Temporada 1 - Capítulo 8| "Não procure respostas"

Cafeteria Summer Coffee, 11:52 da manhã.

Seth foi o último a se sentar ao redor da mesa mais afastada das outras, onde costumavam se aconchegar sempre que iam ao estabelecimento. Ele encarou os demais e esperou que alguém dissesse algo, mas ninguém fez isso. Estavam com medo.

— Abram a boca. Qual é o plano? — Jaremy apoiou seus braços sobre a superfície.

— Reparem no vídeo. — Seth colocou o telefone no centro. — Não reconhecem o fundo da gravação? Porque eu sim!

— Como assim? — disse Josh, espremendo os olhos pra que pudesse enxergar alguma coisa. — Eu não... não me lembro. Que lugar é esse?

— Ah, Deus... é a fábrica de brinquedos. — Jaremy exclamou. — Nós passamos tanto tempo naquele lugar. Vocês não se lembram? — o rapaz encarou Millye e Josh.

— Exato. Passamos boa parte da nossa infância lá. — Seth acrescentou. — Eu me lembro de quando nossos pais nos deixavam brincando no playground. Mas mais tarde a fábrica foi fechada pela falta de movimento, e o playground também.

— Bem, eu me lembro disso. Mas por que ele escolheria esse lugar? — Josh aproximou seu rosto dos outros.

— Porque ele é um maníaco, um psicopata. Quer lugar mais assombrado que esse? Difícil de encontrar. — Jaremy falou.

— Na verdade... vocês disseram ter passado boa parte da infância lá. Não é? Então talvez seja isso. Esse é o jogo dele. Ele quer usar qualquer coisa que afete vocês de alguma forma. Por que não escolher uma lembrança boa e transformá-la num inferno? — Jesse explicou. — Quero dizer... eu sou nova nessa coisa de jornalismo. Mas se tem uma coisa que percebi desde que cheguei aqui, é que a pessoa por baixo dessa máscara quer deixar um corte bem fundo em cada um de nós. Ele quer nos marcar!

Joshua fitou a bizarra compostura da menina nova e vagarosamente afastou seus dedos da mesa, cutucando a Campbell, ao seu lado. Os dois se encararam por certo tempo. Era o suficiente pra que soubessem que Greene talvez soubesse demais.

— Ótimo, a novata tem um ponto. — Millye interveio. — E o que fazemos agora? Devemos ir até lá?

— Com certeza. Se é lá que Jenny está, precisamos encontrá-la antes que seja tarde demais. — o Evans declarou, se levantando antes que os outros. Mas voltou a se sentar quando percebeu que a discussão não tinha acabado.

— E quanto à polícia? Têm certeza de que estamos fazendo certo indo até lá sozinhos? — Seth perguntou, mesmo que aquela resposta fosse óbvia.

— Eu acho que ele já deixou bem claro: nada de policiais. — Millye disse.

— Exato. E de acordo com a minha experiência com a oficial Katy no outro dia, eu acho que não nos ajudariam muito. — Jesse completou.

— Então é isso. Precisamos ir até aquela fábrica e tirar a Jenny de lá. Estão prontos? — Josh se levantou outra vez.

— E quanto a Suzen e Claire? Devemos avisá-las? — Jesse saiu da mesa também.

— Vou enviar mensagem durante o caminho. Mexam-se! Jenny está ficando sem tempo e nós também. — concluiu Millye.

Os cinco foram até o carro de Jaremy, estacionado do outro lado da rua. O rapaz começou a dirigir em direção àquele lugar abandonado sem esperar mais. O céu agora já não estava mais tão claro assim, e as nuvens começavam a esconder o sol. Não era surpresa que em Rainwood as coisas sempre ficavam mais obscuras ao cair da noite, mas naquele caso, a chegada do anoitecer nem era necessária.

Depois de alguns minutos na estrada, finalmente haviam chegado ao seu destino: a fábrica abandonada de brinquedos. As paredes pareciam querer desabar a qualquer momento, mas segundo Seth, era lá que Jenny estava. E era lá que eles precisariam entrar.

— Certo, então... nós vamos nos separar? — perguntou Jaremy, caminhando na direção do prédio.

— Está brincando, né? Em que mundo de faz de conta você vive? — Josh riu. — É loucura. As coisas começam a dar errado depois que as pessoas se dividem. Nunca assistiram filmes? — o garoto cruzou os braços.

— Na verdade, Jaremy está certo. Deve haver uma entrada pelos fundos, talvez possamos encontrá-la mais rápido assim. — Jesse acrescentou, mesmo que também não concordasse muito com a ideia.

— Isso. Com sorte, estamos adiantados e o grande psicopata ainda não retornou ao covil. Vai dar tudo certo, pessoal. — Seth sorriu, saindo em direção à entrada.

Jesse seguiu o rapaz até a porta da frente, que por sinal estava bloqueada com algumas tábuas. Jaremy, ao perceber que a dupla havia se distanciado, iniciou a caminhada até o pequeno canteiro que levava aos fundos do prédio.

— Nós vamos com ele? — Josh encarou Millye.

— Com certeza sim. Não quero atrapalhar o casal. — Millye bufou, caminhando na direção em que Jaremy havia ido.

Na porta da frente, o rapaz tentava a todo custo retirar a placa de madeira que bloqueava a maçaneta. Pichado em preto, estava escrito: "Não entre. Fantasmas aqui."

— Não é à toa que esse lugar foi fechado a sete chaves. — Seth sorriu, ainda tentando desbloquear a passagem.

— Então... havia fantasmas de verdade aqui? — Jesse iluminou o pequeno buraco que revelava o lado interno, com a lanterna.

— É o que diziam. Eu era tão pequeno que nunca devo ter visto nada do tipo, mas o lugar ganhou fama por esse motivo. — o garoto finalmente conseguiu tirar a primeira tábua.

— Não me surpreendo que ele tenha escolhido este lugar como cativeiro. — Jesse ajudou-o a tirar o último pedaço de madeira que impedia a passagem. — Pronto. Podemos entrar. — a garota limpou as mãos em sua blusa, atravessando o caminho escuro em seguida.

Do outro lado do local, Jaremy e os outros dois haviam encontrado um caminho mais fácil. Ultrapassaram um pequeno buraco na parede, e em alguns segundos estavam dentro do covil abandonado.

— Santo Deus! Isso é medonho. — Millye iluminava os brinquedos velhos deixados pelo chão, enquanto seguia os dois garotos.

— Dizem que o antigo dono morreu em uma dessas máquinas. — Josh exclamou. — Ele acabou caindo em um dos processadores de brinquedos, e seu corpo foi moído. Até o último pedaço. — o menino apontou a lanterna para os outros dois. — Desde então, seu espírito aterroriza a todos que entram aqui. E provavelmente não foi o primeiro dos funcionários a ter morrido tragicamente.

Jeremy parou de andar enquanto prestava atenção no que Josh dizia. Millye abaixou a lanterna, sentindo um grande pesar em seu corpo.

— Isso é sério? — Millye quase gaguejou.

— É claro que não. — Evans sorriu. — Eu só queria assustar vocês. Vem, vamos continuar.

Jaremy ignorou completamente o garoto, continuando a seguir o corredor escuro. Enquanto Millye, após respirar fundo, não tiraria mais os olhos de cada centímetro daquele lugar.

Perto dali, Seth caminhava ao lado de Jesse por um corredor estreito. A luz das lanternas pouco iluminava o caminho à frente deles, enquanto qualquer passo em falso poderia atrair um carcereiro raivoso para perto deles.

— Você se importa? — Seth levou sua mão até a de Jesse, entrelaçando seus dedos.

— Com certeza não. — Jesse sorriu. — Pelo menos não vamos acabar nos separando aqui dentro.

Os dois continuaram caminhando entre as paredes velhas, até que repentinamente ouvissem um barulho vindo de algum corredor próximo.

— Ouviu isso? — Jesse olhou para trás, apertando suas mãos.

— Relaxa. Esse lugar é bem velho, deve ter sido qualquer pedregulho deslizando pelas paredes, ou... Suzen e Claire. Millye avisou a elas que estaríamos aqui. Mas eu prefiro a ideia do pedregulho. — o rapaz separou seus lábios em um riso sincero. — Anda, não vou deixar nada acontecer com você.

Do lado de fora, Suzen e Claire haviam finalmente chegado ao local de encontro. As duas caminharam até a porta e perceberam a pequena passagem aberta a força.

— Já passaram por aqui, Claire. Bom... se foram nossos amigos ou aquele psicopata, eu não sei. — Suzen respirou fundo, abraçando ao seu próprio corpo.

— Suzen, você precisa se acalmar. — Claire pousou seu braço sobre os ombros da outra. — Eu disse pra você que íamos encontrar a Jenny e voltaríamos a ser o trio. Lembra? E é isso que vamos fazer. — Claire jogou sua mecha para trás da orelha, segurando firme a mão da amiga antes de entrar naquele pesadelo. — Agora respira fundo e mantém os olhos bem abertos.

Suzen assentiu com a cabeça, tentando se manter confiante enquanto suas pernas pareciam tremer. E cada barulho que as duas ouviam lá dentro se assemelhava rapidamente ao de uma faca cortando algo, um pedido de socorro ou passos apressados. A teoria de que a mente costuma pregar peças àqueles que têm medo se concretizara.

— Não foque no medo. — Claire apontou a lanterna para o rosto de Suzen. — Foque em mim. Tá bom?

— Tá... tá bom. Vamos conseguir. — Suzen sorriu brevemente, voltando a caminhar.

No lado norte do prédio, o trio ainda seguia em linha reta, cruzando os corredores até que pudessem encontrar o real paradeiro da garota perdida. Nenhum deles havia sido deixado para trás ou se afastado durante o caminho e isso era um bom sinal. Pelo menos, até agora.

— Fala aí, Evans. — Jaremy puxou assunto enquanto caminhavam. — Não acha estranho que aquela garota tenha aparecido repentinamente enquanto as pessoas morrem?

— Com toda a certeza. Mas eu não sei se ela faz o tipo que tira a máscara no final, Jaremy... — Josh virou a lanterna para ele. — Você até que faz.

— Está dizendo que estou na sua lista de suspeitos, Sherlock? — disse o rapaz, enquanto produzia o barulho irritante de um chiclete sendo mascado em sua boca.

— Não ainda. Mas eu tenho vários espaços em branco nela. Se quiser ocupar um deles, me avisa! — Josh gargalhou e então dispensou o restante daquela conversa idiota.

E de repente, as vozes dos dois meninos pareciam ter se distanciado consideravelmente para Millye. A menina acabou se distraindo com algumas marcas no chão, que lembravam a pegadas em meio à poeira cinzenta.

— Olha, se vocês puderem parar de... — quando virou seus olhos para frente, não enxergou nada mais do que o escuro fúnebre do corredor. — Jaremy? Josh?

Millye começou a caminhar mais rápido, percebendo que havia ficado para trás. Mas antes que chegasse a conseguir clamar por eles novamente, acabou sendo derrubada por um obstáculo no caminho.

— Brinquedo idiota. — a garota murmurou, ao enxergar um pequeno dinossauro de pelúcia sendo iluminado pela luz da lanterna.

Millye se arrastou até o objeto luminoso, enquanto tentava procurar seus óculos que haviam se distanciado.

— Droga. Droga, droga, droga! Não agora. — começara a entrar em pânico. Não encontraria os óculos de forma alguma daquele jeito.

Respirando de forma ofegante, a garota deixou que o pavor a tomasse. Parecia conseguir ouvir passos se aproximando, só não conseguia enxergar de quem eram.

— Não, não, não... — repetiu infinitas vezes, ainda na procura do pedaço de plástico com duas pequenas lentes.

— Procurando isso? — a voz masculina atingiu os ouvidos de Millye de repente, acompanhada de um susto.

— DROGA, JAREMY! — Millye ergueu seus olhos ao reconhecer o físico do menino. — Nunca mais faça isso.

— Fazer o quê? A perdida aqui é você. — riu, levando suas mãos até o rosto dela e encaixando os óculos.

— Não ferra. Onde está o Josh? Devíamos ter ficado juntos. Era o plano. — Millye limpou rapidamente as lentes no encaixe.

— Se você não tivesse ficado para trás, talvez estivéssemos agora. — Jaremy suspirou.

— Me desculpa. Eu tive a impressão de ter visto algo, mas... deixa pra lá. Vamos procurá-lo antes que seja tarde. — disse ela.

Os dois continuaram caminhando por aquele espaço escuro. Millye deixou de lado as pegadas que poderiam ter de fato ajudado em algo, mas ficar vivo era mais importante agora. Afinal, ninguém conseguiria tirar Jenny de lá se não restasse de fato alguém vivo para fazer isso.

Ao lado sul do lugar, próximo à entrada, Claire e Suzen seguiam de mãos dadas, ultrapassando as paredes frágeis que separavam cada bloco.

— Sinceramente, Claire. Nunca iremos encontrá-la assim. Esse lugar é enorme, a menos que uma de nós ouça ela gritar, eu não acho que... — Claire tampou a boca da menina, levando seu dedo até os lábios dela.

— Para. Ouviu isso? Pareceu um interruptor. — Claire olhou para o lado oposto.

— Quê? Impossível. Esse prédio está abandonado há anos. — Suzen apontou a lanterna para a direção que Claire mencionou.

— Eu não teria tanta certeza assim... — disse a da boina, ao perceber que de fato havia uma sala sendo iluminada por alguma lâmpada.

— Ok. Isso já é bizarro demais, Claire. — Suzen ultrapassou a garota, proibindo a passagem dela ao se posicionar em sua frente. — Primeiro os barulhos estranhos, agora uma luz se acende em um lugar velho desses. Acha mesmo que eu vou entrar lá? — Suzen cruzou os braços.

— Suzen... — Claire fechou os olhos, respirando fundo. — eu amo você. E eu daria a minha vida pra que você saísse viva desse lugar. Mas nesse momento, Jenny corre perigo. E aquela sala estranha com uma luz — apontou. — é nossa única pista até agora. Querendo você ou não, eu vou até lá.

Claire ajeitou sua boina rapidamente, começando a andar na direção da saleta que se iluminava por uma luz amarelada.

— Claire, espera! Eu... eu não... droga! — Suzen suspirou, começando a seguir a garota.

Não tão longe dali, perto da parte leste do local, Seth e Jesse ainda tentavam encontrar o caminho que levaria até Jenny.

— Seth, eu sinto muito em discordar, mas tem certeza de que estamos no lugar certo? — Jesse o encarou. — Porque estamos andando há mais de meia hora, e não encontramos a Jenny e sequer os nossos outros amigos. Tem alguma coisa errada.

— Só pode ser aqui, Jesse. Eu vi a logotipo da fábrica no fundo do vídeo. É aqui! — Seth confirmou.

— Começo a pensar que ele fez isso por gosto. Talvez para nos atrair para o lugar errado, porque seria muito óbvio deixar uma pista tão entregue assim. — Jesse exclamou.

— Bem, eu sinto muito em dizer isso, Jesse Greene, mas... você está completamente errada. — Seth sorriu, apontando a lanterna para um buraco pequeno perto do chão.

— O que é aquilo? — Jesse se aproximou devagar.

— É o cachecol rosa de Jennifer Hopps. Qualquer um a um quilômetro de distância poderia reconhecê-lo. Eu te disse, Jesse. Estamos no lugar certo. — Seth se aproximou do buraco. — Anda, me ajuda a levantar isso aqui.

A menina largou a lanterna no chão, deixando que o objeto iluminasse uma pequena parcela daquele nada aconchegante local.

— O que é isso? Parece com um túnel. — Jesse tentava enxergar o que havia do outro lado do buraco.

— Pois é. Mas é tão estreito que... — Seth fazia esforço para puxar os obstáculos que cobriam a passagem. — Droga. Tive uma ideia. Vai ser perigoso se nós dois entrarmos ali e o teto desabar sobre nossas cabeças, então eu faço isso. Consegue segurar a passagem aberta até que eu entre lá com a lanterna?

— Não está falando sério, está? Não sabemos o que pode haver ali. — Jesse respondeu.

— Mas precisamos, Jesse. Eu prometo que vai ser rápido. — o rapaz se abaixou, arrastando seu corpo para o outro lado.

— Consegue ver algo? — Jesse se esforçava para manter o buraco aberto.

— Um pouco. — Seth segurava a lanterna com a boca, enquanto colocava seus braços sobre qualquer coisa que estivesse no chão. — Mas parece que não é só o casaco de Jenny que está aqui. Também tem um pouco de sangue.

— O quê? Meu Deus. Eu acho que... — enquanto tentava falar, Jesse acabou deixando que a estrutura pesada escapasse de suas mãos, engarrafando a passagem mais uma vez. — Droga! Seth, você está bem?

A menina correu até a lanterna e a juntou, voltando até o local e tentando iluminar o outro lado através dos pequenos furos.

— Sim, relaxa. Eu acho que há uma passagem no fim desse túnel. Vou tentar dar a volta e encontrar você lá. Okay? — a voz de Seth começava a se distanciar. — Vai dar tudo certo!

Jesse levantou e começou a seguir o caminho que, segundo ela, levaria até a suposta passagem. Mas as paredes eram tão estreitas e mal intercaladas que cada passo que a garota dava parecia levá-la a um caminho diferente.

E naquela sala estranha, que parecia ter sido colocada lá de propósito para que as duas garotas encontrassem, Suzen e Claire começavam a procurar qualquer coisa que lhes ajudasse.

— Não há definitivamente nada de importante aqui, Claire! — Suzen revirava cada objeto que havia encontrado no chão.

— Precisa ter algo. Eu não sei, talvez um desses livros nos leve a uma... a uma passagem secreta. — Claire averiguava uma parede composta por uma coleção inteira de capas coloridas.

— Fala sério, Claire. Estamos em um episódio de Scooby-Doo? Você já foi melhor do que isso. — Suzen revirou os olhos.

— Espera, Suzen... está ouvindo isso? — Claire parou de se movimentar, prestando atenção no barulho que vinha de longe. — É como se alguma máquina tivesse sido ligada.

— Ah, não. Eu não saio dessa sala nem que me paguem, Claire. Se há um barulho estranho vindo de longe, por que nós duas precisamos ir até lá? — Suzen apoiou seus braços na própria cintura.

— Porque Jenny pode ter ligado essa máquina para chamar a nossa atenção. Droga, Suzen! Você precisa... — Claire respirou fundo antes de falar. — Quer saber, continue aqui. Eu voltarei logo, com sorte, Jenny virá comigo. Só toma cuidado.

A menina se despediu da outra, deixando a única sala com iluminação para trás e se jogando por completo em um corredor repleto de escuridão.

— Claire! Claire, não foi isso que eu quis dizer! — ela respirou fundo. — Tudo bem, faça o que quiser. — Suzen voltou a olhar para a prateleira de livros. — Ei, bonitinho. Eu não havia visto você aí.

A garota caminhou até lá e retirou, do monte de outros livros, aquele que se intitulava "Anuário - 2001", apesar de ser estranhamente sem sentido que um livro pertencente à escola da cidade estivesse lá.

— Vamos ver o que esse desgraçado está escondendo aqui. — a garota debruçou-se sobre a pequena mesa, começando a passar as páginas do caderno.

Enquanto isso, Millye e Jaremy haviam se aproximado ainda mais daquele barulho arrepiante que parecia vir de uma das máquinas. A dupla desceu as escadas que provavelmente levariam ao subsolo do lugar.

— Esse lugar cheira a morte. — Jaremy tampou o nariz, enquanto era quase impossível ouvir algo devido ao som do maquinário que aumentava a cada segundo.

— Jaremy, eu não acho que Josh esteja aqui. — ela averiguou. — Mas de qualquer forma, alguém acionou isso para que... MEU DEUS!

Millye agarrou o corpo de Jaremy ao dar de cara com alguém, enquanto chegavam ao fim da escada. Aquele barulho horripilante fez com que a situação parecesse mil vezes pior, quando na verdade, era apenas o Josh. Mas o garoto não trazia boas notícias.

— PRECISAMOS IR! — Josh agarrou os ombros de Millye, sacudindo seu corpo. — TEMOS QUE SUBIR AGORA!

— Josh, o que foi que aconteceu? — Millye começava a ficar apavorada, sem entender do que o garoto estava falando.

— Millye, eu acho que ele está aqui. Eu ouvi os passos, e tenho certeza de que eles não eram seus. Havia alguém lá, Millye! NÓS TEMOS QUE IR! — Josh respirava ofegante.

— Não podemos! E se esse alguém for a Jenny? E se ela precisar da nossa ajuda? — Millye rebateu, tentando apontar a lanterna para a sala das máquinas atrás do garoto.

— Olha, se vocês querem ficar, a escolha é de vocês. — Jaremy interrompeu a conversa. — Esse barulho já me deu nos nervos. Eu tô caindo fora! — o rapaz começou a subir as escadas, deixando os outros dois sozinhos lá embaixo.

— JAREMY! JAREMY, ESPERA! — Millye tentou chamar a atenção dele, mas já era tarde. — Droga. Olha, Evans, pode ser um covarde como o Jaremy, ou me ajudar a encontrar a Jenny nesse lugar. Você é quem sabe. — a menina começou a caminhar entre os enormes tanques que quase tremiam com o impacto sonoro naquela sala subterrânea.

— Droga, Campbell! — Josh jogou sua franja para o lado, começando a caminhar atrás dela.

Uma luz vermelha havia se acendido há poucos minutos enquanto o barulho disparava, mas os dois adolescentes estavam tão preocupados em sair vivos daquele lugar que mal haviam percebido.

— Se Jenny estiver aqui, ela provavelmente deve estar escondida em algum canto. E ele não vai... — Millye parou de falar ao ouvir a voz de Josh.

— É ele. — o garoto murmurou.

— O quê? — Millye estranhou.

— Atrás de você, Millye. É... é ele. O ASSASSINO! CORRE, MILLYE! — Josh agarrou o braço da garota, começando a dar a volta em uma das máquinas, tão grandes que formavam pequenos caminhos no espaço entre uma e outra.

No fim do pequeno corredor, lá estava ele. Parado, segurando uma faca afiada na sua mão esquerda. Seu manto negro cobria quase o corpo inteiro, com exceção das botas que eram visivelmente da mesma cor. Em seu rosto, uma máscara que parecia ter sido feita a mão, cobrindo-o com a ajuda de um capuz.

— VAI, MILLYE! RÁPIDO! — Josh gritava, enquanto olhava para trás a cada dois segundos.

A garota continuava a correr rapidamente, mesmo sem saber onde o mascarado estava e nem de que lado ele apareceria. Foi quando, de repente, Josh sentiu seu corpo sendo levado até a parede. O maníaco de vestes negras havia empurrado o garoto contra uma das máquinas, justo aquela que emitia o som desconfortante.

— JOSH, NÃO! — Millye virou para trás, parando de correr ao perceber que o menino havia sido atacado.

— Droga... droga! — Josh tentava dizer, enquanto o assassino segurava seu pescoço com a mão. Com a outra, ele empurrava a faca afiada contra o rosto de Josh, que só não tinha ainda sido atingido porque o garoto impedia o ato com a parte externa do braço.

Dois segundos se passaram. Três. Quatro. Se ninguém fizesse nada, a próxima cena que Millye Campbell presenciaria seria a do amigo tendo seu rosto totalmente desfigurado por uma faca. Foi então que a garota juntou um pedaço de ferro qualquer que estava no chão e o lançou contra o mascarado, acertando sua cabeça.

— DEIXA ELE EM PAZ! — Millye derrubou o objeto depois de golpear o assassino.

O vilão, por sua vez, deixou que o corpo de Josh caísse no chão novamente, enquanto se afastava dos dois. Ele levantou antes que Millye percebesse, e seguiu em direção às escadas.

— JOSH, JOSH! — Millye se abaixou, segurando o corpo do menino. — Minha nossa. Você está bem?

Suas mãos tremiam. Acabava de ter presenciado a quase morte precoce de um garoto da sua idade.

— Eu acho que sim. Você... você salvou a minha vida, Millye. — ele tentou sorrir, enquanto respirava de forma mais calma, mas ainda com desespero.

— Me agradeça depois, Evans. Precisamos voltar lá pra cima antes que ele encontre nossos amigos. Vamos logo. — disse Millye.

Os dois saíram da sala das máquinas e começaram a subir as escadas mais uma vez. Nesse mesmo momento, Suzen averiguava cada página daquele anuário antigo, na esperança de que suas amigas voltassem logo.

— Esses nomes não me são estranhos. Masha Williams, eu... eu quase consigo lembrar. — ela suspirou. — Espera. O que essa foto faz aqui? — Suzen perguntou a si mesma.

A garota estranhou o fato de que uma das fotos, da estudante nomeada como Riley Belmont, estava circulada em vermelho, com a seguinte frase ao seu lado: "Você ainda está no jogo".

Com medo, Suzen fechou ligeiramente a capa do anuário, se afastando da mesa. O que ela não esperava é que naquele momento já não estaria mais sozinha na sala. A menina ouviu passos rápidos se aproximando, e mesmo sem se virar, deduziu que fossem de sua amiga Claire. Não eram.

— Claire? Você não vai acreditar no que eu... — Suzen virou seu rosto para a direção da porta, podendo enxergar quem estava de fato lá. — AH!

Seu grito teria sido ouvido, se ela ao menos tivesse conseguido executá-lo. A garota foi pega de surpresa quando o mascarado tampou sua boca, puxando o corpo dela para si. Ele empurrou Suzen para o chão, que por sua vez começou a se arrastar até o outro lado da sala, tentando escapar das garras daquele monstro.

— NÃO, NÃO, NÃO! POR FAVOR, ME DEIXA EM PAZ! — a menina gritava, implorando por sua vida.

Ele caminhou lentamente até ela, puxando seus cabelos enquanto mantinha o resto de seu corpo no chão. Suzen chorava de dor, de medo, de desespero. Mas uma pequena parte dela ainda acreditava que conseguiria sair viva.

Em um golpe rápido, a menina se livrou das mãos do assassino, conseguindo escapar e apoiar-se na mesa. Mas antes que tirasse sua mão de cima da superfície, ele cravou sobre ela algum objeto cortante com toda a sua força, prendendo os dedos da garota.

— SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA! — Suzen implorava que alguém viesse. Mas para o seu azar, ninguém chegaria a tempo.

O mascarado usou um dos equipamentos deixados no chão da sala para realizar o próximo ato. Ele apanhou uma corda e a jogou ao redor do pescoço de Suzen, começando a puxar o corpo dela para si. Conseguindo desprender sua mão da mesa, a garota finalmente caiu no chão de novo, podendo enxergar a saída tão próxima. Estava logo ali, a menos de dois metros, a porta que levaria ela para o corredor escuro, onde encontraria seus amigos. Mas era impossível que ela alcançasse a borda da porta antes que ele a pegasse.

Suzen literalmente cravou suas unhas na elevação que encontrou no chão. Enquanto a corda fazia seu pescoço ser esmagado, a menina ainda tentava impedir que fosse levada. Seus dedos sangravam, e quanto mais ela tentava segurar, mais dor sentia. Suzen já não conseguia mais respirar. Apesar de seu coração bater rápido demais, sua visão começava a ficar embaçada, e pouco a pouco ela desistiria de tentar.

Como um último golpe, o das vestes negras levantou e caminhou até o corpo dela, antes juntando um dos tacos que preenchiam a decoração dos brinquedos na parede. Ele usou o objeto para acabar de uma vez por todas com o sorriso de Suzen, fazendo com que seu rosto se tornasse apenas sangue, sangue e mais sangue. O brilho nos olhos da garota foi vagarosamente deixando de existir, até que aquele resto de esperança também deixasse o corpo dela. Suzen McLane estava morta, e ninguém poderia fazer mais nada para mudar isso.

Ali perto, Claire ainda se locomovia no escuro aterrorizante quando acabou esbarrando em alguém. Por sorte, não era um maníaco com uma faca.

— Seth? Porra! Achei que estivesse com a Jesse. — a garota falou, tentando se recuperar do susto.

— E eu estava, mas começo a achar que ela me deixou sozinho por algum motivo. — o rapaz tentava limpar a sujeira de sua roupa, devido ao túnel onde estava há pouco. — Onde está a Suzen? E os outros?

— Eu... eu não sei. Deixei ela na sala há poucos metros daqui. Ouvi o barulho das máquinas, então vim correndo porque achei que Jenny poderia ter acionado. — Claire explicou.

— É, eu também ouvi. Jesse deve ter ido pra lá também, por isso não me encontrou onde deveria. Vem, vamos procurá-los. — Seth respondeu, e os dois começaram a caminhar mais uma vez na direção do subsolo.

E então, todos que estavam ainda naquela fábrica receberam uma mensagem no instante em que Suzen deu seu último suspiro. Enquanto Claire se aproximava das escadas ao lado de Seth, ouviu o barulho do novo torpedo.

— O quê? Como... de quem ele está falando? — Seth se perguntou, ao ler a mensagem.

— Ah, meu Deus. É a Suzen. DROGA, É A SUZEN! — Claire gritou, ao entender o recado depois de ler a mensagem.

"— Nunca deveria ter deixado ela sozinha."

- Um velho amigo

Claire percorreu todo o caminho de volta até que encontrasse a sala onde a amiga estava. A amiga que ela deixou para trás. Chegando lá, o próprio Seth percebeu o que havia acontecido. A jovem McLane não poderia ser ajudada, mas ninguém, nem mesmo os policiais fariam com que Claire entendesse aquilo. Pelo menos não naquele momento.

Sem reação alguma, Claire não conseguia deixar que uma lágrima sequer escorresse. Sua respiração parecia ter sido agarrada na garganta, enquanto ela se abaixava ao lado do corpo desfigurado da amiga.

— Suzen, como... como... — Claire tentava dizer, mas as palavras não saíam.

— Claire, você precisa deixar que eu cuide disso. — Seth tentou levar sua mão até o ombro dela.

— NÃO ME DIGA O QUE FAZER, HASTINGS! — Claire empurrou o braço do menino, desabando em lágrimas no mesmo momento.

A cena era horrível. Claire, mais do que ninguém lá, se sentiria culpada pelo resto da vida por ter deixado Suzen sozinha naquela sala. Apesar disso, a menina havia feito uma descoberta importante, que ajudaria muito no caso. Entretanto, Suzen não tinha mais como contar isso aos outros agora. Ela era a única que sabia daquilo, e a única que deveria saber.

— Ele... ele... ele tirou ela de mim, Seth. — Claire havia sido derrubada naquele momento pelo seu próprio abismo de horror. Ela não sabia mais o que fazer. — ELE TIROU ELA DE MIM! TIROU ELA DE MIM!

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