria creditar Aegon, Martyn e os Velaryon pela tamanha criatividade.
─── Conheçam o terror rosado! ─── eles anunciaram em uníssono ao apontarem para a criatura rechonchuda, os lábios curvados em sorrisos maliciosos cobertos por uma zombaria quase palpável.
Maeve desviou o olhar de divertimento do porco e voltou-se para o primo, buscando a reação do mesmo à tal coisa, mas quando o fez, sentiu uma pontada de culpa palpitar desconfortavelmente em seu peito ao achar tal situação cômica.
Aemond fitava o animal fixamente, a expressão sobre sua face passada de confusa para incrédula em meros segundos, então, uma fúria parecia instalar-se sob as orbes do menino. Seu olhar escureceu e Maeve parecia notar em como o calor subia pelo corpo do rapaz, a humilhação queimando-o por inteiro.
Os risos ao seu redor apenas pareciam intensificar ainda mais a raiva do príncipe.
─── Isso já é demais. ─── disse ela com a voz firme e severa, antes de cruzar os braços sobre o peito. ─── Vocês não têm nada melhor para fazer do que humilhar seu próprio parente?
Aegon soltou uma risada escandalosa ao tempo em que apoiava-se em Martyn.
─── Foi uma brincadeira, prima. ─── Jacaerys retrucou inocentemente ao encará-la com seus olhos de corsa. A Lady reconhecia tais miradelas muito bem para recusar-se à tentação de perdoá-los tão facilmente.
─── Uma brincadeira de muito mau gosto. Vocês devem se desculpar.
─── Mas até você riu!
─── Eu não... ─── a garota fora incapaz de concluir a sentença, pois o mais velho dos cinco aprontou-se de imediato para zombar do irmão mais uma vez:
─── Certifique-se de tomar cuidado ao montar, o primeiro voo é sempre difícil!
Maeve voltou-se para observar Aemond, que havia agarrado a corda utilizada para guiar o suíno assim que a mesma afastou-se dele, e agora prosseguia o caminho adiante com o animal em seu encalço.
─── Aemond, o que está fazendo? ─── ela proferiu enquanto caminhava em passos rápidos para alcançá-lo.
Nenhuma resposta fora proferida pelo rapaz, ao invés disso, o pequeno príncipe aproximava-se cada vez mais da completa escuridão da caverna à frente, o que fizera com que a Targaryen parasse em meio a sua tentativa de detê-lo. Em segundos, a silhueta do garoto dissipou-se ao aventurar-se mais adentro do fosso, fazendo Maeve prender a respiração em seus pulmões.
Com um impulso de desespero, ela virou-se abruptamente, suas pernas movendo-se com uma rapidez determinada. Seus olhos procuraram freneticamente pelos instrutores, mas, aparentemente, eles afastavam-se do local juntamente com Jacaerys, Lucerys e Vermax. Restando-lhe apenas duas opções...
─── Vocês! ─── Maeve exclamou, voltando-se para Aegon e Martyn.
Ambos arquearam uma sobrancelha ao notar o chamado da mesma.
─── Parece que a princesa está em apuros. ─── Aegon curvou os lábios em um sorriso cínico enquanto se aproximava. ─── O que foi?
Maeve não perdeu tempo. Com um movimento brusco, a menina agarrou o pulso do príncipe, os dedos fechando-se fortemente ao redor de sua pele. Sem permitir que protestasse, começou a guiá-lo pelo caminho feito por Aemond instantes atrás. Aegon, surpreso com a força da garota, vacilou por um instante antes de ser arrastado, Martyn ao seu encalço, o olhar de divertimento transformando-se em um semblante de curiosidade nervosa.
─── O que você está fazendo, sua lunática?! ─── o platinado protestou, tentando se desvencilhar, mas o aperto de Maeve demonstrava-se estranhamente firme.
─── Impedindo que um príncipe se machuque por consequência de sua estupidez! ─── a jovem murmurou ao apanhar uma tocha postada em um suporte próximo. ─── Você é patético, sabia disso?
Aegon franziu a testa, e antes que pudesse retrucar, Maeve o empurrou, indicando o caminho para que o mesmo fosse o primeiro a seguir adiante.
─── É o mais velho, Aegon, deve assumir a responsabilidade. ─── ela afirmou com um olhar resoluto, entregando-lhe a tocha.
─── Não sou seu irmão para fazê-lo.
─── Mas Aemond é, e levando em consideração que na pior das hipóteses ele possa ser devorado por um dragão, a responsabilidade pelo que acontecer será sua.
O jovem apossou-se da tocha com um aperto firme, tomando-a bruscamente das mãos da Lady antes de sorrir amargamente: ─── Nós também corremos perigo. ─── ele ergueu o facho de luz ─── Portanto, não seria correto ser eu a guiar o grupo... sou herdeiro do rei, vocês sabem, se algo acontecesse conosco, minha vida deveria ser preservada. ─── então, entregou o objeto para o amigo ao lado, que o recebeu de maneira desordenada.
Ambos os Targaryen voltaram-se para observá-lo, como se aguardassem seus movimentos.
─── Bem... Maeve é uma mulher. ─── Martyn argumentou, atirando a primeira justificativa que viera à mente e devolvendo a tocha para a portadora inicial novamente.
─── Justo. ─── Aegon assentiu dando de ombros, os cantos da boca curvados para baixo.
A garota soltou um ruído surpreso, franzindo as sobrancelhas ao tempo em que arregalava seus olhos para fitá-los com descrença.
─── É isso que vocês pensam? Que ser uma mulher me torna descartável? ─── sua voz tremia ligeiramente, mais por fúria que por medo. Os garotos entreolharam-se de soslaio e deram de ombros com a pergunta ríspida da mesma. ─── Tsc, típico de vocês... ─── Maeve ergueu o objeto prontamente para Martyn, oferecendo-o para o rapaz mais uma vez, porém, o Reyne cruzou os braços sobre o peito, recusando-se a pegar a tocha. ─── ...usarem meu gênero como desculpa para a sua covardia.
Suas mãos fecharam-se em punhos entorno do facho de luz, seu olhar manteve-se firme em ambos por longos segundos, julgando-os, mas após isso, obrigou seu corpo a seguir adiante.
Maeve podia sentir o suor gélido escorrer por suas têmporas quando adentrou pela escuridão, notando que, mesmo com algo para guiá-la, ainda não era totalmente capaz de enxergar com precisão a palma de sua mão. Cada passo reverberava no silêncio mortal do local, a incerteza e o medo fazendo seu coração bater descompassado.
De repente, o som de passos apressados interrompera a garota antes mesmo que pudesse ter a certeza de algo. Aegon havia aproximado-se rapidamente, a luz das chamas revelando seu semblante ligeiramente preocupado, como se o mesmo se esforçasse para permanecer com uma expressão estóica e falhasse miseravelmente.
Maeve fitou o rapaz silenciosamente.
Aegon pigarreou:
─── Sabe... se você for incinerada por algum dragão, quem mais na Fortaleza Vermelha poderei atormentar sem sofrer consequências? ─── o príncipe comentou ao tomar o objeto das mãos da prima. Ela ainda encarava-o com uma expressão estóica, notando a forma como o mesmo parecia estar ligeiramente envergonhado.
─── Acha que tem chance contra um dragão? ─── Aegon entreabriu os lábios para respondê-la, mas ao invés disso, apenas cedeu um sorriso divertido à garota, como se aceitasse a derrota.
A luz da tocha oscilava, lançando sombras dançantes nas paredes úmidas da caverna enquanto ambos caminhavam em completo silêncio, lado a lado... O ar era denso e cada passo ecoava levemente ao redor deles.
Maeve não admitiria tal coisa nem em sua morte, mas a presença de Aegon, apesar de tudo, lhe trazia uma estranha sensação de segurança, embora soubesse que o príncipe não valeria por um quando o perigo estivesse à espreita.
─── Então... como se sente? ─── seu primo quebrou o silêncio, a voz baixa e curiosa enquanto engolia em seco.
─── Me sinto com o quê? ─── a garota franziu os cenhos ao olhar de relance para ele, ainda focada no caminho à frente.
Aegon grunhiu.
─── Você pode enganar a todos, mas sei que não está aqui porque possui uma alma devota e repleta de altruísmo.
Maeve parou por um instante, virando-se para encará-lo diretamente, ponderando sobre a acusação silenciosa do rapaz. Ela moveu os dedos para remexer em sua pulseira de mão novamente, como se isso pudesse dar-lhe a clareza que procurava, enquanto o príncipe, sentindo o peso do olhar dela, desviou o mesmo, movendo a mão livre para procurar por algo dentro de seu gibão.
─── Quer a atenção de seu pai, não é? ─── começou novamente após alguns segundos. Embora suas palavras fossem diretas e afiadas, o rapaz parecia dedicar-se a manter o tom de voz neutro, como se não desejasse magoá-la com tais afirmações. ─── Está fazendo tudo isso porque, independentemente do que acontecer aqui, Daemon terá que lhe enviar notícias de onde quer que esteja.
─── O quê...? ─── Maeve piscou, confusa, enquanto observava o primo.
Então, a mão ainda oculta dentre o bolso de suas vestes, tornou-se visível, juntamente com um metal entre seus dedos. Maeve observou quando o mesmo atirou a moeda aos ares, acompanhando lentamente a mobilidade do objeto.
Toda vez que um Targaryen nasce, os deuses jogam uma moeda ao ar e o mundo segura a respiração para ver de que lado cairá...
A luz da tocha refletiu na superfície metálica, lançando um brilho vacilante que fizeram-na reconhecer o perfil cravado no objeto. Era Aegon, o Conquistador.
Por que o príncipe carregava um dragão de ouro sem valor?
─── Sabe, nossos pais são duas faces de uma mesma moeda. ─── Aegon proferiu, sua voz aparentemente distante tingida com um misto de insegurança e firmeza. ─── Podemos seguir as regras, e eles não nos darão atenção; desobedecê-las resultará no mesmo. Não há escapatória.
─── Você não sabe do que está falando, eu... ─── Evie esforçou-se para respondê-lo. Procurou por qualquer desculpa para dizer ao príncipe que o mesmo não fazia ideia do que estava falando, porém... algo em seu peito não permitiu que a garota o fizesse, como se a alarmasse que não estaria mentindo apenas para Aegon, mas para si.
Não é verdade!, uma voz em seus devaneios atirou com firmeza.
Ela tomou a tocha das mãos do rapaz, evitando seu olhar sugestivo.
Daemon esforçava-se para ser presente em sua vida, ela sabia disso. Tudo o que Maeve era, tudo que aprendera, tudo que amava e tudo que desprezava assemelhavam-se ao príncipe rebelde e suas morais. Seu pai a amava, dedicou-se a ela mesmo quando enfrentava uma batalha árdua, a Lady não poderia esquecer-se disto tão facilmente.
E onde ele está agora?, outra voz a atormentou novamente.
De repente, Martyn irrompeu a tensão dos pensamentos da garota ao lançar-se sobre os garotos, envolvendo os ombros de ambos com os braços em um gesto despreocupado.
─── Olhem só, pombinhos! ─── o ruivo exclamou, provocando-os com um sorriso travesso.
Maeve, assustou-se com o súbito movimento do jovem e seu abraço, dando um tropeço instintivo em algum dos pedregulhos abaixo de seus pés. A tocha que carregava, desprevenida, caiu ao chão, apagando-se instantaneamente e mergulhando-os em uma completa penumbra.
No mesmo instante, um grito agudo ecoou pelas paredes rochosas do local, e Maeve sentiu quando algo ou alguém empurrou-a contra a parede e tapou seus lábios com urgência.
─── Pare de gritar ou então agitará qualquer dragão que esteja por perto! ─── Aegon sussurrou, ainda pressionando a palma de uma de suas mãos sobre a garota.
No mesmo instante, os dentes de Maeve cravaram-se na pele do príncipe, fazendo-o conter um gemido doloroso em sua garganta. A garota o empurrou com firmeza antes de defender-se:
─── Não fui eu!
─── Pelos Sete, Martyn! ─── ambos voltaram-se para a presença que provavelmente imaginavam ser a do amigo. ─── Você grita como uma garota.
─── Calem-se, ou os dragões irão nos ouvir! ─── Maeve golpeou o ar a frente de si com empurrões sutis, procurando a silhueta dos rapazes para alertá-los.
─── Não adiantará de nada, eles podem estar nos observando agora. ─── uma voz, qual a mesma julgou pertencer ao Reyne, argumentou consigo.
─── Dragões enxergam no escuro?
─── Isso é um mito, Martyn! ─── Aegon retrucou com desdém em sua voz
─── Você saberia disso se prestasse atenção em nossas aulas... ─── então um barulho súbito e perturbador cortou o ar, interrompendo a frase do nobre antes mesmo de terminá-la.
Passos apressados ecoaram pelas paredes úmidas da caverna.
Maeve, Aegon e Martyn voltaram-se imediatamente para a origem do som, seus olhares cheios de apreensão em meio ao manto sombrio que cobriam suas visões. Algo aproximou-se com urgência do grupo, aparentemente uma silhueta mais baixa tremendo-se de temor.
─── Maeve? ─── a voz de Aemond ecoou pelo ar com uma pergunta retórica, fazendo todos os presentes soltarem um suspiro aliviado. ─── Uma das correntes de Dreamfyre se soltou.
Droga.
vigésimo segundo dia da primeira lua
de 108 depois da conquista
A jovem dama estava no seu quarto privado, as portas pesadas de madeira fechadas para impedir qualquer espiadela indiscreta. Em suas mãos, segurava um manto fino, feito de lã macia, tingido em um tom neutro cinzento. Diante dela, um berço de carvalho esculpido, onde uma criança repousava, alheia ao mundo tumultuado que a cercava e as conspirações, que desde já sussurravam o destino mórbido da pequena.
Com um suspiro, ela aproximou-se do berço e fitou a pequena criatura que dormitava tranquilamente. O bebê, com cabelos tão platinados e feições pertencentes a um verdadeiro Targaryen, tinha um semblante sereno, mas os olhos, que em breve se abririam, seriam um lembrete constante dos pecados que em sua tenra idade já carregava em seu sangue.
─── Pequena Maeve... ─── sussurrou, a voz embargada pela emoção. Com mãos trêmulas, ela enrolou o bebê no manto, segurando-a firmemente contra o peito por um momento, antes de colocá-la delicadamente dentro de uma cesta de vime, forrada com almofadas macias.
Enquanto ajeitava o manto ao redor do bebê, ela não pôde deixar de sentir uma pontada de culpa e tristeza. Enviar Maeve para longe era uma decisão necessária.
Indiretamente, aquele era o último pedido que Lady Rhea a fizera em seu leito de morte, e por mais que sua astúcia se aproveitasse deste desejo, aquilo ainda a assombrava por completo.
Havia muito em jogo, e a segurança da criança estava acima de seus próprios sentimentos. Contudo, ao ajustar uma pequena mecha de cabelo do bebê, a guardiã de olhos amendoados sentiu uma lágrima teimosa escorrer pelo rosto.
A porta do quarto abriu-se silenciosamente, e uma figura encapuzada entrou. Era uma das servas de confiança da Fortaleza Vermelha, encarregada de levar a menina até Daemon. Ela respirou fundo, tentando reunir forças para o que estava por vir.
─── Você sabe o que precisa ser feito? ─── perguntou, sua voz firme, embora os olhos denunciassem uma turbulência interna.
─── Sim, minha senhora. A criança será entregue em segurança. ─── A serva respondeu, curvando-se ligeiramente antes de se aproximar do berço e pegar a cesta com cuidado.
Ela hesitou por um momento antes de se ajoelhar ao lado do berço. Com um gesto delicado, retirou um pequeno anel de ouro branco de seu dedo, onde o metal fora entalhado com as figuras de garças e portava um símbolo de uma estrela de sete pontas no centro. Colocou o anel ao lado do bebê, dentro da cesta.
─── Certifique-se de que Daemon veja isso. Ele entenderá. ─── instruiu, a voz trêmula mas determinada.
A serva assentiu, pegando a cesta com cuidado e dirigindo-se para a saída.
Observando enquanto a figura encapuzada desaparecia pelo corredor, levando consigo o pequeno bebê, a jovem mulher encontrou-se completamente sozinha nos aposentos, o silêncio preenchido apenas pelo som de sua respiração irregular.
Ela sabia que esta era a única maneira de proteger Maeve e garantir que a criança tivesse uma chance de viver. Mesmo que isso significasse enviá-la para os braços de Daemon Targaryen, um homem cujo destino estava tão entrelaçado com o seu quanto os próprios pecados que agora os uniam.
❛ ⚜️. 001 ▮ finalmente saiu!! peço perdão pela demora, sei que jurei que postaria ontem e eu realmente iria postar, porém, minha Internet deu pau e só voltou ontem as 23h (para vocês terem uma ideia, até agora não assisti o episódio que lançou esse domingo)
Enfim, espero que vocês tenham gostado do capítulo, e se acalmem, no próximo explicarei melhor sobre a Maeve e sua mãe!!
Deixem seu voto e comentário para me animar a atualizar e seu feedback para que eu melhore em algo e saiba que está gostando da estória!!
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