Temporada 3 - Capítulo 7| "Se o telefone tocar"

Pousada Woodhouse, 23 de dezembro. Aproximadamente 22:00 horas da noite.

A sensação de segurança era uma mentira, afinal. Pois sabiam que a garota assassinada não seria a única a sofrer as consequências daquele jogo mortal. E o mais assustador era o fato de que, levando em conta os últimos acontecimentos, muito provavelmente a maldade não se limitaria ao lado de fora daquela pousada.

Quatorze pessoas. Quatorze mentes em combustão, quatorze vozes que se calavam ao perceberem que havia de fato algo acontecendo: estavam sendo levados um a um. Os hóspedes daquela pousada seriam obrigados a passar as próximas horas trancafiados naquele salão. Até o amanhecer, no mínimo, quando julgariam que seria seguro abrir as portas outra vez. E o que estava prestes a se seguir era um embate simultâneo sobre quem dizia a verdade e quem não.

- Acredito que não queiram seguir o restante da noite parados neste salão, encarando uns aos outros. - Johnny cruzou seus braços no instante em que escorou o corpo sobre a poltrona. - Então é melhor começarmos a falar.

- Falar sobre o quê? - Rose levou as duas mãos ao peito.

- Sobre que droga aconteceu hoje à noite! - Mike ergueu seu tom de voz. - Por sorte a minha esposa não está morta.

- Eu não entendo. Há um assassino lá fora. Estamos sendo perseguidos. É isso. O que há de tão confuso? - Jullie colocou sua mão sobre o ombro da filha, preocupada.

- Não seja tola. É mais do que óbvio o que ocorre aqui. - Frankie se aproximou dos demais. - Alguém nesta sala não é quem diz ser. Eu acho que o assassino está entre nós.

- Perfeito. Agora estamos presos em um livro de Agatha Christie. - Melissa bufou, revirando seus olhos enquanto se sentava ao lado de Johnny.

- E como vamos descobrir quem é? - Madison questionou. - Há um corpo lá fora, mas acredito que ninguém tenha visto quem foi o culpado.

- Dois corpos, para falar a verdade. - Beatrice ergueu sua mão. - Eu vi o cadáver do policial quando... quando estávamos chegando na pousada. Acredito que tenha sido pego também.

- Você... o quê? - Madison arregalou seus olhos.

- Desculpe por não ter dito. Estava preocupada em chegar aqui em segurança. - a francesa deu de ombros.

- Estão vendo só? - Johnny apontou o dedo para ela. - É disso que estou falando. Como vamos saber se está dizendo a verdade?

- Eu não preciso da sua aprovação, Johnatan. Estou relatando o que vi. Se acreditam ou não, eu não dou a mínima. - Beatrice agarrou as bordas de seu vestido e caminhou até o pé da escada. - Se optarem por continuar o interrogatório, boa sorte. Estarei no meu quarto durante o restante da noite.

E então restaram treze. Mas Jackie ainda tinha sangue em seus olhos, este que fluía da mesma forma que saíra das veias de Cindy mais cedo. Ela queria descobrir quem fez aquilo.

- Foi uma flecha. Alguém a atirou contra Cindy enquanto corríamos. - exclamou, entre suspiros.

- Uma flecha? Minha nossa senhora. Pode ter sido qualquer um que estivesse na floresta naquele instante, então. - Rose complementou.

- Estamos fechando nossos olhos para o restante dos acontecimentos. Esta pessoa provavelmente está rondando a pousada desde o dia da chegada dos novos hóspedes! - Johnny explicou.

- Ele está certo. Eu e Cindy vimos alguém nos corredores naquela manhã. Ele... ele deixou um animal no carpete. - a loira disse, com repúdio em sua garganta.

- E por que não disseram nada? - o garoto rebateu.

- Estávamos com medo. Mas... você também estava lá, Johnny. - Jackie cerrou seus olhos.

- O que está tentando dizer? - ele a encarou de volta.

- Certo, vamos parar por aqui. Acho que há outro motivo pelo qual essas coisas começaram a ocorrer. - disse Frankie, interrompendo os dois. - Não pode ser coincidência que este pesadelo tenha começado no dia em que chegaram aqui. - seus olhos atingiram Jesse e seus amigos.

- Sobre o que está falando? Acha que temos algo a ver com isso? - ela perguntou, confusa.

- Sejamos sinceros, senhorita Greene. Já passaram por muita coisa. Eu não duvido que tenham trazido esta maldição para cá. - o senhor cruzou seus braços, atribuindo um clima bizarro para aquele cômodo.

- Maldição? O que acha que minha filha e seus amigos são? Animais? - Madison colocou-se à frente de Jesse e os outros três. - É melhor ter cuidado com o que vai dizer a seguir, Frankie.

- Escuta, eu não estou tentando insinuar nada. Só que... talvez estivéssemos melhor sem vocês aqui. - ele franziu o cenho. - A propósito, talvez Adele... talvez... talvez ainda estivesse aqui. Droga!

- Eu sinto muito que sua esposa tenha falecido. Mas qualquer um aqui poderia também. Ninguém está a salvo, e se continuarmos agindo assim, então vamos acabar mais rápido ainda. - Jullie tentou explicar, posicionando-se ao lado dos outros.

- Ele claramente está afirmando que temos culpa disso. E eu vou dizer uma coisa, Frankie. - Madison segurou a mão da filha, levando o dedo da outra mão até perto do rosto dele. - Está muito enganado se acha que vamos sair daqui. Não confia em nós? Está tudo bem. Porque eu não confio em você também. Mas você não tem o direito de expulsar ninguém.

- Madison está certa. - Penélope se manifestou. - Se vão suspeitar de alguém, é melhor que façam isso com cada um de nós então. Até mesmo você.

- Certo. Eu acho que as coisas saíram um pouco do controle aqui. - Rose se levantou. - Talvez devamos continuar a conversa mais tarde. Acho que será uma longa madrugada.

E assim que propôs aquilo, o clima se desfez. Kendra e Mike seguiram juntos para seu quarto sem ter dado sequer um resquício de palpite. Frankie, Jackie e Johnny fizeram o mesmo em seguida, e por fim a Madison. Quanto ao restante, julgaram que seria melhor se continuassem juntos no salão.

Conforme os ânimos se acalmavam, Josh avistou sozinha, sentada perto da janela, a garota com quem não conversava há um bom tempo. Penélope parecia menos assustada do que deveria.

- Não está cansada? - ele sussurrou ao sentar-se ao lado dela.

- Não. Eu não vou dormir esta noite, se é o que pensa em sugerir. - Penny esgueirou seus olhos até o chão, aterrorizada.

- Acho que nenhum de nós vai. - Josh suspirou. - A propósito, obrigado pelo que disse mais cedo. Sobre nós.

- Tudo bem. Todos aqui estão enlouquecendo, só acho que não seja justo pôr a culpa em alguém ainda. - a menina deu de ombro, desta vez voltando a olhar para ele.

Joshua preparou seus lábios em um sorriso sincero pouco antes de se surpreender com algo ao seu redor. As luzes do salão, e também do restante da pousada, se apagaram em um piscar de olhos. A escuridão tomou conta de cada pequeno espaço nos corredores.

- Santo Deus! - Rose cobriu seu corpo com sua manta. - O que é isso agora?

- Um apagão. Pode ter sido uma queda de energia na ilha. Vamos ficar calmos. - Jesse explicou.

- Eu não acho. - Jullie a interrompeu enquanto colocava seus olhos na janela. - Há iluminação na colina. Somos os únicos sem energia.

- Então... então alguém fez isso? Alguém desligou as luzes? - Sam levantou do sofá, se aproximando dos demais.

- Eu não acredito! Se continuarmos no escuro, sabe-se lá o que pode acontecer debaixo dos nossos olhos. - Jullie puxou a mão de Melissa, trazendo-a mais para perto de seus braços.

- Há algumas lanternar por aqui, eu acho. - Josh caminhou até o armário da sala.

- Ótimo. Mas não acho que isso nos ajude. Precisamos religar a energia. Até porque... se alguém fez isso, está aqui dentro. E como Jullie disse, é suicídio continuarmos no escuro. - o ruivo explicou, se aproveitando da luz fraca da lanterna que Josh havia acabado de encontrar.

- Eu vou com você. - Mike chegou ao último degrau da escada de repente. - Não acho seguro deixar que minha esposa e os outros fiquem sozinhos em um quarto escuro com alguém na casa.

- Estão realmente pensando em fazer isso? - Jesse questionou, preocupada.

- Construções assim guardam seus painéis de energia no subsolo, geralmente. Vai ser fácil de encontrar. - o homem caminhou até o corredor dos fundos. - Ruivo, vem comigo?

- Estou indo. - Sam caminhou até Jesse, beijando sua bochecha brevemente. - Vamos voltar logo.

- Toma cuidado. - ela respondeu em voz baixa.

E então, os dois rapazes desapareceram na escuridão do corredor que se seguia até os fundos da pousada. Restaram seis pessoas na sala, angustiadas e inseguras com o conturbado decorrer daquela noite que acabara de se iniciar.

- Estão... estão ouvindo isso? - Jesse largou a lanterna na mesa de centro, levando seus olhos na direção contrária.

- Vem de lá. - Josh apontou.

Pela segunda vez naquela semana, o aparelho avermelhado sobre a mesa do escritório, o que Adele costumava usar, vibrou repentinamente. Seu barulho trouxe os ouvidos daqueles que estavam na sala até ele, uma vez que o simples ecoar daquele som causava desconforto.

Com cuidado, Jesse foi a primeira a ultrapassar a porta e colocar suas mãos sobre o telefone. Os outros continuaram no corredor agurdando a notícia.

- Alô. - exclamou com antecedência.

- O que acha que pode acontecer esta noite, senhorita Greene? Está tão frio aqui fora. - um suspiro ligeiro após a fala.

- Eu não quero saber o que vai fazer. As pessoas aqui estão surtando. - sua voz soou ansiosa.

- E isso não é fantástico? Estão finalmente entrando de cabeça neste jogo. Como Cindy entrou. - seu riso era doentio.

- Vai se ferrar! Você tirou a vida daquela garota por motivo algum. Ela não fazia parte desta droga de pesadelo. - Jesse aproximou seus lábios mais ainda do aparelho.

- Todos nesta pousada fazem parte disso, Jesse. É o que precisa entender. Mas temos coisas mais importantes agora. Que tal... uma segunda rodada? Sobreviva até o amanhecer. - novamente, sua gargalhada a incomodou.

- O... o quê? Que droga está pensando em fazer? Não pode simplesmente nos tratar como peões! - Jesse franziu o cenho.

- De forma alguma. Eu crio o jogo e as regras. Você decide a qual posição pertence. - uma pausa, e então voltou a explicar. - A única regra esta noite é que fique atenta ao telefone, Jesse. Se o telefone tocar... alguém deve morrer.

- Como... como assim? Isso não está certo! - ela insistiu.

- O tempo deve correr ligeiro até o amanhecer. Boa sorte com seus companheiros, Greene. E não se esqueça: quando o telefone tocar... - de repente, a chamada se encerrou, entregando a ela um vazio arrebatador.

- O que foi que ele disse? - Penélope perguntou, mordendo seu lábio inferior.

- Disse... disse que estamos jogando outra vez. - ela engoliu suas palavras em seco ao se virar para os demais. - E se o telefone tornar a tocar, então... alguém estará morto.

- E não há nada que possamos fazer? - exclamou Melissa, incrédula. - Como assim?

- Eu... eu não sei. Mas acredito que se houvesse algum jeito, ele teria dito. - a garota caminhou até o salão, trazendo consigo os que a seguiam.

- Me desculpe, Jesse. Mas está dizendo que tudo o que vamos fazer é sentar aqui e esperar que a próxima cabeça a ser cortada não seja a nossa? - Jullie disse, assustada.

- Não. Definitivamente não. - a garota respondeu com exatidão. - Só precisamos ficar juntos até o amanhecer. Talvez... talvez ele não tenha a chance de nos pegar sozinhos.

- Isso é loucura. - Josh levou a mão até a boca. - Precisamos de um plano melhor. Talvez se cada um de nós permanecer em seu próprio quarto a noite toda, funcione.

- Isso, Sherlock. Assim fica mais fácil pra ele escolher uma das portas e apunhalar um de nós sem que os outros percebam. - Melissa revirou os olhos.

- Se alguém não tem uma ideia melhor, então vamos ficar juntos. Eu vou buscar a minha mãe. - Jesse subiu as escadas, levando um pé atrás do outro em rapidez.

Quando alcançou a porta do quarto de Madison, Jesse pode ouvir um resquício de choro, entre fraquejos. Isso a assustou. Mas logo se conformou com o fato de que talvez aquela frágil mulher só estivesse assustada. Da mesma forma que ela, no ano anterior, quando deitou a cabeça no colo desta mesma mulher e deixou que soubesse do que lhe afligia. Aquela foi uma noite conturbada levando em conta o fato de ter que explicar o porquê de suas roupas estarem sujas com sangue. Pela segunda vez, Madison Greene se traumatizou durante uma noite do baile no colegial.

Mas agora era diferente porque ela escondia um segredo e o escondia de sua própria filha. Quem é capaz de fazer isso? Na verdade, soaria hipócrita se eles soubessem quantos segredos seus filhos escondem até hoje.

- Mãe? Eu sei que está tentando descansar. Mas será que podemos falar sobre algo? - seus dedos criaram a coragem de empurrar a porta com leveza.

- É claro que sim. Me perdoe por isso. - a senhora secou o restante de suas lágrimas no tecido mais próximo que encontrou.

- Eu... eu quero que fique calma, apesar de tudo. Sei que está com medo, eu também estou. E talvez seja melhor que fiquemos junto dos outros no salão, mas... preciso falar sobre uma coisa. - Jesse colocou uma perna sobre a outra antes de sentar-se na cama.

- O que há de errado? Digo... eu sei que tudo está errado. - um riso repentino. - Mas sobre o que quer falar?

- Há algumas horas, quando estávamos naquela floresta escura, eu, Melissa e Josh encontramos uma coisa. - Jesse entrelaçou seus dedos. - Um esconderijo na floresta.

- Es... esconderijo? Estranho. Encontramos algo parecido também. - a mulher cruzou os braços, pensativa.

- O ponto é que havia algumas coisas lá dentro. Entre elas, fotografias. - Jesse preparou suas mãos para carregá-las para fora do seu bolso. - Isso pode parecer loucura, mãe, mas eu acho que...

"Não ainda", o destino aparentou ter sussurrado. Algo aconteceu no andar de baixo e foi impossível que não percebessem. O grito desesperador de alguém. Pela altura e tom de voz, diriam que partira de uma mulher na casa dos quarenta, abalada com qualquer evento passado. O grito viera de Kendra Smith.

Jesse desceu as escadas o mais rápido possível, carregando consigo a mão de Madison, que vinha logo atrás. Sua pressa não foi suficiente para evitar que o pavor já tivesse se espalhado quando chegaram. Os outros já estavam lá.

Kendra segurava um copo d'água em suas mãos e continuava encarando, trêmula e frágil, o corredor escuro que se desviava pela cozinha. Alguém havia passado por lá, ela explicou. Não viu seu rosto, muito menos chegou perto. A escuridão a impediu. Mas ela tinha a certeza de que não era um hóspede.

- Isso só pode ser brincadeira. Eu vou encontrar esse maluco agora mesmo. - Johnny agarrou um objeto pontiagudo qualquer na cozinha e saiu andando pelo escuro. - EI! SEU DESGRAÇADO!

- Johnny! Não faça isso! Essa casa é enorme, não vai encontrar ninguém tão rápido. - Frankie gritou, mas o garoto já havia partido.

- Eu sabia. As pessoas aqui vão começar a enlouquecer ao longo da noite.- Jullie escorou sua cabeça sobre a parede ao seu lado.

- E o que deveríamos fazer? Depois daquela mensagem, começo a pensar que não há outra escapatória. - Rose respondeu.

- Mensagem? Que mensagem? - Jackie se aproximou dos demais em seguida.

- Outra... outra ligação. Eu estava tentando explicar, mas... enfim. - Jesse acalmou seus ânimos, virando-se para a menina. - A mesma pessoa tornou a dizer que continuamos no jogo. E que até o amanhecer, alguém... alguém...

- Alguém o quê? Será que pode falar de uma vez? - Kendra levou as duas mãos ao peito, sentando-se na cadeira mais próxima.

- Alguém deve morrer. - por fim, ela os convenceu de que deveriam de fato entrar em pânico.

- Minha nossa, esse é o fim. - Kendra suspirou.

- Fiquem calmos. Eu acho que se tivermos fé, estaremos seguros. - insistiu Rose, tremelicando a cada meio segundo.

- Silêncio, mulher. - Kendra revirou os olhos. - Não podemos ficar aqui parados. Precisamos de um plano!

- E o que supõe que façamos? - Jesse a instigou. - Não há nada que possamos fazer a não ser que, de alguma forma, encontremos quem está fazendo isso antes do amanhecer.

- Façam o que quiserem. Eu vou continuar no meu quarto até o raiar do sol. Minha amiga não estava sozinha naquela floresta quando um metal atingiu seu pescoço. Permanecer junto de vocês não vai me salvar também. - Jackie os deixou para trás.

- Ela fez a escolha dela. Quanto ao restante de nós, no mínimo aqueles que preferirem ficar em companhia, vamos voltar para o salão. - Madison caminhou pelo corredor.

As outras a seguiram, e Josh, é claro. Talvez a única maneira de evitar isso tudo fosse seguir a ideia de Jesse e descobrir quem estava por trás do jogo de uma vez por todas. Mas fazê-lo não seria fácil, e uma vez que nem mesmo as respostas de que precisava ela tinha, era impossível concluir o caso sozinha. Então por um momento a menina aceitou que o melhor a fazer era garantir que estavam seguros. Pelo menos durante as próximas horas naquele salão.

Subsolo da pousada Woodhouse, 02:15 da manhã.

Dois homens que caminhavam há mais de meia hora. Sem parar. E nem iriam. As pernas de Sam ameaçavam trapaçeá-lo a qualquer instante, mas ele recusava o próprio cansaço. Era impossível enxergar algo lá embaixo mesmo com a ajuda da luminosidade fraca daquelas lanternas.

O caminho havia ficado estreito há um bom tempo. Mas Mike aparentemente não se deu conta, porque continuava confiante em encontrar o painel de energia que buscavam.

- Escuta... não acha que talvez devêssemos voltar lá pra cima? Devem estar preocupados. Se passaram quase quarenta minutos. - disse o menino enquanto cobria o nariz por conta do mal cheiro subterrâneo.

- Eu sei disso. Acho que me enganei com o padrão de arquitetura destas residências antigas. - o homem suspirou, voltando a olhar para o caminho do qual vieram. - Talvez estejamos no lugar errado.

- Espera um segundo. - Sam abaixou-se sobre o solo empoeirado. - Acha que esses fios podem nos levar ao lugar correto?

- Com certeza. - por fim Mike percebeu as fiações que percorriam o corredor.

Então os dois voltaram a caminhar. O barulho dos ratos correndo pela parede deixava Sam inquieto. Era repugnante. Mas precisavam trazer a energia de volta à pousada de uma vez, antes que algo ruim acontecesse. E o pior é que nem sabiam sobre a ameaça no telefone mais cedo.

Salão principal da Woodhouse, 02:23 da manhã.

Tic. Tac. Outra vez, outra vez e mais uma. O relógio continuava girando e carregando aqueles jovens para um possível amanhecer mórbido e sangrento. Cerca de quatro horas e outro corpo apareceria.

- No que está pensando? - Penélope se debruçou sobre o braço do sofá, observando Josh com suas mãos debaixo do queixo.

- Não consigo parar de olhar para o rosto deles. - sussurrou, sem tirar a atenção dos outros presentes na sala.

- Por quê? Acha que pode descobrir quem é o culpado antes do amanhecer? - ela suspirou.

- Não. Isso seria impossível. Mas talvez... eu não sei. Há algumas coisas estranhas sobre esta noite. - ele levou seus olhos ao encontro dos dela, sob a fraca iluminação da lanterna no centro da sala. - Podemos começar pela francesa.

- O que tem ela? - perguntou Penny, intrigada.

- Desapareceu logo no início da noite. Suponho que esteja em seu quarto até agora... ou não. Frankie também agiu estranho. - Josh acariciou o próprio queixo.

- Certo, mas... todo mundo aqui agiu de forma estranha. Sendo assim, não voltamos à estaca zero? - Russell insistiu.

- Mais ou menos. Precisamos focar no que de fato aconteceu nas últimas horas. O único sinal foi a ligação. Correto? - explicou.

- Exato. - respondeu Penny, aproximando-se mais.

- Então sabemos que não se trata de mim e nem de você. Jesse, Melissa, Jullie e Rose também estão fora porque estávamos todos juntos quando o telefone tocou. - ele continuou.

- E sobre o restante... são suspeitos? - ela perguntou.

- Ainda não. - pausou. - Tivemos o segundo sinal da noite há mais ou menos trinta minutos. Kendra disse ter visto alguém na cozinha. Se levarmos em conta que a mesma pessoa atuou nos dois casos, Madison estava com a filha no momento, o que a descarta. E a própria Kendra, obviamente, também. Isso se o relato for verdadeiro.

- Restaram quatro pessoas. Eu não me surpreenderia se meu irmão fosse uma aposta à altura, mas... eu não sei onde ele está. - ela suspirou.

- Tudo bem. Johnny é tão normativamente previsível que eu não consigo suspeitar mais dele. Sem ofensas, é claro. Mas precisamos procurar pelo incomum. - Josh se levantou. - Beatrice e Jackie podem estar em seus quartos ainda. E por último o Frankie.

- Josh... você é brilhante. - um sorriso se fez no rosto de Penny.

Ademais, uma noite bizarra deixaria de ser bizarra se tudo corresse como o esperado. Os dois jovens não puderam deixar o salão naquele momento porque, aparentemente, havia alguém precisando de ajuda.

- Rose? Ah, minha nossa. Rose! - Madison correu até a senhora na poltrona e segurou suas mãos. - O que está acontecendo?

- O que há de errado com ela? - Jesse se aproximou em seguida, junto do restante.

A mulher estava claramente tendo um ataque de asma. E não seria surpresa se mais alguém passasse por algo do tipo em breve. Afinal, não é todo dia que os obrigam a se trancar em uma sala com outras tantas pessoas tendo a certeza de que, de um lado, uma delas não sobreviverá até o amanhecer. E do outro, uma delas será a responsável por isso.

- Ela precisa de ajuda. Rose, você... você tem algum aparelho? - Josh questionou, com calma.

Os gestos em suas mãos indicavam que sim. Ela precisava do seu aparelho antes que sua crise piorasse.

- O nebulímetro! - exclamou Penny. - Onde ele está, Rose?

- Meu... meu quarto. - entre suspiros, ela disse tais palavras.

- Nós vamos buscá-lo. - Josh segurou Penny pela mão. - Voltamos em alguns segundos.

- Esperem! É perigoso. - disse Jesse, nervosa.

- Vamos voltar logo, Jesse. Não se preocupe. Apenas continuem aqui e tentem acalmá-la. - ele garantiu. E de repente, haviam desaparecido depois dos degraus.

Acima da escadaria, o chão amadeirado rangia constantemente. Os dois tentavam seguir passo a passo sem muito barulho. Mas aquele lugar estava diferente. Não lembrava nada à ensolarada pousada Woodhouse, e sim, um vazio rodeado de escuridão que estava prestes a assustá-los de alguma maneira.

- Joshua. - exclamou Penny, alcançando seu ombro com a mão direita e logo depois apontou para a porta em sua frente. - Esse é o quarto de Jackie.

- Acha... acha que ela está aí dentro? - ele respondeu, em voz baixa.

- Vou descobrir. - a garota deu duas batidas apressadas sobre a madeira robusta.

Nada. Ninguém atendeu a porta. Então os dois continuaram caminhando até o quarto seguinte, supostamente o que pertencia à Rose. Assim que Josh adentrou o cômodo, enxergou logo o aparelho do qual a senhora precisava. Então agarrou-o com as duas mãos e voltou até o corredor.

- Encontrei. Encontrei! - ele sorriu, mas de imediato estranhou a expressão vaga no rosto da garota. - O que há de errado?

- Está... está vendo aquilo? - Penny ergueu o dedo indicador com leveza, apontando-o para o final do corredor.

As sombras provocadas pelo escuro naquela noite nunca foram tão bizarras. Uma silhueta quase inteira pôde ser vista pelos dois. Ele usava qualquer coisa em sua cabeça, suas mãos eram compridas e magras. Pernas longas e algum objeto na mão esquerda. Seus pés provocavam o ranger, outra vez, das madeiras mal colocadas sobre o corredor.

Nenhuma palavra foi dita. Ambos continuaram espectando a criatura que se aproximava sem rosto e sem respiração. Estava chegando perto. Mais perto. E de repente... a visão de Josh foi interrompida. Seus corpos foram puxados para o lado de dentro da porta mais próxima. Era o quarto de Jackie. Ele reconhecera porque haviam acabado de passar por ali.

- Jackie? Que... que droga! O que está acontecendo? - disse Penny, voltando a grudar seu corpo sobre a porta.

- Eu gostaria de saber. Há alguém vagando pelo corredor há mais ou menos dez minutos. Quando bateram na porta, eu achei que fosse ele. - a loira cruzou seus braços.

- Bizarro. Uma a menos na lista. - comentou Josh.

- Uma o quê? - rebateu a menina, confusa.

- Esquece. - Penny respondeu. - Há quanto tempo está aqui?

- Desde que Kendra gritou feito maluca e eu decidi me trancar nesse quarto até o amanhecer. - ela suspirou.

- Legal. Mas precisa voltar lá para baixo conosco agora. - Josh caminhou até a porta.

- Não ouviu o que eu disse? Há alguém lá fora! - insistiu Jackie.

- É, é, eu ouvi. Mas talvez já tenha ido embora. Talvez... - suas palavras acabaram com a batida na porta. Uma batida desesperada.

Não restaram dúvidas: era ele. A pessoa do outro lado não disse sequer uma palavra, e isso confirmava que era de fato o intruso. Os três jovens se afastaram da porta vagarosamente, levando seus corpos até a parede dos fundos. Jackie colocou sua mão sobre os lábios, impedindo que entrasse em pânico.

- Eu estou com medo. - sussurrou Penélope.

- É só ficar em silêncio. Ele vai embora. - Josh segurou sua mão.

No mesmo momento, no andar de baixo, Melissa e Jesse andavam impacientes de um lado ao outro do salão. Seus passos apressados já haviam provocado marcas no carpete de tão repetitivos.

- Estão demorando demais. - exclamou Jesse.

- Espera! Você ouviu isso? - Melissa a interrompeu, voltando seus olhos para o corredor dos fundos. - É a voz do Johnny.

- Como... como sabe? - questionou Jesse.

- Não interessa. Aconteceu alguma coisa. Temos que ajudá-lo! - insistiu.

- Filha, é loucura. Johnny sabe se proteger. - Jullie tentou impedi-la.

- Não, mãe. Ele precisa de ajuda. Eu sei! - Melissa saiu andando sobre o carpete cor de vinho.

- Melissa, espera! - Jesse tentou alcançá-la. - Mas que droga.

- Filha, não está pensando em... Jesse! - Madison falhou também. De repente, as duas haviam adentrado o escuro do corredor.

Melissa sentiu seus olhos se perdendo assim que o ambiente se tornou completamente escuro. Ela não enxergava nada. Apenas podia ouvir os passos de Jesse se aproximando atrás dela, mas não sabia para onde ir. Então resolveu seguir os suspiros agoniantes que supostamente vinham de algum lugar próximo.

E ela finalmente encontrou. Melissa utilizou a lanterna do celular para reconhecer quem estava no chão, perto da parede. Johnny tinha os olhos parcialmente fechados e parecia sentir muita dor na cabeça. O corte em sua nuca explicava isso.

- Johnny. Que droga aconteceu? - a menina levou suas mãos até a cabeça dele, ajudando-o a se recostar.

- Ele... ele me encontrou antes que eu o encontrasse. - bufou. - Kendra estava certa. Há um intruso nessa casa.

- Não faz o menor sentido. Todas as entradas estão trancadas. Mas se não for ninguém que está aqui dentro, então... - Jesse voltou a caminhar pelo corredor, enquanto Melissa ajudava o rapaz a se apoiar em seu ombro.

- Então alguém aqui dentro o ajudou a entrar. - completou Johnny.

- Quem? - a última perguntou.

- É o que precisamos descobrir. Vem, vamos voltar para o salão. Já está quase amanhecendo. - Jesse apertou o passo.

Quando chegaram, uma quantia minúscula de calmaria se depositou no peito de Jesse. Rose já havia melhorado. Josh e Penélope conseguiram encontrar o nebulímetro a tempo, mas pareciam assustados. Por algo que não gostariam de mencionar, e Jackie também não. Aquela noite fora arrepiante para cada um naquela sala, é impossível negar.

Mas tudo no que conseguiam pensar agora, todos - quase todos - reunidos naquele salão ainda escuro, era que o amanhecer estava prestes a resplandecer sobre a colina. E quando isso acontecesse, estavam certos de que ouviriam o chamado vindo daquele telefone vermelho no escritório. E não seria uma boa notícia.

Debaixo daquelas madeiras envelhecidas, os dois homens ainda procuravam um jeito de consertar a energia. Era irônico pensar que passaram a noite tentando evitar a escuridão e, agora, o sol estava quase ali outra vez. Às vezes se torna simplesmente inevitável não ter medo do escuro.

Mike e Sam tinham encontrado o painel de controle há um tempo, mas descobriram também que a energia não poderia ser reativada por lá. Na verdade, havia um caminho de fios que se encontravam fora da pousada, em uma pequena cabana a uns vinte metros dali. Devia ser lá que as máquinas e um possível gerador se encontravam.

- Ruivo, ainda está aí? - perguntou o homem, na transmissão.

- Sim. Estou cuidando do corredor. Não há nada de errado, Mike. Não se preocupe. - o garoto garantiu.

- Podemos falar sobre alguma outra coisa? Essa situação está me deixando nervoso. - Mike suspirou angustiado, enquanto tentava conectar um fio à plataforma barulhenta em sua frente.

- Claro. - respondeu sorridente.

- Aquela garota. Você... você realmente a ama. Não ama? - um riso eufórico se colocou após a fala.

- Com certeza. Jesse é a pessoa que eu mais amo nesse mundo. Só que... eu não sei se ela sabe disso. Não sei se consigo demonstrar do jeito certo. - Sam acalmou seu peito com um suspiro insatisfeito.

- Não se preocupe, ruivo. Ela sabe disso. Olha, esse só não deve ser o momento mais agradável de suas vidas jovens. Concorda? Ela está tentando resolver essa... coisa. Mas eu tenho visto o jeito com que lhe observa. Ela ama você. - Mike voltou a reconectar alguns cabos.

- É, eu acho que sim. E quanto você e Kendra? Como... como chegaram aqui? - Sam virava seus olhos para trás constantemente, encarando o corredor escuro.

- Kendra é simplesmente a única pessoa que eu gostaria de ter encontrado nesse mundo. E agora a tenho. As coisas não foram fáceis antes disso. A família não achava que eu seria a pessoa certa... - ele contou.

- E como os convenceu do contrário? - Colleman perguntou.

- Eu não precisei. Kendra fez isso. Ela apenas confiou em mim e... deixamos a cidade. Demoramos para encontrar um lar. Mas sabíamos que isso não seria problema enquanto estivéssemos juntos. Acabamos aqui por pura sorte. E talvez, se sairmos vivos desse lugar, provavelmente vamos descansar em uma casa na praia pelo resto de nossas vidas. - Mike terminou e, em seguida, conectou o que parecia ser a última parte daquela engenhoca.

- Isso... isso é lindo. De verdade. - Sam sentiu seus olhos brilharem por um instante. - Conseguiu?

- Sim. Acho que a energia deve ter voltado ao salão. Conseguimos, ruivo. - Mike respirou aliviado.

E de fato conseguiram. Jesse e aqueles que aguardavam impacientes no salão por qualquer sinal, agora tinham um. As paredes opacas que rodeavam o cômodo principal se encheram da luz ardentes dos lustres próximos. Cada um naquela sala sentiu um rápido conforto ao perceber que não estavam mais no escuro.

- Finalmente. Significa que conseguiram! - Kendra entrelaçou seus próprios dedos e os ergueu à altura da cabeça.

- Acho que temos aproximadamente cinco minutos até o sol nascer. - exclamou Josh, concentrado no cenário cinzento do lado de fora da janela.

- E então... o que deve acontecer? - disse Penélope, aproximando seu corpo ao de Josh enquanto sentia seu coração palpitar.

- Eu não sei. - Jesse completou o último espaço em um círculo humano improvisado.

E então eles esperaram. A luz solar vagarosamente se colocou o mais perto possível daquele céu escuro, e finalmente a manhã tinha chegado. Em um tom baixo, o cantar ofegante dos passarinhos entregava um amanhecer calmo e tranquilo. Mas não era isso que os aguardava. Eles sabiam que não.

O telefone tocou e a jovem Greene, como se já esperasse - e realmente esperava - aceitou o arrepio corpóreo ligeiro sobre seus braços. Ela se encaminhou para o escritório e pôs suas mãos sobre o aparelho.

- Estou aqui. - exclamou em voz alta. Desta vez nenhum hóspede havia lhe seguido até lá. Preferiram permanecer na sala e esperar pela pior notícia.

- Você sabe do combinado. Tenha um bom dia, Jesse. - sua respiração seguiu aliviada por mais dois segundos, e então a chamada se encerrou.

Jesse caminhou abatida até o salão outra vez. Os olhares daquelas pessoas indicavam euforia e insegurança com o que a menina havia escutado naquela ligação. O dela, em contrapartida, indicava a decepção por não ter tido tempo de salvar quem quer que fosse o azarado. E uma noite realmente não era tempo o suficiente.

[Música: Back From the Fire - Gold Brother]

- Aconteceu? - perguntou Kendra, abalada, sentando-se na poltrona mais próxima.

- Aconteceu. - respondeu a garota.

Os segundos começaram a se passar outra vez. Mais rápido e mais angustiantes do que antes. Beatrice estava em seu quarto, se disse a verdade quando se retirou do salão. Frankie não foi visto no resto da noite e Mike e Sam deveriam atravessar o corredor dos fundos nos próximos instantes. Eles de fato deveriam.

- Onde... onde eles estão? - a mulher não aguentou o silêncio mortal que se instalou sobre a sala. - Estão demorando demais! Se a energia já voltou, por que ainda não estão aqui? - Kendra continuou repetindo.

E então, por fim, a confirmação de que precisavam. O jovem de dezoito anos atravessou o corredor traseiro ligeiramente. Não como se estivesse entusiasmado por terem conseguido religar a energia. Na verdade, havia algo de errado. Sam tinha espanto em seus olhos.

- Sam! Ah, minha nossa. Graças a Deus! - Jesse rodeou o corpo do menino com seus braços.

- Não, não, não, Jesse. Tem... tem algo errado. - o garoto tentou explicar o mais rápido possível, mas o tempo carregava a si mesmo rápido demais. - A... a... a cabana...

- Cabana? - Jesse se afastou devagar. - O que aconteceu, Sam?

- Onde está o meu marido, garoto? Onde está o Mike? - Kendra agarrou os ombros largos de Sam.

Os acontecimentos que se seguiram após a fala daquela mulher em desespero revelaram muito sobre a situação pavorosa em que se encontravam. Isso era um jogo. Um jogo mortal. E se ainda tinham um pingo de certeza sobre qualquer coisa, agora não haveria mais.

A última frase de Sam não pairou por muito tempo no meio daquele silêncio. "Mike estava na cabana" ele exclamou, e então um sentimento breve de dor e surpresa. O clarão do lado de fora foi suficiente para explicar mais do que as palavras do garoto assustado.

Um tremor de poucas proporções tomou conta da pousada. Todos correram até a porta da frente, pasmos e intrigados com o que podia ter acontecido. E então avistaram, no céu próximo, as chamas vermelhas que vinham de algum lugar na entrada da floresta. Considerando o relato de Sam, somente poderiam ter saído da suposta cabana.

Kendra entendeu tudo mais rápido do que esperava. Seu marido, Mike Smith, estava naquele lugar. E ela mesma enxergou suas estruturas sendo jogadas ao ar junto daquele fogo explosivo e ardente. Consequentemente, não havia mais o que fazer.

Mike Smith foi pego pela armadilha do mascarado. Ele foi a peça derrubada naquela manhã. De todos naquele salão, era quase impossível que um homem tão forte e destemido caísse tão brevemente do tabuleiro. Mas ele caiu. E isso confirmava a teoria de que absolutamente ninguém estava a salvo.

Tamanha ansiedade e desespero continuaram a rodear a escadaria da Woodhouse enquanto os hóspedes, em especial Kendra, remoiam sua surpresa mórbida com o acontecimento. As chamas continuavam no céu, nem tão cedo desapareceriam. E os gritos de sofrimento sincero daquela senhora também.

- NÃO, NÃO, NÃO, MIKE! EU PRECISO ENCONTRÁ-LO! - seus braços continuaram relutantes, tentando soltá-la do abraço protetor de Jullie e Rose. - ME DEIXEM IR! EU PRECISO IR!

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