Temporada 3 - Capítulo 6| "Noite da caçada"
Ilha de Shallow Wood, 23 de dezembro, perto das 08:00 horas da manhã.
Jesse teve a certeza de que havia passado por outra angustiante noite naquele lugar. Percebeu isso quando sentiu a luz do sol adentrando a cortina do quarto, e ao virar seus olhos, a presença de um garoto sentado perto da porta.
— Sam? O que faz aqui? — ela levantou da cama às pressas.
— Eu só... queria ter certeza de que estava bem. Sua mãe está na cozinha. — ele respondeu com uma voz suave.
— Há quanto tempo está aqui? — Jesse recostou seu corpo sobre a parede.
— Desde o amanhecer. Jesse, eu conversei com o meu pai na delegacia. — Sam suspirou, aliviado.
— E como foi? — ela sorriu.
— Foi ótimo. Não acho que ele seja um monstro, mas... há outra coisa me fazendo pensar muito desde ontem à noite. — ele ergueu seus olhos, encarando-a.
— O que foi, Sam? — perguntou a menina, assustada.
— Meu pai disse que ainda não descobriram quem fez aquilo com Adele. Mas eu enxerguei o quadro de assassinatos na sala dele, e... — Sam se aproximou da cama, sussurrando em seguida. — estão considerando todos nesta pousada como suspeitos, Jesse.
— Bem, isso inclui cada um de nós também. Não? — ela respondeu, em voz baixa.
— Provavelmente sim. E isso me fez querer saber mais sobre... — uma batida desesperada na parede do corredor fez o garoto ser interrompido.
— De onde vem isso? — Jesse cobriu seu corpo com o casaco mais próximo que encontrou.
— Do salão, provavelmente. Vem comigo. — o ruivo abriu a porta e saiu andando.
Ao se aproximarem do salão principal, Sam e Jesse se espantaram. Frankie e as duas dançarinas também haviam ouvido o barulho e chegaram ao local primeiro. Perto da parede, Mike chocava suas mãos contra a estrutura repetidas vezes.
— O que está acontecendo? — Penélope foi a quinta a encontrar o homem.
— KENDRA! É A KENDRA! — ele continuava dizendo, incansáveis vezes, até que se afastasse da parede finalmente.
— O quê? O que houve com ela? — perguntou Jesse, confusa.
— Kendra desapareceu. — Frankie explicou, deixando que o homem furioso se acalmasse um pouco. — Mike não a vê desde ontem à noite.
Assustados com o ocorrido, os hóspedes entreolharam-se incrédulos com qualquer que fosse o motivo do sumiço daquela mulher. Mas antes que pudessem dizer qualquer coisa, enxergaram a autoridade adentrando o cômodo.
— Obrigado por me ligar, Frankie. — o xerife Tom assentiu com a cabeça, chegando mais perto do Smith. — Pode me explicar o que aconteceu?
— A minha esposa está desaparecida desde... desde aquela festa estúpida! — ele respirava ofegante. — Eu preciso encontrá-la, xerife. Se a Kendra estiver em perigo, eu... eu...
— Fique calmo. Eu já entendi. Vou avisar ao restante da equipe e começaremos a procurá-la em algumas horas. Não vamos esperar mais do que isso. — o homem fardado levou sua boca até o aparelho de transmissão, emitindo uma mensagem.
— Nós podemos ajudar. Não podemos? — Josh se manifestou.
— Garoto, eu não sei se é uma boa ideia levando em conta o que está acontecendo. Muitas pessoas sozinhas na floresta pode ser perigoso. — ele respondeu.
— E quantos oficiais pensa em levar consigo, xerife? Dois? Três? Porque eu acredito que um grupo de pessoas pode encontrar Kendra muito mais rápido do que três policiais. Sem ofensas, é claro. — o garoto tossiu.
— Pai, ele tem razão. — Sam concordou. — Podemos ajudar a acabar com isso mais rápido.
Dez longos segundos se passaram enquanto o homem decidia entre arriscar a vida daqueles hóspedes ou embarcar em uma missão falha pela vida de uma mulher. E finalmente ele deu uma resposta.
— Vamos partir às 16:00 horas em ponto. Se um de vocês quiser nos acompanhar, iniciaremos a busca do lado de fora da pousada. — Tom caminhou até a porta. — Não se atrasem.
O tempo começou a passar de forma longa e demorada. Cada minuto era extremamente cansativo. Para Mike, significava um minuto a mais em que sua esposa corria perigo. Ele não queria ver Kendra sendo vítima do que aconteceu com Adele. E enquanto isso, na sala de estar, as especulações corriam soltas.
— Isso parece tão horrível. Shallow Wood não tem casos assim há muito tempo. É como uma terrível maldição. — Rose cruzou seus dedos debaixo do seu manto comprido.
— Quem foi a última pessoa a ter visto Kendra ontem à noite? — questionou Frankie, encarando aos demais ali presentes.
— Provavelmente o Mike, durante a festa. Mas sabemos que ela deixou o salão mais cedo. — explicou Jackie, tentando procurar uma solução.
— Não acho que Mike esteja bem o suficiente para lembrar de algo. Na verdade... — Johnny esfregou sua mão sobre a cabeça. — nenhum de nós está. Meu cérebro parece querer explodir.
— Será que podemos falar a verdade? — Cindy os interrompeu. — Alguém aqui, de fato, consegue lembrar de algo nítido durante a festa? Porque eu acho que... eu não sei, as coisas ficaram estranhas depois de um certo ponto. Talvez tenha sido a bebida.
— Não pode ser. — disse Penny, sentando-se ao lado de seu irmão. — Nem todos nós bebemos durante a festa. Foram os doces que Scarlett distribuiu. É a única alternativa.
— Isso é... é loucura! — Rose exclamou. — Acham que aquela garota fez algo deste tipo? Nossa senhora, que coisa horrorosa.
— Talvez ela saiba onde Kendra está. — disse Johnny.
— Eu não acho. — Beatrice levantou da poltrona, caminhando até o centro da sala. — Estamos ignorando algumas coisas aqui. Não é possível que estes incidentes não tenham conexão! O animal na floresta, o ataque àquela mulher, o assassinato de Adele, a mensagem e agora... Kendra se foi.
— O que está sugerindo, francesa? — Johnny entoou sua voz de forma cínica.
— Que estamos sendo caçados. — ela voltou a se sentar.
— Ca... caçados? Oh, céus. — Rose voltou a fechar seus olhos em posição de oração.
Quando disse aquilo, Beatrice desencadeou uma suposta informação da qual a maioria das pessoas naquela pousada não tinha conhecimento: nada era coincidência. Mas embora os hóspedes parecessem apavorados, os quatro jovens, parados no corredor distante da sala, não aparentavam tanta surpresa assim.
E foi então que a jovem Petit descobriu algo. O olhar de Jesse Greene, disfarçando qualquer conversa com o garoto ao seu lado depois de perceber que a ruiva os encarava, revelava mais do que o necessário. Seja lá o que estava acontecendo, aqueles quatro sabiam mais do que qualquer um na Woodhouse.
Entrada da floresta de Shallow Wood, quase 16:00 horas em ponto.
Um elaborado grupo de buscas havia se formado. Doze pessoas, sem incluir o xerife Tom e seus oficiais, estava prestes a adentrar a mata em busca de uma mulher desaparecida. A única a recusar o convite foi Rose, tendo escolhido permanecer na pousada por conta do não tão agradável último passeio.
— Eu vou tentar ser bem claro aqui. — Tom chamou a atenção de todos. — Isso é perigoso. Quanto mais pessoas espalhadas pela floresta, significa mais chances de algo ruim acontecer. Entretanto, também quer dizer que temos mais chance de encontrar a Kendra rapidamente. Portanto, devemos nos dividir em pequenos grupos ou duplas.
— Como vamos nos comunicar? — perguntou Josh, erguendo sua mão.
— Infelizmente nem todos terão rádios transmissores. Por isso, é importante que sigam o plano com cautela. — ele entregou um aparelho para Sam e, em seguida, largou o outro na mão de Johnny. — Se encontrarem alguma coisa, voltem imediatamente para cá. Neste mesmo ponto, antes do anoitecer. Se não encontrarem nada, estejam aqui neste horário de qualquer forma.
— Acho que temos menos de três horas, sendo assim. — sugeriu Beatrice.
— Exato. Não importa o que encontrem naquela floresta, ninguém deve estar lá quando a noite chegar. — o xerife fechou seus lábios, seguido de um olhar congelante a cada um deles. — Alguma dúvida?
Ninguém se manifestou. Então era hora de executar a divisão. Jesse, Josh e Sam foram os primeiros a formarem um trio. Melissa decidiu que ficaria melhor com o Johnny. Jackie e Cindy convidaram Penélope, que estava sozinha. Os quatro hóspedes restantes formaram o último grupo da divisão. E então, cada qual seguiu um caminho diferente, sempre em direção ao centro da floresta.
Os minutos começaram a se passar. Enquanto Melissa andava ao lado de Johnny, não tão distante, os outros três seguiam apreensivos e em silêncio.
— Eu posso perguntar uma coisa? Meio que... isso me deixou confuso. Mais do que eu já estava. — Josh terminou a fala com um arranhar leve em sua garganta.
— Sobre o quê? — Sam perguntou sem ao menos levantar os olhos, continuando a encarar o aparelho de transmissão em suas mãos.
— Hoje mais cedo, na sala, eu... eu ouvi você chamar o xerife de "pai". Mas talvez eu esteja ficando louco. — Josh desviou seus olhos sobre Jesse e Sam.
— É, ele... ele é meu pai. — Sam suspirou. — Eu e Jesse o encontramos no bar, no outro dia. Então, por ironia do destino, eu descobri que meu pai esteve nesta ilha nos últimos dois anos.
— Uau. Caramba, isso é estranho. Você já conversou com ele? — o garoto continuou.
— Sim. Ainda parece bizarro pra mim, mas... muito tempo se passou, Josh. Ele tentou explicar o que aconteceu, e eu acho que entendo. — Sam encerrou o assunto, apertando o passo em seguida.
— As coisas ficam mais estranhas a cada amanhecer aqui. Não acha? — Josh sussurrou, ao lado de Jesse.
— Mais do que o esperado. — ela respondeu.
Antes que os dois pudessem alcançar o ruivo, pouco à frente, perceberam que ele havia parado de andar. Sam estava concentrado em qualquer barulho que saía do rádio em sua mão. Era a voz do xerife.
— Sam, consegue me ouvir? — Tom questionou.
— Estou aqui. O que aconteceu? — o menino voltou seus olhos com preocupação aos dois amigos atrás dele.
— Encontramos algo perto da cachoeira. Acho melhor você vir até aqui. — o homem explicou.
— Certo, pai. Eu consigo ouvir o barulho da água. Acho que estamos perto. Chego aí em alguns segundos. — Sam desligou a chamada.
— O que aconteceu? Encontraram alguma coisa? — Jesse se aproximou.
— Sim. Eu preciso encontrar o xerife a alguns metros daqui. Pode ficar com o rádio? Prometo que acho vocês depois. — o ruivo largou o aparelho nas mãos da garota.
— Por favor, toma cuidado. — Jesse segurou seu ombro. — Use o rádio do xerife pra nos avisar se... se precisar de alguma coisa.
— Não se preocupa. Vou ficar bem. — ele terminou.
E de repente, Colleman havia se afastado. Josh e Jesse continuaram andando sozinhos por mais um tempo antes que dessem de cara com uma terceira pessoa. Era a Melissa, mas dessa vez, estava sozinha.
— Onde está o Johnny? — perguntou Josh.
— Ele me deixou. Disse que recebeu um chamado do xerife. — ela bufou, com suas mãos na cintura.
— O mesmo com o Sam. Então... somos só nós três agora. — Jesss exclamou. — Vamos continuar. Não podemos perder muito tempo.
— Certo. — Josh respirou fundo, antes de voltar a clamar pelo nome da vítima. — KENDRA! KENDRA!
Não tão perto, mas não tão longe do caminho que aqueles jovem seguiam, outro grupo havia encontrado algo entre os arbustos. Depois de agoniantes minutos ouvindo a voz desesperada de Mike, Beatrice avistou uma construção pequena um tanto escondida.
— Minha nossa. Que lugar é esse? — comentou Madison, esfregando seus dedos sobre a poeira esverdeada que se acumulava nas paredes.
— Acredito que se encaixe em um dos lugares secretos que as cantoras mencionaram na outra manhã. — Beatrice ergueu seus olhos, percebendo que a estrutura tinha pouco mais de três metros.
— Agora não mais tão secretos... — Frankie suspirou, sendo o primeiro a passar pela passagem. — Mas creio que não fomos os primeiros aqui.
— Deve ter sido o maníaco que levou a minha esposa. — Mike começou a revirar a bagunça espalhada pelo chão. — Tenho certeza que passou por aqui.
— Há diversos objetos aqui. — Beatrice observou alguns artefatos valiosos sobre a mesa. — Acha que algum deles pode ser de Kendra?
— Sim. Esse! Este colar. — Mike agarrou a corrente e a entrelaçou em seus dedos imediatamente. — Seu presente de noivado quando... quando fizemos quinze anos juntos.
— Por que diabos essa coisa estaria aqui? — Frankie perguntou, confuso.
— Eu não sei. Mas se deixou isso aqui, então ela certamente ainda está viva. Precisamos continuar procurando. — Mike segurou com força o colar em suas mãos.
— Ele está certo. Não há sangue e nada que indique que Kendra foi atacada aqui... então... pode estar em algum lugar próximo. — complementou a francesa.
— E o que fazemos? Devíamos avisar o xerife e os outros, não? — Madison continuava mordendo seus dedos em nervosismo.
— Sem chances. Não temos rádio de comunicação, e voltar para o local de encontro agora é perda de tempo. — o homem explicou. — Mas podem fazer isso se quiserem. Eu vou continuar e encontrar a minha esposa. — Mike atravessou a porta mais uma vez, voltando para a mata.
A situação começara a piorar quando souberam que Kendra havia realmente sido levada para aquela floresta inacabável. E agora, como se antes ainda não estivesse, Mike Smith se sentia tão vazio que faria qualquer coisa para vê-la outra vez.
Não tão longe dali, outras três garotas caminhavam sozinhas procurando pelo mesmo que eles. Entretanto, o silêncio as tomara de forma tão bruta que já haviam se perdido no meio de tantos pinheiros esverdeados. Nem mesmo o som dos pássaros. Nem os animais. Nada.
— Isso é tão estranho. — exclamou Penélope, quebrando parte da ausência extrema de qualquer voz.
— Qual parte? A que estamos procurando por uma pessoa que provavelmente não vai nem ouvir nossa voz, ou a que estamos perdidas? — Jackie parou de andar, esticando suas pernas depois de se sentar no chão.
— Não acho que estejamos perdidas. — sugeriu Cindy. — Já cruzamos esta floresta um milhão de vezes, Jackie. Conseguimos achar o caminho de volta.
— Há quanto tempo estão aqui? — Penny questionou, sentando-se ao lado delas.
— Quase um ano e meio. Shallow Wood era o único lugar precisando de artistas, então... vamos ficar aqui por um tempo. — a loira explicou.
— Exato. Só por um tempo. E daqui alguns dias, estaremos em Los Angeles. — Cindy sorriu. — Deveria vir conosco, Penny. Temos uma vaga.
— Ah, eu... eu não sei. Voltar para a cidade me parece um pouco assustador. Além disso, o Johnny continuará aqui, então... — a garota suspirou, cabisbaixa.
— É, eu entendo. Mas devia pegar um caminho daqui uns meses. Shallow Wood passa a ser estranha depois de muito tempo aqui. — Jackie se levantou. — Não vai querer permanecer aqui pro resto da sua vida.
— Okay, ótimo aviso. Mas agora... é melhor continuarmos. Daqui a pouco a noite vai chegar e precisamos encontrar o caminho de volta. — Cindy retornou a trilhar uma rota.
Não é exagero dizer que a sensação de continuar naquela floresta era no mínimo arrepiante. Cada uma daquelas pessoas sentia isso. E por mais que achassem que procurar por uma mulher supostamente sequestrada em uma floresta escura era assustador, havia outro segredo escondido debaixo deles. Exatamente debaixo de Josh, Melissa e Jesse.
— Okay, eu... eu não estou louca. Precisam estar vendo isso também. Vocês estão, não? — Melissa apontava para o que parecia ser uma estrutura metálica no chão.
— Ah, não... não, não, não. Isso é o que eu estou pensando? — Josh colocou logo suas mãos sobre a suposta entrada de uma escotilha. — É... é como um bunker.
— Um... o quê? Como isso pode estar escondido nesta ilha? — Melissa questionou.
— Eu não sei. Mas se conseguirmos empurrar essa estrutura, eu acho que... — Josh começou a fazer força sobre o metal. — Pronto.
— Santo Deus. Há mesmo uma passagem. Não estão pensando em entrar aí... estão? — a loira levou a mão até a boca.
— Jesse, você quer ter a honra? — o garoto a encarou.
— Não temos nada a perder. Se houver algo que nos ajude escondido aí, então temos que entrar. — a garota olhou para o buraco de mais ou menos três metros, antes de se aproximar por completo. Era escuro e frio.
E então os três utilizaram a escada na parede para chegar até lá embaixo. Melissa recusou dar mais um passo após ouvir o barulho de qualquer animal correndo pelo chão. Quanto aos outros dois, encontraram rapidamente um interruptor na parede esquerda.
— Uau. — Josh exclamou, incrédulo, ao perceber o que havia ao seu redor quando a luz foi acesa.
Uma imensidão de papéis espalhados pelo chão, objetos velhos e alguns tecidos, como roupas usadas há muito tempo. Sobre a mesa no canto, fotos e arquivos que provavelmente foram guardados ali há mais de cinco anos. Não lhe restaram dúvidas: havia alguém vivendo ali.
— Vocês conseguem imaginar? — o menino olhou para as outras duas. — Essa é a coisa mais esquisita, entretanto fantástica, que encontramos neste lugar. Meu Deus.
— Podemos ir embora agora? Já percebemos que Kendra não está aqui. E logo vai anoitecer, então... — Melissa abraçou seu próprio corpo, livrando-se dos arrepios frequentes.
— Não. Espera um pouco. Esses arquivos parecem dizer algo sobre a ilha, ou... eu não sei. Não podemos sair agora. — Jesse continuou revirando os papéis.
— Acha que pode haver algo sobre o culpado? — perguntou Evans.
— Talvez. E talvez algo que nos ajude a encontrar a Kendra. — ela respondeu.
— Okay. Quinze minutos. Esse é o tempo que vocês dois têm, e depois vamos sair correndo daqui. — a loira suspirou, se aproximando dos outros.
Para o xerife Tom, que não fazia ideia de onde aqueles três adolescentes estavam agora, a situação já havia piorado de qualquer maneira. Quando viu Johnny e Sam se aproximando, correu ao encontro deles de uma vez.
— Finalmente. Por que demoraram tanto? — perguntou.
— Acho que quase nos perdemos. O barulho da cachoeira estava... por toda a parte. Enfim, o que foi que houve? — questionou o ruivo.
— Morales e eu encontramos alguma coisa no chão, e enquanto esperávamos, tivemos a certeza. — ele apontou. — Aquilo é sangue. E não é tão antigo.
— Minha nossa. Acham que pode ser dela? — Johnny levou as duas mãos até a cabeça.
— Provavelmente. Há uma trilha que se segue até uns vinte metros daqui, como... como se essa pessoa tivesse se arrastado até lá. Entretanto, as marcas simplesmente desaparecem logo à frente. — explicou o xerife.
— E o que pretendem fazer? — disse Sam.
— Eu... não sei. Já passamos do início do entardecer e ainda temos outras dez pessoas sozinhas pela floresta. Talvez seja melhor reunirmos todos de volta e... — mas perto de concluir sua fala, um barulho esquisito interrompeu o policial.
Seguido deste som grave, uma luz foi brevemente reconhecida por qualquer um que estivesse com os olhos abertos naquele instante, na floresta. A iluminação se deu rápida como um risco só, mas sua direção indicava o mesmo ponto do qual o barulho havia se propagado. A encosta da ilha.
— Como... como isso é possível? — Tom se perguntou, dando dois passos à frente e ainda encarando as árvores naquela direção.
— O quê? O que foi? De onde veio isso? — exclamou Sam, confuso.
— Veio do farol. O farol abandonado. — ele explicou.
— Impossível. Aquela torre está fechada há anos. Esse barulho e a luz não poderiam ser ativados, a não ser que... — Johnny engoliu em seco. — que haja alguém lá.
— Não há dúvidas. É para lá que temos que ir, não é, pai? Seja a Kendra ou seja quem está com ela, está emitindo um aviso. — o garoto falou, segurando firme o rádio em sua mão.
— Eu sei disso. Só acho que... talvez seja perigoso. Se mais alguém viu isso, provavelmente teve a mesma ideia. — ele suspirou.
— Está tudo bem. Se mais alguém nos encontrar no farol, pelo menos estarão em segurança. Não é? E se voltarmos agora... os deixaremos sozinhos. — o rapaz rebateu.
— Está certo. Sintonize o rádio direito, Sam. Qualquer um que tentar emitir outro aviso pode ser captado pelo transmissor. — Tom começou a caminhar naquela direção. — Fiquem logo atrás de mim.
Finalmente as estrelas começavam a aparecer. O azul escuro ansiava por cobrir a encosta como um cobertor. E assim como a floresta, o escuro também abraçou cada um que continuava dentro dela naquela hora.
Todos que haviam ouvido o barulho vindo do farol tiveram de tomar uma decisão: iriam até lá com o objetivo de descobrir o que estava acontecendo, ou voltariam para o local de encontro na entrada da mata. Todavia, três pessoas não faziam ideia do que acontecia logo acima de suas cabeças naquele instante.
— Pessoal, acho que é hora de ir. O xerife deixou claro que deveríamos voltar antes do anoitecer e... — Melissa encarava o céu escuro através da passagem da escotilha.
— Ela está certa, Jesse. Não há mais nada para vermos aqui. — Josh murmurou, levando sua mão até o ombro dela.
— Esperem. — a garota exclamou em voz baixa, impedindo os outros dois antes que subissem a escada. — Eu encontrei alguma coisa.
Josh e Melissa se encararam rapidamente. A expressão facial de Jesse não demonstrava apenas que havia encontrado algo bizarro. O bizarro já era esperado. Ela havia encontrado algo que de fato era assustador. Uma foto, em suas mãos, que apresentava uma garotinha de mais ou menos quatro ou cinco anos de idade ao lado de sua mãe. Pouco atrás, a pousada Woodhouse em seus primeiros anos após a inauguração.
— Caramba... isso é macabro. Quem diabos são essas? — Melissa arqueou a sobrancelha. — Certo. Querem saber? Isso aqui tá me dando nos nervos. Podemos ir embora?
— Espera um pouco. — Josh interrompeu. — Jesse... você sabe quem são? Por que parece tão assustada? — ele estranhou o pesar nos olhos da menina.
— Essa... essa garota... — Jesse respirou fundo, tentando evitar o tropeço em suas palavras. — essa garota sou eu. A mulher ao lado é minha mãe.
— O quê? Não... não. Impossível! — Josh sorriu. — Aquilo lá atrás é a pousada. Como vocês duas poderiam estar aqui nesta época?
— Jesse, isso é loucura. — Melissa cruzou seus braços.
— Eu sei que parece. Mas não podem ser outras pessoas. Eu não... não consigo me lembrar exatamente quando foi, mas reconheço esta fotografia. — ela parou de falar quando ouviu um chiado se aproximando pelo transmissor em sua mão. — É o Sam!
— Jesse! Consegue me ouvir? — a voz ofegante do rapaz revelou seu cansaço.
— É claro. O que aconteceu? Conseguiu encontrar o xerife? — ela perguntou.
— Sim. Mas há outra coisa. Achamos que pode ter alguém no farol. Estamos indo para lá agora. — ele explicou.
— O quê? O farol abandonado? Como... como... não importa. Devemos encontrar vocês? — Jesse rebateu.
— Não! De jeito algum. Há dois policiais conosco. Por favor, só... fiquem seguros e voltem para o local de encontro antes do anoitecer absoluto. Eu te vejo logo. — a chamada se encerrou, entregando aos três jovens intrigados apenas aquilo que lhes restava: um silêncio inerte.
— Minha nossa. — Melissa bufou. — E quando eu achei que as coisas não podiam ficar mais estranhas...
A jovem Morris se assustaria se pudesse, de alguma forma, descobrir o que acontecia na outra parte da floresta naquele instante. Porque de fato as coisas ficariam muito mais estranhas a partir de agora.
Os quatro rapazes chegaram ao grande farol abandonado. Suas paredes se erguiam escuras e mórbidas próximo ao abismo. O som de qualquer coisa caindo perante o interno circular da estrutura causava arrepios a qualquer um. Mas antes que adentrassem o lugar, a lanterna de Sam iluminou um rosto conhecido que se aproximara sem que percebessem.
— Mike Smith? — questionou o xerife, se aproximando assim que conseguira reconhecer seu rosto.
— Eu segui o chamado. Onde estão os outros? — o homem respondeu com seriedade, amargurando suas pálpebras por conta da luz.
— Não sabemos. — Johnny respondeu em rapidez. — Ouvimos o mesmo que você. E eu espero que qualquer outro não tenha a mesma ideia. — por um momento, o garoto se arrependeu de ter deixado sua irmã sozinha.
— E quanto a Beatrice, Madison e Frankie? Achei que estivessem com você. — Tom insistiu.
— É e... estavam, mas algo aconteceu. Frankie começou a se desesperar porque recusou permanecer aqui depois do anoitecer. Então ele voltou para a pousada. Mas Madison não aceitou deixar sua filha na floresta, então ela e Beatrice continuaram vagando. E eu... eu vim sozinho. — ele explicou.
— O quê? Madison e Beatrice estão sozinhas? Droga. — Sam suspirou. — Se as outras garotas ainda não tiverem voltado, então...
— Então temos um grande problema. E é por isso que vamos subir até o farol de uma vez e acabar com isso. — o homem de farda abriu caminho através de uma passagem estreita.
Logo à frente, enxergaram a longa escada que se dava até o topo da torre. Sam já carregava consigo a sensação de que algo terrível pudesse acontecer. E agora que sabia que nem todos lá fora estavam em segurança, sua intuição gritava por isso.
Do outro lado daquele redemoinho de incerteza que gritava ao redor do farol, uma mãe gritava pelo nome de sua filha. E isso tudo fazia Madison pensar em como as consequências são coisas injustas.
Seu coração pulsava rápido. E se a consequência por ter deixado Jesse entrar naquela floresta sozinha fosse que ela se machucasse? E se o seu convite por uma semana longe de um pesadelo houvesse a levado para outro? Consequências que não mais poderiam ser evitadas.
Talvez sim. Talvez, se continuasse correndo entre os enormes pinheiros, acompanhada daquela garota francesa que gostaria de ajudar, conseguisse. Talvez encontrasse sua filha a tempo.
Mas o seu olhar não apresentava essa certeza. Muito menos o de Beatrice, angustiada por terem se separado daqueles dois homens há pouco. E foi essa incerteza que Penélope Russell enxergou ao encontrar as duas.
— Madison? Beatrice? Achei... achei que tivessem voltado para a pousada. — a garota exclamou, preocupada, ao segurar parte de seus cabelos antes que fossem carregados pelo vento.
— Deveríamos. E voltamos. Mas... Madison não encontrou sua filha quando chegamos lá. — ela explicou. — Na verdade, não encontramos ninguém quando chegamos lá. Então resolvemos voltar.
—Ninguém? Então... então todos estão dentro da floresta ainda. — Penny arregalou seus olhos por um instante. — O meu irmão também.
— E quanto a Cindy e Jackie? Não estavam com você? — a senhorita Greene, apesar de abalada, conseguiu dizer com suas próprias palavras.
— Eu... eu não sei. Estávamos juntas quando a noite chegou e os pinheiros começaram a se balançar depressa. Então eu acho que fiquei para trás. Comecei a ouvir alguma coisa e... e... não sei dizer. Acho que havia alguém por perto. — explicou a menina, guardando suas mãos no bolso do casaco.
— O quê? Santo Deus. Este lugar é como um labirinto. Foi por isso que Tom insistiu pra que permanecessemos juntos. — Beatrice levou a mão até sua cabeça.
— O que fazemos agora? — Penélope se juntou a elas, arrastando seus olhos pelos arbustos amontoados que dançavam de forma bizarra.
— Podem voltar para a pousada se quiserem. Mas eu não vou sair daqui enquanto não encontrar a Jesse. — Madison soltou a mão da ruiva, voltando a caminhar.
— Sem chances, Madison. Nós vamos com você. Se Penélope afirmou ter visto algo aqui, então... então continuar andando sozinha é suicídio. — Beatrice respondeu, com seu peito em disparada.
Farol da ilha de Shallow Wood, aproximadamente 19:48 da noite.
Mike, Johnny, Sam e Tom subiam as escadas apressados. Suas pernas ardiam como se cada degrau perfurasse-as. E quando finalmente chegaram ao único cômodo no topo da torre, encontraram uma porta trancada.
— Não acredito. — Sam passou a mão em seus cabelos. — Como vamos...
— Espera. Há algo no rádio. — Tom apanhou o aparelho, reconhecendo logo a voz do oficial que havia ficado na entrada do farol. — Morales, o que houve?
— Tom, eu acho que há alguém por perto. Eu posso ouvi-lo. Precisam correr. Rápido! — o homem de uniforme dizia, trêmulo, enquanto apontava sua arma para qualquer lugar na escuridão.
— Dane-se essa porta! — Mike empurrou a estrutura com seu pé, abrindo uma passagem imediata.
E assim que adentraram a sala, além da vazia e melancólica vista da encosta da ilha que se dava pela janela, enxergaram alguém. Uma pessoa desacordada exatamente no centro da sala. Kendra Smith estava viva.
— Santo Deus. Santo Deus! — Mike atirou seu próprio corpo sobre o chão, arrastando suas mãos até a mulher em desespero. — KENDRA! KENDRA!
— Mi... Mike? — seus olhos se abriram vagarosamente e, em prontidão, encontraram os do rapaz. — Como chegou aqui?
— Nós viemos buscá-la, querida. Graças a Deus está viva. — suas lágrimas não podiam ser contidas.
— Não consigo me lembrar do que aconteceu. Mas minha cabeça... ela... ela dói. Como uma bomba-relógio. — Kendra explicou, aflita.
E logo depois, todos permaneceram em silêncio quando identificaram outro barulho vindo do rádio. Mas desta vez, não era a voz do oficial. Eram ruídos perturbadores. Em partes, lembravam a Sam de todos os assassinatos no ano anterior. Seus corpos faziam o mesmo barulho.
— Droga... droga. DROGA! — Tom alcançou o transmissor outra vez. — MORALES! Consegue me ouvir?
Ele continuou questionando a mesma coisa. Mas nada. O homem nunca voltou a responder suas perguntas, porque não tinha mais seu rádio em mãos. E sim, outra pessoa. Segundos após, os ruídos se transformaram em uma voz lenta e grave.
— Boa escolha resgatando-a da torre. Mas talvez, nem todos do lado de fora estejam tão seguros assim. — os ruídos tornaram a aparecer após sua fala.
— Quem diabos é você? — Sam tomou o transmissor das mãos de seu pai. — E como... como está fazendo isso?
— Eu não fiz nada. Ainda. Mas você sabe do que isso se trata, não sabe, Sam? — sua insistência no rádio fez com que os demais presentes encarassem o garoto de suspeitosamente. — Esta é a noite da caçada. Como eu acabei de dizer, Kendra pode estar em segurança. Mas os seus amigos...
— Não, não, não! De que droga está falando? Se isso for outro jogo doentio... — o ruivo respirava ofegante.
— Um jogo que nunca chegou ao fim. Para alguns de vocês. Você sabe as regras, Sam. Você sabe como jogar. A questão é: se a fortaleza estiver tão longe, acha que todos conseguirão encontrar abrigo a tempo? — ele gargalhou.
— Quê? Esse cara é louco. — Johnny bufou. — Fortaleza?
— Eu acho que está falando da pousada! Precisamos voltar para a pousada e avisar para que os outros façam o mesmo. — Sam encarou o xerife, preocupado.
— Não se preocupe, Sam. Você não é o único ouvindo esta mensagem agora. Qualquer um nesta floresta, neste exato momento, sabe o que fazer. O tempo começou a correr. — um último ruído e então a transmissão acabou.
Não restava outra opção, apesar de parecer loucura, a não ser seguir o que aquele maluco no rádio acabara de dizer. A pousada Woodhouse era o único lugar seguro naquela noite. Como uma fortaleza.
Além disso, ele não mentiu ao afirmar que todos naquela floresta também estavam cientes disto. Ao menos aqueles que tinham um rádio em mãos, como Jesse e seus dois amigos.
— Espera. Espera, espera! — Melissa insistiu, interrompendo por um instante sua respiração apressada.
— O que foi, Melissa? Temos que chegar até a pousada o mais rápido possível. — Josh respondeu, virando-se outra vez para frente e continuando a caminhar.
— Eu acho... acho que ouvi alguma coisa. — seus olhos amendoados voltaram-se para a direção contrária.
— É apenas a floresta. Nossa mente nos prega peças o tempo todo. Lembra? — Josh observou as folhas em movimento ao redor deles. Uma corrente de ar logo os atingiu.
— Mas se não for, é mais um motivo pra continuarmos. — Jesse completou. — Vem. Quanto antes chegarmos, mais seguros estaremos. — a menina alcançou a mão da outra, voltando a andar mais rápido.
[Música: Run Boy Run - Woodkid]
Se três pessoas eram capazes de sentir tamanha perversão e medo vindos de um pesadelo sem rosto, qualquer um que andasse sozinho por ali já teria entrado em pânico. Era assim que Jackie e Cindy imaginavam que Penélope se sentiria. Sozinha. Assustada.
— Eu disse pra você. Ela deve ter voltado para procurar o irmão, Cindy. — Jackie continuou a carregar sua mão.
— Não é justo, Jackie. Se... se fosse uma de nós, estaríamos surtando. Não devíamos tê-la deixado para trás. Que droga! — ela gritou. — Eu estou com medo.
— Por favor, só... só se concentra. Não há ninguém aqui. Penélope vai ficar bem, e ficaremos também assim que sairmos daqui. Agora, por favor, segura a minha mão e vamos logo! — a loira voltou a correr.
Cindy Carter não estava sozinha, mas estava em pânico. Seus dedos tremiam tanto que ela mal conseguia manter suas mãos no bolso. E quanto mais corria, mais tinha a certeza de que algo ruim estava prestes a acontecer.
— JACKIE! EU NÃO CONSIGO! — suas lágrimas se sobressaíram à tentativa de manter-se estável. — Tem alguma coisa... tem alguma coisa errada. Eu posso ouvir, Jackie. Há alguém se aproximando.
— O... onde? — a amiga sussurrou, juntando suas mãos às dela outra vez. — Eu sei que está com medo. Eu também estou. Mas prometemos que sairíamos daqui juntas. Lembra? E se não formos agora, talvez... talvez isso nos alcance.
— Mas Jackie, eu... eu... — Cindy engoliu em seco.
— Não pare de correr. Por favor, não pare. Está me ouvindo? — Jackie se concentrou em seus olhos. — NÃO PARE!
Seus corpos voltaram a se movimentar em rapidez. A coisa mais bizarra é que, ao voltar a correr, Jackie teve a mesma sensação que Cindy há dez segundos. Havia alguém as observando. Havia alguém chegando perto, mais perto, mais perto e de repente...
— CINDY! — foi a única palavra que pôde dizer. Repetida e repetida incansáveis vezes pelos seus lábios. Jackie sentiu sua mão se soltar dos dedos da amiga. Algo as separou. Algo ruim.
— Ja... Jackie. — a garota sussurrou em desespero. Sua voz estava presa. Sua boca mal se mexia.
Tudo aconteceu tão depressa que nenhuma das duas teve a chance de escapar. Ao menos Cindy não teve. Enquanto segurava firme a mão de sua melhor amiga, ouviu resquícios do barulho de um objeto sendo impulsionado em uma área próxima. Segundos após, este objeto atingiu seu pescoço.
Cindy estava de fato correta, por fim. Havia alguém as observando naquele exato instante, e esta mesma pessoa utilizou um tipo de flecha para impedir que as duas saíssem vivas daquele lugar. Porque esta era a noite da caçada, e alguém precisava ser a presa.
Jackie não conseguiu acreditar. Quando viu sua amiga caindo no chão e perdendo suas forças, a única coisa em que pensou foi em tentar parar o sangramento. Mas isso era quase impossível, uma vez que sua garganta fora perfurada até o outro lado. E por mais difícil que fosse, entre os curtos segundos de agonia que lhe restavam, Cindy ainda exclamou algumas palavras.
— Tá.... tá... tudo bem. — sua respiração se desfazia em uma poça de sangue ao redor de si. — Corre, Jackie, co... corre.
— Não, não, não! NÃO! POR FAVOR! — já não havia mais tempo, mas ela insistia em continuar segurando a mão de Cindy.
— Chegamos tão... tão perto. Continua. — foram as últimas palavras de Cindy Carter naquela noite. Após isso, seu corpo lentamente iniciou um processo de calmaria e descanso. Ela estava indo embora.
— Você não pode me deixar aqui, Cindy. NÃO PODE! — Jackie não sabia mais o que fazer.
Porque não havia o que fazer. Naquela noite fria e, sobretudo, bizarra, cartas foram reveladas. Não havia dúvida. Um novo jogo se iniciou assim que os hóspedes da pousada puseram seus pés naquela ilha. Terminá-lo seria difícil. Mas por agora, a certeza era que, de fato, consequências são cruéis. E mesmo que não de forma direta, elas acontecem.
Cindy Carter pagou o preço pela expectativa falha de que todos pudessem ser salvos daquela floresta. Alguém ficaria para trás. E para todo o sempre, sua amiga carregaria a culpa de não ter tido a chance de salvá-la. Mas ela entendeu, depois de certo tempo, as palavras que saíram dos lábios frios da garota no chão. "Continua". E ela iria.
Seu corpo permanecia fraco como se houvesse deixado qualquer força de si ao lado de Cindy, naquele chão frio. Jackie Argent não conseguia aceitar o fato de que nunca mais a veria. Isso era doloroso.
Mas assim que, com muito esforço, conseguiu arrastar-se para fora da floresta, enxergou as luzes da pousada. Rose correu para abrir a porta quando avistou uma figura humana do lado de fora. Todos estavam tão assustados que mal perceberam o sangue nas mãos de Jackie.
Ela foi obrigada a contar cada parte do ocorrido. Rose não economizou lágrimas pela garota que fora assassinada. E logo após, Jackie teria de repetir a história para os que deveriam chegar em breve. Seu peito ardia como se uma enorme faca o perfurasse.
Jesse, Josh e Melissa finalmente chegaram à pousada após demorados minutos correndo através daquela floresta escura. A porta estava entreaberta, o que revelava que havia alguém lá.
— Melissa! Minha nossa senhora. — Jullie abriu seus braços, levando-os ao encontro da filha na escadaria.
— Mãe? Eu... eu achei que ainda estivesse no hospital. — a loira começou a se acalmar.
— Disseram que eu deveria voltar nesta tarde. E quando cheguei, soube que haviam saído. Santo Deus, filha. Você poderia ter morrido! — a mulher voltou a pressioná-la com seus braços.
— Eu sei. Mas não importa agora. Nós precisamos entrar, mãe. — a garota olhou para o caminho atrás dela. — Não é seguro aqui.
— Por quê? O que aconteceu? Além disso, onde estão os outros? — disse ela, confusa.
— Senhorita Morris, vamos explicar tudo depois. Mas agora, temos que entrar e trancar esta porta. — Josh gesticulou, ainda eufórico. — Rápido! Rápido!
Madison e as outras duas garotas foram as próximas. Jesse sentiu tamanho alívio ao ver que sua mãe estava bem. Talvez ela estivesse ainda em algum lugar daquela mata, procurando pela filha, se Beatrice não a tivesse convencido de que deveriam voltar e esperar na pousada.
— Nunca vou deixá-la sozinha outra vez. — Madison agarrou o corpo de Jesse. — Eu sinto muito.
— Eu sei. — os olhos da menina desviaram-se para o chão. Ela não conseguia esquecer do que encontrou naquele esconderijo.
Os quatro homens que haviam resgatado Kendra daquela torre foram os últimos a chegar. Logo souberam da notícia que, apesar de terem salvo alguém, outra pessoa foi levada em troca. A mulher, ainda em choque, foi levada para dentro e Johnny ajudou Mike a colocá-la no sofá.
O xerife Tom se despediu do filho, alegando que precisava retornar para a delegacia e emitir um aviso aos outros policiais. Quanto aos outros, assim que a porta da frente foi fechada, um silêncio extremo se instaurou.
Estavam tão assustados e preocupados com o que havia naquela floresta que ninguém conseguia pensar em nada. Jackie estava se esforçando ao máximo para não ter uma crise de ansiedade. Suas mãos ainda tinham o sangue da amiga.
— Estamos mortos. Estamos mortos! — Jullie continuou repetindo, enquanto andava de um lado para outro.
— Alguém faz a mínima ideia do que devemos fazer? — Sam perguntou aos demais, ainda mantendo seu olhar sobre a janela que revelava o escuro lado de fora.
— Como poderíamos pensar em algo? Aquela garota acabou... acabou de morrer! — Rose exclamou, eufórica.
— Eu sei que isso é horrível, mas precisamos manter a calma agora. Devemos nos preocupar em ficar seguros. — Frankie gesticulou, com suas mãos tremendo.
Jesse Greene não disse uma palavra. Mas não porque não sabia o que fazer, e sim porque continuava em choque depois do que ocorreu do lado de fora. E aquele caminho pelo qual seguia começara a ficar estreito. Os olhares ao seu redor indicavam que ela tinha de dar uma resposta.
— Será que pode, por favor, compartilhar sua angustia conosco? — Beatrice encarou a menina com desaponto em seu olhar.
— Jesse, nós... nós precisamos que fale. — Sam complementou, com as palavras mais gentis possíveis. — Eu não quero pressioná-la, mas é a única que tem ideia do que fazer aqui.
— Eu estava no mesmo lugar em que todos vocês. Não sei quem está lá fora agora, mas... — ela respirou fundo. — se ele disse a verdade, a caçada fazia parte do seu jogo. Eu sinto muito pela Cindy, Jackie. — Jesse olhou para a garota instável no sofá.
— Acredito que ninguém pudesse fazer nada por ela. — respondeu a loira, com seus olhos em vermelhidão e as bochechas encharcadas.
— Então passamos pela caçada. Cindy foi a única presa. — disse Kendra, com sua voz trêmula. — O que fazemos agora?
— Está certa. Mas se o jogo se trata da ilha como... como o tabuleiro, então estamos escondidos exatamente onde ele gostaria. Na fortaleza. — Jesse explicou.
— Se era isso que ele queria, estamos encurralados. Presos como ratos em uma amardilha. — Beatrice rebateu. — E é só questão de tempo até que ele apareça.
— Não podemos deixar. Nós temos uma chance de permanecer seguros aqui até o amanhecer. — Jesse concluiu, caminhando até a janela principal. — Tranquem tudo imediatamente. Janelas, portas, qualquer coisa. É a nossa única chance.
— Ouviram a garota. Rápido! — Johnny saiu andando pelo corredor.
E então, perceberam que aquela noite aterrorizante ainda não chegara ao fim. Cindy Carter foi encontrada pouco antes de alcançar a fortaleza à qual o mascarado se referiu. Mas talvez, aqueles que estavam lá agora, também não estivessem tão seguros assim. Apenas o arrastar noturno poderia responder.
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