|O dia do legado| (dublado)
Este capítulo é DUBLADO!
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Elaine segurava, com nervosismo, as barras de seu vestido cerimonial, enquanto sentava-se sobre a sacada de seu quarto. Para ela, pouco importava se havia uma queda de centenas de quilômetros abaixo de seus pés. A garota focava apenas no entardecer, que cobria toda a colônia de Sidéria, como um grande lençol alaranjado. O sol artificial se punha. Os últimos raios de luz refletiam no topo das torres marmorizadas do palácio. O vento gelado balançava os cabelos e as vestes da garota, que segurou suas mãos contra o peito, receosa. Por mais que tentasse, não conseguia deixar de lembrar que, hoje, ocorreria o evento mais importante de sua vida: a cerimônia do legado.
Ela observa a infinidade de prédios e construções abaixo, lembrando do tempo em que vivia na camada inferior, Caldrath, como uma jovem florista. Talvez se sua vida tivesse sido diferente, ainda estaria lá, vendendo tulipas com sua mãe. No entanto, Elaine estava feliz em ter escolhido se alistar no exército. Afinal, se mudar para Zênite, a capital da colônia, acabou sendo um bom negócio. Não que Caldrath fosse ruim, muito pelo contrário. Quem dera a escolha de virar soldado há sete anos atrás, fosse só por causa dos bairros chiques.
No fundo, Elaine sabia que não estava naquela sacada para refletir sobre sua vida e, sim, para ter um momento de paz, longe dos paparazzi. No entanto, entendia que era dever deles cobrir aquele furo. Afinal, era uma notícia e tanto, uma garota, de apenas vinte e dois anos, ascendendo num dos cargos mais importantes de toda a colônia.
"Quanta honra!", dizem. Mas, toda a vez que ela ouvia esse tipo de comentário nos corredores do palácio, concordava com a cabeça ou dava algum risinho desengonçado. No fundo, sabia que todos estavam fingindo. Eles estavam com medo, ou até pena. Todos sabiam o que tinha acontecido na quinta camada, Eurtan. Os últimos guardiões do pilar morreram. Agora estão os substituindo, como se fossem produtos numa prateleira. Esse pensamento fazia com que Elaine se segurasse, para não roer todas aquelas unhas postiças que haviam colocado nela. Para que não decepcionasse nenhum dos estilistas, tudo o que podia fazer era amassar repetidamente as várias camadas de tecido que seu traje pomposo possuía.
Claro que o que chamou sua atenção, e de muitos outros, para esse cargo, não era o iminente perigo de morte, e sim, o glamour que vinha com ele. Ser a magnífica guardiã da Aurora significava se tornar uma autêntica semideusa. Poderes incríveis, força espetacular, fama, prestígio em todas as seis camadas. Até sua contraparte, o Guardião do Crepúsculo, mais poderoso em combate, não alcançava tamanho prestígio. Talvez, o que explicasse a fama desbalanceada dos dois Guardiões seria um certo sorriso. O sorriso de Cordélia, a última Guardiã da Aurora.
Quando Elaine passava pelos enormes murais em homenagem aos falecidos guardiões, lembrava-se de sua infância, de como ligava a televisão todas as vezes que escutava que alguma das camadas estava em perigo. Ninguém queria perder a famosa estrela fugaz em ação. Ela era linda, e encantava a todos com seu espírito alegre e gentil. Parecia quase como um filme. Pessoas sendo salvas, final feliz. Cordélia foi a heroína de sua infância. Junto com seu irmão gêmeo, Cornelius, os dois foram os guardiões do Pilar por cinquenta anos, até serem mortos, durante uma revolta em Eurtan, há um ano. Nunca citam essa parte quando se fala sobre ser um guardião, é só o brilho e glamour. Até serem decapitados.
Mas era o dever dos Guardiões. Trazer a esperança para todos os siderianos, até o fim. Ajudar as pessoas, ser relevante. Isso trazia uma espécie de propósito para ela, fazer coisas que ninguém mais poderia fazer. E para uma população que foi exilada de seu planeta natal, incentivo sempre foi o mais importante. Desta forma, era possível dizer que, na colônia de Sidéria, os heróis são mais necessários sorrindo, do que lutando. Infelizmente, os sorrisos morreram, junto com os antigos guardiões.
Mesmo assim, depois da tragédia, muitos se inscreveram para o cargo. E para alguém como Elaine, valia a pena o risco.
Os pensamentos dela são interrompidos, quando ouve duas batidas na porta.
— Serviço de quarto. — Uma voz, grossa e simulada, atravessava os vãos da porta enorme de mármore.
Não conseguiu pensar numa resposta adequada, porém, a pesada porta já se abria mesmo assim. A garota não estranhou a atitude, pois já sabia muito bem quem era. Só duas pessoas teriam o aval para entrar no quarto da guardiã da aurora sem pedir. E como a santíssima Éden, provavelmente, estaria cuidando de coisas mais importantes, como por exemplo a colônia inteira, só lhe sobrava uma opção: Seu melhor amigo e futuro Guardião do Crepúsculo, Edward.
— Você sempre diz que sou carrancudo, mas quando tento fazer algo engraçado é assim que você me trata? - diz o rapaz, esticando o pescoço para dentro — Posso entrar, pelo menos?
Elaine dá de ombros, dando tapinhas na bancada, sinalizando para o rapaz sentar-se ao lado dela. — Tem razão, acho que não estou no clima pra piadas hoje.
O rapaz entra, com uma expressão um tanto preocupada. — Conheço essa cara. O que foi? - Ele atravessa o quarto, e senta-se ao lado dela, que se recosta no ombro dele.
Elaine dá uma espiada de canto de olho, enquanto os dois se mantêm silenciosos, olhando para o entardecer. Ele estava usando um pomposo traje azul, feito de pelos de tigre e penas de pavão. A garota se admirou com a tenacidade do governo, em conseguir fazê-lo vestir uma roupa daquelas para a cerimônia. Numa ocasião diferente, é provável que ele, jamais, tivesse aceitado usar tal traje. Passou pela cabeça dela que fariam roupas combinando, como na última cerimônia, mas, certamente, seria muito clichê; apesar de que a ideia de um usar cores claras e o outro escuras, como escolheram, não havia sido muito original.
O calor estava forte, mas Edward usava aquela roupa quase sufocante e luvas de couro. Pelo jeito, a última coisa que os estilistas queriam era que as cicatrizes dele aparecessem. A única coisa que se salvou foi o rosto, que, felizmente, não mostrava nenhuma marca.
— Não precisa me falar, se não quiser. — Ele continua olhando para o céu.- Você sabe que não me deve nada.
Elaine dá um longo e trêmulo suspiro. — Eu sei. Mesmo nessas horas, você consegue ser a voz da razão, né?
— Eu sei o que você está pensando. Está com medo de se machucar.
— Eu estou com medo de morrer, Eddy. — Ela o olha, com ar de indignação. - Não quero acabar como os gêmeos! As camadas estão um caos, e ainda esperam que a gente resolva isso tudo!
— A gente venceu na arena. Não vai ser tão diferente. - Disse ele, com uma determinação gélida.
Elaine o encara, mais indignada ainda. — A arena foi a arena. Acabou. A gente tem o mundo todo para salvar, agora!
— E não merecemos nada menos que isso. — responde ele, distante.
Mas no fundo, Elaine sabia que não era verdade, que não merecia nada. Ela, certamente, não estaria ali, se não fosse por ele. O torneio para guardião era difícil demais. Cruel demais. Por sorte, as provas sempre foram em duplas. E Edward- o gênio da espada - contra todas as expectativas, escolheu Elaine para estar ao seu lado. Alguns afirmam que foi por causa de sua monção - forma de dizer dom mágico- outros, por causa de sua natureza, doce e passiva. Na prova final do torneio, um teste de resistência, situado no deserto de Dustrain, a maioria das duplas suportou de doze a quinze dias; Edward e Elaine, de alguma forma, resistiram por quase um mês. A prova só foi interrompida, quando ela foi atacada por um spitkin - ave de rapina com uma bicada dilacerante - e Edward se atirou na frente, para protegê-la. Por pouco, o torneio ficou sem um vencedor. Só então, os organizadores perceberam que entretenimento tem um preço: s e no caso de Edward, metade de um braço.
Apesar disso, o resultado foi que dois soldados da classe mais baixa, conseguiram conquistar o que, até os mais prestigiados magos da corte sonhavam. Os postos de guardiões do Crepúsculo e da Aurora. Algo inédito, até então.
Elaine agarra suas vestes, percebendo que a prótese de Edward não resolvia as cicatrizes que estavam pelo corpo dele, deixadas pelo ataque do spitkin
— Sei que você quer muito isso - Ela colocou sua mão sobre a dele. — Eu também quero.
— Você sabe que a colônia precisa de ajuda. Da nossa ajuda. Por isso, preciso de você, Ellie. — Disse ele, fitando-a.
Elaine corou na mesma hora.
Edward olhou para o alto com melancolia. — Se não fizermos algo, nunca vamos ter o direito de voltar pra casa.
Casa. Palavra que soava um tanto engraçada.
Tão perto, mas tão longe. O planeta natal, Sidéria. Onde a colônia orbitava, como um satélite, há trezentos anos. Edward falava de "casa" de uma maneira extremamente nostálgica, quase como se ele realmente sentisse falta de um lugar que nunca viveu. Para Elaine, isso não surtia efeito. Ver aquele planeta, rochoso e acinzentado, tomando o céu, não lhe parecia nem um pouco atraente, quem dera nostálgico.
Sinos ressoam no ar, interrompendo os dois. O véu escuro tocou o horizonte, assim que o sol desapareceu por completo. Estava quase na hora da cerimônia.
— Estão avisando pra gente entrar. - disse Edward, se levantando prontamente. — Ainda tem um tempo pra começar, mas é bom ficar por perto.
— Aonde você vai? — disse Elaine, seguindo-o com os olhos.
— Vou me encontrar com a Elisa. Sabe como ela fica nervosa nesses eventos. — ele ri baixinho.
Elaine bufa ao ver o amigo saindo do quarto. A porta se fecha. A garota desce seu corpo da bancada lentamente, tocando seus pés descalços no chão.
Havia sapatos de salto, novos e brilhantes, esperando em cima da cama. Ela recolhe os calçados pelas amarras e os leva pela mão, enquanto atravessa os corredores do palácio. Seus passos são nervosos e apertados. Sem jeito, ela cumprimentava, rapidamente, qualquer um que passasse, e finalmente, alcança o jardim.
Perambulando um pouco, vê-se uma entrada feita de folhas, que dava para um labirinto.
Olá a todos! Espero que tenham apreciado o comecinho dessa aventura. Essa narrativa tem sido desenvolvida por anos até chegar na sua telinha, leitor(a). Saiba que cada frase de meus textos contém imenso carinho, dedicação e sonhos. Vem trilhar esse caminho comigo?
Anna.
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