5 | A luz é o corvo


(Jay Green)

Mudo a minha posição na cadeira a cada dois minutos, seu metal liso e impecável me deixando completamente desconfortável. Batuco meus dedos na mesa da pequena lanchonete. Erguendo o olhar com esperança, assim que vejo alguém se aproximar.

O sorriso que se formava em meu rosto se desmancha rapidamente, quando reconheço a Ema que traz meu pedido. Acho que estou começando a preferir ao Dante do que comida.

— Aqui, seu sorvete. — Diz me entregando um copinho rosa e laranja, com uma habilidade imprecionante tira uma mecha de sua franja preta do olho com um sopro.

— É tortura obriga-los a trabalhar com essas roupas quentes. — Falo indicando outro funcionário, que se abanava freneticamente.

— Vocês que são muito calorentos, depois que cortei o cabelo melhorou bastante. — Retruca com um meio sorriso, os cabelos rente a orelha esvoaçando sempre que o ventilador vinha em nossa direção. — Se bem, que você ainda não me disse o que achou, quando namorávamos ele ainda era longo.

Engulo em seco com essa lembrança. Ainda sinto certa culpa, mas ela nunca pareceu guardar rancor. Ema fazia cafuné nos meus cabelos ruivos, quando contei ela parou instantaneamente, então comecei a pedir desculpas gaguejando. Contudo ela simplesmente disse que não era minha culpa descobrir um pouco tarde que era gay.

— Ficou perfeito com o seu rosto. — Garanto com sinceridade.

Ema sorri e volta para a cozinha, indicando que seu chefe estava nós encarando de longe. Meu celular apita assim que ela se afasta, o pego rapidamente de cima da mesa, como uma cobra abocanhando sua presa.

Meu editor definitivamente não se atrasa atoa, talvez a mensagem seja sobre isso. Mordo o lábio inferior destravando o aparelho fantasmagórico.

Porém, no lugar de Dante Kafka como emissor, encontrava-se ali um número completamente desconhecido. Na mensagem estava escrito simplesmente:

"A Editora para a qual escreve será fechada em breve, e seus leitores nunca conhecerão o final da magnífica história que está a escrever. Pense nisso senhor Green, temos que saber a hora de pular do barco."

Consigo sentir rugas na minha testa, meu lábio inferior dormente devido a pressão da mordida. Então, sem nenhum tempo para processar nada, a porta do estabelecimento é aberta. Por ela entra uma figura que passa nervosamente a mão nos cabelos negros os jogando para trás. Quando me identifica na multidão suas profundas íris faiscam, e ele vem em minha direção sorrindo.

Engulo em seco tentando regular mais uma vez os meus batimentos. Posso me preocupar com essa mensagem depois, definitivamente.

Tateio o tecido bruto da minha calça jeans a procura do bolso. Tendo-o encontrado, desliso o aparelho para o seu interior.

Respiro fundo me permitindo sorrir ao ve-lo esbarrar em várias pessoas pelo caminho, siente, mesmo assim, das gotículas de suor que vão se formando na minha testa conforme ele se aproxima. Se a Editora estivesse para fechar ele certamente me diria, não é?

— Desculpe o atraso, fiquei preso no trabalho e dormi por lá. — Explica Dante se sentando na cadeira a minha frente.

Seu rosto está rubro, e a leve ofegação indicando que ele deve ter corrido um pouco.

— Tudo bem, eu entendo. — Digo dando de ombros. Ele realmente não costuma se atrasar, mas geralmente é por causa disso. Porém, sei por Louise que ele só está editando para mim, então certamente o trabalho extra que ele tem tido, é por causa do meu atraso. Baixo os olhos. — Quer sorvete? Neste calor é a única coisa que da para comer.

— Sim, por Deus sim. — Afirma Dante, sinalizo para um funcionário, apontando para o meu pote de sorvete vazio e fazendo um "dois" com a mão.

Enquanto o sorvete não chega o editor a minha frente me interroga sobre minha nova tentativa, de escrever. Respostas automáticas saem de mim, mantenho os olhos baixos. Os esforços de Dante tem sido completamente inúteis comigo. Sei que nem tudo acontece como queremos, mas tudo? Estou sendo um inútil.

A Editora "Poeirinha" foi a única que me deu uma chance, quatro anos atrás, quando eu ainda tinha quinze anos. Se o que a mensagem diz é verdade, eu tenho culpa nisso, atrasando a minha parte, eu atraso a Editora. E se ela afundar, vai levar todos os escritores junto...

— Ei, você está bem? — Dante pergunta me despertando. Ergo o rosto, ele me olha com o senho franzido em preocupação.

— Sim... — Respondo mas balanço a cabeça negativamente. — É que, e se eu nunca conseguir? Estou só causando problemas, para você e para a Editora...

— Ei, olha, você não está causando problemas okay? É a nossa solução. Eu acredito que você consegue, Jay, vou te ajudar. — Declara com um leve sorriso, e coloca a mão sobre a minha.

Abro um pouco mais os olhos, em surpresa, mas não me afasto. O calor da sua mão imediatamente acalma meu coração que saltitava.

— Obrigado Dante. — Sussurro encarando a imensidão do seu olhar. Sorrimos em cumplicidade, e ele tira sua mão da minha quando os sorvetes são trazidos.

— Sempre um prazer, Senhor Green. — Responde piscando. — Agora, sobre a solução que encontrei, ela é mais uma proposta.

Ele coça a nuca e eu ergo as sombrancelhas.

— Proposta? — Pergunto comendo uma colherada do sorvete napolitano.

— Er, bom, você me falou sobre sua terra natal e... a que se dane, vou ser direto. — Conclui Dante, seguro um sorriso perante o seu nervosismo. — Conversei com Oscar e ele também acha boa idéia, mudar de ares, então, quer ir para a Escócia?

Engasgo imediatamente com o sorvete.

— Voltar para a Escócia? — Perante minha reação ele baixa os olhos, trato logo de me corrigir. — Dante eu adorei a idéia, sinto tanta falta de lá. — Digo rindo bobo. A neve do inverno, o sol, não quente, apenas iluminando o céu...

— Acha que isso pode me ajudar? — Pergunto e ele da um sorriso largo.

— Não duvide dos meus métodos, creio que você precise se afastar de pressões. — Garante, e fica sério ao perguntar. — Mas sabe, acha que pode viajar?

Suspiro, o sorriso morrendo em meus lábios. Me esqueci dessa parte.

— Vou conversar com a minha irmã, só que ela vai querer ir. — Informo passando a mão no queixo.

— Acho que não vai ter problema. — Diz pensativo e meu sorriso se abre novamente. — Sabe Jay, eu consigo ver o quanto você se culpa, o quanto se esforça. Mas, por quê?

— Quando se ama escrever, e tem pessoas que gostam de ler o que você escreve, é normal que elas sejam importantes pra você certo? — Esclareço incerto. Mas Dante apenas ri, balançando negativamente a cabeça.

— A Editora tem sorte de ter alguém tão devoto quanto você, não são todos que dão tudo de si. — Declara me encarando, sinto minhas bochechas esquentarem e ele ri, tocando minha mão novamente. — E só para deixar claro, não é certo te precionar assim, não se culpe por algo que não pode controlar.

Baixo os olhos, ainda com seu olhar preso na memória. Confirmo com a cabeça em resposta, sua tranquilidade ao falar isso era palpável, completamente diferente do que eu estava sentindo.

— Eu sempre acreditei — Começo erguendo o olhar — Que tudo é mutável, dependendo dos nossos desejos e ações.

O observo sorrir ao se recostar na cadeira, minha mão formiga quando ele a solta.

— Acho que foi necessário o desejo e a ação de mais de uma pessoa para que a "Poeirinha" entrasse em crise. — Explica Dante com o olhar fixo no meu, tranquilo e translúcido. — Mas logo isso não vai importar. Porque vamos resolver tudo nesta viagem.

Abro um largo sorriso, admirado e agradecido ao comentar:

— O senhor sabe que destruiu minha teoria de vida né?

— Teorias foram feitas para serem ou provadas, ou destruídas. — Responde Dante com um meio sorriso.

***

Abro a porta como sempre sem utilizar chave. Esse tipo de coisa apenas atrasa o nosso dia, não que eu não ligue para segurança, apenas... Não ligo.

Deixo as chaves sobre a mesinha de madeira da entrada, a única luz presente é a que vem da porta, ainda aberta, atrás de mim. Quando vou colocar o celular no mesmo lugar ele apita, o som ecoa por toda a casa me arrepiando.

O destravo, piscando os olhos algumas vezes pela recente luz no meu rosto. Levo uma mão a boca ao identificar o mesmo número da mensagem anterior, franzo o senho conforme meus olhos passam pelas palavras:

"Saiba, senhor Green, que se resolver pular do barco teremos um bote para apanha-lo. No entanto, se escolher ficar nele, nós, da Editora "Épica" teremos prazer em ajudar no naufrágio."

Resolvo ler a mensagem duas vezes, para ter certeza da presença de uma ameaça. Levo a mão que antes estava sobre minha boca ao peito, respirando com calma para aplacar a recente dor na região. Me sinto ficar ofegante ao procurar freneticamente pelo número da minha irmã no celular.

Parece que o assunto da nossa conversa não será apenas sobre a viajem afinal, penso levando o aparelho ao ouvido.

***Obrigada por ler até aqui! Estamos chegando na minha parte preferida da história hehehe.***

***Não se esqueça de votar. E o que estão achando? Comentários incentivam muito. Até o próximo capítulo ;)***


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