❛⭒000 - legado do sacrilégio ❜

❛ nada encoraja tanto ao
pecador como o perdão.❜
── William Shakespeare
















































Stepstones -
108 d.c

ALGUNS ELEVAM-SE pelo pecado, outros caem pela virtude.”, era sussurrado em septos após confissões de sacrilégios jamais perdoados pelos deuses ─── muitas vezes tornando o amor somente mais uma profanação para os homens que sucumbiram a tais divindades.

O mundo era cruel, e neste, os sacrilégios eram feitos de forma banal e abrupta; sendo inúmeras vezes um fugaz erro cometido por alguém imaculado ou mais uma ação tomada por uma alma nefasta. Talvez o homem não nascesse de todo um pecador, mas se transformasse em um sob as circunstâncias e formas que a tentação mascarava-se, possuindo faces traiçoeiras e venenosas: o amor, desejo, sangue e até a própria morte.

Ou talvez o homem nascesse um, empenhando-se a se redimir pela desgraça imposta desde seu primeiro arfar ao ser trazido mundo.

Em volatilidade às formas do pecado, encontrava-se o príncipe Daemon Targaryen; aquele qual acreditava nascer um pecador em busca de redenção, e outrora apenas um homem em sua corrupção final. Sua mente havia tornado-se uma prisão na Guerra da Triarquia, banhando-o com o sangue de homens quais possuíam uma vida além da guerra ou salvando o seu povo de sucumbir à derrota; o pecado era seu cotidiano e não mais algo a ser perdoado pelos Sete Deuses, ou até mesmo uma escolha para os céticos. Ele era uma obrigação.

Com seus olhos violáceos e longas madeixas prateadas banhadas no carmesim e espesso sangue de seus inimigos, príncipe limpava sua lâmina, Irmã Sombria, nos aconchegos de sua tenda de guerra, solitário com os próprios pensamentos mórbidos, quais aguardavam um chamado para o conselho de guerra ou uma próxima batalha. Seu futuro era incerto, e por alguma razão havia um augúrio de algo que mudaria sua vida ali ─── um presságio de um nefasto deleite acometido pelo Targaryen há luas atrás.

Então, em um instante, o olhar de Daemon voltou-se aos opulentos tecidos da tenda sendo abertos, avistando em sua frente uma figura vestida com as tradicionais roupas escarlate e mantos encapuzados de viagens dos servos da Fortaleza Vermelha; alguém de Porto Real desejava comunicar-se com ele.

Com os cabelos negros, quais poderiam ser comparados à mais pura escuridão, a figura revelou-se portando uma cesta de vime em seus braços, acompanhada de expressão aflita. O silêncio mordaz da tenda cessou-se quando um choro agudo entrecortou os sentidos de ambos os indivíduos presentes no local, qual fizera o Targaryen empunhar sua espada em um ato frenético.

─── Quem é você? O que significa isso? ─── Daemon exigiu, a voz baixa e carregada de autoridade, enquanto aproximava sua lâmina da mulher desconhecida, tal qual encarava-o com um olhar que o guerreiro fora tanto familiarizado: terror.

─── Meu senhor… ─── a serva proferiu, seu tom trêmulo o suficiente para causar certo desconforto até mesmo no Targaryen, qual apontava a arma para a mesma. ─── A coroa lhe atribui seus pecados.

Daemon franziu a testa em confusão, então a serva, tremendo sob a miradela penetrante do príncipe, avançou hesitante, colocando a cesta aos pés do homem. Dentro, um bebê chorava incessantemente, com as bochechas ruborizadas e pequenas mãos cerradas.

O Targaryen sentira algo despencar contra o peito no mesmo instante, a respiração de seus pulmões entrecortada, quase como se aquele pequeno ser carregasse o poder de controlar os músculos do homem. O choque percorria-o como as águas de uma forte correnteza, varrendo qualquer coisa que apossava-se de seu corpo há minutos atrás.

Ele encarou o bebê, qual parecia assustar-se com a sua expressão amarga. Os pequenos olhos, quais continham cores divergentes ─── um belo e curioso olho violáceo, como os seus, e outro tão verde quanto a mais pura esmeralda ── miravam-no com espanto, porém, Daemon aparentava ser o único qual carregava um turbilhão de emoções conflitantes em seu peito.

Mordiscou os lábios ao alternar o olhar da criança para a serva, antes de agarrar o cabo de sua espada com uma força descomunal. O Targaryen riu em descrença, sentindo os pulsos tomarem a frente de seus movimentos antes mesmo de controlá-los.
Então, um ruído cortara o ar no instante em que sua espada cravou-se dentre a madeira opulenta do balcão ao seu lado. A mulher gritou em resposta, ao tempo em que o choro infantil apossava-se mais uma vez do ambiente.

─── Dê-me algum motivo para que eu acredite em suas palavras, mulher.

A morena engoliu em seco, ─── seus olhos perdidos como os de uma corsa prestes a ser abatida ─── então apontara para a cesta novamente. Daemon notou que a pequena criança agarrava-se à um anel de ouro branco, onde o metal fora entalhado com as figuras de garças e portava um símbolo de uma estrela de sete pontas no centro. Acompanhado da jóia, um pequeno pergaminho repousava dentre o manto.

Com mãos ainda maculadas pelo sangue de seus inimigos, Daemon agarrou o pergaminho e o desenrolou, prendendo a respiração ao reconhecer a caligrafia dentre o conteúdo do bilhete.

Apenas uma palavra mostrou-se escrita: Maeve.

Tal nome reverberou em sua mente como um presságio mórbido. Ele olhou para a criança novamente, observando cada detalhe de sua existência até deparar-se com uma pequena marca avermelhada no dorso de sua mão esquerda.

A confirmação de seu sacrilégio.

Os deuses lhe imputam seus pecados, príncipe Daemon.


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