(Não) te esqueci...

NOTINHAS DO THETÊ: eu dedico esse livro ao meu primeiro amor, para essa garotinha que não sei o nome; porém desejo do fundo do meu coração infantil ter eternizado sua lembrança com palavras.

AVISOS: I. Estou reescrevendo algumas oneshots e dando um visual novo para algumas delas, mas eu realmente não mudei a essência de suas histórias. II. Essa situação realmente aconteceu comigo 😔 III. "Maddie" é o nome que dediquei a sua lembrança, pois pra mim tinha um tom de mel nele. IV. Isso aconteceu a muito tempo, não espere grandes descrições exatas de memórias perdidas.

AINDA ME LEMBRO dos seus ombros pequenos, olhos negros e pele escura. E aquele cabelinho lisinho de dar inveja em qualquer pessoa que se preze. A gente era criança, por volta de uns sete anos, e nós conhecemos de maneira inusitada. Naquela estradinha de barro que o carro que eu fui se sujou todo, porque era período de chuva e terra vira lama fácil. A bata do meu vestidinho molhou e os sapatinhos sujaram mas no final eu nem liguei. Eu queria saber era das crianças, das amizades, do parquinho que me contaram que tinha por ali.

Nossa amizade começou de forma engraçada.

Mamãe era religiosa. Fomos a sua igrejinha e iríamos passar o dia ali. E sua vó. Mulherzinha bondosa nos hospedou em sua casa. Ah, as vezes, eu queria poder ouvir sua risada novamente. Porque eu lembro de seu sorriso amarelo, caindo na gargalhada enquanto me olhava ao longe. Rindo da minha nudez e corpo magrelo.

É eu lembro. Na sua casa vocês viviam da caixa d'água, como um maldito poço, então eu tive que tomar banho no seu quintal. Mamãe usando uma bucha dura enquanto lavava cada espaço: atrás das orelhas, os braços, as pernas, molhou até o cabelo... Eu tremia e resmungava. Eu gritava e ela jogava mais um balde por cima da minha cabeça. E lá da sua varandinha você ria da minha desgraça. Nossa acho que foi a primeira vez que um riso me contagiou tanto. Tão fino, tão feminino. Chega esqueci de reclamar, tão focada em devolver em um sorrisinho envergonhado para você.

Acho que naquela idade eu nem pensava que você era uma candidata perfeita para a vaga do meu coração. De verdade, eu não me lembro se eu conversei com você, tenho apenas a nossa troca de sorrisos como nossa conversa mais íntima e fervendo na lembrança. Nem me lembro se eu entrei na sua casa para colocar uma maldita roupa, uma que com certeza seria do seu guarda-roupa, com seu cheirinho, com suas estampas de menina.

Cacete. Eu só era uma menina burra e idiota que não sabia de onde vinha aquele quentinho no alto do coração e as bochechas vermelhas de tanto sorrir.

E de todas essas incertezas e certezas. Eu espero que tenha sentado do seu lado. Com os dentes ainda trincando e o corpo enrolado na toalha, daquelas fininhas que não aquece nada, e sua Vozinha tenha bagunçado meus cabelos para secar enquanto eu te contava meus maiores segredos. Daquela vez que eu me escondi para comer o pão cru que minha mãe fez. Ou da vez que peguei meu pai chorando no escritório. Espero que eu tenha tudo e um pouco mais. Porque quero que todos estejam nas mãos do meu primeiro amor. E com todo o meu coração, espero mesmo ter ouvido sua risada de perto. Que eu tenha te contado piadas, não dessas podres que eu conto hoje em dia, mas das charmosinhas que crianças sempre contam.

A lembrança que eu tenho de você é doce. Mas ao longo desses anos, acredito que mudamos demais. Eu agora já não tenho mais meus fios longos e não tenho os olhos bons como antes. Também não sou tão verdeira comigo mesma. Sinto saudades de coisas que perdi com você, minha caminha com mosquiteiro e os dvd de músicas cristãs na tv ou aquele som do carro de gás que virava enigma de café da manhã.

Me pergunto: você se lembra de mim? Porque eu lembro. Tenho certeza que me odiaria agora. Não tão envolvida com o momento, perdida demais nas redes sociais e com as ansiedades escolares. Perdi aquela humildade de me esfregar na terra. Virei alguém que não suporto. Mas seria tão bom ver que você ainda gosta de mim. Que soltaria aquele sua risada novamente ao me ver. É um conforto mesmo que eu seja a única que esteja se iludindo com memórias que não passam de um sonho febril dos cacos da infância.

─ Qual o seu nome?

Eu sinto que você não me responderia de primeira. Mas também não falaria porque você nunca teve voz nos meus pensamentos. Riria fofamente enquanto pisca seus olhinhos brilhantes. E eu não entenderia por ser lerda demais para com sinais do amor.

Então eu imagino, você pegando nas minhas mãos úmidas e geladas e com uma voz inexistente. Eu lendo seus lábios movidos pelo silêncio e soletaria como mel um nome inventada:

─ Maddie.

E podia ser Melissa, Melina, Eduarda, Maria Alice e infinitos nomes. Mas todos soariam como magia. Daquelas discretas, amorosas e doces como mel. E como de praxe eu iria demorar para entender, repetir seu nome na cabeça para fixa-lo e mesmo tendo esquecido eu sorria com a resposta que ganhei.

Com o fato que você aceitou me doar seu nome para usar como musa dos meus pensamentos.

Porque mesmo que eu demore. Eu ficaria tentada e maravilhada a cada descoberta de seus sinais. Seus sinais de amor do qual eu nunca me esqueço.

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