31 | O amor não tem gênero

O sol, que pelas ruas da cidade
Revela as marcas do viver humano
Sobre teu belo rosto soberano
Espalha apenas pura claridade.

Nasceste para o Sol; és mocidade
Em plena floração, fruto sem dano
Rosa que floresceu, ano por ano
Para uma esplêndida maioridade.

Ao Sol, que é pai do tempo, e nunca mente
Hoje se eleva a minha prece ardente:
Não permita ele nunca que se afoite

A vida em ti, que é sumo de alegria
De maneira que tarde muito a noite
Sobre a manhã radiosa do teu dia.

- Vinicius de Moraes.

•••

(Jay Green)

Pode parecer bobeira ou algo superficial de se dizer mas acho que todos deveriam, em algum momento, se conectar com o mundo, pois num único segundo de um dia conturbado, parar para sentir o mundo pode mudar o restante do nosso dia. Fecho os olhos com um sorriso no rosto, apreciado a sensação da palma de Dante sob a minha que está repousada no espaço do banco de madeira entre nós, o vento nos acaricia com vigor e carinho como a mais fina das sedas.

Estávamos a falar sobre Robert quando ela chegou, a brisa que parecia gritar, implorar, que parecemos. A denúncia foi feita tem quatro dias, o infeliz contudo desapareceu desde o nosso infeliz encontro, abro os olhos e vejo como o parque esta vazio, suspiro deitando minha cabeça no ombro do editor.

— Isso é tão estranho. — Dante diz.

— O que é estranho?

— Isso. — Murmura mostrando a falta de pessoas a nossa volta. — Hoje é feriado e as pessoas estão em casa vendo televisão.

Levanto levemente a cabeça e ele olha para mim, a luz do sol reflete em suas íris negras como em janelas e em seu olhar parecem ter pequenas estrelas, sorrio enroscando meu braço no seu.

— Nós não estamos. — Falo o vendo sorrir sedutoramente de lado.

— Verdade. — Concorda se inclinando para beijar o canto dos meus lábios e em seguida aperta de leve o meu nariz. — Não que tenha sido fácil te trazer, você está bem animado com a nova história e nem quer me dizer sobre o que se trata.

Me afasto dele para me ajeitar no banco e me sento de pernas cruzadas, de frente para ele, seu olhar emburrado acaba ficando fofo, Dante desvia o olhar, inclino a cabeça para olhar em seus olhos. Depois do que aconteceu ele tem ficado cada vez mais tempo perto de mim, o que costuma ser bem divertido e por fim quente... Mas eu sei que a preocupação é a principal razão para tudo isso.

— Você quer mesmo saber? — Indago mordendo nervosamente o lábio inferior.

Rio então com o revirar de olhos do meu namorado. Respiro fundo.

— É sobre... você... — Sussurro vendo-o arregalar as orbes. — Ainda não sei bem o contexto... por isso não queria contar, mas eu quero que o personagem seja você.

— Por isso me fez tantas perguntas essa semana? — Pergunta fazendo minhas bochechas esquentarem, concordo com a cabeça.

— O que acha disso? — Questiono mordendo novamente minha boca, Dante se aproxima e acaricia minha maçã do rosto com um sorriso, em seguida passa o polegar pelos meus lábios me fazendo parar de morde-los.

— Acho que você é um anjo, só que não vejo muita coisa sobre o que poderia escrever. — O editor me responde, nego com a cabeça.

— Eu vejo.

Dito isso meu coração palpita com o sorriso de orelha a orelha com que ele me presenteia, ainda tenho dificuldade em acreditar nisso, que Dante é meu namorado e que... Me ama. Adoro as ruguinhas que se formam no canto dos seus lábios vermelhos, que nem as pequenas ondas que se formam quando jogamos uma pedra em um lago, e essa reação, perfeita, é rara.

Desviamos o olhar ao mesmo tempo em direção ao topo de uma árvore a direita de Dante, várias folhas se remexem e de lá dois ben-te-vi de peito amarelo saem voando, nossas cabeças seguem seu trajeto, rio me voltando para o meu namorado.

— Ainda não acredito que voltou para o seu apartamento. — Comenta mexendo em uma mecha ruiva do meu cabelo que toca minha bochecha.

— Esse era o trato, já estou melhor.

Ele revira os olhos:

— É mas, tem um maluco atrás de você.

Baixo os olhos, pensativo, e então sorrio triste.

— Vou ficar bem amor. — Murmuro.

Dante pega em minhas mãos as levando aos lábios e respira fundo, seu medo por mim é palpável.

— Claro que vai, vou ficar com você. — Responde no mesmo tom.

Concordo com a cabeça ao não ver motivos para recusar essa afirmação e então o moreno fala, depositando vastos beijos em minha bochecha:

— Não vejo a hora de morarmos definitivamente juntos.

Raven... não acha meio cedo? Eu te amo e não quero estragar tudo. — Choramingo tentando fugir da mordida que ele deposita na minha maçã do rosto.

Anjo...— Começa ele me imitando, bufo fazendo bico. — Nos primeiros meses em que nos conhecemos já fomos viajar, e tecnicamente moramos juntos.

Mordo o lábio indeciso e Dante novamente passa o polegar sob ele para que eu pare, rio calorosamente por esse cuidado.

— Okay, mas seu jogo é sujo. — Declaro vendo-o fazer uma cara indignada.

— A não, não não não não não, — Começa se levantando e me erguendo pelas mãos também. — vamos no mercado, tenho que limpar o meu renomado nome.

Não dá para passar uma noite com o seu namorado sem vários tabletes de chocolates e outras besteiras, essa é a nossa regra. No caminho para o mercado o celular do editor toca no bolso da sua calça jeans clara — que dei para ele ontem — duas vezes, o aparelho é ignorado nas duas, tenho consciência de que isso será um futuro problema para o meu namorado na Editora, todavia, é bom demais ter ele aqui só para mim e ele diz estar tranquilo com a sua remessa de trabalho então...

Brincamos descontraidamente o caminho todo, mas de uma forma muito estranha e incomoda um alarme soa em minha cabeça, me fazendo olhar para os carros que passam por nós a cada momento. Um carro prata passa muito perto da gente em uma velocidade absurda, eu caminho pela calçada mas Dante não, então imediatamente o puxo para cima, assustado.

Meu namorado agradece olhando com o senho franzido o automóvel que já desapareceu e não tarda a passarmos pela larga entrada do supermercado, passamos como fantasmas pelos corredores com as mãos dadas, as discussões sobre o que colocar na cesta nos fazendo esquecer do susto de outrora. Na fila do caixa Dante fica na minha frente mantendo os dedos entrelaçados aos meus de forma descontraída, ele confere se temos o bastante enquanto seguro a caixa de cereal que estava caindo, estou olhando em volta para tentar me distrair enquanto a fila anda como o tráfego de uma rua superlotada quando noto que o menino atrás de mim mantém as orbes brilhantes na caixa embaixo do meu braço, notando que eu avia notado me pergunta se esse é bom.

Não tenho tempo de responder pois uma mulher atrás do menino que conversava com a moça ao lado se volta para frente quando ouve a voz do menino de aparentemente onze anos, por suas feições julgo imediatamente ser sua mãe e assim que me vê suas íris verdes descem para a minha mão que segura a do editor firmemente, e para o meu assombro noto o canto de seus lábios se torcerem para nos enquanto puxa o filho para o outro lado. Quando me volto para frente meus olhos se deparam com os de Dante, que provavelmente viu tudo, e este leva minha palma até seus lábios, depositando um casto beijo ali. Sorrio feliz e sem rancor.

As pessoas pregam o amor e ficam horrorizadas quando alguém vai contra ele, e então, hipocritamente, julgam e excluem as pessoas diferentes delas, movidas por ideais retrógrados e desumanos. Sei que nem todos são assim e que com o passar do tempo menos ainda o serão, mas é horrível saber que alguém pensa algo ruim de você sem nem te conhecer, e pior ainda ter seus sentimentos ignorados e por vezes ridicularizados.

Como podem julgar o amor? Seja ele qual for? A cada dia que passa o mundo se torna mais cruel e um dia, se não o valorizar-mos, ele irá sumir por completo.

O amor, é o sentimento mais puro que existe.

***Aqui está como prometido(^^)***

**Noto que nós, seres humanos, estamos evoluindo e isso é óbvio, mas ao mesmo tempo me parece que estamos ficando mais frios em relação uns aos outros. Escondemos os nossos sentimentos pelo medo de eles serem rejeitados, e assim, rejeitamos os dos outros...**

*Da um cliquezinho na estrelinha(^^) é rapidinho e ajuda muito*

*Até mais*

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top