|Rosas do infortúnio| (dublado)

Este capítulo é DUBLADO!

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Parece que o vídeo pausa se o texto for lido no celular. Aconselho que leiam num computador para obter a experiência completa.

Cuidadosamente, Elaine caminha por uma parede adjacente, sem ser vista por algum guarda. Entrou, discreta, no labirinto. Desliza os dedos por entre as folhas das cercas vivas, andando sem direção. Ela sabia que, não importava por qual caminho fosse, nunca chegaria ao centro. Não, sem descobrir o segredo, ao menos.

Colhe uma rosa branca dos arbustos, e espeta seu próprio dedo num dos espinhos, deixando gotejar seu sangue sobre as pétalas. A flor se torna, completamente, rubra. As cercas vivas, automaticamente, se abrem para ela, formando um caminho em direção ao centro. Logo, vê um pequeno poço ali no meio. Arremessa seu par de sapatos pelo buraco, e depois senta-se na beirada. Contempla, por um momento, a escuridão abaixo, sem ver se havia água ou o que quer que fosse no fundo, depois, se atira para dentro dele. A garota cai com velocidade, mas o fim não parece nunca chegar. Alguns segundos se passam, e o corpo, que caía, passou a pairar lentamente, até tocar no chão.

Elaine sente os dedos dos pés gelados, ao tocarem a grama úmida. Ela anda um pouco, encontrando seus sapatos caídos pelo caminho. Ao seu redor, existem roseiras, com milhares de flores fluorescentes, que captavam, continuamente, partículas brilhantes que pairavam no ar.

Uma enorme porta enferrujada quebrava a elegância que as rosas traziam, quase como um porco em meio a belas damas. Era cinzenta, pesada e cheia de musgo. Nela, estava escrito-com a tinta descascando- o número 708.

— Sete — disse ela, pegando uma tesoura que ficava pendurada num dos galhos. — Sou eu de novo.

Ao chão, havia diversos livros mágicos empilhados, mapas, jornais e rosas mortas. Lentamente, a garota começou a podar as flores uma a uma, apagando-as, à medida que seus caules iam sendo decepados.

— Sabe, o mundial de xadrez foi ontem. O time de Zênite perdeu. Tinha que ver. Não sei quando vai ser o próximo jogo, mas, assim que saírem os resultados, te aviso. — os barulhos do metal da tesoura iam acelerando. — O livro, que você queria, vai chegar na semana que vem, e —

Raio de sol — Uma voz, rouca e profunda, ecoa na mente de Elaine, quase como som em seus ouvidos. — Sabe que não importa o quanto corte essas rosas, vão continuar crescendo.

— Eu sei. — Ela segue cortando as flores.— Mas dói menos se o número for menor, não?

Você não devia estar indo para a cerimônia?— respondeu ríspido.

— Você quer parar de ler minha mente? Sabe que não gosto disso. Faça o favor de usar a telepatia só pra se comunicar.

Se eu fizesse isso, não teria a menor graça, não é mesmo?— Ele ri — Afinal, essas malditas flores não me deixam ler a mente de ninguém que esteja a mais de um metro de mim. É entediante.

— Mesmo assim, é invasivo. — ela dá de ombros, mesmo sabendo que a pessoa, que estava dentro da cela, não podia vê-la.

Por um momento, o silêncio toma conta da câmara misteriosa. Até que os cortes começam novamente.

Ele sabe? — transmitiu, num tom malicioso.

Elaine responde, desentendida — Sabe o quê?

Que você está apaixonada por ele?

— Sete! — A garota derruba a tesoura das mãos, fazendo-a faiscar no chão.

Após o susto, contempla a ferramenta caída por um momento, com um ar melancólico.

— Acho que vou voltar. — Ela se prostra, lentamente, para pegar o objeto e começa a caminhar para o lugar de onde veio.

É por isso que veio me ver, mesmo estando tão ocupada? — Elaine para, instantaneamente — Quer um conselho.

— O que um patife, como você, poderia me dizer sobre o amor? Se você tivesse a capacidade de amar pra começo de conversa, não estaria aqui.

Mas, estou nesse mundo há muito mais tempo que você, raio de sol. É natural que você busque alguém com mais... experiência.

Ela sente um arrepio na espinha ao ser tomada pela energia sinistra, que aquela porta exalava. Era naqueles momentos, que ela sentia arrependimento em ter se envolvido com aquele ser. Ele era genial, intrigante e oferecia amigáveis conversas. Mas aí que morava o perigo. Não era difícil acabar enrolada nas palavras hipnóticas de Sete, e sem o devido cuidado, poderia até ser convencida a soltá-lo. Mas, de qualquer forma, Elaine tinha que continuar voltando ali. Ele a havia ensinado tudo o que sabia sobre magia, desde que se inscreveu no torneio para guardiã, incluindo magias proibidas, que lhe deram imensa vantagem na competição.

Para ser forte o suficiente e aguentar o fardo de ser a guardiã da aurora, ela precisava dos conhecimentos dele. Um criminoso, que teve a voz tirada por um feitiço, e esquecido por anos numa cela como sentença, prodígio da magia e detentor de uma telepatia fortíssima. Era provável que Sete fosse um mago -o único cargo que possui permissão para usar magia na colônia- no passado. Não havia informações ou qualquer registro dele no palácio, e de acordo com ele, não havia perigo algum de irem procurá-lo ali.

Realmente, aquela cela estava mais parecida com uma sepultura. Havia um selo mágico na porta que, de acordo com tomos antigos, se tratava de um encantamento de subsistência. Isso, fazia com que Sete não precisasse comer, nem beber, enquanto estivesse dentro da cela. Sim, se tratava de uma magia proibida, assim como as que Elaine havia aprendido com ele. Quem o colocou ali, o queria escondido, porém vivo. De qualquer forma, perigoso ou não, ela estava atrelada a ele. Entretanto, o máximo que ela podia fazer, era lhe levar fofocas e podar as rosas, que sugavam a energia mágica de Sete; fazendo com que sua telepatia fosse violentamente prejudicada. Lembrando que não estava na posição de ficar brava com aquele que lhe ajudou até então, suspirou e disse, com sobriedade:

— Foi infantilidade minha achar que esconderia algo de você, Sete.

Não fique tão abatida, raio de sol. Sorria. Sei que pode encontrar a coragem para dizer a ele.

— Eu preciso. Vou ter preocupações maiores depois da cerimônia, e não quero ter nenhum arrependimento. — disse Elaine, olhando para o teto.

É verdade. É melhor você passar o resto da sua vida servindo as doze, sem esse peso nas costas. Afinal de contas, só se tornou guardiã para vê-lo feliz, não é mesmo?

A garota olha, distante, para a porta da cela, respondendo com um suspiro, já que não tinha como rebater o que Sete havia dito. Ao saber que havia derrubado as frágeis barreiras emocionais de Elaine, ele deixa escapar uma risada maléfica, que ecoa pelas paredes úmidas da catacumba.

Quase saindo da sala, ela olha para trás, por uma última vez, e diz, com uma voz trêmula:

— Adeus, Sete. — E as roseiras se fecham atrás dela.

Ao sair do poço, com os pés enlameados e meio zonza com o efeito das rosas, Elaine começa a tomar seu rumo de volta para o palácio. Ela continua caminhando lentamente, até que ouve o barulho de folhas se mexendo. O som aumenta, seguido de passos. Talvez o jardineiro?

Elaine fica um pouco apreensiva, e estica seu corpo para o próximo corredor, buscando a origem do barulho, e num instante é surpreendida, com o encontrão de uma mulher de preto. As duas caem, violentamente, levando diversas folhas ao ar. A mulher, com uma imensa tiara dourada, véu sobre o rosto e acessórios brilhantes, desesperadamente, se agarra no colarinho de Elaine, ali mesmo no chão.

— Menina! O que você fez?!- A mulher a chacoalha, instintivamente. — Onde aprendeu o feitiço pra entrar?

Elaine só responde com uma feição aterrorizada.

— Você não pode mais se envolver com ele! Ele é perigoso demais, entendeu? — Ela se mantém imóvel — Entendeu?!

— Mãe Quarta! O que a senhora está fazendo aqui?! — Gagueja a garota.

— Você não precisa saber, menina! — Exclamou, num tom desesperado — Só saiba que o colocamos ali, porque ele cometeu o pior dos crimes e se você voltar a vê-lo, a Primeira vai tirar tudo o que você conquistou!

Confusa, Elaine se perde numa espiral de pensamentos e medos. Aquela mulher... Era mesmo uma hora? As horas são as governantes de Sidéria, e juntas, formam o conselho das doze. Como alguém, de tão alto escalão, foi parar ali, no chão imundo, com alguém como Elaine? Então, o conselho estava por trás da prisão de Sete? E a Primeira estava envolvida nisso?

— Prometa que não vai mais vê-lo, menina! — Quarta chacoalha a garota, ainda mais violentamente, a deixando atordoada-Prometa!

— Eu prometo! Eu prometo! — disse Elaine, meio sem pensar.

Após ouvir isso, a mulher se levanta, se recompondo. Bateu o pó do vestido longo, e ajeitou sua coroa.

— Levante-se. Você precisa ir para a cerimônia. Já devem ter dado falta de você. — Diz a Hora, analisando seus arredores.

Cambaleando, Elaine procurou se colocar em pé, da forma menos humilhante possível, na presença de Quarta. Ao cruzar olhares com a Hora, estremeceu. Não parecia a mulher que, há pouco, estava no chão. Estava impenetrável, astuta. E com um estalar de dedos de Quarta, uma corrente de magia correu pelo corpo das duas, restaurando suas roupas, que estavam sujas. A mulher descansa suas mãos sobre o estômago, e vira de costas para Elaine.

— Vá.

Elaine se mantém parada, custando a processar o que estava acontecendo.

Logo, Quarta perde a paciência, e grita — Eu já disse para ir!

Elaine corre, se batendo nas folhas, se enrolando nos galhos, pensando em tudo aquilo que havia feito. Se envolvido com Sete, colaborado com ele, trapaceado para se tornar guardiã, aprendido magia proibida. Tudo por Edward. Tudo pelo sonho dele. Um plano frágil, que quase deu errado. Como ela podia ter sido tão descuidada? Como nunca suspeitou da procedência daquela câmara escondida? Era tão confortável estar sempre na vantagem, que esqueceu de todo o resto. Elaine estava só segurando areia em suas mãos.

Ela continua correndo, já nem percebia que havia deixado o labirinto há muito tempo. Segurando suas lágrimas, quase tropeçando com seus sapatos altos, esbarrou com outra pessoa, que a segura com firmeza. Quando olhou para cima, viu alguém familiar.

— Eddy!- Exclamou, surpresa.

— Elaine! Aonde você foi?- diz o rapaz, impaciente. — Falei para não ir muito longe! Temos que ir!

Edward a toma pela mão e, apressado, vai em direção aos corredores do palácio. Os dois correm por um tempo, até chegarem ao seu destino. Alguém os aguardava ao lado dos elevadores, uma garota pequena, com os cabelos negros e encaracolados. Elisa.

— Ah que bom! Você encontrou ela! — Elisa dá um sorriso meigo, entusiasmada.

— Pra você ver, essa aqui não quer virar guardiã. — Edward brinca, dando um peteleco no nariz de Elaine.

— Para com isso Eddy! Ela deve estar nervosa! — Elisa segura Elaine pela mão, a confortando.- Não se preocupe Elaine, ele é idiota.

Os três entram no elevador, em direção a um dos andares mais altos. Eles se mantêm em silêncio enquanto sobem, e um clima estranho começa a pairar no ar. Elaine percebe até que Elisa dava olhares suspeitos para Edward. A pequena garota dá uma cotovelada discreta no rapaz, que a olha com desconforto. Os dois sussurram um para o outro, deixando Elaine ainda mais intrigada.

Edward dá um pigarro. — Então, Elaine. Elaine. — Ele não consegue formar as palavras, sem jeito. — A gente se conhece há tanto tempo... Eu estava pensando...

— O que foi? — Elaine fica em suspense — Aconteceu alguma coisa?

Edward fica em silêncio, enquanto faz uma expressão muito desajeitada. Elisa lhe dá um olhar de desagrado, quase como estivesse impaciente. Os olhares se cruzam. Nenhum dos três diz nada, até que Elisa põe as mãos sobre o rosto , com ar de desistência.

— Caramba, ensaiamos tanto tempo pra isso? — Elisa revira os olhos, e põe uma caixinha nas mãos de Elaine — Isso aqui é pra você. — E sorri.

Elaine sorri de volta, meio sem ter o que dizer. Um presente! Com satisfação, a futura guardiã desembrulha o pacote, camada por camada, revelando ser uma rosa, com um pequeno cartão gravado com letras douradas:

∾ Com muita alegria, convidamos você para ser a madrinha de nosso casamento - Edward e Elisa.∾

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