20 | Rosquinhas
(Jay Green)
O som de uma gota de água caindo em um balde dentro da pia é a única coisa que se ouve em toda a casa adormecida, uma luz acinzentada começa a entrar pela janela da sala sinalizando ser o início de uma manhã bem nublada.
Suspiro deitado no sofá levando uma rosquinha a boca, mesmo macia e açucarada só arranca mais um suspiro dos meus lábios. Então me sento jogando o doce na caixa sob a mesinha de centro e pego meu celular o tirando do carregador, são seis e trinta e cinco.
Olho em volta do meu apartamento tentando entender porque passei a noite inteira acordado aqui, vendo passar na televisão um filme atrás do outro sem de fato assisti-los. Antes de voltarmos da Escócia eu já tinha uma ideia de que seria assim, recém namorados normais não se vêem todos os dias, mas, embora eu saiba disso continuo sentindo falta de te-lo ao meu lado na cama.
Ele passou a primeira e a segunda noite aqui comigo, contudo logo teve que ir embora para colocar em andamento a publicação do livro. Dante não mora muito longe daqui, na verdade ele mora é longe da Editora e por isso decidiu passar um tempo na casa da mãe que mora bem pertinho.
Acabo por destravar o aparelho móvel e abrir a janelinha de mensagens dele, sorrindo ao me dar com uma foto nossa em seu perfil, tiramos no carro a caminho de casa, nela estou com as bochechas coradas devido ao frio e no entanto com um grande sorriso no rosto, Dante também sorri dando um beijo na minha cabeça. Com o coração amolecido resolvo mandar uma mensagem:
"Como você está?"
"Você está muito fofo na foto, preciso te sequestrar."
"(Ps: eu te amo)"
Assim que apago a tela do celular para deixa-lo de lado ela se acende com o som de notificação, digito a senha do aparelho mordendo o lábio inferior e vejo a resposta do editor:
"Com saudades do meu anjinho."
"Juro que vamos nos casar e morar juntos, pra poder te ver todo dia."
"Beijo tenho que acordar quem dormiu aqui."
"(Ps: também te amo, você está bem?)"
— Ahhh... — Gemo enfiando a minha cabeça em um travesseiro. — E faz só uma semana, preciso de mais doce.
— Nem pensar, ou vou ligar para o seu namorado avisando que você esta tentando ter uma overdose de açúcar. — Nancy brinca e eu levanto a cabeça em sobressalto.
Minha irmã acende a luz me fazendo piscar os olhos várias vezes antes que eu consiga a ver com clareza, ela esfrega as orbes bocejando e faz um coque no alto da cabeça. E quando se volta para mim sorri me dando um beijo na testa, afasta os cobertores e se senta do meu lado cobrindo os pés.
— Que cara de sono é essa, não dormiu de novo? — Nancy questiona já sabendo a resposta, desvio o olhar acuado. — Jay, você sabe que precisa descansar, ainda mais depois de uma viajem tão longa.
Suspiro a olhando, suas vivas íris verdes não me compreendem, e confesso nem eu estar me entendendo. Sinto sono mas a cama parece tão fria e vazia... Provavelmente é tolice minha.
— Só quis ver uns filmes. — Minto e ela nega com a cabeça.
— Devia ligar para ele, pelo que sei Dante sente tanta saudade sua quanto você dele. — A ruiva sugere coçando a nuca.
— Não não, Dante está trabalhando é melhor não incomodar. — Respondo e então a olho com as sombrancelhas franzidas. — Perai, como você saberia disso?
— Er... bom. — Minha irmã gagueja e eu cruso os braços esperando. — Ele meio que me liga perguntando de você, e o seu namorado parece bem cansado, acho que ele quer muito te ver.
— É eu sei. — Concordo baixando os olhos. — ele não parece, Dante está cansado, exausto na verdade. Me sinto dividido entre ir procura-lo pra tentar o animar, ou deixar que trabalhe.
Nancy e eu então suspiramos em uníssono, talvez eu esteja muito dependente mas o que posso fazer? Não consigo simplesmente me mandar dormir e conseguir, ou ignorar a existência de uma das pessoas mais importantes da minha vida. Okay, estou sendo melodramático, entretanto, sei que não sou apenas eu que penso assim.
Dante me perguntou se podia me ligar sempre antes de dormir, e ontem à noite confessou ter se arrependido de voltar para cá tão cedo. Claro que isso foi necessário devido as circunstâncias, meu manuscrito já atrasara o suficiente.
— É preciso ter paciência irmão, sei que deve estar tendo uma crise de abstinência mas isso vai passar logo, aposto que Dante deve estar terminando a edição o mais rápido possível para voltar pra você. — Nancy se pronuncia como se lesse meus pensamentos me fazendo rir.
Suspiro balançando a cabeça negativamente.
— Isso é uma das coisas que me preocupam, acha normal trabalhar tanto assim? — Confesso gesticulando com as mãos na direção da janela como que apontando para a Editora.
— Claro que não é, só que ele faz isso desde sempre, o que pensa em fazer? — Indaga apoiando o queixo no joelho.
— Não sei bem, eu estou...
Sou interrompido pelo telefone fixo que toca de forma estridente me fazendo pular no sofá, Nancy me olha franzindo o senho como que me perguntando quem é e eu simplesmente dou de ombros. Ela se levanta e vai atende-lo.
— Alô? — Diz e então seus olhos se arregalam. — A sim...
E tirando o aparelho do ouvido diz ser para mim, me levanto engolindo em seco e sento o meu peito apertar. Seria outra mensagem misteriosa de ameaça da Editora concorrente? Não. Já disse o que precisava dizer e Nancy cuidou do resto...
Melhor simplesmente atender ele logo.
— Yo? — Digo hesitantemente aproximando o telefone fixo a orelha.
— Oi Jay que bom que está em casa! — Sou recebido por uma voz elétrica e animada pelo outro lado da linha, o que me faz sorrir imediatamente em alívio, reconheço essa voz, outrora falei sem querer com ela quando Dante estava no chuveiro e pediu pra mim atender o seu celular.
— Senhora Kant que surpresa, aconteceu alguma coisa? Seu filho está bem? — Indago em um misto de alegria e recente preocupação levando uma mão ao peito, a escuto sorrir e consigo voltar a respirar. Nancy me faz gestos e supondo que está perguntando do editor faço um sinal positivo com a mão.
— Por favor Jay, é um ultraje que o meu genro me chame pelo sobrenome. É só Sheila ou teremos problemas. — Ela retruca me fazendo rir com seu jeito descontraído. — Dante está bem querido, só morrendo de saudade e preocupado com você tanto quanto está com ele. Como é que vocês conseguem ser tão fofos?
Sorrio contra o telefone com a lembrança do editor e vejo minha gêmea disfarçadamente ir para a cozinha, suspirando digo:
— Não sei, eu ia até ligar para a senhora, seu filho parece triste e exausto não importa o quanto brinque.
E franzo o senho, do outro lado o som de algo sendo arrastado e Sheila suspira com um baque.
— Então mesmo pelo telefone você notou. É essa casa, não faz bem a ele e ainda tem o trabalho e a saudade, foi por isso que liguei. Eu preciso da sua ajuda. — Confessa.
— Minha ajuda, como? — Questiono passando a mão na cabeça para tirar o cabelo dos olhos.
— Provavelmente Dante não te contou, (aquele idiota nunca conta essas coisas), mas sábado é aniversário dele. — Pausa, fecho os olhos murmurando um droga e ela continua: — Tudo bem, eu só sei a data porque é impossível esquecer o dia em que senti mais dor na minha vida, porém não tinha como você saber filho.
Mas tinha, bastava uma olhada no nosso contrato, e eu nem mesmo tentei perguntar. Todavia agora eu sei, sorrio olhando para a luz fria da janela, agora eu posso ajudar.
— O que planeja? — Pergunto e ela ri conspiratoriamente.
— O que ele mais detesta, festa surpresa. — Responde e eu nego com a cabeça rindo. — Você vem?
— Eu levo o bolo. — Declaro.
***Feliz sábado <3, esse capítulo foi mais introdutório, uma nova fase está começando, pode deixar que Dante volta já já.***
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***Até o próximo capítulo :)...***
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