capítulo 07 | a recuperação acontece a passos lentos
TW: ataque de pânico, traumas, TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), violência doméstica
San procurava um lugar para sentar até que seus olhos captaram um rosto familiar entre as mesas. Os cabelos negros de Seonghwa, alinhados mas levemente bagunçados, emolduravam um rosto bonito, marcado pelas maçãs do rosto salientes e a mandíbula definida. San observou como os ombros dele estavam menos tensos, e as linhas profundas que marcavam seu rosto na última vez que se viram pareciam suavizadas. Ainda havia cansaço em seus olhos, mas sua expressão transmitia algo que San não esperava: um leve alívio. Era como se, mesmo em meio à exaustão, ele tivesse encontrado um pouco de paz.
Ao lado de Seonghwa, um rapaz de cabelos loiros cortados de forma casual inclinava-se ligeiramente para frente, atento ao que o amigo dizia. Havia algo de descontraído em sua postura, mas seus olhos mostravam um interesse genuíno, como se ele absorvesse cada palavra com cuidado.
Ele não queria se intrometer, mas não via outra alternativa: ou se aproximava da única pessoa que conhecia ou teria que comer sentado no chão. Ele andou até a mesa, sua movimentação atraiu a atenção dos dois e Seonghwa abriu a boca em surpresa.
— Você! Eu lembro de você! San, não é?
San forçou um sorriso, mas a tensão apertava seu peito como se fosse difícil respirar. Ele ajustou a bandeja nas mãos, tentando parecer descontraído, enquanto se preparava mentalmente para a resposta de Seonghwa.
— Isso mesmo. Choi San. Posso me sentar com vocês? O refeitório 'tá lotado.
Se Seonghwa demonstrasse qualquer desconforto, San desistiria da ideia sem hesitar. Comeria até debaixo de uma ponte, se fosse necessário. Mas Seonghwa apenas se afastou, deixando espaço para ele.
— À vontade — respondeu ele. — Eu sou Park Seonghwa, como imagino que você saiba, e esse é Kim Hongjoong. Hongjoong, San foi o médico que cuidou de Seoyun enquanto ela 'tava no hospital esperando por mim.
— É um prazer te conhecer, Hongjoong-ssi, e ver você de novo, Seonghwa-ssi — disse ele, colocando a bandeja sobre a mesa e se sentando. — Como está Seoyun?
Aquela era a pergunta que San não pensou que teria a chance de fazer, mesmo que tio e sobrinha não deixassem sua mente.
— Ela 'tá bem, dentro do possível. Mas, 'pra uma criança, a adaptação nunca é fácil.
San suspirou.
— Eu imagino.
— Seoyun já me falou de você — disse Hongjoong, inclinando-se para frente com um sorriso breve. — Ela contou que um moço bonzinho cuidou dela antes do "anjo" que a mãe dela preparou chegar.
San piscou, surpreso.
— Sério? Quando?
Seonghwa arqueou as sobrancelhas, curioso.
— É, quando?
Hongjoong parou para pensar, coçando o queixo como quem tenta recuperar uma memória vaga.
— Na primeira semana, acho que uns três dias depois de ela começar a morar com você, enquanto nós fazíamos o jantar — contou.
— Eu me lembro de vocês com bastante frequência — San confessou. — A reação de Seoyun me marcou mesmo depois que você a levou embora. No início, ela parecia ter medo de mim, provavelmente pelo meu porte físico. Mas, com o tempo, foi se abrindo e acabou se sentindo mais à vontade.
— Isso aconteceu com meus amigos também. Agora ela já se acostumou e se dá bem com eles, mas no começo ela ficou bem acanhada — Seonghwa contou. — Quer ver ela? — perguntou depois de comer, fazendo San se engasgar. — Eu não vou prometer nada porque ainda não conversei com ela sobre isso, mas posso fazer acontecer se for o que ela quer. E você também, claro.
— Seria bom se eu conseguisse vê-la, mas se ela não quiser, tudo bem — garantiu San.
Hongjoong comeu um pedaço de pão.
— Acho que ela vai querer sim, ela 'tá mais aberta a pessoas novas depois de conhecer eu e os meninos, então ela provavelmente vai gostar de ver você e lidar melhor com isso.
San sorriu.
— Fico feliz em saber que ela está lidando melhor com pessoas.
Enquanto conversavam, o celular de Seonghwa tocou, interrompendo o ritmo da conversa. Ele atendeu, e a expressão tranquila que San havia notado minutos antes desapareceu. Em um piscar de olhos, Seonghwa estava de pé, recolhendo suas coisas. Algo estava errado.
— Estou a caminho — disse ele antes de desligar. — Eu preciso ir.
— Tudo bem, Hwa? — perguntou Hongjoong, olhando para ele preocupado.
— Eu não sei ainda, preciso ir até a escola de Seoyun. Dou detalhes mais tarde.
Seonghwa sumiu pela porta do refeitório sem se despedir.
— Me passa seu número e eu vou passar o dele — disse Hongjoong, chamando a atenção dele de volta. — Ele não vai lembrar de te procurar enquanto não tiver certeza de que Seoyun está bem.
— E ele, como 'tá?
— Seonghwa? — San assentiu. — São passos lentos, mas ele 'tá melhorando. Os dois estão.
San sorriu.
— Que bom.
☆彡
Seonghwa acelerava pelas ruas com as mãos firmes no volante, os nós dos dedos brancos pelo aperto. O som do motor parecia ecoar seu coração disparado, e cada semáforo vermelho parecia durar uma eternidade. Ele mordia o lábio, tentando ignorar os olhares rápidos que lançava para o painel. A cidade parecia se mover devagar demais para sua mente acelerada que contemplava cada um dos cenários do que poderia estar errado.
A recepção era iluminada por luzes fluorescentes que lançavam sombras frias sobre as cadeiras de plástico alinhadas. A recepcionista ergueu o olhar quando Seonghwa entrou às pressas, seus movimentos bruscos atraindo atenção imediata.
— Boa tarde, eu estou aqui porque fui chamado.
— Quem o chamou? — perguntou ela.
— Taeyeon. A professora Kim Taeyeon me chamou.
— Ela está vindo.
— Obrigado — respondeu ele antes de se afastar do balcão para deixá-la em paz, mas sem conseguir ficar parado.
Quando Seoyun apareceu, ela parecia menor do que nunca. Os ombros dela estavam encolhidos, e o tremor em suas mãos era visível mesmo à distância. Os olhos grandes e cheios de lágrimas buscaram Seonghwa como uma âncora, enquanto ela segurava a mão de Taeyeon como se fosse a última coisa que a mantinha de pé. Quando ele se aproximou, ela ergueu os braços, um pedido silencioso que quebrou algo dentro dele.
— Tio... — A voz dela era quase um sussurro, cheia de medo.
Seonghwa sentiu o peso do momento quando a pegou no colo, o corpo dela tão leve e tão frágil que parecia prestes a se desfazer, tremendo como uma folha ao vento, e suas bochechas ainda brilhavam com trilhas úmidas de lágrimas que ela tentava esconder, enfiando o rosto em seu pescoço.
— O que aconteceu? — perguntou ele para Taeyeon que olhava a situação com uma expressão preocupada.
Taeyeon respirou fundo antes de falar, os olhos se desviando de Seonghwa como se procurasse as palavras certas.
— Duas crianças começaram a brigar perto dela — disse, hesitante, enquanto torcia os dedos. — Foi barulhento e rápido, e... acho que ela não conseguiu lidar com o caos. Quando percebi, ela estava no canto da sala, chorando e tremendo.
Seonghwa sentiu um aperto no peito, mas tentou manter a expressão firme. Ele sabia que não ajudaria se deixasse transparecer o quanto aquilo o abalava.
— Entendi. Certo. Eu lido com isso.
A voz dele era controlada, mas Taeyeon ainda parecia desconfortável, como se quisesse dizer mais. Finalmente, ela abaixou a cabeça.
— Sinto muito. Vou tomar mais cuidado no futuro.
Seonghwa acariciou os cabelos de Seoyun, murmurando palavras tranquilizadoras enquanto a abraçava. Depois de agradecer a Taeyeon, ele levou a sobrinha até o carro. Lá fora, esperou pacientemente até que os tremores diminuíssem, só então a colocou no banco de trás com cuidado.
O silêncio no carro era preenchido apenas pela música suave que tocava baixinho no rádio. Seonghwa lançava olhares rápidos pelo retrovisor, observando Seoyun encolhida no banco de trás, os olhos fixos no chão e as mãos apertando a barra do vestido.
— 'Tá tudo bem, estrelinha. Já passou — disse ele suavemente, tentando esconder a própria ansiedade.
Seoyun não respondeu, mas ele viu os pequenos dedos relaxarem aos poucos. Ele ajustou o espelho para vê-la melhor, o coração apertado pela vulnerabilidade estampada em seu rosto.
— Vamos montar legos juntos quando chegarmos, o que acha? — perguntou, tentando animá-la.
Um leve aceno de cabeça foi a única resposta, mas era suficiente para ele.
Durante o resto da tarde, Seonghwa dedicou seu tempo a Seoyun. Juntos, eles montaram lego e conversaram sobre pequenas coisas, o que ajudou a distraí-la. Quando Yunho chegou para fazer companhia, Seonghwa finalmente se preparou para cumprir suas responsabilidades no estágio.
Não foi fácil lidar com a situação e, talvez nunca se tornasse, mas à noite, com a chegada de Hongjoong, eles jantaram juntos e Seoyun estava mais calma e voltando a si mesma. Yunho se despediu mais tarde da noite com Hongjoong e Seonghwa a levou para deitar no sofá com ele.
A luz azul da televisão iluminava a sala escura enquanto eles dividiam uma caneca de chá de morango, o vapor subindo em espirais suaves. Seoyun, ainda inquieta, brincava com os dedos no pijama enquanto mantinha a cabeça apoiada no ombro de Seonghwa.
A noite foi longa. Seoyun acordava repetidamente, os pequenos soluços ecoando pelo quarto enquanto ela se agarrava ao braço de Seonghwa.
— Está tudo bem, meu amor. Foi só um sonho ruim — ele dizia, mas sentia que as palavras não eram suficientes.
A cada pesadelo, Seonghwa sentia o cansaço se acumular, mas não conseguia fechar os olhos. Ele passava os dedos pelos cabelos de Seoyun, murmurando histórias que lembrava da infância, tentando distraí-la do medo que parecia crescer a cada instante.
Por volta das 4:00 da manhã, Seoyun finalmente caiu no sono, o rosto encostado no ombro dele. O corpo dela ainda tremia levemente, mas Seonghwa não ousou movê-la. Ele suspirou, exausto, e acabou adormecendo no sofá, abraçado à sobrinha, como se a proximidade fosse a única coisa que ainda pudesse protegê-la.
☆彡
Na manhã seguinte, o som de Hongjoong entrando no apartamento acordou Seonghwa, que acordou Seoyun com cuidado para não assustá-la.
Depois de garantir que estavam prontos para o dia, Seonghwa a levou para a cozinha, onde o aroma reconfortante do café recém-feito encheu o ar. Hongjoong já estava lá, os pratos quase prontos, a mesa posta de forma simples, mas cuidadosa. Uma tigela de frutas frescas, pães ainda levemente quentes completavam o cenário.
— Bom dia! — cumprimentou ele com uma caneca grande demais de café nas mãos e um sorriso no rosto, deixando um afago carinhoso nos cabelos de Seoyun e um abraço rápido em Seonghwa. — Como estamos hoje?
— Nós acabamos de montar o lego que o tio Hwa mostrou — ela contou, com expressão e tom de voz mais animado que eles já a viram expressar.
Seonghwa e Hongjoong sempre foram inseparáveis desde a infância. Eles acompanharam todas as fases da vida um do outro, conheciam-se profundamente, e foi justamente por isso que Seonghwa percebeu a mudança em Hongjoong quando a viu. Por anos, ele precisou usar de todo tipo de artimanha para fazer com que Hongjoong saísse do estúdio em horários razoáveis e nem sempre tinha sucesso. Desde que Seoyun chegou, no entanto, ele estava ali todos os dias, comprometido com a rotina deles. Aos poucos, ele passou a consertar o próprio relógio perturbado, saindo do estúdio mais cedo e sem se cobrar tanto em relação a suas produções. Era uma mudança significativa para alguém tão viciado em trabalho quanto ele e Seonghwa estava satisfeito ao vê-lo sem as costumeiras bolsas sob os olhos e se alimentando melhor.
Seonghwa observava a interação entre Hongjoong e Seoyun, um sorriso suave no rosto. Ele sempre soube que Hongjoong era bom com crianças, mas ver a forma como ele estava se adaptando à presença de Seoyun lhe trouxe uma sensação de paz. O som suave de gargalhadas e conversas sobre legos enchia a cozinha, e Seonghwa se perdeu por um momento naquela familiaridade reconfortante.
Deixando que eles ficassem no próprio mundo, Seonghwa se serviu de café e, enquanto a mente dele ainda estava vagando entre o momento com Seoyun e Hongjoong, pegou o celular, esperando que as notificações de trabalho ou algo mais urgente surgissem. Mas em vez disso, o que apareceu foi uma mensagem de um número desconhecido.
número desconhecido
Seonghwa?
Oi, aqui é o San.
Hongjoong-ssi me passou seu número porque ele falou que você poderia esquecer.
Você saiu apressado ontem e eu fiquei preocupado.
you
Oi, San.
Desculpa sair apressado daquele jeito.
Aconteceu um problema na escola de Seoyun e eu precisei buscar ela
San
Mas ela tá bem?
you
Estamos trabalhando nisso, mas ela tá melhor
San
Ah, menos mal
Se precisar de algo, é só avisar
you
Obrigado
Podemos remarcar o almoço de ontem?
Acho que te devo um depois de sair apressado daquele jeito
San
Você não me deve nada Seonghwa-ssi
Se quiser almoçar comigo porque quer me conhecer melhor ou qualquer coisa do tipo, beleza, mas não porque acha que me deve alguma coisa.
you
Eu quero almoçar com você porque sim, San
Quero te conhecer melhor antes de conversar com Seoyun sobre a possibilidade de te ver
Sem ofensas, mas, no fundo, eu não te conheço
San
Não ofendeu
Você está mais que certo
Que dia funciona para você?
Seonghwa passou alguns bons minutos conversando com San antes de perceber que a cozinha estava em silêncio e, quando foi procurar o motivo, deu de cara com Hongjoong o encarando com uma sobrancelha arqueada e Seoyun comendo as frutas que ele cortou.
— O que foi?
Hongjoong se levantou da mesa para lavar a caneca e o prato que usou.
— Nada demais, é só que eu vi esse seu sorrisinho de canto e eu te conheço bem demais para não saber o que ele significa — respondeu ele, com um sorriso conhecedor. — Mas dessa vez eu vou deixar passar sem interrogatório.
Seonghwa riu baixinho, rolando os olhos enquanto tomava um gole de café, observando Seoyun morder um morango com a mesma expressão concentrada que ela tinha ao montar os legos. Ela parecia mais tranquila agora, seus pequenos dedos manuseando as frutas como se estivessem construindo algo.
— Não tem nada para interrogar.
Hongjoong riu.
— Seonghwa. Park Seonghwa, eu te conheço desde que você era banguela porque perdeu os dois dentes da frente de uma vez. Se você acha que me engana, o inocente é você.
Ele não respondeu, apenas comeu um morango que Seoyun ofereceu enquanto Hongjoong lavava a louça e se ele continuou conversando com San ao longo do dia e nos dias depois desse, ninguém precisava saber.
☆彡
Os dias foram passando devagar, um a um. Seonghwa tentava conciliar faculdade, estágio, Seoyun e os amigos. Mais frequentemente que nunca, os dois últimos estavam juntos. Seu apartamento quase nunca estava vazio, sempre algum dos meninos estaria presente para passar tempo com ele e Seoyun e eles até conseguiram tempo para juntar todos no mesmo lugar para assistir filme, o que tinha sido um verdadeiro milagre.
Assim como com Hongjoong, Seoyun foi se abrindo aos poucos. Cada vez mais, ela criava laços únicos com os outros. Se tornou normal encontrá-la cantando com Jongho pela casa ou dançando com Yunho enquanto ele tentava ensinar algumas das coreografias que aprendia na academia de dança que fazia como hobbie. Ela ainda não tinha confiança para aceitar ficar na casa de nenhum deles sem o tio quando eles convidaram, mas, vendo o progresso, Seonghwa estava otimista que ia acontecer em breve.
Outro ponto de mudança foi que San passou a ser uma presença frequente em sua vida, sempre almoçando com ele e Hongjoong e trocando mensagens quando não estavam ocupados e Seonghwa passou a saber uma coisa ou duas sobre ele nesse tempo. Ele sabia que San estava na faculdade com uma bolsa integral, conquistada graças ao seu talento como atleta de Taekwondo. Que o melhor amigo dele se chamava Wooyoung e que seu grupo de amigos mais próximos tinha outras duas pessoas, Mingi e Yeosang. Seonghwa começava a perceber que sentia mais do que apenas amizade por San. A cada conversa, a cada encontro, seu encanto por ele crescia. Ele sabia que San queria ser pediatra e que se dava muito bem com crianças, mas isso não era tudo. Havia algo mais.
Após duas semanas conhecendo-o melhor, ele finalmente se sentou para conversar com Seoyun sobre a possibilidade de ver San. Os dois estavam sozinhos depois de Yunho e Jongho passarem a tarde toda com eles e Seonghwa sentiu que aquele era o melhor momento para conversar com ela sobre o assunto.
— Estrelinha — chamou. — Você lembra do San?
Seoyun inclinou a cabeça para o lado, se sentando mais confortavelmente no sofá.
— O moço do hospital que cuidou de mim? — Seonghwa assentiu. — Lembro.
— Ele quer ver você — contou. — Eu encontrei com ele por acaso algum tempo atrás e nós ainda conversamos. Você quer ver ele?
Seoyun acenou com cabeça várias vezes energeticamente e Seonghwa precisou segurar a risada ao ver seu entusiasmo.
— Quer mesmo? — Mais alguns acenos. — Tudo bem, vou convidar ele para vir aqui, pode ser?
— Pode, tio.
Seonghwa sorriu para a sobrinha, puxando-a para ficar com a cabeça confortavelmente apoiada em seu peito enquanto ela se ajeitava em seu colo.
— Então está combinado.
you
Você ainda quer ver Seoyun?
San
Você sabe que sim, hyung
you
Pois bem, eu conversei com ela e ela disse que também quer ver você
San
Mentira
Ela lembra de mim?
you
Lembra, claro que lembra
San
E quando eu posso ir?
you
Eu sei que você está bem corrido com o hospital
Que tal nesse final de semana?
San
Pode ser sábado depois do meu treino?
you
Pode
Eu vou pedir para o Hongjoong te buscar
San
Obrigado, hyung
Diz para ela que eu estou ansioso
E obrigado pela confiança
you
A confiança é mérito seu
Você conquistou
San
(˶ᵔ ᵕ ᵔ˶)
Seonghwa sorriu suavemente, apertando Seoyun contra seu peito. Ele deixou um beijo carinhoso em sua testa ao perceber que, apesar da empolgação, ela já estava mergulhada em um sono tranquilo, seu pequeno corpo relaxando em seus braços.
☆彡
San não sabia mais como acalmar a energia e ansiedade que queriam sair em ondas desde que Seonghwa o convidou para ver Seoyun. O treino pareceu levar o triplo de horas para passar e ele levou mais de uma chamada de atenção de seu treinador por estar muito disperso, mas ele não conseguia evitar. Passou meses pensando em Seonghwa e Seoyun e, depois de duas semanas interagindo com ele, conquistou a confiança dele o suficiente para que lhe permitisse vê-la.
Ficou surpreso ao descobrir que ela se lembrava dele e tudo isso não passou despercebido por seus amigos. Wooyoung passou as duas semanas insistindo para saber o que fazia San sorrir bobo olhando para o celular. Mingi, como sempre, estava mais alheio, mas até ele percebeu que San estava mais inquieto que o normal. Yeosang continuava o mesmo de sempre: o olho que tudo vê e a boca que nada fala. San não queria contar sobre Seonghwa e Seoyun ainda porque teria que explicar como se conheceram e ele queria ter a permissão dos dois antes de falar sobre as vulnerabilidades deles para pessoas que eles não conheciam. Eles tinham direito a isso.
O tempo parecia não passar enquanto ele esperava na frente do ginásio que a faculdade mantinha para os treinos, mas quando Hongjoong finalmente despontou na esquina com o carro de Seonghwa, San sentiu o coração pular dentro do peito, animado e apreensivo se ele não estaria piorando a situação de Seoyun. Um lembrete vivo do pior dia da vida dela.
— Entra aí — disse Hongjoong depois de parar o carro com o banco do carona na frente dele. — Ansioso? Seoyun 'tava animada por finalmente poder encontrar você.
— Demais. Eu queria saber como ela estava desde o dia seguinte depois que ela foi embora do hospital com o hyung, mas eu não posso procurar pelos pacientes depois que eles recebem alta.
Hongjoong suspirou e deu um sorriso triste.
— Está sendo uma caminhada longa, mas ela está melhorando aos poucos. Nós fazemos o melhor que podemos. Yunho e Jongho, nossos amigos que você pode vir a conhecer um dia, estão passando mais tempo na casa de Seonghwa do que nunca e Seoyun tem se soltado pouco a pouco com a gente. São passos lentos, mas estamos chegando lá.
— E você, hyung? Vê ela com frequência? — San perguntou, a curiosidade falando mais alto.
Ele riu um pouco.
— Todos os dias. Eu e Seonghwa somos vizinhos de porta, mas nós brincamos que somos um casal que mora em duas casas porque nós estamos sempre grudados — brincou, fazendo San rir um pouco, embora ele tenha ficado com uma pulga atrás da orelha sobre o relacionamento deles. — Eu tomo café da manhã com eles e como Seonghwa deixa Seoyun na escola no nosso caminho para a faculdade, meio que virou nossa rotina. Ela se acostumou comigo mais rápido do que com os outros, mas o progresso vem vindo de todos lados.
Embora a conversa com Hongjoong tenha ajudado a aliviar um pouco o nervosismo de San, o caminho até o prédio de Seonghwa parecia interminável. Cada curva na rua fazia seu coração acelerar, e a ansiedade de finalmente encontrar Seoyun só aumentava. Quando o carro finalmente parou, San sentiu o nervosismo voltar, pesado em seu peito, enquanto o edifício diante dele parecia imponente, como um lembrete de tudo que estava em jogo. Os dois seguiram por escadas e corredores até o quarto andar, parando na frente da segunda porta do corredor.
Hongjoong, sem cerimônias, abriu a porta e entrou, sem dar tempo para San processar o que estava prestes a acontecer. O apartamento de Seonghwa tinha uma sensação acolhedora, com a luz suave da sala iluminando o ambiente de forma reconfortante. San se sentiu um pouco deslocado, observando a decoração simples, mas cheia de vida, como se cada detalhe tivesse sido pensado para proporcionar conforto.
— HWA, CHEGAMOS! — avisou e Seonghwa apareceu na sala poucos segundos depois, secando a mão em um pano de prato.
— Ah, bem-vindo, San — ele o cumprimentou com um sorriso. — Ela deve aparecer já... — foi interrompido pela aproximação de sua sobrinha — já.
Seoyun olhou para ele de cima a baixo antes de se esconder atrás das pernas do tio antes de desviar o olhar para Hongjoong e acenar com a mãozinha, fazendo San sorrir com a cena fofa.
Hongjoong foi até ela e deu um afago carinhoso nos fios negros ao se abaixar na frente dela.
— Oi, pequena.
Ela recebeu o carinho de bom grado, ainda escondida atrás de Seonghwa, e San aproveitou o momento para ver a diferença desde que ele a viu pela última vez. Os cabelos negros de Seoyun estavam mais longos agora, caindo suavemente sobre seus ombros. Sua postura, antes rígida e reservada, agora estava mais relaxada. Os pequenos gestos — como a forma tranquila com que ela mexia nos legos ou como sorria sem hesitar — falavam por si. Ela estava começando a se sentir em casa, algo que San notou com um alívio silencioso.
— Oi, tio Joong. Você vai ficar com a gente hoje?
— Não posso, meu anjo, eu preciso ir para o estúdio, mas mais tarde eu venho jantar com vocês.
Seoyun encarou os pés e acenou com a cabeça.
— 'Tá bom.
Hongjoong sorriu para ela antes de se levantar e abraçar Seonghwa rapidamente.
— Aproveita o dia com o San e seu tio e a gente conversa mais tarde.
— Nada de ficar no estúdio até muito tarde, viu? — disse Seonghwa, cerrando os olhos. — Vou deixar comida na sua geladeira.
— Obrigado.
Hongjoong se despediu apressadamente e San se viu maravilhado com a dinâmica deles, a forma como Seoyun relaxou pelo menos um pouco quando ao conversar com ele, mesmo que ainda escondida atrás do tio.
— Não quer conversar um pouco com San, estrelinha? Ele veio ver você — Seonghwa ofereceu, acariciando os fios negros como o dele.
Seoyun pareceu hesitante, mas saiu de seu esconderijo depois de ser encorajada pelo tio.
— Oi, San.
San sorriu ao se abaixar na frente dela.
— Oi, meu bem. Como você 'tá?
— Bem. Melhor. O tio Hwa e os outros cuidam bem de mim — respondeu ela, ainda olhando para baixo.
— É? — perguntou San, sorrindo. — Isso é bom.
— Quer ver os legos que eu montei com o tio Hwa? — questionou ela, finalmente olhando para ele.
San olhou para Seonghwa, confirmando se ele estaria de acordo em deixá-la sozinha com ele. Sim, eles conversavam quase todos os dias e almoçavam juntos com frequência, mas isso era diferente de confiar sua casa e uma criança a uma pessoa que conhecia há tão pouco tempo.
— Eu vou estar na cozinha se precisarem de mim. — Foi tudo que ele respondeu antes de se afastar para a cozinha, separada da sala por apenas um balcão, onde um notebook o esperava sobre a mesa.
San sorriu para a criança em sua frente.
— Então, o que quer me mostrar?
☆彡
Quando Seoyun pediu que San a colocasse para dormir, Seonghwa não podia negar a surpresa. Ele se lembrava de como ele foi uma fonte de conforto para ela enquanto ela estava no hospital, mas não fazia ideia de quão próximos eles ficaram ou quanto da confiança dela ele conquistou em tão pouco tempo. Bastante, se a disposição dela para ficar com ele fosse algum indicativo.
A surpresa maior, no entanto, veio quando San saiu do quarto que dividia com Seoyun. Ele parecia pálido, seus passos hesitantes e a expressão de quem carregava um peso insuportável.
— San? 'Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? — perguntou ele preocupado.
San olhou para ele, os olhos assombrados enquanto engolia em seco.
— Quanto você sabe sobre o que ela passou com o pai abusivo?
Seonghwa suspirou.
— Não muito. Ela não fala sobre o assunto e eu não pergunto porque não quero forçar ela a reviver memórias ruins logo quando ela está começando a melhorar — confessou.
— Ele fazia ela passar fome — San contou e Seonghwa sentiu seu coração parar dentro do peito. — Ela disse que Chaewon não sabia que ele fazia isso, ela escondia porque escutava a mãe chorando à noite. Ela disse... — a voz dele travou na garganta — que escutava ela gritando quando ele estava muito bravo. Seoyun escutava a mãe apanhar, hyung, às vezes ela via.
Seonghwa sentiu o ar pesar em seus pulmões, cada palavra de San batendo contra seu peito como um martelo. Sua respiração ficou mais difícil, e ele tentou controlar a dor que começava a formar um nó na garganta.
— Eu já vi alguns sinais. Ela... ela não pede por nada, nem para comer, e sempre come tudo que eu sirvo sem reclamar. Às vezes quando tem mais de uma opção ela nem consegue escolher, ela deixa que eu ou um dos outros escolhamos por ela. Eu achei que... nem sei o que pensei, eu nunca pensei muito nisso.
— A culpa não é sua, hyung. Você também 'tá se adaptando. Mas, se me permite a intromissão... — Seonghwa assentiu —, um amigo meu é estudante de psicologia, ele deve conhecer alguém de confiança com quem Seoyun pode começar um tratamento. Eu posso apresentar vocês, se quiser.
Era uma oferta que Seonghwa não podia negar porque ele percebeu logo cedo que ela precisava de tratamento psicológico para aprender a lidar com tudo que passou, mas ele ficou tão enrolado com tudo que estava acontecendo que ele se perdeu e acabou empurrando com a barriga.
— Como eu posso encontrar com esse seu amigo? — perguntou ele, hesitantemente com um nó na garganta ao perceber como estava falhando com a sobrinha que estava aprendendo a amar.
San segurou sua mão em cima do balcão.
— Eu vou ajudar — prometeu ele.
Naquela noite, Seonghwa se deitou ao lado de Seoyun, apertando-a contra seu peito com uma força que ele mesmo não sabia de onde vinha. Mas, apesar do esforço, o sono não os encontrou — ambos lutavam contra pensamentos que pareciam maiores do que poderiam suportar.
───── continua...
Notas da autora
Oi, oi, estrelinhas!!!
O capítulo veio maior, eu sei, mas aconteceu bastante coisa.
Nossos meninos finalmente se reencontraram (confete, fogos de artifício, bombinha pápápá)!!!!!! Seoyun e San também se reencontraram. O passado sa Yun é muito triste e me deixou mal da cabeça escrever sobre isso, mas as coisas estão melhorando, eles vão procurar ajuda.
Nos próximos capítulos os grupos vão começar e se misturar e todo mundo vai se conhecer.
Por enquanto é isso, meus amores.
Se cuidem, bebam água e até a semana que vem ❤️❤️❤️.
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