The rain

HARRY POTTER
27 de outubro de 1999

O dilúvio começou há dois dias atrás e aparentemente os céus estão determinados a nos sufocar com a chuva pesada. Fica difícil lutar contra tal força da natureza se nós não conseguimos nem ficar dez minutos no ar.

Irritado, tiro minhas luvas e as arremesso no banco. Mal começamos a treinar e já tivemos que nos esconder no vestiário, em apenas dez minutos de exposição, cada um de nós estava molhado até a alma, se abraçando e tremendo de frio. Podíamos ser teimosos se ao menos conseguíssemos planar sem começar a rodopiar com o vento forte.

— Não vai dar para jogar desse jeito.— Brandon reclamou, sentado e sacudindo os cachos como um cachorro molhado, espalhando respingos de água nos armários vermelhos— Parece até que Deus quer fazer um remake da barca de Noé, caralho.— ele mete o pé em um armário, puto com o clima de merda.

— Eu avisei que estava vindo uma frente fria e que a gente deveria ter feito uma reforma em nossos uniformes, mas não, claro que não, vocês insistiram que esses dariam conta!— Ginevra diz, furiosa por não ter sido ouvida.

— Santo Merlin, Gina, sossega.— Ron reclama para a mais nova, recebendo um olhar mortal de resposta.— Se fosse só a chuva, ficaríamos bem. O problema é o vendaval! Quanto mais alto voamos, mas descontrolada a vassoura fica, assim não dá!

— Tudo bem, a gente espera a chuva passar...— tiro os óculos para tentar secá-los, porém a ação é bem inútil já que eles só ficam mais embaçados.— Depois voltamos. Temos o dia todo.

É sábado de novo, finalmente, pensei que essa semana não acabaria nunca.

— Não vai passar agora, Potter.— Gina bufa, balançando a cabeça, os seus cabelos ruivos bem mais escuros agora que estão enxarcados— Isso aí é só o começo.— ela aponta para a porta— Depois virá a nevasca, por isso...— ela comprime os lábios, relutando em nos dar a má notícia— por isso não acho que vá ser uma boa ideia jogarmos esse ano.

Um monte de reclamações se espalham pelo vestiário e eu sacudo a cabeça sem nem considerar a ideia de desistir. Ficar sem jogar no meu último ano na melhor escola do mundo? Mas nem morto!

— A gente vai ter que dar um jeito.— digo tentando fazer com que as engrenagens do meu cérebro comecem a funcionar— Vamos lá, pessoal, a gente tem que ganhar esse ano. Sem os jogos de quadribol...

— A Corvinal vai comer o rabo de todo mundo se tivermos que ganhar pontos só dentro das salas de aula.— Brandon completa para mim. Não é por mal que admitimos tal fato, claro que há pessoas muito inteligentes nas outras casas, como Hermione, Jacob e Cedric, mas a Corvinal é literalmente feita para os mais sábios.— Eles tem a inteligência, nós temos as vassouras. Precisamos de nosso privilégio.

— Se deu conta de que acabou de dizer que a Adhara é mais inteligente que você, não é?— Gina provoca o meu irmão que apenas lhe mostra o dedo.

— Rá, rá, Ginevra, muito engraçada.— ele força um sorriso e cerra os olhos, debochado— Você entendeu o que eu quis dizer.

— Temos que falar com o Dumbledore, entrar em um acordo que seja...— eu me interrompo quando fortes batidas na porta assustam a todos.— Quem é?— eu grito, Gina corre para se esconder já que não pode ser vista no vestiário masculino e a porta se abre rangendo. Três encapuzados entram, sendo o do meio o mais baixinho. Os uniformes da Sonserina fazem com que todo o meu time se coloque de pé como que para mostrar que estariam prontos para uma briga, mas assim que os capuzes são abaixados e Nixie Diggory nos oferece um sorriso sendo ladeada por Draco Malfoy e Jacob Johnson, todo mundo relaxa.

Eu me viro para encará-los e preciso me lembrar de respirar quando Nixie foca os lindos olhos azuis em mim. Eu sorrio timidamente para ela e as outras coisas são apagadas momentaneamente da minha mente.

— Oi, Nixie.— cumprimento.

— Oi, Harry.— ela responde com um sorriso doce nos lábios. Desde que eu a beijei, já há uma semana atrás, nós temos ficado nessa antes de um silêncio constrangedor vir nos engolir.

E eu só penso em pêssegos todas as vezes que a olho, irritantemente cada dia mais linda. Passo a língua nos lábios e finjo que meu estômago não se encolheu.

— Nixie? Jake? O que vocês estão fazendo aqui?— Gina pergunta saindo de seu esconderijo, obrigando-nos a cortar o contato visual.

— Viemos espalhar boas notícias.— Draco Malfoy responde com um sorriso arrogante no rosto. Reviro os olhos e encaro Nixie, lhe questionando silenciosamente porquê que ela trouxe esse idiota consigo, ela apenas deu de ombros em resposta.

— Um só não seria o suficiente?— Brandon se aproxima vindo colar seu ombro no meu. Ele tirou a camisa em algum momento que eu não vi e nunca qualquer pessoa que visse seu corpo poderia dizer que ele é um garoto de dezesseis anos. Ele gosta de praticar bastante exercício.

— Não, porque a ideia foi minha e eu detesto que roubem meus créditos, então antes que comecem a falar baboseiras, cuidado, eu posso cancelar tudo com um simples bilhetinho.— Draco avisa e está explicado porque vieram os três. Nixie sabe que nunca nessa vida seu primo seria bem vindo desacompanhado em qualquer território marcado da Grifinória. Ele não sobreviveria para contar história e seria totalmente culpa sua.

— Tudo o que?— pergunto erguendo o queixo.

— Toda a cobertura que o senhor Malfoy pagará para termos uma pequena proteção durante essa temporada de chuva.— Nixie diz abrindo a capa e puxando um pergaminho do bolso interno. Ela o esticou para mim, porém foi Ron que o pegou, abrindo-o. Nosso time esticou o pescoço para ler o pergaminho por cima do seu ombro.

— Fizemos uma petição para que a diretoria colocasse uma cobertura sobre o campo de quadribol e parte da escola.— Jacob Johnson continua— Eles se recusaram a comprar os materiais, no entanto, concordaram em cuidar para que ela seja construída devidamente e mantida até o fim das tempestades.

— O que é o mínimo.— Draco resmunga e nós o ignoramos.

— Mas isso não vai nos obrigar a voar mais baixo de qualquer forma?— pergunto diretamente para Nixie, apenas visualizando o projeto. É a primeira vez na semana que eu consigo olhar no seu rosto e falar o que estou pensando sem gaguejar nem ficar vermelho. Não falta assunto entre nós, só está me faltando coragem.

— Supostamente, deixará o jogo mais seguro já que reduzirá o campo de perseguição do pomo de ouro e minha mãe concordou cem por cento com a ideia.— diz ela, revirando os olhos com um sorriso no rosto— Pode ser mais perigoso também porque os balaços vão se sentir mais acuados, e teremos que ter muito cuidado para que eles não se voltem contra a torcida, mas tenho certeza que vocês sabem disso.

— Eu mesmo já me sinto mais sufocado.— Brandon diz puxando o pergaminho para si— Sério que vocês apelaram para uma petição por causa dessa chuvinha?— ele caçoa, sei que adoraria ter tido a ideia primeiro, mas já que não teve vai aceitar de cara feia o presente dado pelos nossos eternos rivais, os Sonserinos.

— Tem alguma ideia melhor, pequeno Potter?— a Black levanta a sobrancelha, sempre fica na defensiva quando se trata de seus amigos e agora, seus amigos são só aqueles que vestem verde. Ela não leva desaforo para casa e é mais difícil ainda meu irmão ir para casa sem soltar nenhum desaforo para o máximo de pessoas possível. As cobras são seu alvo favorito, mas ele nunca pegou pesado com Nixie— Porque, caso tenha, nós abrimos mão do nosso projeto agora mesmo e deixamos vocês voando que nem um bando de patetas desgovernados por aí. O projeto só será inclusivo para todas as casas porque o Jacob aqui insistiu em igualdade, só que tenho certeza que poderíamos ser bem menos condescendentes se vocês insistirem com a ignorância.

Houve um momento de silêncio e enquanto eu dirigia um olhar de agradecimento para Jacob Johnson, bati na nuca de Brandon por mais que compreendesse perfeitamente seu orgulho. Eu não pediria ajuda para Nixie nem que fosse a minha última opção possível, mas como são eles que estão nos estendendo a mão gratuitamente, também não serei burro de ignorar. É bem chocante que Black e Malfoy tenham concordado em jogar limpo a pedido de uma só pessoa.

— Não estou reclamando, se querem gastar dinheiro com isso, vão em frente, minha gatinha.— Brandon sorri malicioso e estica a petição de volta para a nossa amiga. Draco tenta pegá-la, mas Brandon a tira de seu alcance— Não era contigo que eu estava falando, senhor Malfoy, ou agora você virou minha gatinha?— ele provoca desencadeando risadas entre nossos colegas, eu incluso.

Nixie me censura com o olhar e eu apenas dou de ombros. A gente consegue conversar muito mais apenas nessas trocas de olhares do que abrindo a boca. Nixie arranca o pergaminho da mão de Brandon, enrolando-o e o devolvendo para o seu bolso.

— Ah, quase ia me esquecendo! Há uma pequena, nanica, minúscula condição.— ela diz com um sorriso maquiavélico nascendo em seus lábios em forma de coração. Mordo o lábio e respiro o fundo, estralando os dedos.

— Que seria?— pergunto.

— Vocês terão que falar comigo antes de qualquer coisa para que eu lhes encaixe em um horário para que possam treinar.

— Quer que a gente peça sua permissão para jogar?— Ron franze a testa, confuso.

— Ah, não, por causa de uma cobertura de nada agora vocês são os donos do campo?— Brandon começa a bufar como um dragão doido para fritar toda uma cidade.

— Você não acabou de falar de igualdade?— Gina reclama e Nixie ergue as mãos pedindo o silêncio como uma diplomata querendo evitar um estardalhaço.

— Meus amores, é claro que haverá igualdade.... mas... ela será nos nossos termos.— ela diz exalando cinismo. Esfrego o rosto, novamente irritado. Claro que haveria uma clausula nesse contrato que não nos agradaria em nada.

— Quer que a gente desenhe para que vocês possam entender o que está acontecendo?— Draco zomba e eu o olho torto.

Se a gente se recusar, eles não cobrem o campo, muito provavelmente vão arrumar outro lugar para treinar enquanto a Grifinória e as outras casas se fodem sem condições para imitar sua ideia porque nem todo mundo tem um papai poderoso e rico o suficiente para cobrir um campo inteiro de quadribol.

Se concordarmos, seremos condenados a ficar a mercê da misericórdia deles porque é óbvio que seremos encaixados nos piores horários possíveis e vai ser terrível porque de qualquer jeito a vantagem está com eles. Meus pais tem dinheiro, mas não tanto assim. Penso em outros meios, mas é claro que o deles é o mais rápido. Cada dia de treino é importante.

Draco.— Nixie censura embora eu tenha certeza que ela também esteja se divertindo ao ver a situação em que me colocou. Nós nos olhamos e apesar de ela ser a maldita garota mais linda deste cômodo, eu fico doido para esganá-la. A loira se aproxima de mim e me estende a mão com um sorriso charmoso nos lábios de pêssego. Eu seguro sua mão e sinto minha pele formigar, da ponta dos dedos ao cotovelo porque é a primeira vez que sinto sua pele contra a minha desde que nós nos beijamos— Se assim preferir, te darei dois dias para pensar a respeito, senhor capitão. Mas não demore em me dar uma resposta, viu, príncipe?— ela segura meu queixo com a mão livre e desce os olhos para minha boca fazendo com que eu me arrepie de dentro para fora— Estarei esperando por ti para conversarmos.— ela diz em voz baixa e eu meio que amoleço com sua proximidade. Senti falta dela nesses dias, e pelo menos a estranheza entre nós não é mais um empecilho, aparentemente, milagrosamente. Minha respiração se acelera quando ela me solta e eu olho para sua boca querendo-a novamente contra minha.

Deu até água na boca.

Se concentra!

— Uhum.— balanço a cabeça sem conseguir tirar os olhos dos seus e ela assentiu, contente. Ela está radiante porque sabe que me tem na palma da mão

— Até mais, senhor Potter. Até mais, meus amores, eu amo vocês.— ela se despede do meu time e os três sonserinos colocam os capuzes de volta antes de sair de volta para a chuva. Sinto como se saísse de um transe quando a porta se fecha atrás dela e sinto que tem algo em minha mão. Olho para baixo e vejo um bilhete dobrado. Quando Brandon abraça meu ombro, eu fecho a mão por reflexo.

— Da próxima vez, você poderia babar um pouco menos?— ele pergunta, sarcástico, ele fecha minha boca como se meu queixo tivesse caído— Sei que é excitante quando ela é malvada, mas você ficou com uma cara que entregou demais, maninho.

— Dá para você calar a boca?

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