|Xeque- Mate|
Eurtan. Território central da família Polatti, herdeiros da madeira. Foi no início da colônia que se estabeleceram os primeiros familiarcados. Famílias completas eram praticamente inexistentes nesse período, então parentesco se tornou um símbolo de poder muito grande. Os Polatti comandam o território madeireiro há cento e cinquenta anos.
Muitos dizem que o sistema de famílias é tão forte que beira a autocracia. Mesmo assim, as horas se recusam a desmanchar algo mais antigo até que o próprio conselho.
Após algumas plantações de batatas e repolhos, existe um grande terreno verdejante, e no meio dele uma bela mansão feita de cedro e mogno. Em seu segundo andar, no escritório, havia um homem de meia idade sentado na poltrona acompanhado de seu charuto. Ele fumava enquanto lançava um olhar fixo no tabuleiro de xadrez sobre a mesa, provavelmente elaborando estratégias.
Seu raciocínio é interrompido por batidas na porta, deixando-o irritado:
— Mas o que é que foi agora?! Não está vendo que estou ocupado?!
—Senhor... É que o senhor tem uma visita...
— Visita? Eu não estou esperando ninguém. Mande embora.
— Senhor... Mas é que ...
— Já disse que não quero visitas!
Só há silêncio como resposta. O homem fica impaciente. Ao olhar a luz que escapava por baixo da porta, percebeu que ainda tinha alguém atrás dela. Ao notar isso, o homem fica irritado e apaga seu charuto no cinzeiro, amassando-o repetidamente. Com passos largos que rangiam o piso de madeira, chega até a porta abrindo-a abruptamente, dizendo:
— Você é surda?! Eu já disse que não—
— Boa noite, Hermes.
Uma mulher de cabelos longos, vestido negro e um belo casaco de pele esperava na porta. Hermes fica embasbacado ao vê-la tão inesperadamente. No entanto, logo recupera a postura e sinaliza para que a mulher entrasse.
— Elisa, mas que surpresa! — Seguiu tossindo em seu lenço. — Perdão, esse velho está com os pulmões fracos! Mas por favor, sente-se!
Elisa retira seu casaco, e o pendura no porta-chapéus, olhando seus arredores. O relógio cuco avisava que era meia noite. Aquele cômodo estava entupido de jogos. Estantes com baralhos de todos os tipos, tabuleiros entalhados, roletas e uma enorme mesa de bilhar. A mulher ficou enojada por tamanho acúmulo de cacarecos. Parecia quase impossível andar naquele lugar sem tropeçar em alguma coisa. Mesmo se movimentando cautelosamente, foi inevitável que Elisa pisasse acidentalmente numa pilha de cartas. E ao olhar o baralho espatifado no chão, disse:
— Vejo que a renda extra tem feito maravilhas ao seu território, Hermes. Nunca vi pastos tão verdes por aqui.
— Sem aquelas doze velhas no meu encalço fica fácil desenvolver meu território!— O homem ri em resposta.
— Fazendo dinheiro com apostas?
— Chame como quiser. Vencer através da adaptação é o mais próximo que se pode chegar da genialidade. — Abriu os braços, mostrando sua parede lotada de troféus com o nome "Polatti".
Os saltos de Elisa faziam barulho quando pisava sobre algumas fichas de pôquer.— Você realmente gosta de jogos não é?
— Gostar? Haha! Gostar não é bem a palavra. Eu não gosto de jogos, eu AMO jogos! Vivo pela adrenalina que as partidas me proporcionam! — Ele acende um novo charuto. — Eu quase enlouqueci por ficar mais de um ano sem poder jogar. Se não fosse pelas minhas queridas crianças e essas relíquias que comprei no mercado negro, seria meu fim.— Hermes se joga na poltrona.
Atrás de sua mesa, na parede, havia um enorme quadro com todas as crianças resgatadas de Hermes. Após o desastre de Eurtan, muitas crianças ficaram sem lar. Entretanto, a família da madeira foi a única que as recebeu de braços abertos. E assim foi formado o maior orfanato da colônia. Hermes e sua esposa receberam várias condecorações por isso, virando figuras de prestígio com o passar do tempo.
— Mas agora você está aqui, Elisinha! Com a merda que vocês fizeram lá naquela cerimônia, os exércitos daqui tiveram que recuar. Agora estão atrás de vocês, não de mim! Haha!— Ele limpa as cinzas das mãos, batendo-as na pança.— Ajudar você a invadir a cerimônia realmente valeu a pena!
— Mas não vim aqui para falar disso, Hermes. — Disse Elisa sentando-se. — Que tal uma partida de xadrez enquanto conversamos?
Os olhos de Hermes brilharem ao ouvir Elisa terminar a frase. A fraqueza dos Polatti era mais do que conhecida: os jogos, principalmente xadrez. Já faz anos que a equipe de enxadristas de Zênite não vence o mundial. Para ser exato, desde que a família da madeira entrou em ascensão. A mulher sabia que desde o desastre de Eurtan, os familiarcados ficaram sob vigilância absoluta, o que impediu a família da madeira de se expandir através dos jogos ilegais. Elisa viu naquilo, uma oportunidade de fazer acordos com os Polatti que facilitariam o acontecimento do dia do legado.
— Ah...Xadrez...O jogo dos reis. — disse o homem enquanto analisava uma de suas peças— Meu pai já era campeão quando o chamaram para ser major no exército. E quando eu o questionei o porquê dele ter rejeitado a oferta, ele disse: Vencer batalhas contra os inimigos não é um desafio; a verdadeira supremacia está em derrotá-los sem lutar.
— Seu pai é muito sábio. — Disse Elisa acendendo sua piteira. — Ele que te ensinou a jogar?
—Ele me ensinou a viver. Acredite. Não há diferença entre a vida e os jogos. Os peões podem ser os cidadãos que só servem para ser manipulados. O bispo é o porta-voz, a torre é a capitã da guarda, o cavalo é a maldita família do fogo. E por fim, o rei é o conselho.
— E a rainha?— Questionou curiosa.
— Ah a rainha... A peça mais poderosa de todas. Conhecedora de todas as rotas, detentora de todas as possibilidades. É uma peça fascinante. — Soltou uma baforada — Acreditava que a rainha era Éden. Eu a adorava por causa disso. Mas quando soube da verdade, me desiludi e vi que não se tratava dela. Então passei anos buscando para comprovar a minha teoria.
— E você encontrou?
— Infelizmente não. A única coisa que achei em todos esses anos foi minha mulher. Quando a conheci, pensava que ela era sublime, tanto que me deu um pouco de esperança. Mas hoje vejo que ela é tão burra como as outras. Que perda de tempo.— Disse Hermes revirando os olhos.
—Bom...Sinto muito por "gastar" seu precioso tempo, então.
— Que nada. Estava ansioso para enfrentar a mulher que venceu contra Sétima! — Ele esfregou as mãos mostrando seus vários anéis de ouro.
Elisa bufou em resposta. — As pessoas realmente não esquecem disso não é?
— Mas não é um enorme feito vencer uma telepata?
—Ela é telepata, é verdade. Mas ninguém nunca disse que ela sabia xadrez , muito menos que era inteligente. — A mulher sorri. — O que adianta saber meus passos se ela não tem a capacidade de compreendê-los?
Hermes fica impressionado por um instante, mas logo cai na gargalhada. — Ah Elisinha! Você nunca deixa de me surpreender!
Elisa responde com um sorriso. Os dois começam a acertar as peças no tabuleiro, em silêncio. Quando tudo estava pronto, Hermes disse num tom desafiador:
— Quem começa?
— Eu, é claro. — Elisa move sua peça.
Ao ver o primeiro movimento ser feito, um sorriso diabólico surge no rosto de Hermes. O homem rangia os dentes, tremia de excitação ao que movia seu peão duas casas para frente. A partida continua silenciosa.
— Hermes, querido. Tínhamos acordado que um abrigo estaria nos esperando assim que chegássemos no pântano. E adivinha?
— Hmm? — O homem não tirava os olhos do tabuleiro.
— Ele. não. Estava. Lá.—Uma peça é colocada com toda força na casa, fazendo Hermes pular da cadeira.
O homem desconversa. — Elisinha, eu disse que ofereceria um abrigo, mas não que estaria lá na hora que vocês chegassem!— Ele come uma peça— Você vê, meus trabalhadores tem ressalvas em relação ao pântano, principalmente nessa área que vocês estão. É um lugar perigoso.
— E como espera que sobrevivamos na floresta, Hermes?
— Se não conseguem aguardar até meus operários estudarem o local, vocês mesmos podem construir alguma coisa. — Ele solta fumaça no rosto de Elisa — Vocês são muitos, e tem madeira de sobra nos arredores. Se quiser, posso lhe fornecer algumas ferramentas. — Ele ri novamente.
A mulher cerra os punhos, transtornada. Mesmo assim, busca devolver um sorriso gentil, e então segue com a partida.
— Obrigada, mas não vai ser necessário. — Elisa derruba o cavalo de Polatti. —Já decidimos o lugar do nosso abrigo.
— Ah é? — O homem coça sua barba mal feita.— Espero que isso não tenha nada a ver com meu território.
— Não, mas é perto. Estamos planejando ir até o cemitério dos valentes.
— Onde foi o desastre de Eurtan? Há! Boa sorte em chegar lá!— Hermes dá uma gargalhada em meio a tosses típicas de fumante.
— A propósito, belo lenço. Pena que está manchado. — Ela dá uma tragada — Vai ter que jogar fora. Sangue é difícil de tirar.
— Ah, esse do bolso da camisa? — O homem para a jogada. —O que te faz pensar uma coisa dessas, Elisinha?
— Sabe, você está rindo demais hoje. Rindo exageradamente alto, cuspindo e tossindo. — A mulher sorri ao ver que prendeu a atenção de Hermes — Você tossiu no lenço quando cheguei, fez isso porque não queria que eu visse o sangue que sai quando você tosse; infelizmente sobrou um pouco no canto da sua boca.
— Eu tenho pulmões fracos, já te disse. — Respondeu Polatti cheio de si.
—Mas por algum motivo, você tossiu indiscriminadamente por toda a partida, mesmo assim, você não usou o lenço.— Ela derrama as cinzas no cinzeiro —Tenho absoluta certeza que se a tosse fosse verdadeira, não arriscaria sujar seu tabuleiro de ouro, ainda mais mostrar que tem uma doença.
— O quê diabos eu ganharia fingindo minha tosse para você? Trapacear? Como você acha que eu iria fazer isso tossindo? Ou você acha que eu sou algum tipo de médium? — Ele dá outra gargalhada exagerada.
— Vamos Hermes, você é horrível, asqueroso e deplorável, mas não é burro. Você controla metais, não é? Por isso suas peças são de ouro. Para você movê-las enquanto ri ou tosse. Que farsa.
O silêncio toma conta. Os dois trocam olhares perigosos. O fumo dos dois vai se consumindo aos poucos, deixando as cinzas caírem na mesa. O silêncio mortal impera por um tempo, até que Hermes se vê farto e bate as mãos na mesa:
— Ah... Então é assim. A família da pecuária pode crescer feno o quanto quiser, a da pesca pode mudar o clima, e eu não posso usar minha monção para o benefício do meu território?!
— Para o seu benefício, Hermes. Você não passa de um trapaceiro sujo.
— BESTEIRA! Você entende o que é nascer controlando metais quando você mora numa floresta?! Eu venci! Eu me adaptei! Os jogos me salvaram!
— Pense de novo. Nem sua trapaça funcionou. O jogo acabou, Hermes.
Ao ouvir isso, o homem corre os olhos por todo o tabuleiro, procurando respostas, mas não encontra nada incomum. — Boa tentativa. Eu, o melhor enxadrista da colônia, só vejo a minha vitória neste tabuleiro!
—Você não acredita em mim?
— Realmente... Estou incrédulo. Tão incrédulo que até construiria um túnel do pântano até o outro lado do mapa para vocês passarem se isso fosse verdade, ahahaha!
"Clac!" Um pequeno som de impacto ecoa. A rainha de Elisa toma um peteleco e sai rolando pelo tabuleiro.
Hermes entra num estado de confusão. — Por que diabos você fez isso?
—Eu disse que o jogo tinha acabado. Xeque mate. Parabéns pela vitória. — Elisa bate lentas palmas —Pode começar a cavar.
—Não, não, não... Espera, o jogo não pode acabar desse jeito! Você tem plenas capacidades de...
— Eu tenho. Mas como estrategista sou muito metódica. Para terminar a partida é só derrubar a rainha, qualquer uma delas. Agora cumpra o que prometeu.
Elisa escuta o som da porta trancando ao que Hermes estala os dedos.
— Você acha que com uma merda de partida dessas eu lhe devo alguma coisa? — Ele ri maliciosamente. —Boa sorte enfrentando todo o território da madeira. —
—Aí que está o segredo, Hermes. Nunca se tratou do território. Apenas de você. — E lhe mostrou uma foto antiga.
Naquela foto havia uma premiação de algum campeonato há trinta anos atrás. No pódio estava uma mulher em primeiro lugar e Hermes em segundo. Elisa então derrama várias fotos por cima do tabuleiro, fazendo várias peças caírem no chão. Essas imagens mostravam essa mesma mulher em diversos locais clandestinos jogando xadrez.
— Essa é a sua mulher, não é? Atena Polatti. Você a encontrou quando te venceu no campeonato, casou com ela por causa do potencial que ela tinha!
O homem começou a bufar, e o ar ficou rarefeito.— Não... Mentiras... Só ouço mentiras!
— E então você a obrigou a ganhar todos esses jogos clandestinos, porque você mesmo não tinha confiança que podia vencer! Todos esses troféus são dela!
— Eu nunca aceitarei chantagens vindas de você! Sua... — Ele saca uma arma. — Sua vagabunda!!!
Hermes suou frio. O homem ficou instável, trêmulo. O suor escorria incessantemente ao que Hermes se secava com o lenço ensanguentado. O jogo, o território da madeira, estava tudo caindo aos pedaços. Pensando na possibilidade daquilo tudo vazar, sentiu uma dor intensa no peito, e logo começou a tossir. Buscou a medida do possível manter sua mira travada, mesmo que não precisasse a uma distância tão curta.
Elisa apaga o cigarro no cinzeiro— Hermes querido, eu tenho algumas pergu...
Um som estridente ecoa. Três tiros atravessaram a barriga da mulher antes que ela terminasse. Ela convulsiona ao que o corpo reagia ao impacto das balas. Elisa ficou imóvel na cadeira. Hermes ainda apontava a arma, ofegante, e disse vitorioso:
— Eu venci... Vadia... No jogo e na vida!— E riu maniacamente com uma das mãos na testa engordurada de suor.
" Hahaha.. "
Uma outra risada se mistura com a dele, fazendo-o parar imediatamente. A apreensão era assustadora. A risada, antes discreta, se transforma em uma gargalhada incontrolável.
— Ah... Hermes... Você é uma piada mesmo! — Riu Elisa com os cabelos no rosto, esparramada na cadeira.
Polatti congela. Seus olhos não expressavam nada mais do que pavor, apesar de um sorriso desconcertante não desaparecer do seu rosto. Seus dentes rangiam tanto que podiam até quebrar.
—Testemunhe o poder de Astargan!— Elisa lança um olhar maléfico, ao que apresentava a bala amassada na palma de sua mão.— Agora... Você vai responder as perguntas, ou quem sabe eu deva chamar a sua esposa para responder por você?
O homem fica completamente transtornado. — Você... É uma bruxa!!! Não vou deixar sair viva daqui!!!
Ele começa a atirar repetidamente em Elisa. Hermes se surpreendeu ao ver que o impacto das balas ia sendo absorvido pelo traje de Elisa. Quanto mais atirava, mais o vestido de Elisa mudava, se adaptando ao dano recebido. Quando o pente ficou vazio, Elisa ficou coberta por uma armadura negra.
Hermes gritou. — Qual o seu problema?! Essa coisa vive até quando aquele homem não está por perto?!
— O amor de Edward por mim faz com que o uroboros me proteja mesmo em longas distâncias. — Ela ri, colocando suas luvas. — Xeque-mate, Hermes Polatti.
O homem cai de joelhos, deixando sua arma deslizar para longe. — Se adapta a qualquer dano, me vence sem ao menos jogar, manipula informações... — O suor quase formava uma poça no chão.— É ela... Você é a rainha!
Elisa o olha com desprezo — Do quê você está falando, seu idiota?
— Você é perfeita! Tem todas as características!
Hermes se arrasta agarrando os pés de Elisa, que aos poucos retornava para seu traje normal. — Elisinha! Eu nunca encontrei uma mulher como você! Se você faz tudo isso na vida real, imagina o que pode fazer nos jogos!
— Eu não vou jogar mais nada com você. — Respondeu fria.
— Por favor, Elisinha! Não precisa ser xadrez! Vamos jogar dama, baralho, roleta russa, as possibilidades são infinitas!!!
Polatti se agarrava nas barras do vestido da mulher, beijava seu sapatos, implorando por mais um jogo. Ao ver aquele homem suado, babando e se arrastando aos pés de Elisa, de pronto se sente completamente nauseada.
—Pois bem, estou farta de jogos.
Elisa dá um chute no rosto do homem, jogando-o para longe. Ao perceber que estava atordoado, levanta-o pelo pescoço, o prensando na parede com uma força fenomenal. Então grita com um tom assustador:
— Onde está o experimento 003?!
— Majestade... Do que está falando?!
A mulher se irrita mais ainda, colocando o pulso do homem contra a parede. — Eu vou perguntar mais uma vez, seu porco. Onde está o experimento 003?
O homem se desespera, apenas fazendo um não com a cabeça. Ao ver que apenas perguntas não eram o suficiente, Elisa esmaga o dedo de Hermes como se fosse um palito de dente. Ele urra de dor, suando como se fosse uma cascata. E assim ela foi quebrando um a um, até que recebe uma resposta:
— Espera aí! Espera aí! Eu juro que não sei! M-mas eu sei de alguém que sabe!
— Estou ouvindo, querido.
— Ela é a chefe da operação... De vez em quando ela vem pegar alguns orfãos comigo... Pra fazer experimentos... Você deve conhecer... É a Nadia.
Quando ouviu tal nome ficou em choque:
—Ela? Mas isso... Não faz nenhum sentido!— Elisa aperta o pescoço do homem— Vamos imaginar que isso seja verdade. Que garantia eu tenho que você não vai ficar do lado dessa mulher?
— E-eu achava que ela podia ser a rainha... Mas nós discutimos depois de ela ter perdido uma partida de xadrez há dois anos... Depois disso nunca mais tivemos contato direto, eu juro!
— Vocês brigaram, é?—Elisa pensa por um momento, olhando para o teto. — Hmm... Não é o suficiente.
E esmagou a outra mão do homem, apertando até que os ossos virassem farelo dentro da carne. Hermes entra em surto,gritando e chorando; quase desmaiou nos braços de Elisa, que se afasta de nojo do corpo fétido dele.
— Quebrei suas mãos de um jeito que você jamais irá conseguir segurar uma peça sequer novamente. Boa sorte, rei dos jogos.
— Não... Por favor não... Eu preciso deles... Eu preciso dos meus jogos! — Chorava o homem, jogado no chão.
— Mestre Edward tem o poder para fazer mãos novas para você. Isso se você cooperar conosco, é claro. Aí quem sabe você possa continuar treinando para ser igual a sua mulher.— Disse Elisa colocando seu casaco. — Manteremos contato.
— Elisinha... Você é mesmo a... rainha.—E com as mãos roxas e inchadas, o homem desmaiou ali mesmo.
Elisa olhou para baixo com desprezo. — Não me chame de "Elisinha", seu porco imundo.
A mulher vai em direção da porta, segura a maçaneta firmemente, e praticamente arranca a porta do quadro. Uma mulher cheia de cicatrizes a esperava do outro lado da porta.
— Senhora! Eu ouvi gritos, a senhora está bem?!
— Está tudo bem, Atena. Hermes vai ficar de cama por alguns meses. Inclusive, vai precisar de ajuda para tudo, então ele não vai descontar nada do que aconteceu aqui em você.
Ao ouvir isso, Atena a abraça com entusiasmo e lágrimas nos olhos :
— Obrigada, obrigada! Como posso lhe agradecer?!
— Não há nada que você possa fazer por enquanto. Cuide do Hermes e nesse tempo, vá arrumando as coisas que precisa para ir embora. — Olhou nos arredores. — Dália querida, quantas crianças estão presas no porão?
Atena dá um grito, ao ver que uma garotinha assustada segurando um ursinho, apareceu como uma assombração:
— Eu contei trinta... Madame...!
—Muito bem. — Disse Elisa levando a garotinha pela mão e olhando Atena por cima dos ombros— Sua genialidade será muito bem vinda na nossa causa. Viremos buscar vocês em breve.
E as duas desaparecem na escuridão.
[...]
O sol nascia, Elisa cavalgava com Dália que se agarrava nela. A garotinha quase dormia no conforto do casaco de pele da mulher.
— Madame... Eu estou me sentindo mal... Minha mãe disse que é feio eu ficar invisível para bisbilhotar os outros.
— Bom, sua mãe não estava certa sobre tudo. Afinal, ela ficou com seu pai, não é?
Dália faz uma expressão triste.
Elisa sorri, olhando levemente para trás. — Não se preocupe, seu poder é maravilhoso! E graças a você, muitas pessoas serão salvas!
— Mas madame... O que acontece com aquelas crianças? Por que elas estão presas daquele jeito?
— Um homem muito mal faz elas jogarem até não aguentarem mais, para que ele mesmo não tenha que jogar as próprias partidas. Mas nós vamos voltar para buscá-las, não se preocupe!
— Então quer dizer que o Edward vai ficar feliz quando a gente chegar em casa?
— Sim. Ele vai ficar muito feliz.
E as duas viajam floresta adentro, rumo ao acampamento.
Cara, que capítulo difícil de escrever. Me matou.
Agradeço ao meu querido amigo Eddy que fez uma ilustração para mim, e por isso a usei como base para esse capítulo!
Ah, e aqui vai o destaque da semana!
@AnaPaulaH192 - Que leu Sidéria em dois dias, uau! Obrigada!
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