22 | Tá tudo bem
(Dante Kafka)
— Dante...— Jay chama em meio a uma crise de tosse.
Ergo-me em total espanto e acendo a luz da pequena luminária de cabeceira, o escritor se contorce na cama em uma desesperada tentativa de encontrar ar. Imediatamente o ajudo a se sentar erguendo-o pelas costas, ele aperta os meus braços com firmeza e com um súbito entendimento do que seus olhos desfocados me pedem retiro a sua máscara respiratória.
Jay desfalece em meu colo cançado e enfim respira fundo, e eu sem conseguir pronunciar sequer uma palavra acaricio seus cachos ruivos abraçando seu corpo. Franzo então o senho em total alarme, o corpo do gêmeo ferve em meu peito, o deito então colocando dois travesseiros nas suas costas, notando também o suor frio que lhe dá um olhar doentio.
Ele respira pesadamente, passo a mão em seus cabelos os tirando de seu rosto sem saber bem o que fazer, e Jay sorri sofridamente, o brilho de suas íris exibindo total agradecimento e ternura, não consigo segurar um sorriso aliviado.
— Me desculpe meu amor, eu te acordei. — Fala sofregamente, nego com a cabeça o cobrindo com o edredom laranja e pego em sua mão.
— Prefiro acordar por você do que não dormir sem saber como está. — Respondo e ele nega com a cabeça rindo, dados alguns segundos Indago: — A febre não é normal né? Nem essa rouquidão no seu peito, e você já tem ideia do porquê, se não, não estaria tão tranquilo.
O escritor apenas concorda com a cabeça de forma pesarosa, e após respirar fundo confessa em um fio de voz:
— Nancy me deu algumas possibilidades... — Tosse apertando minha mão com certa força, peço que não fale pousando a outra palma por cima da sua. — tá tudo bem Raven, as vezes você é tão fofo que eu me sinto culpado por deixa-lo assim.
Coro levemente e o ruivo ri erguendo o braço para acariciar a minha bochecha com o torço da mão.
— Mas eu fugi pra cá antes dela me arrastar para o hospital. — Finaliza abaixando o braço e recebendo de mim um olhar de reprovação.
— Eu sei. — Suspiro vendo orbes confusas se voltarem para mim. — Liguei para ela, e sua irmã disse pra mim te levar logo pela manhã.
O observo baixar as íris, e quando as volta para mim concorda levemente com a cabeça, fazendo-me sorrir abertamente e beijar o canto de seus lábios. Fazendo uma bela vermelhidão tomar conta de sua face pálida, o que só faz meu sorriso aumentar por ver esse vestígio auspicioso de vida.
— Posso descansar mais um pouco? Ainda é madrugada, de qualquer forma. — Pede me fazendo olhar para a pequena janela do quarto, o breu esconde até as estrelas, concordo e sou imediatamente puxado para a cama. Rio revirando levemente as orbes.
— Sabe, — Sussurro com ar confessivo — eu estava pensando naqueles dias que passamos fora, e as imagens surgiam em minha mente como se fosse um sonho.
— Pra mim também. Agora, parece algo tão distante não é Dante? — O escritor concorda baixo.
Suspiro em um mudo assentimento e falo:
— Não posso mais ficar longe de você, eu... Não consigo Jay.
Olho brevemente para o seu rosto a tempo de ver o sorriso bobo que adorna seus lábios, sem pensar apenas o empurro de leve com o ombro desviando o olhar a tempo de ouvir uma risada baixa.
Por que diabos estou tão sentimental e... e... apaixonado?
— Que?! — O escuto exclamar. — Não posso controlar o efeito que suas palavras tem em mim Raven.
Reviro inconscientemente as robes sentindo em contrapartida um sorriso se formar em meu rosto. É fato que não estou acostumado a isso, a ser amado, e muito menos a amar, no entanto é uma coisa tão boa de se sentir que não me entendo por não querer ter isso antes.
— O que te atrai nos livros? — Pergunto de súbito, sem conseguir pensar em dormir.
Sinto-o afundar nos travesseiros e sei que o sono lhe domina quando em um suspirar, coloca novamente a máscara de respiração portátil no rosto. Toco sua testa e sem saber muito bem como proceder cubro-lhe melhor o corpo, Jay pousa a face em meu peito me permitindo ouvir o som ritmado da sua respiração, o que acalma imediatamente meu ser por ouvir a mais bela música do mundo.
— Os livros não têm limites — Sua você sussurra enquanto suas mãos dedilham minha barriga. — Com eles, posso ir de um hospital triste e vazio para uma tripulação de baleeiros. — O observo com paciência e admiração, prestando atenção a cada palavra, assim como em cada falha que sua respiração apresenta mesmo com a máscara.
— Assim como conhecer diversos lugares, reais ou imaginários, sem nem mesmo sair de casa. Ler para mim... — Continua estremecendo de febre sobre meu corpo. — é a mais pura liberdade.
— Dante? — Me chama após alguns segundos.
— Diga anjo. — Peço fazendo cachinhos no emaranhado de fios do ruivo.
— Obrigado por me pegar da estante pois a muito tempo eu quero ser lido, obrigado por ser você. Te amo de tantas maneiras...
E suspira sofregamente, beijo o topo da sua cabeça enquanto o escritor cai no sono e suspiro também, em um misto de medo, amor e raiva pelo azar do meu anjo. Jay já teve crises dessas, mas eram causadas pelo estresse e unicamente desregulava sua respiração. Da última vez, na noite anterior a nossa viagem de volta ele porém teve uma crise de tosse que quase o sufocou, contudo não ouve febre.
Sua respiração agora está fraca, e seu peito quase não se meche. Fecho os olhos como que tentando não ver o óbvio, eu não sei o que está acontecendo, o ruivo porém sabe, e enquanto tranquiliza a mim sofre com a dor e agonia de sua doença.
Amo-o, e mesmo assim, talvez por isso mesmo, não consigo agir. Quero somente estar com ele, fechando os seus olhos e os meus próprios para diagnósticos, quero acreditar nele quando diz: "tá tudo bem".
•••
Pouso o celular na bancada da cozinha e massageio as têmporas sem saber o que fazer. É a sexta ligação que Nancy não atende, e apesar de saber que ela está em uma prova de cinco horas de duração não consigo evitar continuar a tentar ligar, para ter certeza de fazer a coisa certa.
"Por favor, leve-o logo pela manhã, a noite Jay fica muito cansado então nem adianta tentar ir agora. Mas leva ele, eu temo que seja grave..."
Rumino as palavras da gêmea sem conseguir parar de pensar que ela não sabe, que mesmo com a máscara o escritor mal respira.
Suspiro pesadamente pegando duas bandas de pão plus vita para passar em seguida geleia nelas, sorrindo melancolicamente para o pote. A geleia de morango é a favorita do ruivo, principalmente depois que ele a provou dos meus lábios na nossa última noite juntos.
Coloco um pouco de suco de laranja em um copo e o pouso no prato junto ao pão, nego com a cabeça colocando o café da manhã de Jay no braço e me dirijo as escadas, subindo os degraus devagar para não derrubar nada. Esse é o pior café da manhã feito por um namorado, se minha mãe estivesse acordada...
Respiro pesadamente diante da porta a abrindo devagar, o escritor dorme um sono desconfortável, a mão direita aperta o peito como que tentando arrancar alguma coisa, ou como que sentindo a falta de algo. Engulo em seco deixando o prato na cama para me sentar ao lado dele, passo a mão em seu rosto contornando sua fina sobrancelha com os dedos, temo acorda-lo e ao mesmo tempo desejo isso.
— Meu anjo acorda eu trouxe comida. — O chamo baixo, ele choraminga esfregando os olhos com a mão e quando revela suas íris esverdeadas faz um bico, rio dando um beijo em sua testa. — Bom dia tomatinho.
— Bom dia... — Murmura se sentando e quando retira a máscara arregala repentinamente os olhos. — Esse cheiro é de...
Rio novamente concordando com a cabeça.
— Geleia de morango. — O informo colocando o prato em cima do colo dele, que sorri rapidamente me dando um beijo na bochecha em agradecimento.
Abro completamente a janela que estava entreaberta para deixar a luz da manhã entrar, o ruivo fecha os olhos incomodado e quando se volta para mim piscando repetidas vezes consigo enfim ve-lo com clareza. As orbes fundas indicam as noites que a dor não o deixou dormir, e a palidez a fraqueza que sente.
Volto a me sentar na cama o observando, Jay beberica o suco e apanha o pão sem de fato ergue-lo. Ouso então um soluço deixar seus lábios e seguro sua mão o fazendo me olhar para ver suas orbes marejadas, culpadas. Beijo sua palma o tranquilizando.
— Não se preocupe comigo, eu entendo, tente comer só um pouco, precisa de forças para levantar. — Peço dando um meio sorriso.
Jay sorri levemente com tristeza e diz com a voz límpida e emocionada:
— Muitas vezes isso aconteceu comigo e eu nunca fiz nada, não importava o quando minha irmã pedisse eu só esperava pelo fim da dor, sem nenhum motivo para continuar a senti-la.
— Jay... Meu amor, meu anjo, deixa eu dividir essa dor com você. — Peço em uma súplica, vendo seu sorriso aumentar.
— Você não vê? Já dividimos desde o dia em que te contei o que tinha, naquele dia você se condenou e eu encontrei um motivo para aguentar a dor. — Confessa a escritor tendo outra crise de tosse logo em seguida, o apoio pelas costas sussurrando com desespero:
— Trocaria de lugar com você se pudesse.
Jay me abraça com força, tossindo uma tosse sufocante, e então uma sobra de terror passa diante dos meus olhos e temo termos adiado demais. E quando a crise passa o escritor se afasta com pesar, porém não o solto, continuo segurando ele pelos ombros pois noto a fraqueza que domina seu corpo.
— Eu... sei. — O ruivo murmura mal conseguindo respirar, as iris pálidas fixas nas minhas, os olhos quase se fechando. — E isso só aumenta a minha culpa, pois culpo a mim... O meu egoísmo.
Abro a boca mas nenhuma palavra sai, não sei o que dizer, Jay não está certo porém não sei como dizer isso sem piorar as coisas.
Então ele repentinamente se levanta, as pernas fraquejam e se escora na parede, me levanto e o seguro pelo braço enlaçando sua cintura.
— O que está fazendo!? — O Indago com desespero sem entender.
— Preciso ir... Muito quente... — Balbucia o gêmeo me fazendo franzir o senho.
Ele tenta dar mais um passo me empurrando sem forças, porém ao fazer isso cai de joelhos sendo amparado por mim. Seguro Jay pelas costas com sua cabeça apoiada em meu peito, e então finalmente entendendo toco sua testa, o editor delira de febre. O peito dele começa a subir e desce como ondas violentas e a cada segundo luta mais para respirar, ele vai sufocar, percebo, se eu não fizer alguma coisa.
Seu dedo trêmulo aponta para a cama me viro imediatamente com o coração aos pulos e apanho a pequena máscara respiratória, ligo o pequeno interruptor dela e coloco ela no nariz dele o vendo conseguir voltar a respirar. Meus batimentos cardíacos desaceleram quando suspiro e beijo sua cabeça aliviado. Jay porém não se meche, sua face repousa em meu colo como se estivesse adormecido, só não entro novamente em pânico pois sua respiração ressoa na máscara.
Pego o ruivo no colo sentindo com pesar sua leveza, antes mesmo de dar um passo escuto passos apressados no corredor e quando me volto para a porta me dou com as orbes assustadas da minha mãe. Decerto que ela escutou quando o escritor caiu. E tirando os cachos ruivos de Jay do rosto dele peço com urgência:
— Mãe por favor prepara o carro.
•••
Os outros carros passam como vultos por nós, e raios de sol tocam delicadamente a face de Jay. Sheila dirige com uma fúria constante vira e meche olhando para nós pelo retrovisor, não trocamos uma palavra desde que entramos. Coloco à mão por cima do peito dele fechando os olhos, para poder sentir alguma coisa, todo o som externo sumiu, e tudo o que escuto são as nossas respirações e o som do coração do corpo deitado no meu colo.
Vejo o hospital a nossa frente e engulo em seco me lembrando das palavras do escritor:
"Eles sempre acham alguma coisa."
***Não dá para criticar o Dante por não saber o que fazer, eu não saberia, Nancy devia estar com Jay mas este fugiu dela com medo de ser internado. Aiaiai o ruivinho vai ter que aprender a aceitar sua doença, entender que precisa de cuidados.***
***Foi mal to viajando aqui, a história está chegando ao fim e deu vontade de falar, é como se um filho fosse se mudar, você cria com carinho e bastante esforço e então um dia ele vai, da vontade de dar uns últimos conselhos sla.***
***Enfim obrigada por estar acompanhando (^^) é muito bom saber que alguém se interessou.***
***NÃO se esqueça de votar, até o próximo capítulo ❤***
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