10 | Pesadelos


(Dante Kafka)

Clarões dão vez ou outra uma vida assustadora as janelas. Vou caminhando pelo estreito corredor que leva ao meu quarto, observando a fina telha da pousada que treme com as pancadas de chuva.

Isso aqui é mesmo seguro?

Realmente não esperava por "férias" tão chuvosas, não que a chuva seja de todo ruim, apenas a parte em que ficamos sem luz e a internet cai. Até porque, desde que chegamos a uma semana, consigo acordar sorrindo ao não ser recebido pelo calor do Texas.

Embora eu esteja acordando com outro tipo de calor ultimamente.

Tateio a parede para achar a minha porta devido ao breu, e deixo um leve riso escapar quando encontro a maçaneta. Contudo ao gira-la noto por cima do ombro uma luz vinda do outro lado do corredor, franzo o senho me virando e indo em direção ao quarto de Jay, que tem a porta entre aberta.

O que a causa da minha febre matinal faz acordado tão cedo?

Escritor que a propósito está me evitado, coisa que tem me irritado. Afinal, tenho certeza de não ter feito nada de errado ultimamente, tirando o beijo que dei inocentemente em seu pescoço, coisa que o deixou vermelho como pimentão, isso entretanto já faz um dia.

Me aproximo da porta e a abro mais, devagar. Estou prestes a me anunciar, exigindo que Jay parasse de fugir de mim quando consigo ve-lo com clareza.

Ele está sentado de costas para mim, o notebook ligado a sua frente é a única coisa que ilumina o ambiente. Ao dar um passo adentro esbarro na porta que range, o ruivo se vira junto com a cadeira giratória.

— Dante? — Sussura semicerrando os olhos para tentar me ver na penumbra.

Dou outro passo a frente, me aproximando e rio nervoso. Ele está praticamente deitado na cadeira, coça os olhos e me lança seu característico sorriso.

— Ouvi seus passos mais cedo no corredor, foi a cozinha pés leves? — Pergunta fechando o world, seguro o sorriso quando no lugar aparece um papel de parede com os gêmeos brincando na neve.

— Fui sim, essa chuva toda não me deixou dormir. — Respondo baixo entrando completamente no quarto. Lá fora um trovão ressoa, Jay se volta para a janela, e a observa atentamente, os olhos desfocados. Me sento na cama bagunçada. — Não consegue dormir também?

Ele confirma com a cabeça, ainda olhando para a janela, e então Sussura:

— Tenho aproveitado para escrever a noite.

Olho o notebook em cima da mesa, e um recente clarão me faz notar inúmeros papéis no chão. Apesar da ideia inicial de fazer o escritor relaxar aparentemente aconteceu o contrário, Jay anda cada vez mais cansado e abatido.

— Jay isso não pode continuar assim, se matar não vai dar em nada. De um tempo a si mesmo, foi para isso que vinhemos aqui. — Digo aproveitando as rodinhas da cadeira e o arrastando para perto de mim. Viro então seu rosto para o meu. Ele fecha os olhos quando passo minha mão em sua bochecha, a boca entreaberta me atraindo para sí, sorrio com sua ingenuidade.

— Eu sei mas mesmo assim, não consigo dormir. — Sussura revelando as íris verdes.

— por quê? — Questiono o que a muito queria saber.

— Eu... — Começa mas baixa os olhos.

— O que? — O incentivo erguendo seu queixo, mantendo sempre meus olhos nos dele.

— Tenho medo de não acordar. — Completa.

Olho para o BIPAP me lembrando da falta de energia. Jay, notando a minha linha de pensamento nega com a cabeça e explica com um leve sorriso:

— Não é isso, ele tem baterias. Nancy prevê todo tipo de situação. — Desvio o olhar acanhado. — Eu tenho medo de dormir toda noite, é besteira minha, não me olhe assim.

Me permito rir do leve tapa no ombro que ele me dá. Aparentemente com sua confissão olhei para ele preocupado, sei que foi isso pois foi o que senti. A muito que noto que ele tem problemas internos, coisas que tenta esconder com seu sorriso e um "tudo bem". Mas isso não quer dizer que esteja realmente tudo bem, sei bem disso, e por isso digo negando com a cabeça:

— Lembra do que eu te disse na lanchonete? Não minimalise seus sentimentos, o que você sente não é besteira.

— Eu nunca conseguiria esquecer. — Diz Jay sorrindo, sorrio também tentando ignorar o recente frio na barriga. — É que... Você não acha esse papo todo meio chato?

— Não. — Respondo sem titubear. — Porque eu quero saber como o meu amigo está se sentindo.

O escritor ri e nega com a cabeça, descrente. Amigo não foi bem a palavra que eu quis usar, mas nos dar essa denominação já é estranho devido a nossa estreita relação, quem dirá outra coisa.

— Você não tem jeito. — Ele diz.

— Não, mas tu também não. — Brinco e rimos concordando.

Jay então boceja me lembrando do início da nossa conversa, o lembro baixo:

— Ei, você realmente precisa dormir, parece exausto.

— Eu tento. — Explica suspirando. — As vezes até consigo, mas parece que essa doença me cobra até as forças, pois sinto mais sono que o normal.

Olho então para trás, e passo os olhos pela cama bagunçada, me voltando para o ruivo com uma ideia.

— E se eu dormir aqui com você? — Indago como quem não quer nada.

— Que!? Ta doido, não quero ser atacado por você de novo! — Exclama e sei mesmo no escuro que está vermelho com a lembrança.

Contenho o riso e explico visando convence-lo:

— Não é como se eu fosse alguém tão indecente a ponto de ataca-lo enquanto dorme. Aliás, lembre-se porque estamos aqui, preciso de você cem por cento.

O observo cruzar os braços e olhar para a cama atrás de mim, quando ele abre a boca penso que vai mais uma vez negar quando pergunta baixo, com um tom levemente descrente e esperançoso:

— Está falando sério, Dante?

Concordo com a cabeça pesaroso. Ele deve estar com muito sono, pois geralmente é mais teimoso.

— Estou. — Digo apenas para deixar mais claro.

— Então tudo bem. — Fala o ruivo se levantando, faço o mesmo. — Desculpe a bagunça, estava tentando dormir.

Digo que não me importo e o ajudo a ajeitar a cama. Falamos pouco, acho que essa situação é meio estranha para nós dois. Apesar de eu realmente querer ele cem por cento, não vou negar que gosto de estar perto dele, mesmo, que agora que estou, esteja ficando nervoso.

Jay pede que eu pegue outro cobertor no armário, me olhando brevemente antes de desviar o olhar. Sorrio mais relaxado indo pegar-lo. Eu sei perfeitamente o que estou pensando, o que me acanha e não fazer ideia do que passa pela cabeça dele.

— No que está pensando? — Sussurro voltando para perto da cama com a coberta.

O escritor me olha e morde o lábio, abre a boca e morde o lábio novamente. Sorrio e dou a volta na cama, digo me sentando nela:

— Não precisava pensar tanto.

Ele ri, sem jeito.

— Desculpe você me pegou desprevenido. — Confessa se sentando na cama de frente para mim é cruzando as pernas. A chuva que por um tempo parecia ter estiado volta com total força, fazendo tremer a janela que fica do meu lado, o frio começando a deixar meus pés dormentes, os coloco então em cima da cama e os cubro. — Deixa eu ver... Em como é estranho a Nancy não ter vindo aqui ainda, no porque de eu não me lembrar de dias tão chuvosos... E em como só a sua presença já aquece mais o ambiente.

E dessa vez ele consegue me fazer corar devido a surpresa. Me volto para a janela com um sorriso enorme, e quando encarro novamente as brilhantes orbes do ruivo ele ainda me olha.

— Obrigado por me falar. — Sussuro e ele ri dando de ombros.

Bocejamos ao mesmo tempo rindo, nós lembrando do motivo de estarmos na cama. Me deito ajeitando o travesseiro no meu pescoço, franzindo o senho quando Jay não faz o mesmo. Ele se inclina para o lado e começa a mecher no BIPAP, o espio, curioso, e vejo várias luzes ligarem. O ruivo se volta então para mim e pergunta mordendo o lábio inferior com a testa franzida:

— Você se importa com o barulho do respirador?

O som me lembrava as máquinas de lavar roupa, só que mais baixo, como um: zzzzzzz.

— Não ligo, é até relaxante. — Respondo.

O vejo sorrir antes de pegar o respirador que estava pendurado na cabeceira da cama. Apesar de no princípio o escritor se sentir acanhado de usar a máscara na minha frente, com o tempo ele até parou de a tirar sempre que eu entrava de surpresa no quarto dele de manhã. Coisa que passei a fazer quase todo dia, para ver como a escrita ía, e é claro, como ele ía.

Jay a veste, com cuidado prende o elástico atrás das orelhas, dando a volta na cabeça. Se inclina então para a mesa que está do seu lado da cama e fecha o notebook, a escuridão se espalha. Sinto uma movimentação do meu lado, e o único som que escuto e o da chuva, dos trovões, do respirador, e da nossa respiração.

Coloco minha mão na frente do rosto, e consigo ve-la tenuamente. A abaixo me cobrindo e fico olhando para o teto, ao meu lado sei que o ruivo faz o mesmo. Uma trovoada ressoa, arregalo os olhos mas permaneço estático ao sentir a mão de Jay no meu braço, ele o segura, quase aperta.

— Você tem pesadelos? — Me pergunta baixo.

Sorrio e coloco minha própria mão por cima da sua, ele diminui o apertou eu começo a acaricia-la. Fecho os olhos quando ele se vira para mim, posso sentir a intensidade com que sou observado, os abro virando a cabeça para seu lado, tentando em vão ve-lo.

— Tenho sim. — Respondo sorrindo com a lembrança. — Quando era pequeno costumava correr para o quarto dos meus pais quando chovia assim. — Continuo, o sorriso morrendo, Jay parece sentir isso pois apóia a testa em meu ombro. — Mas com o tempo passei a não ser tão bem vindo. Acho que algumas pessoas preferem filhotes.

— Essas pessoas não sabem o que perderam. — O escuto sussurar.

Sorrio e resolvo provocar:

— O que?

— Hmmm deixa eu ver. Uma pessoa atenciosa e bondosa, que apesar de as vezes ficar com uma carranca não consegue esconder o que é de verdade. — Alega em tom de brincadeira, rio. — Uma pessoa, que não tem medo de se apegar, e que consequentemente, faz com que se apeguem a sí.

— Uau, tudo isso? — Brinco, e ele ri, sua voz ecoando na máscara quando diz com convicção:

— E muito mais.

***Cara eu amo tanto esses dois, que estou quase trocando o convívio social pela história (^^)***

***Obrigada por ter lido até aqui! O que estão achando? Se gostou do capítulo não se esqueça de votar. Beijosss ;) ***

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