30 | O que você quer de mim?
(Jay Green)
Não sei o que aconteceu com Dante para ele sair daquela forma, isso me agonia, não não saber, mas ele ter saído daquela forma. Suspiro saindo pelo portão da frente da casa do moreno com os olhos baixos, pelo sol que banha meus ombros consigo visualizar em minha mente o azul ofuscante do céu, e isso me dá energia para continuar arrastando um saco preto de lixo para a lata na beira da calçada.
Poucos carros vem e vão pela fina rua pavimentada, do outro lado uma menina sai saltitante de casa carregando uma sacolinha de lixo, ela a joga na lata de lixo e antes de voltar para casa acena para mim, sorrio acenando de volta. Conheci a menina Marina quando o editor estava no trabalho, ela gosta muito de andar de bicicleta e eu estava olhando alguns passarinhos pela janela da sala quando ela caiu rolando para o gramado dos Kafka, chamei Sheila que me ajudou a levantar a menina e limpou e cobriu o machucado em seu joelho, ela é uma fofa.
Estou de costas colocando a tampa da enorme lata e posso ouvir um leve som de motor de carro se aproximando, limpo o suor da testa com o torço da mão me virando, curioso. Me deparo com algo que faz meu sangue inteiro gelar.
Pela janela aberta do carro prata consigo ver Robert no banco do motorista apontando uma arma negra para mim, um assento se interpõe entre mim e ele e engulo em seco quando a porta do meu lado é aberta.
— Entra. — Manda ele, olhando brevemente pelo retrovisor antes de fixar suas orbes azuis, tão frias quanto o oceano profundo, nas minhas.
Fecho meus olhos por dois segundos para me lembrar de respirar, tentando, em seguida, controlar a minha respiração quase inexistente.
Uma coisa de cada vez, vou tentar não morrer sufocado e depois irei tentar não levar um tiro.
— Entra! — Robert repete crispando os lábios, falando agora mais alto. — Ou vou lá dentro fazer uma visitinha para a mãe do seu namorado.
E perante essa palavras não vejo outra saída, posso ter mais chances de fugir estando do lado de fora, isso é óbvio, no entanto, não posso colocar Sheila em perigo por causa dos meus assuntos mal resolvidos.
Dante pode voltar também, ele disse que não demoraria... Tenho que tirar Robert daqui.
Entro então no carro sem dizer uma palavra e sem olhar para ele, as minhas mãos tremem e o meu coração explode em meu peito, mantenho contudo, a minha face impassível. E quando fecho a porta o carro arranca deixando uma trilha de poeira para trás.
Pelo canto do olho noto que ele abaixa a arma, a colocando há direita do seu corpo, bem distante do meu alcance. Sem uma arma na minha cabeça a minha respiração enfim volta ao normal, me viro para ele sentindo o meu medo começar a virar raiva.
Robert mudou muito, a pessoa que conheci na pousada usava roupas engomadas e o cabelo castanho escuro sempre penteado e brilhoso, esse Robert usa um sobretudo velho todo desfiado e os cabelos já apresentam diversos fios brancos e amarelados. Ele agora dirige como se eu não estivesse aqui, a rigidez em meu rosto some com um suspiro, eu sinto pena deste homem.
Tenho que descobrir logo o que ele pretende.
— Robert, — Falo pela primeira vez e a minha voz sai rouca e baixa pelo receio. — isso não vai trazer o seu emprego de volta.
Robert ri:
— Acha mesmo que é por isso? Isso é questão de honra filho da puta, honra!
Franzo o senho, se fosse só vingança ele já teria atirado, o que está esperando então? Olho para a frente, não estamos indo para o meio do nada, meu sequestrador está dando voltas no quarteirão.
— Honra? — Indago incrédulo. — Chantagistas baratos não sabem o que é isso, o que fez foi errado, teve muita sorte de não ser preso.
Se eu sair dessa não vou cometer o mesmo erro, esse homem é perigoso.
Ele ri ainda mais alto olhando para mim pela primeira vez, sua face inteira está vermelha como se Robert estivesse literalmente morrendo de tanto rir.
— Desculpe senhor Green. — Pede limpando uma lágrima. — Mas isso é muito hilário, vocês se acham tão incríveis sendo legais, em um mundo em que isso não existe. Os fortes dominam os fracos aqui, e o senhor me deixou fraco, vou voltar a ser o forte quando assinar esse papel. — Finaliza indicando com a cabeça alguns papéis amarrotados no banco detrás.
— Só se for no seu mundo doentio! — Grito furioso, não ligando quando ele pousa a mão em cima da arma. — Para que diabos você ainda quer ser meu empresário? Por que não vai encher o saco de outro escritor?
Robert então vira bruscamente o carro me fazendo bater a cabeça com força no vidro ao meu lado, entra em uma rua deserta e para desligando o motor, mas deixando trancadas todas as portas, e apontando a arma para o meu peito explica:
— Não é o mesmo contrato, não é representativo, é um contrato de compra. Conheci alguns inimigos seus no ramo Editorial, e sabe como é, o inimigo do meu inimigo é meu amigo, sem contar que a minha recompensa será fabulosa.
Meus pálidos olhos verdes então se desfocam brevemente e a arma vira um borrão negro, isso tudo não é só o Robert vindo acertar as contas, a Editora que eu recusei a mais de três meses veio puxar o meu pé também. Se eu assinar esses papéis terei que escrever para ela por não sei quantos anos, e vou deixar Oscar e os outros na mão.
Sorrio, porém, internamente, eles se esqueceram do porquê de ninguém saber até hoje, verdadeiramente, quem escreve meus livros.
•••
(Dante Kafka)
Adentro na delegacia friamente, sabendo que se eu parar para pensar por um momento no que está acontecendo com Jay não poderei continuar. Meu coração aperta em meu peito desesperado, pois falhei com o meu ruivo, pela segunda vez, e isso pode custar-lhe a vida, novamente.
Presto a queixa de desaparecimento deixando claro quem é o culpado, trincando os dentes quando me dizem que não é assim que funciona.
— Ele está em perigo PORRA! — Grito batendo os punhos na mesa de B.O.
Os outros policias no recinto param imediatamente de conversar para me dirigir um olhar torto, o oficial que me atende, entretanto, parece nem notar minha cólera enquanto apenas guarda a fixa que preenchi. Franzindo o senho abro a boca para protestar quando meu celular toca, suspiro me afastando da recepção, é melhor eu tentar outra delegacia.
Quando olho para o identificador de chamadas todo som ao meu redor some, ando para fora a passos rápidos enquanto as pessoas passam por mim imperceptíveis.
— Jay? — Indago em um fio de voz ao levar o aparelho a orelha.
— Raven... por favor vem me pegar. — Responde ele com a voz embargada, levo a mão aos olhos sem conseguir conter minhas lágrimas, e consigo quase ouvir o som de suas próprias caindo no chão do outro lado da linha.
•••
(Jay Green)
Envolvo meu próprio corpo em meus braços tentando controlar o choro que convulsiona todo o meu ser. Começa a escurecer e o tom alaranjado do céu reluz contra minha franja ruiva que cai sob meus olhos, e o chão começa a esfriar debaixo de meus pés descalços.
Tudo o que quero é ver meu editor mais uma vez, sinto que com isso tudo ficará bem. Dante faz com que tudo fique bem.
Reconheço o carro verde escuro de Sheila parar a minha frente, a porta é aberta como Robert outrora o fizera, e isso me faz dar um passo receoso para trás. Dante então inclina-se e consigo enfim ver seu rosto, seus brilhantes olhos negros tão opacos enquanto o lábio inferior é mordido com vigor. Passo correndo pela porta, o abraçando pelo pescoço firmemente.
Sinto suas palmas quentes nas minhas costas, consigo sorrir contra seu pescoço.
Ele pega minha face com suas mãos gentis, fecho os olhos e uma última lágrimas salgada deixa meus cílios pousando em minha boca. Os abro, sorrindo de lado ao notar as íris úmidas do editor, passo o polegar pelos seus olhos que se fecham para apagar a lembrança da tristeza.
— O que ele... — Dante começa em um sussurro temeroso, o calo negando com a cabeça.
— Robert não fez nada além de me apavorar. — Digo suspirando.
Conto então tudo o que aconteceu desde que fui forçado a entrar no carro prata. Tentei sempre enrolar ao máximo, até que Robert se exaltou e me deu uma bofetada no rosto com as costas da mão, neste momento Dante toca o hematoma roxo na minha maçã do rosto, crispando os lábios com raiva.
— Quando dei a minha assinatura ele me deixou sair. — Concluo baixando as orbes cansadas, antes de as fixar novamente nas íris do homem a minha frente. — Mas vai voltar quando perceber que ela não vai valer.
Dante então me puxa para um abraço e eu relaxo, praticamente deitando em seu peito. E ficamos assim até termos certeza de estarmos ambos realmente aqui.
***Nem acredito que cheguei ao capítulo 30! Parece que foi ontem que iniciei essa história, mas já faz uns bons meses***
**Obrigada por todos os votos e comentários que me fizeram não desistir de escrever**
*Como agradecimento hoje mesmo irei postar o capítulo 31, e é com muita felicidade que digo que estamos na reta final, pois o capítulo 33 será o último, seguido por uma última nota minha*
*Se está gostando da história não se esqueça de votar, até semana que vem (^^)*
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top