3 | Conhecendo

(Dante Kafka)

— Assim não dá! Nada do que eu faço parece dar resultado. — Exclama um ruivo chateado.

Não consigo evitar rir, Jay se estressa com facilidade, mas nunca mira em alguém, é como se ele discutisse com um ser invisível.

Está é minha terceira vez na casa do meu novo escritor. Estamos ambos sentados de pernas cruzadas sobre o carpete branco da sala, entre nós vários rascunhos que passamos uma hora a analisar. Jay avalia um de cada vez, os amassando logo em seguida, suas olheiras estão maiores, tão escuras como sua calça de moletom preta.

Suspiro me levantando e estendo minha mão para o jovem escritor a minha frente, este me olha confuso mas a pega mesmo assim.

— Ficando preso aqui não terá resultado algum. — Garanto o erguendo. — O que acha de pegarmos um ar?

— Ar...?— Questiona incerto mordendo o lábio inferior. Sorrio internamente vitorioso, ele sempre faz isso quando está se contendo para não fazer algo que quer.

— O tempo está muito bom, e se não me engano estavam vendendo algodão doce na praça. — Informo como quem não quer nada.

— Algodão doce?— Pergunta, os olhos brilhando. — Okay só vou... volto já.

O sigo com o olhar enquanto ele caminha para seu quarto, que fica de frente para o banheiro no corredor. Ele fecha a porta atrás de si com a mesma rapidez com que a abriu. Apesar de eu já ter andado o apartamento todo, ou quase, a porta de seu quarto sempre permanece fechada.

Solto um som parecido com um grunhido, Jay pode simplesmente gostar de privacidade. No entanto, na última vez que estive aqui ele fechava os olhos várias vezes enquanto conversava-mos, e quando fui embora, ele pediu desculpas por não poder me acompanhar até o portão e se trancou no quarto.

Mais tarde me questionei se não teria sido melhor chamar alguém, ele parecia saber o que estava fazendo, mas nunca se sabe totalmente. Ao contrário disso simplesmente fui embora, fiquei aliviado ao receber uma mensagem dele seis horas depois.

— Desculpe a demora. — Diz Jay saindo do quarto, continuava usando a camisa branca de manga comprida, mas trocou a calça de moletom por uma jeans escura.

— Tudo bem. — Murmuro. Ele é como uma estrela apagada, mas por algum motivo, sei que ainda tem luz dentro de si.

Talvez eu o esteja encarando demais pois ele cora levemente. É, essa é uma maneira de ver um pouco dessa luz.

Ele pega as chaves que estavam no tapete e as guarda no bolso. Poucos minutos depois já caminhava-mos pelo parque, um grupo de crianças brinca de esconde esconde, duas mulheres conversam em um banco, sem tirar os olhos dos pequeninos.

Não foi difícil achar a barraca, uma única mancha rosa em um mar de verde.

— Dois algodões por favor. — Peço, apanhando duas nuvenzinhas rosas em seguida.

Entrego uma para o ruivo ao meu lado que já tinha a boca vermelha de tanto a morder.

— Obrigado, Dante. — Diz Jay com um sorriso largo. Sorri de volta negando com a cabeça.

— Não é nada. — Admito desviando o olhar.

Caminhamos até a maioria das crianças presentes deixarem o parque, o sol que estava alto agora se aproxima das montanhas. Nunca gostei muito de doces, então quando Jay terminou o algodão doce dele lhe dei o meu, recebendo outro sorriso em troca, quis ter mais doces para lhe dar.

— Você tem contato com a sua família? — Ele me pergunta derepente.

Por um momento cogito dizer que isso não é da conta dele, mas ao notar o brilho inocente de seus olhos verdes descarto essa opção.

— Mais do que gostaria. — Admito com um sorriso. — Minha mãe mora próxima da Editora, semana passada apareceu lá para saber se eu tinha levado casaco.

Escuto o ruivo rir e paro para admirar essa cena, ele me imita um passo depois é diz:

— Ela deve te amar muito, para se preocupar assim.

Afirmo com a cabeça, e olho ao redor suspirando. Não gosto que as pessoas saibam coisas sobre mim, é como se descobrissem um ponto fraco.

Mas algo nele, nessa expressão serena e concentrada me deixa confortável.

— O ruim é quando meu pai tenta meter o dedo na minha vida, ele diz que edição é trabalho de lacaio... —  Resolvo confessar.

— Muitos país gostariam que fôssemos a cópia deles, e não entendem as nossas escolhas. — Responde Jay com o olhar cabisbaixo. Apenas concordo com a cabeça.

— Mas e a sua família? — Pergunto me lembrando de dois senhores em um porta retrato da casa dele.

— Meus avôs vivem na Escócia, vim a dois anos com a minha irmã. E ela literalmente, não me deixa respirar. — Revela rindo, mas seus olhos baixos estão carregados de... saldade.

— Entendo.— Digo calando uma pergunta, mas e seus pais? — Você é escocês? — Pergunto no lugar.

O ruivo balança a cabeça afirmativamente, e completa jogando o palito do algodão doce na lixeira pregada a árvore ao nosso lado:

— Não pareço?

— Pelo contrário, não sei como não cogitei isso antes. — Respondo me lembrando de ver na ficha dele dupla nacionalidade.

Ficamos alí observando o sol se por, as orbes do escritor ficam transparentes quando tocadas por ele. Jay fecha os olhos, como se quisesse esconder a vida do seu olhar.

Repentinamente ele os abre respirando com dificuldade, quase ofegando.

Seguro seus ombros ao ve-lo cambalear para trás e ele aperta meu braço, tossindo.

— Jay? O que aconteceu? — Pergunto franzindo o senho, olho ao redor freneticamente mas o parque esta vazio.

— Nada, ta tudo bem. — Afirma, sem soltar meu braço. Ainda faz um visível esforço pra respirar, mas sorri ao completar. — Isso foi tão bonito que me desconcentrei.

Franzo o senho, boiando completamente. Ele levanta os olhos, e os fixa nos meus, minha testa ainda franzida em preocupação suaviza automaticamente quando meu escritor toca o meu rosto.

Relaxo a pressão sobre seus ombros, e ele se afasta de mim baixando os olhos. Mesmo com o cabelo cobrindo sua face, sei que suas bochechas estão completamente vermelhas. Reluto em solta-lo, mas o fasso quando vejo que ele não irá mais cair.

— O passeio foi ótimo. — Diz Jay, ele segura a mão que outrora me tocou, envergonhado. — Gosto de olhar o por do sol, mas dá janela de casa não é a mesma coisa.

Concordo com a cabeça sorrindo, ainda conseguia sentir a suave pressão de sua mão em meu rosto.

Resolvo guardar minha curiosidade sobre o ocorrido, Jay não é o tipo de pessoa que se preciona. Além do mais, a alguns dias quando perguntei ao Oscar como proceder, este me garantiu, que o próprio escritor me diria.

Caminhamos lentamente para o apartamento, o ruivo boceja e pisca os olhos várias vezes. É incrível como ele sempre está com sono, mas pelo que diz dorme bastante. Para a surpresa dele quando chegamos ao portão eu entro, se afasta dois passos e eu reviro os olhos, ele tinha se mantido distante a viagem inteira.

— Preciso usar o banheiro antes de ir. — Esclareço.

Ele murmura um claro, claro envergonhado. O meu horário com ele sempre terminava quando o sol se punha, de modo que o natural seria eu seguir para casa. Não estou apertado de fato, apenas quero garantir que ele esteja bem.

Quando entramos para sua sala noto que ele não avia trancado a porta, pois a abriu sem utilizar as chaves.

— Não teme por sua vida?— Pergunto arqueando as sombrancelhas.

— A vida já é curta demais, perder tempo temendo por ela é bom... Uma perda de tempo.— Responde com uma mão no queixo, como se avalia-se a própria opinião.

Balancei a cabeça negativamente indo para o banheiro. Havia certa verdade nesta afirmação, mas não é melhor não arriscar? a vida é importante para ser jogada fora.

Já no banheiro apenas lavo o meu rosto sem me preocupar em fechar a porta, ao erguer meu rosto me fito no espelho. Meus cabelos negros caiam por sobre minha testa, olhos também escuros me observavam de volta. Como Jay consegue rir ao meu lado, sendo eu a personificação da morte?

Me viro suspirando para sair, porém tropeço e tenho de me apoiar no batente da porta. Me abaixo e pego a causa da minha quase queda, uma blusa, uma blusa vermelha feminina. Fico tão absorto na possibilidade dele ter namorada, que me sobressalto quando escuto sua voz ao meu lado:

— Minha irmã é um pouco desleixada.— Fala fazendo um sinal negativo com a cabeça, mas com um meio sorriso. — Desculpe, vou avisa-la que quase matou meu editor.

Sorrio aliviado lhe entregando a blusa. Pera como assim aliviado? Ele é uma pessoa maravilhosa, seria bom para ele ter alguém, que cuidasse dele, o amasse...

Fui guiado para o portão pelo ruivo maravilhoso, e quando ele acenou para mim com aquele sorriso, não hesitei em sorrir também.

***Obrigada por ler até aqui! :) Vou postar agora todo sábado, não se esqueça de adicionar a história a sua biblioteca, e de votar se gostou do capítulo. Até o próximo ;)***

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