1 | Os destinos se entrelaçam
(Jay Green)
As vezes temos que olhar para o céu, ou para qualquer coisa que nós acalme antes de tomar uma decisão. Não por não saber o que fazer, simplesmente para absorver força suficiente para fazer a escolha certa.
Já passou por isso, caro leitor? Então pode imaginar como é ainda mais difícil quando tanto na melhor como na pior opção, alguém vai sair machucado. E infelizmente, essa pessoa não pode ser você.
A minha frente se encontra meu notebook, a aba do world está aberta, porém, em branco. Isso reluz exatamente o que se passa pela minha cabeça, branco. Meus dedos acima do teclado, mas sem o tocar. Com um longo suspiro os tiro dali. Ficar sentado aqui a noite toda não parece ter ajudado como eu imaginava, pelo contrário, agora para qualquer canto que olhe só consigo ver uma página vazia.
O som estridente do meu celular toca ecoando por todo o ambiente, levanto as centenas de folhas rasuradas até encontrar o aparelho, que ironicamente, é branco.
— Alô? — Pergunto sem ter certeza de ter atendido direito. Já tomando a precaução de o afastar três centímetros do meu ouvido, pois só podia ser uma pessoa.
— Jay querido a sua voz está horrível!— Informa minha editora um pouco alto demais.
— Também é bom falar com você Louise. — Digo sem conseguir evitar sorrir perante a sinceridade da loira.
Ela ri do outro lado da linha, mas quando volta a falar sussurra me fazendo apertar o celular contra o ouvido:
— Olha também adoro falar com você, mas Oscar está inquieto. Tem algo para nós?
Seu tom é baixo e cauteloso, quando a pressão da Editora caiu sobre mim ela foi a única pessoa que percebeu que meu bloqueio também me afeta. Todos esperam que eu apareça com uma história brilhante, mas minha cabeça não funciona assim, quanto mais apertar ela, menos coisas saem. Então ela prometeu me ajudar, sem pressão. Uma careta de dor se forma em meu rosto, a culpa explodindo no meu peito.
Preciono meus olhos com o polegar e o indicador, os mantendo fechados. Eles ardem querendo deixar uma lágrima escapar, respiro fundo, preciso encarar os fatos.
— Eu sinto muito Lou, não tô conseguindo, nada sai. Ontem arranquei um tufo do meu cabelo e nem sequer senti dor, pensei até em tirar mais pra ver se isso me dava alguma inspiração.
Tudo o que ouvi por um tempo foi sua respiração, então após um suspiro e o som de algo pesado caindo na mesa – provavelmente um livro – ela exclamou:
— Tenho uma ideia.
Abri meus olhos e me firmei na cadeira. Foi logo me dizendo que eu não iria gostar, mas aquela altura eu topava qualquer coisa.
— Você precisa de uma ajuda que vá além da edição, eu sei que sou boa editora, você me diz isso sempre que me entrega um manuscrito. Mas você precisa de alguém que vá além de mim.
— Está querendo dizer, que vai me deixar? — Pergunto receoso.
— A única ideia que eu poderia te dar você já rejeitou prontamente, a não ser que tenha mudado de ideia...
— Sinto muito, mas não posso. — Respondo prontamente quase a vendo revirar os olhos. A exatamente uma semana ela me disse para usar o final padrão normal, o herói vence e pronto. Mas os meus leitores merecem mais do que um final reescrito.
— Então é melhor eu passar a bola, eu sei que você não gosta de trabalhar com pessoas novas, eu posso explicar tudo sobre a sua saúde, se você quiser.
— Não, tudo bem acho que posso lidar com isso. — Respondo incerto. Quando Louise foi designada para mim passei um mês apenas a entregando os manuscritos pelo correio, foi difícil ter confiança nela, e neste ramo, confiança é tudo.
— Então okay, já mandei meu último relatório para o Oscar, ele vai escolher alguém, mas pode crer que vou ficar de olho. — Concluí com um tom divertido.
— Você já sabia que eu aceitaria. — Afirmo tentando parecer chateado, mas com um sorriso nos lábios.
— Claro né, o que seria de você sem minhas idéias. Agora tenho que ir, tem um gato na minha frente que precisa de informações.
Um som sai da minha garganta semelhante a uma gargalhada, nos despedimos, e o silêncio volta a dominar o ambiente.
Pouso o aparelho ao lado do mouse, apagando a tela do notebook logo em seguida. Fixo meus olhos no pequeno broto azul, que se encontra em um vaso de barro no batente da janela. Uma onda de calma passa pelo meu corpo me fazendo sorrir, me levanto e abro as portinholas, deixando o ar da tarde entrar.
Talvez mudar seja algo bom, não dá para simplesmente ficar parado esperando uma ideia vir. Quem será que o Oscar vai escolher?
(Dante Kafka)
A caminho da Editora uma chuva me pegou desprevenido, com tão poucas nuvens no céu nem questionei trazer um guarda-chuva. Pudera, não tive tempo de questionar nada. Era raro meu chefe, Oscar Quiroga, me mandar uma mensagem, tive imediatamente uma ideia do que se tratava então vim correndo sem nem responder.
Balancei a cabeça em desaprovação ao ver minha colega de trabalho no telefone, quando suas orbes castanhas se fixaram em mim vou em sua direção apontando para a minha orelha, sinalizando que era para ela desligar o aparelho.
Quando estou de frente para a sua mesa ele já está de volta no gancho, e ela sorri pedindo desculpas, o retribuo sem conseguir evitar revirar os olhos.
— Quiroga está? — Pergunto indicando sua sala.
— Ele ta ai, não saiu da sala o dia todo. — Responde dando de ombros, porém quando me viro indo em direção da porta ela puxa a manga da minha camisa, me viro sem entender. — Você furou com a gente sábado.
Leva uns cinco segundos até eu entender do que ela esta falando, quando isso acontece arregalo meus olhos levando a mão a nuca, com um sorriso sem graça falo:
— Me esqueci totalmente, desculpe Louise, depois falo com o pessoal.
Ela me solta e vira a cara tentando parecer chateada.
— Depois desse bolo só pede desculpas. — Profere a loira fazendo um biquinho. — Nem para me envolver com esses braços...
— Não exagera, e você não faz nem um pouco o meu tipo. — Digo erguendo as sombrancelhas.
— Um verdadeiro desperdício, mas tudo bem não me tocar, já bastaria te ver nú.
— Sabe, não sei porque ainda falo com você. — Confesso divertido. — Tchau Lou.
A Editora estava um caos, não que eu me importe, trabalho aqui a tanto tempo que ver um funcionário batendo a cabeça no teclado do computador já era normal.
Bato na porta esperando permissão para entrar, quando eu recebo entro a fechando atrás de mim. Um homem baixo e careca se encontra do outro lado da sala, ele pousa seu copo de uísque na mesa de madeira a sua frente, sorri pra mim, mas seu sorriso não chega a seus olhos azuis que no momento, estão vermelhos.
— O senhor, está bem? — Inquiro franzindo o senho, a voz cautelosa.
Ele balança negativamente a cabeça e pede para que eu me sente, assim o faço, observando seu olhar cançado e seu rosto pálido.
— Eu consegui a chance que você queria, a Louise quer "passar a bola".— Me informa sorrindo ao citar a frase da loira.
— Vou ser sincero com você. — Continua. — Tenho três meses para conseguir um bom número de vendas, o senhor Green tem um maravilhoso número de leitores, precisamos do livro.
— Desculpe senhor, mas livros não saem assim. Quanto mais se preciona um escritor, menos produtivo ele se torna. — Respondo.
— Viu, é exatamente por isso que preciso de você. — Concluí rindo, quando tento questiona-lo ele completa.— Sei que você é capaz de ajuda-lo Dante, porque você é assim. Posso contar com tigo?
Há esperança em sua voz, suspiro ao perceber que nem num milhão de anos poderia recusar esse pedido. Em seus cansados olhos consigo ver que ele não se preocupa apenas com a empresa, mas com seus funcionários também. Consigo imagina-lo como um pai, que já fez de tudo, e agora precisa da ajuda de um de seus filhos.
Então aceno afirmativamente com a cabeça sorrindo, ele me estende sua mão e eu a aperto sem hesitar proclamando:
— O senhor Green tem seu editor.
*** Por favorzinho votem e comentem pra mim saber se continuo, não se esqueça de adicionar a história a sua biblioteca para receber notificação de capítulo novo, até o próximo :) ***
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