I won't say it
❅
HARRY POTTER
1° de setembro de 1999
O som incessante vindo daquele pequeno aparelho estava me dando dor de cabeça. Encarei Brandon e eu tive plena certeza que ele sabia o que eu queria dizer sem ter que abrir a boca.
— Já vai, já vai!— ele diz, irritando-se com minha encarada, os olhos vidrados no seu joguinho.
Ron, que estava sentado ao lado dele, babava ainda mais no aparelho trouxa. Hermione ocupava todo o banco a nossa frente com sua mala aberta e o enorme gato, Bichento, esparramado do seu lado como se fosse o dono da cabine. Soltei um suspiro entediado e me levantei não aguentando mais o silêncio gritante entre nós, cada um imerso em uma coisa. Cogito ir comprar alguns doces para ter algo o que fazer, mas quando bato em meus bolsos, reparo que estão vazios. Olho mais uma vez para meu não-tão-amado irmão e ele sorri de ladino. Por mais que esteja submerso na tecnologia trouxa ele entende perfeitamente o que está acontecendo ao seu redor, é admirável.
— Não tá comigo.— ele se faz de sonso.
— O que?— Ron pergunta sem tirar os olhos da pequena tela.
— Não tô falando contigo, ruivinho.— Brandon finalmente ergue os olhos escuros e me lança um sorriso perverso. Seus cachos estão caindo sobre seus olhos, ele conseguiu fugir da mamãe as férias todas para não ter que cortá-los, eu o invejo.
— Eu quero pegar alguns bombons explosivos, anda, devolve— estico a mão na sua direção com a palma virada para cima.
— Tá!— ele revira os olhos e enfia a mão no bolso de sua calça jeans escura e rasgada nos joelhos, puxando de lá meu saco de galeões. Por ter se distraído, o som da derrota ecoou de seu video-game.
— Ah não, cara! A cobrinha explodiu!— Ron pegou o aparelho da mão de Brandon, e o esticou para mim arregalando os olhos azuis, preocupado— Ela morreu, Harry!
Meu irmão jogou o saco para mim e eu o apanhei no ar, não presto atenção no Ron, apenas abro o saquinho para ter certeza que minha mesada não foi trocada por galeões falsos de novo. Não consigo deixar de amaldiçoar o dia que Fred e George deixaram de detestar meu irmão mais novo e lhe ensinaram tudo o que sabiam. Não que fosse lá muito melhor quando eles eram rivais e faziam o castelo estremecer com cada uma de suas pegadinhas de mau gosto.
— Ela não é um ser vivo, gênio!— ele pega seu jogo de volta da mão do meu melhor amigo e ri de sua inocência— A gente pode deixar morrer.
— Shh!— Hermione sibila com a cara enfiada em um livro, irritada. Deve ser o centésimo que ela lê somente nessas horas de viagem.
— Shh!— Brandon retruca e a cacheada ergue os olhos do seu livro apenas para o fulminar intensamente por breves segundos, meu irmão sorri de canto e a manda um beijo. As vezes eu acho que Brandon gosta um pouco da Mione, mas então a ilusão passa quando eu me lembro de que ele não suporta o lado maternal e mandão dela que consistem em quase toda sua personalidade— Vê se traz sorvete de limão para mim, Hazz!— ele me cobra quando estou deixando a cabine.
— Eu não sou seu empregado.— respondo fechando a porta atrás de mim.
— Fale direito comigo, servo!— ouço ele gritar e ignoro como de costume procurando pelo chamativo carrinho de doces. Nem parece que ele é mais novo pela forma como me trata. Eu sou tão paciente com Brandon.
É bom esticar as pernas, para variar. Não suporto ficar tempo demais parado, infelizmente puxei meu pai nesse quesito de ansiedade.
Ando pelo vagão cumprimentando conhecidos e desviando de animais tentando fugir de seus donos. É um dia de temperatura amena, no entanto, não tenho duvidas que quando a noite cair, o frio irá retornar. É lamentável, eu até que gostaria de tomar um pouco mais de banho de sol.
Estou imerso nos meus pensamentos quando sinto um puxão no meu braço esquerdo e acabo me voltando para aquele rosto conhecido e radiante.
— Harry!— ela abre um sorriso largo e me puxa para um abraço, animada. Eu pisco rapidamente ficando um tanto nocauteado pelo seu perfume doce penetrando minhas narinas. A abraço de volta e com força, senti sua falta e só me dei conta agora que a vi, não nos vimos as férias todas.
Meu estômago está embrulhado e de repente não sei como agir.
— Nixie, oi...— respondo esperando não soar tão surpreso. Eu tinha plena ciência de que ela viria. Nós desmanchamos o abraço e a Black me fita com os seus olhos azuis e brilhantes. Seu sorriso é contagiante.
— Como você está, Potter? Não me mandou nenhuma carta nestas férias, homem, admito que fiquei chateada.
— Bem, você também não me mandou nada— pontuo. Ela sopra uma risada fraca e revira os olhos.
— Mas esse era o seu trabalho, bobão. Os rapazes que devem puxar assunto.— ela empurra meu ombro e nós nos medimos de cima a baixo por uns instantes.— Você cresceu. Um pouquinho.— ela faz o sinal diminutivo de um jeito meigo e eu sorrio sentindo meu rosto queimar.
Eu adorei o vestido, você está linda, quis dizer, porque ela realmente está. Como sempre esteve. Mas eu não disse isso.
— Talvez você que ficou menor.— assim que termino de falar, me sinto um idiota. Nixie inclina a cabeça para o lado cerrando os olhos para mim.
— O que é isso na sua testa?— ela pergunta levantando minha franja. Eu devo estar ficando roxo. Não sei porquê, sempre fico sem jeito quando uma garota se aproxima assim de mim e a Nix sempre chega muito perto.
— O-o que?— não me liguei no que ela acabou de dizer e a loira riu, ela passou o polegar na língua depois o esfregou em minha testa.
— É só batom.— ela balança a cabeça e eu faço careta.
— Ah, sério? Que droga— puxo a manga do meu moletom e esfrego a testa. Minha mãe tinha que usar seu batom vermelho logo hoje?
— Tudo bem, já saiu. Vem cá, você ainda não me respondeu.— ela diz e eu uno as sobrancelhas.
— O que?
— Como você está, Potter?— ela repete, aparentemente se divertindo. Ela sempre diz adorar meu jeito desligado. Ela é literalmente a única pessoa que me diz isso.
— Eu...— limpo a garganta— eu vou bem, tenho treinado bastante com Brandon e meu pai. Fizemos só isso essas férias basicamente, e você?
— Não tenho feito muito, na verdade. Mas você sabe que eu não preciso me esforçar demais para te superar.— ela levanta a sobrancelha, debochada.
— Ah, com certeza.— reviro os olhos deixando escapar uma risada fraca.
Por ambos sermos filhos dos melhores apanhadores de nossas casas, meio que temos essa competição acirrada para honrar nossos pais. Eu voo pela Grifinória, ela, pela Sonserina.
— Nix, por que você não-
— Nixie!— uma terceira voz faz com que eu me interrompa e nós dois olhamos para o lado, nos deparando com um rapaz negro de excelente estilo e postura, o irmão mais novo da Angelina Johnson, Jacob Johnson, se aproximando. Ele que por acaso é considerado o cara mais lindo da Sonserina. Que por acaso é o melhor amigo da Nixie. Recolho os lábios e baixo o olhar, foi-se a pouca coragem que eu havia juntado para chamá-la para se sentar comigo na cabine— Onde é que você estava, mulher? Eu estou te procurando a horas!— ele reclama.
— Não é minha culpa se você dormiu que roncou, principezinho!— responde a loira colocando as mãos na cintura— Eu vim dar uma volta para conversar com os despertos!— ela argumenta e enlaça meu braço. O Johnson me olhou com pouco interesse. Acho que ele não vai muito com minha cara. Ele é como Brandon no quesito de odiar todo mundo, só que infinitamente mais elegante e cínico.
— Snape está chamando os monitores para uma reunião, venha.— ele acena e dá um passo para trás, querendo voltar pelo caminho que veio.
— Espera aí, você nos interrompeu, o que ia me dizer, Harry?— os dois me encaram. Eu forço um sorriso e balanço a cabeça.
— Nada, deixa para lá, pode ir.
Nix cerra os olhos para mim, mas não insiste em me arrancar uma resposta, ela se aproxima para dar um beijo estalado em minha bochecha. Ela é sempre muito afetiva, gosto disso nela.
— Ok, te vejo por aí, Potter!— ela me solta e saltita para andar de braços dados com o Johnson. Eles são um belo casal, não que tenham dito que namoram, mas é o que todo mundo deduz ao vê-los juntos. Mordo a bochecha e os observo se afastando, esfrego as mãos acabando por dissociar um pouco e então sinto algo batendo no meu calcanhar.
— Ai!— eu reclamo dando um pulo para frente e me deparando com quem eu estava procurando. Ela fica dez anos mais velha a cada ano que passa.— Com licença!?
— Você que está no meio do meu caminho, garoto distraído!— ralha a bruxa mais velha.
— Desculpa.— resmungo irritadiço. Mesmo estando parado no meio do corredor, ela não precisava tentar me atropelar. São nesses momentos que minha educação briga com minha impulsividade. A criação de minha mãe infelizmente é mais forte, e eu controlo a língua. Ela tenta dar a volta em mim, no entanto, eu entro na sua frente mais uma vez— Espera, eu vou comprar.
Eu compro os bombons e o sorvete de limão e volto para minha cabine. O sorvete definitivamente não é para o Brandon, ele não merece pelo simples fato de nunca me pedir por favor.
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