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HARRY POTTER
12 de junho de 2000

É hoje. Depois de o que pareceu ser uma eternidade, o dia da partida decisiva finalmente chegou. O coração batia em minha garganta e minhas mãos soavam debaixo das luvas. Eu não estava muito diferente de ninguém do meu time.

Vi Brandon dando uns pulinhos e socando o ar como se estivesse prestes a entrar em um ringue de luta. Idiota. Eu ri nervosamente.

— Tudo certo, nós vamos esmagá-los, pessoal.— Gina disse, querendo aumentar mais a moral do grupo. Eu me sentia estranho, o pé batendo no chão de um jeito incontrolável, a ansiedade mais intensa do que nunca antes me causando um desconforto surreal. Eu sempre a senti antes de cada partida, mas... não sei... é como se a ficha tivesse caído agora. Esse é meu último jogo, depois virão as provas e então acabou. Acabou Hogwarts pra mim.

Não sei explicar, mas é como se eu estivesse abrindo mão da minha segunda casa. Eu não queria ir embora daqui.

— Cê tá bem?— Ron pergunta colocando a mão no meu ombro e me tirando do meu transe. Olho para o ruivo sentado do meu lado e balanço a cabeça.

— Estou ótimo.— sorrio e respiro fundo ao me levantar.— Todos prontos?

— Eu vou arrancar umas cabeças de cobra hoje.— Brandon brinca com o seu bastão e Gina revira os olhos, cruzando os braços.

— Contanto que você não acabe matando Nixie— ela dá de ombros, como se estivesse liberando meu irmão para matar o resto do time como bem quisesse— Se bem que... dependendo do resultado acho que nem seremos mais amigas.— ela coloca a mão no queixo e eu sacudo a cabeça.

— Vamos acabar logo com isso.

Eu ando na frente do meu time em direção ao meio do campo onde me encontro com minha namorada — digo, inimiga. Os cabelos dela estão perfeitamente presos em um rabo de cavalo e ela tem um sorrisinho debochado no rosto. Madame Hooch apita nos chamando mais para perto.

— Apertem as mãos.— ela ordena e nós obedecemos.

— Sem ressentimentos, pãozinho?— o sorriso dela se expande e eu cerro os olhos.

— Sem ressentimentos...— eu até ia usar o apelido que a chamo nas horas vagas, mas aí olhei para a professora de olhos de gato do nosso lado e decidi que não. Quando separamos as mãos, Nixie beijou o pomo de ouro do colar que eu a dei no natal e o jogou para dentro da blusa, recuando para perto do seu time e me lançando uma piscadela.

Espero mesmo que ela não guarde mágoas, porque eu não vou pegar leve.

Em um minuto, nós estamos no ar. As arquibancadas estão cheias e barulhentas. O dia está tão lindo e morno que parece perfeito para matar o tempo com os amigos a beira do Lago. Nem parece que há poucos meses vivemos aquele inferno de chuvas, ventania e neve sem pausa. É um novo ano, me sinto tão leve enquanto voo que é como se tivesse me despido do meu próprio corpo para minha alma flutuar por aí. O narrador da partida começa a falar quando a goles fica sob a posse do time de Nixie. Me irrita muito não poder fazer tudo por todos do meu time, mas é fácil julgar vendo as coisas se desenrolarem de cima.

— Oi, amor.— Nixie voa ao meu redor com uma postura tão plena que nem parecemos estar no meio de uma guerra. Cerro os olhos para a loira, mas não me permito lhe dar atenção. Ela não pode ter vindo aqui na melhor intenção de me cumprimentar. Nem nos falamos hoje ainda.

— ... e o Zabinni perde a pose da goles para Cadu Coote... Gina Weasley mergulha para rebater o balaço e ah! Essa foi perto da cabeça do bonitão do Blaise!— ouvíamos a narração.

— Oi? Não vai mesmo falar comigo, querido?— Nixie fica de ponta cabeça, seu rabo de cavalo balança com o vento forte da nossa altitude.

— Porque eu sinto que você está tentando me distrair, agora pode ajeitar a postura para não acabar caindo, querida?— não demoro o olhar nela porque sei que não tem como confiar. Não quando é tudo ou nada.

— Eu? Te distrair?— e ela entra na minha frente outra vez enquanto eu tento ver a movimentação dos meus jogadores— E o que eu ganharia com isso?

— Por que é que eu sei que vou descobrir em breve?— desço um pouco e a loira me reflete. Se eu não zelasse tanto pelo meu couro, a xingaria agora.— Sabe que isso é uma perda de tempo.

— Eu só quero que a partida dure mais do que cinco minutos. Nós podemos conversar um pouco, né? Ver como o jogo se desenrola. Só assistir por enquanto. Eles vão entender, foram treinados para esse momento.— ela aponta com o polegar por cima do ombro, eu não consigo entender o que o narrador fala porque ela fala ao mesmo tempo que ele.

— Acho que...

— Vinte pontos para a Sonserina!— o grito se sobressai a todo o resto e a torcida da casa da Black comemora— Um arremesso fantástico do Zabinni, será que ele vai ser o protagonista da vez?

Olhei feio para Nixie que mal pode disfarçar o sorrisinho presunçoso.

Ela começou a me assediar sem parar e o jogo ia se empatando. Ora virava, ora não. Mas aí chegamos no cem. Cem para cada time e a atenção começou a se desviar para os apanhadores que não estavam fazendo porra nenhuma até então. Nixie não dava ordens, ela não berrava como eu, ela confiava cem por cento no seu time. Ela estava muito tranquila e isso me deixava preocupado para um caralho.

Até que eu o vi. Um mero vislumbre do pomo de ouro passando atrás da minha namorada. Tentei disfarçar, mas ela percebeu e nós dois começamos a nossa caçada. Por eu ter desviado o olhar um segundo, é claro, logo o perdi de vista. Nixie bateu em mim no meio do ar tentando me derrubar da vassoura, mas eu me mantive firme. Ficamos ombro a ombro enquanto caçávamos pelo pomo, ela olha para baixo e eu para cima, quem visse de fora pensaria que estávamos trabalhando juntos e em perfeita sincronia.

De repente, Nixie mergulhou e eu fui logo atrás, pensando que ela tinha visto o pomo. Ela ia cada vez mais rápido, chegando muito perto do chão. Mas depois ela freia e volta para cima e eu percebo que era um blefe muito encima da hora. Estou quase dando de cara no chão quando finalmente consigo recuperar o controle da minha vassoura. Aquela maldita blefou! Cerrando os dentes com raiva, olho para a minha namorada que procura pelo pomo como se nem tivesse tentado me enganar.

— E a finta de Wronski aplicada pela senhorita Diggory quase dá certo, é uma pena que o seu namoradinho Potter tenha um bom reflexo. Ele mostrou a que veio e acho que essa noite teremos uma linda dr no castelo! Potter vai atrás da Diggory, mas ela parece ter avistado alguma coisa... o clima está tenso no campo, o Potter mais novo parte para cima de Nott e a Weasley rebate na hora errada!

— É assim que você quer jogar?— grito para minha namorada não tão amada no momento.

— Você disse sem ressentimentos!— ela grita de volta e nós avistamos o pomo ao mesmo tempo, sobrevoando a cabeça de Brandon e Theodoro Nott que brigavam pelo taco do meu irmão. Disparamos em direção dos dois sem nos importamos com a discussão, tínhamos problemas maiores em mente. Nos debruçamos em nossas vassouras ao mesmo tempo, o vento batendo contra o rosto de um jeito que era difícil respirar, os olhos apertados. Tudo, absolutamente tudo tinha que ser programado. Esticamo-nos na direção da vitória e eu tentei tirar Nixie da frente, mas ela voltou com tudo e eu quase perdi o equilíbrio. Quase.

Atropelamos nossos colegas de time e subimos bruscamente quando o pomo de ouro decidiu desviar seu trajeto. Teve um gol da grifinória, cento e vinte a cem para mim, se eu pegar o pomo agora já era. Eu ganho. A festa é nossa. Subimos muito alto, pode ser que parecêssemos dois idiotas com a mão direita esticada para o céu porque não tinha como ver o pomo de longe. Eles não tinham como saber se o pomo estava a cinco metros ou cinco centímetros de nós. Meu dedo roçou uma de suas asinhas e apesar de saber que eu não tinha pego, apesar de saber que eu estava agindo que nem um tremendo idiota por isso, eu fechei a mão. Eu fechei a porra da mão e Nixie agarrou o pomo logo em seguida.

Nós paramos, ela me encarou, ofegante, com o rosto vermelho e os olhos tão intensamente azuis arregalados, sabe que eu desisti.

Eu não sei porque fiz isso, não sei mesmo. Ela ergue o punho e grita de alegria, e o time e todos de sua casa vibram com ela. Nixie está radiante. Ela venceu. É, ela venceu e eu desisti. Puta merda, que merda eu fiz?

[...]

A derrota pesava em meus ombros quando saí do banheiro de banho tomado. O mau humor de Ronald contaminava o dormitório todinho e ele resmungava sem parar. Nós perdemos e foi culpa minha, mas eu vou ficar dizendo que não foi, Nixie que foi mais rápida, eu não parei no meio do caminho, claro que não.

Ah, mas que merda, eu queria tanto aquele prêmio. Por que foi que eu desisti? Eu nem pensei! Bufando, arremessei a minha toalha no cesto sem me importar de secar o cabelo direito.

— Fred e George vão me zoar tanto...— Ron choramingava— Eles arrebentaram no último jogo deles...

— Eu sei, eu tava lá.— reclamo sem querer me aprofundar nesse assunto, porque lembrar dos gêmeos pensando em Nixie me faz visualizar a minha namorada se pegando com George desgraçado Weasley naquela maldita casa de árvore. E aí eu fico com mais raiva ainda da Nixie. E nem tenho certeza do porquê!

— A gente podia ter jogado melhor...

Eu deveria ter jogado melhor. O vacilo foi todo meu. Eu sou o capitão e eu desisti do jogo. Eu... argh, nem sei mais se estou com ódio de mim mesmo ou da minha namorada que foi arrastada para longe de mim sem mais nem menos porque ela venceu.

Alguém bateu na porta enquanto eu encarava o meu abajur pensando em estraçalhar o objeto na parede, e — falando no diabo — Nixie apareceu, os cabelos soltos e limpos caídos em seus ombros, ela está usando uma das minhas camisas de banda de rock o que é uma puta apelação. Tá, não importa se ela está linda, não quero falar com ela agora. A Diggory morde o lábio e olha para o Ron. Neville, Seamus e Dean estão sabe-se lá onde, talvez nosso mau humor tenha os repelido.

— Posso falar com ele a sós? Por favor?— ela pede para o meu melhor amigo e eu respiro fundo, colocando as mãos nos quadris.

— Bom, você já venceu tudo, não é....— Ron nem discute, apenas desliza para fora da cama e balança a cabeça contra o sorriso que Nixie lhe oferece. O silêncio se instala e eu giro nossas alianças no dedo anelar enquanto a encaro sem intenção de dar um pio. Não, eu não vou dar parabéns.

— Não vai colocar uma camisa?— ela sugere, medindo meu corpo. Faço bico e balanço a cabeça negativamente.

— O que veio jogar na minha cara, campeã?— de início eu perguntei sarcasticamente, não queria que ela fosse tão direta.

— Hoje você falhou como capitão e como amigo. Destruiu todas as expectativas que os outros tinham em você por um motivo tolo e injustificável.— ela ralha apontando o dedo na minha cara e, uau, não é mesmo nada do que eu esperava depois de literalmente a deixar ganhar o jogo da minha vida. Mordo a bochecha sabendo exatamente o que foi que eu fiz. Não era para ela jogar na minha cara de verdade. Ela se aproxima em passos lentos, e mais lentamente ainda um sorriso nasce em seu rosto— Mas, sem querer encher o teu saco, você mandou muito bem como namorado.— a loira para a um insignificante passo de distância.

— Não devia estar comemorando na sua comunal?— levanto a sobrancelha e a examino de cima a baixo. A Nixie nunca iria tão casual para uma festa, por mais simples que fosse.

— Não faz sentido eu comemorar sem você. E sei que você não vai pra lá. Óbvio que eu não vou te forçar a isso.

— Em questão de abrir mão de uma coisa que você gosta por causa do seu parceiro, lamento dizer que você não está sendo recíproca, senhorita Black.— cruzo os braços e me inclino em sua direção.

Tá. Eu não estou realmente zangado com ela. Tipo, nem um pouco. Isso é insuportável. Me sinto ainda mais sob seu controle quando ela desliza as mãos pelos meus ombros desnudos e me abraça.

— É, bem, eu ia ganhar de qualquer jeito, mas eu sei o que você fez e o que significou.— ela cola seu corpo ao meu e morde o lábio, me olhando desejosa. Abro um sorriso desdenhoso.

Eu queria ficar bravo com ela. Queria mesmo. Mas é bom demais vê-la feliz. O amor me fez altruísta, eu o odeio por isso.

Mas a sensação é boa.

— Ia ganhar de qualquer jeito? Meu braço é maior que o seu. Eu deixei você ganhar, Nixie.

— Olha, se quiser que eu te chupe hoje à noite, você vai deixar eu me gabar.— ela sussurra, levantando a sobrancelha. Recolho os lábios e balanço a cabeça, o estômago se comprimindo como se eu estivesse tentando aparatar.

— Acho justo.— conclui.

— Que bom. Eu te amo, bobalhão.— ela me beija e por mais que me doa ter perdido esse jogo, sinto que valeu a pena. Eu deixo meu time arrancar meu couro e me crucificar porque eu dei tudo pra ela. Eu a amo, mas é bom que ela não se acostume com isso. Não vou deixá-la vencer todas as vezes.— Sabe que eu não faria o mesmo, né?— ela cola sua testa a minha e eu sopro uma risada fraca, os olhos fechados, minhas mãos na sua cintura.

— Pior que eu sei. Mas tudo bem.— esfrego meu nariz contra o seu, arrancando-lhe uma risada. É como se estivéssemos só nós dois aqui, o mundo é só meu e dela.

— É?

— É. Sabe por quê?

— Gostaria que você me dissesse.

— Porque suas vitórias são minhas também, eu já vou ser obrigado a me casar com você mesmo, então, nada mais justo do que dividirmos a estante de troféus, não é?

— Ah, vai ser obrigado a se casar comigo?— ela caçoa, mas nós nos olhamos e ela sabe que eu não estou falando sério. O que eu não faria para ver esses olhos azuis brilhando?

— É, seu pai me fez assinar um contrato no natal. Mas meio que eu já o quebrei já que a gente não podia fazer nada até o casamento...— cerro os olhos, como se estivesse me lembrado disso só agora e pudesse vir a ser uma complicação. É verdade que Regulus me intimou, mas eu estava meio bêbado e para ser bem franco não prestei muita atenção no seu discurso por mais que eu soubesse que deveria. Mas ela não precisa saber disso— É, a gente já vai casar de qualquer jeito, então não importa muito...

— Sabe que não precisa ser fofo e romântico, não é? Eu vou dar pra você de qualquer jeito.— ela franze a testa como se não me entendesse e nós rimos.— Essa vai ser a melhor noite da sua vida.

— Quero só garantir que você se empenhe.— zombo.

— Ah, pois eu vou, futuro marido.

— Espero mesmo, futura esposa.

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Notas finais da autora:

E nós chegamos ao fim de mais uma fanfic, meus amores! Tudo bom contigo?

Enfim, eu espero mesmo que vocês tenham gostado, viu? E se não gostou, fique em silêncio porque eu não sou paga pra agradar todo mundo <3

Era mesmo para ser uma fanfic curta e desenvolvimento rápido então ouso dizer que estou satisfeita com a conclusão. Muito obrigada a todos que chegaram até aqui, acompanhando a trajetória descontraída e mais familiar desse casal, significou muito para mim, espero que não esqueçam de Nixie e Harry por um bom tempo.

Aqui nos despedimos depois de você me seguir (é sério, vadia, me segue) e espero ver vocês nas minhas outras histórias.

Comendo amorosamente seu pai, Bella.

OBRA CONCLUÍDA: 22/02/2023