29 | Mar agitado
(Dante Kafka)
Um sorriso adorna os meus lábios antes mesmo de abrir os olhos, me espreguiço ainda na cama chutando as cobertas e o meu sorriso fica ainda maior quando passo a mão pelos cabelos, meus fios estão completamente amassados e desgrenhados devido a noite de ontem.
Quando enfim abro os olhos me dou com o teto carmim do meu quarto, olho ao redor, Jay já se levantou e com um pesado suspiro faço o mesmo. Em um pulo estou no banheiro escovando os dentes e pelo grande espelho redondo vejo diversas marquinhas roxas espalhadas por meu peito nu e pelo meu pescoço, quando desço o olhar não consigo evitar morder o lábio ao notar um chupão na minha cocha esquerda, próximo a minha cueca box branca.
Como alguém doente conseguiu fazer isso comigo?
E sem uma resposta aparente volto para o quarto e pego uma blusa social branca da cômoda e a visto, estou abotoando os últimos botões quando minhas íris negras encontram o broto de rosa no batente da janela, o meu presente de aniversário, as pétalas pretas levemente arroxeadas brilham com a luz do sol vinda da janela sob elas, a rosa ainda está fechada, no entanto, é possível ver a beleza contida que ela revelará quando estiver pronta.
Não imaginei que o escritor me daria algo tão... Íntimo, pois é isso que isso é, ele se lembrou do broto na pequena ilha de Moray e procurou um parecido, sorrio ao terminar com o último botão, Jay não existe. Só cheguei a abrir o pequeno embrulho com a chave que recebi depois que o ruivo acordou do coma induzido, o que quase foi letal para o pequeno broto que já tinha duas pétalas ressecadas a esse altura.
Ponho por fim minha calça social preta por cima da box e saio do quarto seguindo o som de vozes que vem da cozinha, sendo porém interrompido pelo maravilhoso som de Believer que vem do meu telefone celular, franzo o senho, não costumo receber uma chamada a essa hora em pleno sábado, pego então o telefone abandonado em meu bolso o levando imediatamente a orelha.
— Alô?
— Como é estranho ouvir a sua voz sem aquele doce tom de arrogância. — A voz do outro lado responde com uma risada áspera, franzo ainda mais o senho ao identificar o dono dela.
— O que você quer Robert?
— Agora sim, agora é você senhor Kafka. — Brinca o Harrison mais novo me fazendo revirar os olhos.
— Vou desligar.
— Só vim pedir um encontro, você e o meu escritor favorito moram em Austin certo? Eu estou na cidade. — Robert explica, e eu que estivera andando durante a estranha chamada paro repentinamente no meio da escada.
— Que? Olha não tenho tempo para brincadeiras.
— Ajuda se eu disser que tenho um recado importante para o seu namorado? — Ele pergunta.
— Pode falar.
— Vamos Dante não seja chato, vou embora amanhã e acho que o ruivinho vai ficar muito chateado se não souber o que aconteceu com a Sara, só um palpite. — Declara e posso sentir seu riso contido enquanto passo a mão na testa, suspiro profundamente voltando a descer as escadas.
— Tá, okay, mas eu vou, não quero você perto do Jay.
— Perfeito, só quero entregar logo essa droga não importa na mão de quem. — Robert concorda e da sala onde estou consigo ver a minha mãe e o meu namorado fazendo algo no fogão, os dois riem sobre algo que o ruivo falou e consigo voltar a sorrir.
— Quando e onde?
— Na verdade agora mesmo se possível, estou em...
E assim que o infeliz que jurava nunca mais ter que ver na minha frente me diz o nome do lugar desligo a ligação sem dizer mais nada, passo a mão nos cabelos e me aproximo da porta da cozinha. Devo mesmo ir? Robert parece ter tendência a me encher o saco, mas, mesmo que seja brincadeira não posso arriscar pois ele mencionou Sara e o meu escritor gosta muito da menina.
Acabei ficando por tanto tempo pensando que nem notei a minha presença ser descoberta, Jay toca o meu braço despertando-me e me pergunta fixando suas íris verdes as minhas com seu senho franzido:
— O que foi amor?
— Nada. — Respondo abrindo um sorriso de canto, dou um selinho em seus lábios desconfiados e um beijo na testa da minha mãe que se aproximou pelo outro lado. — Só vou ter que resolver umas coisa, talvez demore.
E dito isso os dois se entre olham como se conversassem por telepatia, pego meu paletó pendurado no gancho ao lado da porta e o vestindo me dirijo a saída. Tento agir normalmente, como se fosse apenas mais uma saída para o trabalho em dias de folga — coisa que devido a minha área específica de trabalho faço muito — mas é óbvio que não consigo, abro a porta, porém, não chego a cruza-la e solto um longo suspiro segurando ela aberta.
— Dante? — Jay me chama fazendo com que eu me vire imediatamente, vejo teus olhos antes tão vivos caídos em preocupação e isso faz com que os meus caiam também, esses olhos não foram feitos para ficarem tristes. Eu deveria dizer logo para aonde vou porque mentir, ou melhor omitir, está me matando, mas eu sei que ou ele não vai me deixar ir ou irá querer ir comigo.
Quando voltar vou contar tudo e implorar por desculpas, só espero não deixar meu ruivo preocupado atoa.
— Fica tranquilo, mais tarde eu te explico. — Digo passando o polegar em sua bochecha pálida. — Vou voltar logo anjo, vê se descansa, nem sei como está de pé depois de ontem.
Consigo captar então sua risada envergonhada que acompanha o ruborizar das suas maçãs do rosto enquando o escritor empurra levemente o meu peito com a mão, decido, então, guardar essa risada comigo, mante-la viva e quente como seu dono na minha memória. E após bagunçar os cachos ruivos do meu tomatinho saio querendo ficar.
•••
Passo pela manada de pessoas para conseguir sair pela porta metálica do trem que já se fechava, perante a luz cegante do sol que deixa o céu azul ainda mais azul cerro os olhos para me abtuar ao brilho incomum. Não aprecio muito esse modal de transporte, todavia, me apeteceu que fosse o mais rápido.
Ando com calma pelo centro da cidade parando brevemente para esperar os sinais abrirem, poucas pessoas ou quase nenhumas cruzam o meu caminho, a maioria são famílias, grupos de amigos e casais que carregam grandes sorrisos em suas faces diversas. Ao andar por aí em dias tranquilos como esse se torna comum ver coisas assim, basta apenas olhar, olhar de verdade, e ver isso me faz sentir uma parte das coisas boas que existem no mundo, o verdadeiro conceito de beleza: Não é aquela física ou interna, é a natural que todos tem dentro de si e que se expressa por meio da felicidade.
Carrego um quase sorriso no rosto ao parar no ponto de ônibus cheio de luzes verdes, o nosso ponto de encontro, meu sorriso seria maior não fosse a constante lembrança da pessoa com quem iria me encontrar.
E nesse exato instante Believer toca no meu bolso, pego então meu celular dando uma rápida olhadela para a hora antes de atender a chamada o levando ao ouvido.
— Já são dez e meia cadê você?
— Sabe, não imaginei que iria mesmo, seria mais emocionante com você aqui, contudo, acho que é melhor assim. — Confessa Robert com um tom divertido, franzo o senho olhando ao redor e tenso cerro o punho deixado ao lado do meu corpo.
— Cadê você Robert?
— Ainda não adivinhou? Estou decepcionado senhor Kafka, para alguém tão inteligente acaba de ser estúpido. — Zomba ele e com a cabeça a mil ponho-me a caminho da estação de trem que acabei de deixar. — Eu disse que sempre ganhava.
— Seu covarde! Desgraçado covarde! — Grito com fúria atraindo imediatamente olhares para mim, não diminuo o passo por um segundo.
— Até breve senhor Kafka, tenho negócios a resolver. — Finaliza encerrando a ligação.
***Muito obrigada por todos os votos e comentários, é incrível demais saber que alguém chegou a ler a minha história***
*Está curtindo esse casal sem sossego?*
*Então não esqueça de votar é deixar sua opinião, ela é muito importante.*
*Até mais...(^^)*
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