Temporada 3 - Capítulo 4| "Jogadas no tabuleiro"

Pousada Woodhouse, 20 de dezembro, noite.

As cantoras estavam corretas em seu palpite. Aquela seria uma longa e cansativa noite em todos os sentidos. Pouco depois que a tempestade em copo d'água se acalmou, a preocupação de Penélope também começou a partir.

Os cinco jovens retornaram do hospital, deixando Jullie Morris sob cuidados médicos, e logo receberam a notícia de que a mulher não havia sido a única a passar por algo estranho naquele dia. E se um incidente deixava os hóspedes com medo, agora haviam dois.

— Como se sente agora? — Tom Colleman pousou sua mão sobre o sofá, ao lado de Penny. — Está mais calma?

— Eu... eu acho que sim. — ela garantiu, ainda que os dedos de suas mãos tremessem pouco a pouco.

— Acha que consegue me explicar o que exatamente você viu na floresta? Eu só preciso que descreva com certeza. — o xerife a encarou fixamente.

— Eu já disse. — ela respirou fundo, preparando-se para repetir aquela palavra outra vez. — Um corpo, xerife. Havia um corpo no riacho. Tinha... muito sangue ao seu redor.

Pouco afastados daquela conversa, o restante do pessoal presente na sala observava um ao outro com pavor. Rose foi a primeira a carregar suas mãos até o terço em seu pescoço, iniciando de imediato uma oração silenciosa.

— Certo, Penélope. — Tom voltou a respondê-la, por mais que não conseguisse imaginar a possível veracidade do caso. — Se está certa do que diz, então está certa do que diz. Vou voltar para a delegacia agora. — o homem se levantou. — Qualquer coisa que aconteça deve ser imediatamente repassada a mim. — agora encarava Frankie e Adele.

— Espera. O que... o que vai fazer a respeito? — Josh se manifestou, aproximando-se da garota cabisbaixa. — Vão voltar até o riacho, não vão?

— Com toda a certeza, jovem. Há uma viatura seguindo o caminho de terra até lá agora mesmo. — Tom caminhou até a porta com tranquilidade. — Quanto a todos vocês, quero que fiquem calmos. Creio que amanhã cedo estejamos todos tranquilos com a notícia de que isso não passou de um mal entendido.

Embora não confiassem na palavra da autoridade, os hóspedes teriam de acreditar que tudo ficaria bem. Pelo menos por agora. Perante o segundo aviso, desta vez vindo da caseira, cada indivíduo decidiu que era hora de voltar para o seu quarto.

— Não precisam se preocupar com isso, ouviram o xerife. — Adele pôs um sorriso em seu rosto. — Amanhã, ao amanhecer, temos uma perfeita programação que com certeza irá deixá-los mais aliviados. Por agora, descansem. — ela se retirou do salão ao lado do parceiro.

Os Smith foram os próximos a subir as escadas. Rose seguiu para o seu quarto assim como Madison, que carregou a filha consigo. E ela não podia deixar de perceber o horror nos olhos de seus três amigos. Porque assim como a Jesse, Sam, Josh e Melissa também imaginavam que havia algo ruim acontecendo.

Beatrice foi a última a restar na sala escura, pouco distante da vítima. Então caminhou até a garota em silêncio e, sem que esta percebesse, sussurrou as palavras de quem gostaria de ter respostas.

— Está certa de que aquilo era um corpo? — a ruiva perguntou, expressando seriedade.

— Eu não sou uma mentirosa. Tenho certeza do que vi. Se não acredita, então... — dizia Penny.

— Não. Eu acredito em você mais do que no xerife. — Beatrice respondeu. — Se precisar de mim, sabe onde...

— Ei. O que está tentando fazer? — Johnny adentrou a sala. — Veio aqui para dizer que ela está louca também?

— De forma alguma. Eu só queria que Penélope tivesse... tivesse... — a francesa acabou se perdendo.

— Então saia. Não precisa fazer nada por nós. — ele cruzou seus braços. — Penélope, vamos. Você precisa descansar.

Os dois irmãos saíram de lá rapidamente, mesmo que a caçula não deixasse de olhar para Beatrice, que continuava incrédula perto do sofá. Mas como eles bem sabiam, não havia nada para se fazer agora. O amanhecer traria um dia ensolarado e tranquilo e, com sorte, boas notícias.

Pousada Woodhouse, 21 de dezembro, 10:00 horas da manhã.

Outro dia no paraíso. Apressado com o passeio que se daria em alguns minutos, Frankie caminhava pelos corredores em desespero, procurando por Adele. Ela havia planejado deixar a pousada com o grupo às 10:00 horas em ponto, mas simplesmente despareceu.

— Adele! — continuava clamando seu nome. — Alguém viu a Adele? — perguntou a qualquer um que estivesse por perto.

Até que enfim, próximo ao recanto onde Rose costumava ficar, ele a encontrou. Adele mantinha sua mão pressionada sobre a cabeça e uma expressão pouco alegre em seus olhos.

— Ah, Frankie. Mil perdões. — ela repetiu, ao vê-lo chegar.

— Estava procurando por você. Precisamos partir agora. Jackie e Cindy já estão prontas. — o senhor cruzou seus braços.

— Parece que minha enxaqueca vai me deixar de fora dessa vez. — ela suspirou. — Preciso descansar, Frankie.

— Tem certeza disso? Acha... acha que vai ficar bem? — ele colocou sua mão em cima da dela.

— Ficarei ótima. Só preciso de um pouco de tempo sozinha. Vou voltar para o meu quarto antes que Rose me veja na cadeira dela. — Adele sorriu. — Divirtam-se sem mim.

E então, por mais que não aceitasse isso como uma boa ideia, Frankie decidiu seguir o passeio sem Adele. As duas cantoras guiaram o grupo depois da entrada da floresta, andando em fila para que ninguém se afastasse. Estavam todos lá, com exceção de Adele, Madison e Penélope que decidiram ficar na pousada.

Hospital Geral de Rainwood, nesse mesmo momento — Muito distante da ilha remota.

Um pesadelo que se acaba assim que o sol invade a janela todos os dias. Era como se sentia, em um remoto vai e vem. Seus olhos arderam quando o amarelo forte abraçou-os rapidamente.

— Como se sente? — uma voz grosseira questionou.

— Bem. — respondeu, sem nem mesmo olhar na direção da voz. — Tive outro pesadelo ontem à noite. — ela presumiu estar falando com o enfermeiro que a visitava todos os dias.

— Pesadelo? — seu suspiro seguinte fez a garota voltar os olhos para a figura imediatamente.

— NÃO! — Millye cobriu seu corpo com o cobertor e encolheu suas pernas sobre a cama. — FICA LONGE DE MIM!

O mesmo rapaz, cujo sobretudo de cor preta cobrira seu corpo na última noite, estava em seu quarto outra vez. Agora sem o chapéu e sem o mistério amedrontador que exalava ao ficar paralisado ao lado de enfermos no hospital. Millye realmente esperava que isso não fosse um hábito.

— Eu preciso muito me desculpar pelo susto. Mas temos algo mais importante, Campbell. Pode vestir suas roupas? — perguntou ele.

— Mi... minhas roupas? — ela instigou, confusa, enquanto prestava atenção nos olhos castanhos do homem.

— É. Qualquer coisa que não seja esse avental azul claro. — ele apontou para o uniforme que ela usava.

— Eu só faço isso depois que me disser quem é você e o porquê de ter invadido meu quarto. Aliás... como sabe meu nome? — Millye franziu o cenho.

— Eu sabia que você adorava fazer perguntas, mas... caramba. — ele suspirou. — Eu me chamo Chase. E prometo explicar tudo e qualquer coisa assim que sairmos por aquela porta.

— E por que eu deveria seguir um estranho? Não enxerga que estou no hospital? — ela ergueu parte do avental, revelando a cicatriz do incidente no início do ano.

— Porque talvez esse não seja o lugar mais seguro da cidade, Millye. Eles... eles podem saber onde está. — Chase explicou, encarando-a seriamente.

— Eles quem? — Millye sentiu um tremendo arrepio lhe percorrer.

— Pessoas más. Mas não precisa se preocupar com isso. Pelo menos, não se confiar em mim. — insistiu.

— E quem foi que disse que você não é uma das pessoas más? — ela rebateu.

— Olha pra droga da minha cara. Pareço uma pessoa má? — e foi quando Millye percebeu que, apesar de suas roupas rústicas, os olhos arredondados de Chase o faziam parecer um ser inofensivo.

— Eu não vou a lugar nenhum sem que antes me diga o que está acontecendo. Mas... enquanto isso, preciso de espaço pra trocar de roupa. — desta vez ela cruzou seus braços, esperando que ele saísse do quarto.

E assim ele fez. Fechou a porta e a deixou sozinha novamente. Muito estranho lhe parecia a história de que haviam pessoas más por perto. Até onde se lembrava, o mal perdeu. Mas Millye Campbell não poderia ser tão ingênua assim. Sabia que havia algo acontecendo, mesmo que esta notícia partisse de um estranho.

Floresta de Shallow Wood, 10:24 da manhã.

Era impossível não perceber o quão bizarro a mistura homogênea entre o belo e o desconhecido se tornara. Assim que adentraram a floresta, logo puderam ter uma sensação de medo que se dava pela corrente de ar ligeira atingindo seus corpos.

— Se procurarem um pouco, podem encontrar inúmeras carcaças de automóveis e até... passagens, eu acho. — explicou Cindy, virando-se para o restante do grupo enquanto andava. — A ilha foi civilizada há muito tempo. É quase impossível conhecer todos os lugares.

— Aqui temos um exemplo disso. — Jackie complementou, apontando para uma grande estrutura coberta por arbustos e raízes esverdeadas.

— Isso é um ônibus? — perguntou Josh, posicionando sua câmera à frente dos olhos.

— O que sobrou dele. — Cindy cruzou os braços. — Está aí há tanto tempo que deve servir de abrigo para os animais. Mas nada que possa nos incomodar.

— Então... há animais aqui? Animais selvagens? — Kendra questionou, segurando firme o braço de Mike.

— Óbvio. Diversas espécies vivem nesta floresta, e é por isso que não podemos adentrá-la de mais. — disse a menina.

— Correto. — a loira continuou. — Mas como Cindy disse, estamos seguros aqui. Não há nenhum urso ou coisa do tipo. Vamos continuar, pessoal. — Jackie voltou a caminhar.

— Conseguem ouvir este barulho? — Cindy parou de andar. — É a cachoeira. Fica a mais ou menos cem metros daqui.

— E o que seria aquilo? — Jesse apontou para a ponta de uma construção, bem distante dali, visível através das árvores.

— É o farol. Foi abandonado há mais ou menos dez anos, então... ninguém costuma ir até lá. — explicou Jackie.

E então, o grupo continuou a caminhar. Todos seguiram as duas cantoras através do estreito caminho entre as árvores, com exceção de Beatrice Petit, paralisada no mesmo lugar.

— Está bem? — Rose alcançou o ombro dela com a mão esquerda, esboçando um sorriso sincero.

— Eu... claro. Estou ótima. — a ruiva escondeu consigo o breve arrepio que sentira há pouco, ao ter ouvido a frase de Jackie. Mas ignorando tal estranheza, as duas voltaram a andar.

O passeio se prolongou por mais dois minutos até que algo fizesse o grupo parar novamente. Um barulho. Um barulho estranho se propagando ao redor de onde estavam.

— Eu não sou a única ouvindo isso. Sou? — Melissa exclamou, assustada.

— O... o que pode ser isso? Animais? — disse Sam, esperando uma resposta das duas garotas que os guiavam.

— Eu... não sei. Provavelmente sim. — Jackie tentou manter a calma, mas aquele som inconveniente lhe impedia.

— Seja o que for, se aproxima com rapidez. — falou Mike, dando um passo atrás junto de sua esposa.

— Lobos? — a mulher agarrada a seus braços completou.

— Não! De forma alguma. — Cindy a tranquilizou. — Não existem lobos nesta região... não é, Frankie? — a menina encarou o grisalho, que concordou.

— Fiquem calmos. Seja o que for, deve passar logo. Além disso, se ficarmos parados aqui a chance de qualquer que seja o animal se aproximar é mínima. — disse Jackie, sorridente.

— Mas não nula. — Josh guardou sua câmera e chegou mais perto de Sam, Jesse e Melissa, que rapidamente se atentaram aos quatro cantos daquele lugar.

— Jackie, eu... eu acho que é hora de voltarmos. — Johnny sussurrou em seu ouvido. — Certo, pessoal! — ele voltou a olhar para o restante. — O passeio acabou. Não precisam se preocupar com isso, mas é hora de voltarmos.

— Não precisamos nos preocupar? Franchement. — Beatrice suspirou. — Esta garota acaba de dizer que existem animais selvagens aqui, e quer que voltemos tranquilamente pelo mesmo caminho? Bobagem! Precisamos nos proteger.

Assim que a francesa pronunciou aquelas palavras, o medo se propagou. Rose foi a primeira a levar suas mãos até o peito e fechar os olhos. Não importava se as duas garotas estavam tentando evitar o pânico, Beatrice tinha razão: eles precisavam sair de lá.

— E para onde é que vamos? — perguntou Kendra, respirando de forma ofegante.

— O ônibus! — gritou Sam. — Faz mais ou menos cinco ou seis minutos que passamos por aquela estrutura abandonada. Jackie, Cindy, acham que conseguem nos mostrar o caminho até lá? — o ruivo as encarava com pavor.

— Colleman está certo. — Johnny concordou com a cabeça. — Se alcançarmos o ônibus, estaremos seguros.

— Tá... tá bom. Só temos que seguir reto pelo exato caminho em que viemos. — Jackie começou a andar mais depressa. — O ônibus fica a uns cinco minutos daqui. Dois se formos correndo.

— Ouviram a garota! Vamos andar mais rápido. — Cindy foi a última a deixar o local onde estavam, e podia sentir com clareza que o barulho aterrorizante indicava a chegada próxima de algo bizarro.

Aquelas pessoas nunca imaginaram que um passeio tranquilo se tornasse a luta por sua própria segurança. Continuavam correndo, correndo e correndo, até que não aguentassem mais. Rose cogitou a ideia de ficar para trás quando percebeu que não tinha fôlego o suficiente para continuar correndo, mas Beatrice a impediu.

— Estamos quase chegando! — gritou Jackie, ao avistar a tintura amarelada que revelava o automóvel abandonado.

— Sam, me ajuda com a porta! — Johnny colocou suas duas mãos sobre o metal enferrujado que os separava do lado de dentro.

De alguma forma muito estranha, nenhum daqueles hóspedes chegou a ver de fato o que havia na floresta naquele momento. Não ouviram nada mais do que grunhidos estranhos e o barulho de pegadas apressadas se locomovendo ao seu redor. E assim que os dois rapazes conseguiram abrir uma passagem, o grupo inteiro adentrou o esconderijo.

— Silêncio. Silêncio! — disse Johnny, observando o lado de fora através da janela. — Não façam barulho algum.

E por longos minutos, a única coisa que aquelas pessoas ouviram foi a respiração alheia que indicava seus medos e aflições. Além disso, o quase imperceptível balançar da corrente de Rose, que segurava consigo enquanto emitia uma prece, implorando por segurança.

Mas não demorou muito para que o silêncio fosse interrompido. Melissa foi a primeira a perceber que havia algo errado e, vagarosamente, sussurrou para o restante aquela notícia arrepiante.

— Há alguma coisa se movendo lá em cima. — a jovem apontou para a superfície do ônibus.

Foi quando Josh e Jesse se afastaram das janelas, chegando mais perto do centro do automóvel. Kendra e Mike fizeram o mesmo, com medo de que qualquer coisa pudesse invadir o lugar através dos vidros frágeis.

A angústia continuava entre eles, e conforme o som de algo sendo arrastado sobre o metal se propagava, cada um naquele esconderijo tinha mais certeza de que não sairia de lá tão cedo.

Pousada Woodhouse, 10:45 da manhã.

Diferente do que se passava na floresta naquele exato momento, os corredores da pousada continuavam em calmaria. Nem sequer o canto matinal dos pássaros ousou se intrometer desta vez.

Penélope se dirigiu até a cozinha com cautela. Seus olhos ardiam por conta da noite mal dormida e ela estranhou o silêncio imersivo que repousava sobre o local.

— Bom dia. — uma voz feminina lhe alcançou pelas costas. Era a Madison.

— Olá. Sabe onde a Adele está? E os outros? — perguntou a menina, enquanto servia um copo de água.

— Deve estar descansando. Eu fui até o hospital ver a Jullie e... quando voltei, já haviam saído. — a mulher respondeu, debruçando-se sobre a mesa.

— Certo. Você é a mãe da Jesse, não é? — Penny sorriu. — O que estão achando da ilha?

— Sim, eu sou. Ah, é simplesmente incrível. Sabe... depois de tanta coisa, acho que ela precisava disso. Esse tempo longe da cidade. Entende? — Madison explicou.

— Claro. E como está a Jullie? — a garota se sentou.

— O quê? — disse Madison, confusa.

— A Jullie. Você disse que foi vê-la no hospital. Como ela está? — insistiu.

— Ah, claro! Ela... ela está bem. Deve ser liberada amanhã, provavelmente. — um sorriso se fez em improviso.

Penny continuou olhando fixamente para o rosto da mulher. E a mulher continuara sorrindo. Mas como se algo quisesse que as duas fossem interrompidas, o telefone que ficava no escritório tocou. Uma chamada desconhecida trouxera a atenção de Penélope até o aparelho, deixando Madison na cozinha.

— Alô. Quem está falando? — a menina bebeu um gole d'água depois de questionar.

Mas a transmissão seguiu sem voz alguma por mais um tempo. Madison a seguiu até a sala sem que ela se desse conta. Curiosas com o suposto recado, ambas se encararam, esperando que algo acontecesse, mas nada. Ninguém disse absolutamente nada na chamada.

— Tem alguém me ouvindo? — ela repetiu.

— Acha que há monstros debaixo da cama, Penélope? — uma voz rouca perguntou.

— Bobagem. Eu perguntei quem está falando. — ela disse outra vez, mas agora com mais desconforto.

— Encontre-os. — e a chamada se encerrou.

— O quê? Espera! — ela tentou obter respostas, mas de nada adiantou.

Confusa, a garota encaixou o telefone sobre a plataforma na mesa e voltou a olhar para a mulher do seu lado. Penélope caminhou até o corredor vazio que levava à sala, em passos curtos.

— O que foi que disseram? — perguntou Madison.

— Você... consegue ouvir algo? — disse a menina, ao perceber um som vindo do andar de cima.

— Deve ser só a Adele. Talvez tenha despertado. — Madison se levantou também, seguindo a garota até o corredor.

— Eu acho que não. Isso pode parecer loucura, mas eu acho que há alguém na casa. — ela engoliu em seco.

— Penélope, eu sinto muito. Mas se isso for algum tipo de brincadeira, eu juro... eu... eu... — a ruiva gaguejou. Suas lembranças nunca a deixaram descansar depois do último ano, e agora, aquela sensação lhe tomara parte do peito novamente.

— Eu não estou brincando. Pode ficar aqui se quiser. Eu vou checar se Adele está no quarto. — Penny subiu as escadas.

Entretanto, a mulher não gostaria de ficar sozinha no andar de baixo depois do que ouviu. Então seguiu a jovem até o último degrau, em passos silenciosos, e as duas finalmente alcançaram o corredor de cima.

Conforme caminhavam sobre o carpete, a sensação que lhes dava a certeza de não estarem sozinhas aumentava. Cada vez mais e mais. Penélope sentia seus dedos tremerem e o coração palpitar, isso parecia estar levando-a de volta ao momento em que encontrou aquele emaranhado de sangue na floresta.

Um pouco mais, e as duas chegaram à frente da porta de um dos quartos. Estavam certas de que os barulhos de desconforto vieram de lá. Então se questionavam se algo de ruim estava acontecendo do lado da porta e, assim que perceberam a quem pertencia aquele cômodo, sentiram um pesar enorme em seus corações. Era o quarto de Adele.

Floresta de Shallow Wood, 11:15 da manhã.

Agoniantes. Era esta a palavra que melhor definia os últimos oito minutos que aquelas pessoas passaram trancafiadas no ônibus. Johnny permaneceu paralisado, com seus olhos sobre o vidro acinzentado durante todo esse tempo. Do outro lado, não enxergara mais do que o verde-musgo corroendo os arbustos em calmaria.

Não havia nada. O barulho incômodo no metal superior sumiu de repente, deixando-os apenas com o silêncio da floresta outra vez. 

— Que... que droga era aquela? — Melissa ergueu sua cabeça, saindo da parede dos fundos.

— Eu não faço ideia. De qualquer forma, já foi embora. — Josh manteve seus olhos na câmera fotográfica enquanto buscava por qualquer coisa que pudesse ter registrado.

— Podemos sair agora? Podemos sair e voltar para a pousada? — disse Kendra, ainda em choque com ocorrido.

— Não sei se é a melhor coisa se fazer. Talvez, seja lá o que for, ainda esteja lá fora. — Frankie se manifestou.

— Nós precisamos ir agora. — exclamou Jesse, quase que paralisada enquanto encarava o próprio smartphone.

— O quê? Espera aí. Acho que devemos ouvir o restante, não só a garota. — Johnny cruzou seus braços.

— Não! Nós... nós realmente precisamos ir agora. — Jesse repetiu, desta vez com relutância em seu olhar. Havia algo que a forçava a tomar esta decisão.

— O que aconteceu, Jesse? Você está bem? — Sam colocou suas mãos sobre o ombro dela, aproximando-se.

E no instante em que o rapaz chegou mais perto, entendeu o motivo de tamanha euforia. Jesse não estava preocupada à toa, tampouco fizera aquilo por conta do que tinha lá fora. Mas a mensagem em seu visor lhe garantia que, na verdade, ninguém naquele ônibus corria perigo. Mas alguém na pousada corria.

No torpedo, um aviso garantia à Jesse que de fato existia conexão entre os incidentes estranhos dos últimos dois dias. E como se não bastasse, a mensagem confirmava: "Alguém precisa cair novamente", seguido de uma pequena fotografia frontal da Woodhouse. O destino do remetente daquela mensagem era lá.

— Meu... meu Deus. Jesse tem razão. Precisamos voltar para a pousada. — Sam caminhou até a frente do ônibus, passando por todos que estavam sentados.

— O quê? Não vamos sair enquanto não nos explicar o que aconteceu, Colleman. — Johnny bloqueou sua passagem.

— Não! — o ruivo olhou direto nos olhos dele. — Johnny, não estamos brincando. Explicaremos tudo quando for a hora, mas agora, você só...

— Se não abrir esta porta agora, Johnny, haverá sangue em suas mãos. — Jesse se levantou, interrompendo os dois garotos. — E esse sangue não será de nenhum de nós. Há alguém correndo perigo neste exato momento, e é por isso que temos que voltar para a pousada a tempo. Eu não me importo se acredita em mim ou não, mas mantendo esta porta fechada, está tirando a vida de alguém!

Todos permaneceram em silêncio. À maioria daqueles hóspedes, as palavras da menina eram suficientes para causar pânico. Se haviam se tranquilizado com a notícia de que estavam seguros, essa sensação fora embora assim que Jesse se levantou. Era loucura. Só poderia ser. Mas disso só teriam certeza se fizessem o que ela pediu.

— Como... como alguém pode acreditar nisso? Você está maluca. — Russell continuou a trancar a passagem dos dois.

— Vá se ferrar, Johnatan. — Beatrice colocou suas duas mãos na camisa do rapaz. — Disse que queria manter sua irmã em segurança, não disse? Então abra a droga desta porta imediatamente e nos deixe sair. — seus punhos continuaram cerrados ao nível do pescoço de Johnny, enquanto ela pusera seu olhar esbravejante sobre ele.

Não encontrando outra escolha, Johnny se afastou da saída assim que percebeu que estava causando mais medo aos hóspedes do que qualquer um ali. Jackie e Cindy não perderam tempo e saíram do ônibus o mais rápido possível. E em um instante, todas as pessoas caminhavam rapidamente sobre a trilha que as levaria de volta à pousada.

Pousada Woodhouse, 10:25 da manhã.

— Adele, está aí dentro? — Penélope repetiu pela terceira vez, na esperança de que a mulher a respondesse.

— Adele! Abra esta porta. Por favor! — Madison continuava batendo sobre a superfície de madeira.

E quanto mais tempo passava, mais as duas se certificavam de que havia alguém com a senhora do lado de dentro. Sua voz ofegante era perceptível e, mais do que isso, sons que indicavam algo ruim acontecendo. Penélope começou a entrar em desespero quando ouviu os gritos de Adele. Ela estava em perigo de verdade.

— ADELE! POR FAVOR! — Madison não sabia o que fazer.

Como única escapatória, as duas começaram a empurrar seus corpos contra a porta, esperando que a maçaneta se quebrasse de uma vez. Pensaram em chamar o xerife, mas algo lhes dizia que não voltariam a tempo se o fizessem.

Então, depois de alguns segundos, a fechadura se quebrou e a passagem foi aberta. Penélope e Madison invadiram o quarto em rapidez. E o que viram assim que adentraram o cômodo era no mínimo perturbador.

Embora quisesse entender o que realmente aconteceu dentro daquele quarto, Penny foi obrigada a se retirar quando um cheiro horrível invadiu suas narinas. A garota levou a mão até a boca e voltou para o corredor.

— Minha... minha nossa. — Madison estava desacreditada. Aquilo não podia ter acontecido.

As paredes haviam sido manchadas com sangue. O sangue de Adele. Sobre a cama, parte de seus órgãos foram deixados. E perto do tapete, o par de calçados que a mulher utilizava, que parecia ter sido colocado ali como um recado, uma lembrança. Mas afinal, nenhuma das duas pôde identificar onde estava o corpo.

Caminhando até a janela do quarto, Madison o encontrou. Rapidamente entendeu o que aconteceu naquele cômodo. Adele foi esquartejada enquanto dormia, por isso não teve a chance de pedir socorro tão rápido. Logo depois, sua barriga supostamente foi aberta e seus órgãos retirados. Por fim, seu corpo foi colocado sobre o telhado do lado de fora da janela. Não tão visível pra que fosse visto do lado de fora, mas sangrento o suficiente para chamar a atenção dos que entrassem no quarto.

A mulher também não aguentou permanecer naquele lugar por mais de dois minutos. Assustadas e incoformadas com o acontecido, as duas desceram as escadas e deixaram a cena para trás. Ninguém sabia o que fazer. Nem como aquilo tinha acontecido. Ou por quê.

O que se sabe é que, alguns minutos depois disso, Jesse e o restante dos hóspedes retornaram para a pousada. A primeira coisa que encontraram foi as duas mulheres sentadas no degrau da escada. Seus olhos entregavam o quão apavoradas estavam. Aquilo era um pesadelo.

— Mãe? Mãe! — Jesse correu para abraçá-la. — O que foi que aconteceu? Nós recebemos uma... uma...

— Um assassinato. — Madison interrompeu a própria filha ao dizer as duas palavras mais chocantes que ouviriam naquela manhã.

— O... o quê? — Apesar de já imaginar que algo de ruim aconteceria, Jesse se espantou quando sua mãe deu a notícia.

— Do que ela está falando? — Kendra questionou, se aproximando. — Assassinato? Onde?

— Fique calma, Kendra. — Mike a abraçou outra vez.

Todos no salão ficaram em silêncio por alguns segundos. A dúvida estava matando cada um ali. Então, depois de um tempo calada, a pequena Penny resolveu respondê-los.

— Lá em cima. — ergueu seu dedo, apontando para o segundo andar.

Johnny foi o primeiro a ultrapassar as duas e subir as escadas. Frankie, assustado com o que acabara de ouvir, não pensou duas vezes antes de seguir o rapaz até o andar de cima. E por fim, não podendo ficar ali, impaciente e sem resposta alguma, Beatrice foi atrás dos dois homens.

Pouco tempo depois, o grito da francesa, ouvido pelos que ainda estavam no salão, revelou exatamente o que acontecera. O corpo de uma mulher por inteiro desfigurado foi encontrado pelos três assim que adentraram o quarto.

Para a maioria das pessoas ali presentes, isso significava outro incidente maldito. Talvez uma praga que havia amaldiçoado a pousada, levando em conta os outros dois ocorridos. Mas para os quatro jovens, distantes do restante do grupo, isso era a certeza de que havia algo maior acontecendo.

O pânico fora instaurado de uma vez. Todos comentavam, entre cochichos, a possível causa da morte da administradora. Mas antes que alguém pudesse tomar uma inciativa, mesmo que fosse Frankie o único com poder suficiente para acalmar os ânimos do grupo, algo interrompeu a todos. O mesmo barulho angustiante do telefone a tocar.

Uma vez que já imaginava quem poderia estar do outro lado, Jesse Greene foi a primeira a caminhar até o escritório e pôr suas mãos sobre o aparelho de cor vermelha. Esperou que os outros hóspedes a seguissem até lá, e então finalmente atendeu à chamada.

— Quem está aí? Quem está do outro lado? — ela implorou, após cinco segundos de uma respiração arrepiante e nada mais do que o silêncio.

— Alguém que pode ajudar. — finalmente ela obteve uma resposta.

— Xerife? É... você? — Jesse segurou com mais força o aparelho.

— Me diga o que aconteceu, Jesse. — ele reafirmou.

— Como... como sabe o meu nome? — perguntou, preocupada.

— Eu sempre me lembrarei de sua voz. — respondeu.

— Não, não, não. — Jesse suspirou. — Isso... isso é mentira. Escuta, seja lá quem for, precisamos de ajuda. Algo muito ruim acabou de acontecer!

— Pode se afastar do telefone para que os outros ouçam minha voz, por favor? — ele insistiu, calmamente.

E então, dando um passo atrás do outro, a garota largou o aparelho sobre a mesa e se juntou aos demais. Frankie foi o primeiro a começar a falar assim que viu Jesse se afastando.

— Xerife! Xerife, eu... eu não sei o que aconteceu. — ele explicava, em prantos. — A Adele, ela está... está...

— Eu não sou o xerife. — a voz sussurrou.

[Música: And so It Begins - Klergy]

Foi quando todos ao redor do telefone se encontraram paralisados. Se a pessoa do outro lado da linha não era o xerife, então era um estranho. E quais seriam as chances de um estranho ter feito uma ligação coincidentemente no mesmo horário em que um corpo fora encontrado?

— De que droga está falando? — Johnny agarrou o telefone. — Quem é você?

— Acredito que eu seja a única pessoa que sabe o que aconteceu com Adele. — o sujeito continuou.

— Você... você sabe quem fez aquilo com ela? — questionou Rose, amedrontada.

— Com certeza. Porque eu fiz aquilo com ela. Mas... se eu disser quem sou eu, isso acabaria agora. Então vamos nos manter em anonimato. — explicou.

— Está dizendo que... oh... minha nossa. — Kendra levou sua mão até a boca. — Você é um assassino!

— Talvez. Mas agora que encontraram o primeiro corpo, não há nada que possam fazer a não ser se posicionarem. — no momento em que disse aquilo, todos se calaram.

— Nos... o quê? Nos posicionar? Você ficou louco? Precisamos chamar a polícia. — Mike gritou, confuso.

— Faça o que achar necessário, Mike. — e outra vez, o estranho na ligação sabia o nome do rapaz. — Só estou tentando dizer que... bem, vocês todos são como a Adele. Para alguns, talvez eu não pareça tão estranho assim.

Jesse entendeu aquelas palavras de imediato. Se restava alguma dúvida, agora ela fora respondida. A morte de Riley, o ataque à Jullie, o suposto cadáver na floresta, e agora um assassinato. Jesse Greene sabia que isso era real. Estava acontecendo de novo. E quando ouviu que precisariam se posicionar, ficou tudo ainda mais claro: teriam que jogar de novo.

Mas mesmo que para ela o significado estivesse tão claro assim, a maioria das pessoas naquele salão não sabia o que estava acontecendo. Dúvidas surgiam a cada momento junto de um enorme disparo em seus peitos. E antes que a chamada se encerrasse, aquela voz tornou a falar. Um último aviso.

— As coisas não poderiam ter acontecido de outra maneira. — uma pausa, e então ele encerrou. — Fico feliz que tenham escolhido esta ilha para as suas férias. Bem-vindos à pousada Woodhouse. E que o jogo comece!

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