capítulo 05 | o último adeus

TW: crise de ansiedade, família tóxica


Quando Seonghwa entrou no velório com Seoyun no colo, sentiu-se sufocado pelos olhares fixos e sussurros abafados. A expressão de surpresa, misturada com julgamento, parecia envolver cada rosto, como se ele e a sobrinha fossem uma visão inesperada e perturbadora. Seoyun encostou a cabeça em seu ombro, buscando abrigo, enquanto ele a segurava firme, acariciando suas costas como uma âncora contra aquele mar de desconhecidos.

Eles seguiram até a sala privativa onde jazia o caixão de Chaewon e ele colocou Seoyun no chão com cuidado, permitindo que ela ficasse livre para se despedir da mãe da forma que achasse melhor e se aproximou do caixão, vendo nos olhos dela um luto inocente, diferente do peso que ele sentia, mas igualmente profundo.

A sala privativa era um recanto silencioso e opressivo, com o caixão fechado de Chaewon em destaque, rodeado por arranjos de flores brancas e roxas que exalavam um perfume doce e melancólico. Cada flor parecia representar uma despedida não dita.

O olhar de Seonghwa caiu sobre o porta-retrato ao lado do caixão, onde a imagem de Chaewon parecia quase fantasmagórica, com o sorriso contido e os olhos que refletiam uma vida cheia de peso. Seu rosto estava mais magro, as bochechas haviam perdido o brilho juvenil, e as linhas de expressão emolduravam um semblante sofrido. Foi ali que ele sentiu o golpe da perda de forma avassaladora — ele não estava só perdendo a irmã, mas também a possibilidade de resgatar o tempo que nunca tiveram.

Seoyun o abraçou e eles ficaram daquela forma por alguns minutos.

— A gente pode ir embora, tio?

Seonghwa sabia que os olhares também a incomodavam e foi rápido em responder:

— Eu só preciso falar com uma pessoa antes e a gente pode ir depois disso, meu bem.

Ele pegou sua sobrinha no colo mais uma vez e sentiu em seu ombro quando ela assentiu e saiu da sala privativa, se despedindo mentalmente de Chaewon e prometendo visitá-la em seu túmulo, onde as coisas estariam mais quietas e Seoyun poderia se despedir da mãe com mais privacidade.

Ele não demorou para encontrar quem procurava e sua tia foi ao encontro dele assim que o viu se aproximando.

Park Young Ae parecia não ter envelhecido um dia desde a última vez que Seonghwa a vira. O cabelo preto, como o dele, estava preso em um coque que mostrava alguns fios prateados salpicados em meio aos fios negros. Ela segurava um xale sobre os ombros esguios enquanto cruzava o salão para abraçar Seonghwa e Seoyun. Era sua forma de tentar confortá-los.

— Meu garoto, deve ter sido tão difícil para você — disse ela, apoiando a cabeça no ombro vazio de Seonghwa, que retribuiu o abraço, afagando as costas dele no processo. — Eu sinto muito por sua irmã e sua mãe, pequenina.

Young Ae olhou para Seoyun, que mal levantou o rosto do ombro do tio para encará-la de volta.

— Tia, essa é Seoyun, e Seoyun, essa é minha tia, Young Ae.

— É um prazer conhecer você, Seoyun. Só lamento que nossa primeira vez seja em um momento assim — disse com um sorriso triste no rosto oval. — Pode me procurar se precisar de qualquer coisa. Os dois podem.

Young Ae levou uma das mãos até a bochecha do sobrinho, que inclinou o rosto para afundar na mão dela.

— Pode deixar, tia. — Seonghwa olhou em volta, ignorando os olhares curiosos e julgadores, procurando por duas pessoas específicas. — Eles não vieram, não é?

Enquanto olhava em volta e confirmava a ausência dos pais, uma onda de amargura lhe subiu à garganta. Eles, que haviam contribuído tanto para o sofrimento de Chaewon, agora nem mesmo compareceram para um último adeus. Era como se tivessem selado o destino da filha e, com o mesmo desdém, escolhido ignorar o resultado. Seonghwa sentiu um aperto no peito — um nó de desgosto e decepção que ele esperava nunca mais ter que enfrentar, mas que agora se renovava diante dele, mais cruel do que antes.

— Não deixe que isso te atinja, querido, sua pequena precisa de você agora — disse Young Ae, apontando para Seoyun, que escondia o rosto entre seu ombro e seu pescoço mais uma vez, com a cabeça.

Seonghwa respirou fundo e assentiu.

— Cadê Siyeon?

Young Ae suspirou.

— Ela tentou comprar uma passagem a tempo para o velório, mas o voo atrasou e ela ficou presa no aeroporto. Ela disse que sente muito e vai te ligar mais tarde.

— Certo — respondeu ele, olhando para Seoyun de canto de olho. — Nós precisamos ir, tia, esse ambiente não é bom para nenhum de nós.

A tia suspirou.

— Eu sei, filho, é melhor mesmo — concordou. — Venham nos visitar quando Siyeon estiver de volta a Seoul, vou fazer seus pratos favoritos.

Young Ae os puxou para outro abraço.

— Pode deixar, tia. Obrigado por cuidar das coisas por mim.

Ela dispensou a gratidão com um gesto e os acompanhou até a saída, fazendo-os prometer mais uma vez que visitariam em breve.

Por fim, Seonghwa finalmente se viu voltando para casa com uma dor no peito e Seoyun cabisbaixa e abalada. Enquanto deixavam o local, Seonghwa prometeu a si mesmo que faria de tudo para que Seoyun tivesse uma família mais acolhedora, algo que ele nunca teve, mas que agora podia oferecer a ela.


☆彡


San sentia o suor escorrendo por suas costas enquanto terminava mais uma sequência pesada de movimentos, batendo cada vez mais forte no saco de areia para externalizar as frustrações que vinham tirando seu sono nos últimos tempos. A última competição perdida ainda pesava em seus ombros, lembrando-o do que estava em risco se falhasse outra vez.

Sua bolsa dependia de seu sucesso e seu sucesso dependia de seus treinos, então ele respirou fundo e acertou o saco mais uma vez.

Cada golpe ajudava mais a extravasar e depois de duas horas de treino, San sentiu seu corpo mais relaxado, apesar do cansaço e das dores musculares. Enquanto deixava a água quente aliviar a tensão dos músculos a imagem da menina, tão pequena e cheia de medo, não lhe saía da cabeça.

Ele pensava em Seoyun e no homem que a buscou naquele dia. Na época, não soube da história toda, mas o hospital logo se encheu de rumores. Foi assim que San entendeu a razão do medo dela. Todos conheciam Chaewon, mas poucos podiam dizer que a conheciam de verdade, era enfermeira lá muito antes de San se tornar estagiário e ele trocou uma frase ou duas com ela no tempo em que esteve ali, mas ele não fazia ideia de tudo que ela enfrentava em casa. Ninguém fazia.

Um memorial foi montado no hospital. Flores murchas, fotos de Chaewon, bilhetes e cartas de pacientes que passaram por ela se amontoavam na pequena mesa próxima à recepção.

Segundo os boatos, quem levou a menina foi o irmão de Chaewon e a pessoa para quem ela deixou a tutela de Seoyun de forma registrada em cartório, quase como se soubesse que poderia acontecer algo que a impedisse de cuidar de sua filha.

San lamentava não ter sabido mais sobre a situação de Chaewon e Seoyun antes. Se tivesse conhecido toda a história, poderia ter oferecido o apoio que ela precisava, talvez até feito algo para ajudar.

Embora não fosse o primeiro caso de crueldade que San presenciava, aquele parecia pessoal. Ele sentia uma forte necessidade de se envolver, reconhecendo que, se tivesse a chance, faria isso.


☆彡


Seonghwa se sentia pesado, mesmo sabendo que o cansaço que se acumulava em seus ombros era mais mental e emocional do que físico. O caminho até sua casa parecia quilômetros e horas mais longo do que realmente era. Seoyun era uma presença silenciosa no banco de trás e ele tentou não entrar em pânico com a forma que ela parecia irresponsiva e alheia aos arredores, como se estivesse perdida em um mundo à parte. Seu silêncio parecia pesado, quase palpável, e Seonghwa se sentiu angustiado ao perceber que ela estava tão distante dele e ele não sabia como alcançá-la.

Quando ele estacionou e a tirou do carro, Seoyun só se mexeu porque Seonghwa a guiava. Ele tentou não se desesperar, sem saber como agir naquela situação.

Ao abrir a porta do apartamento, uma brisa morna de dentro o envolveu, mas a atmosfera estava carregada, tensa. Hongjoong estava sentado no sofá, as linhas de preocupação em seu rosto acentuadas pela luz suave que entrava pela janela, como se cada sombra ali refletisse a carga emocional que Seonghwa carregava.

— Vai tomar um banho 'pra relaxar, estrelinha, eu vou fazer o nosso jantar, tudo bem? — pediu ele e Seoyun não o questionou ao obedecer.

Hongjoong só esperou Seoyun sumir no corredor até o quarto antes de abrir os braços para o melhor amigo, que se jogou no abraço assim que recebeu a chance, se sentindo protegido pelo calor enquanto ele o abraçava com carinho, uma âncora em meio à tempestade. O cheiro familiar do shampoo de Hongjoong misturava-se ao perfume do sofá, criando uma sensação de lar que ele tanto precisava naquele momento de desespero.

— Eu ' aqui, Hwa, e eu vou estar aqui por tanto tempo quanto você precisar.

Seonghwa sentiu o aperto na garganta antes da primeira lágrima escorrer. Independentemente do que Hongjoong dissesse, a data de partida era inevitável.

— Mas você vai embora — respondeu ele em um fio de voz e as lágrimas rolaram com mais intensidade, como se falar fizesse com que a perspectiva da ausência de seu melhor amigo se tornasse mais real.

Hongjoong o puxou para que os dois se deitassem no sofá e Seonghwa escondeu o rosto no peito dele.

— Eu não vou embora, Hwa, eu vou ficar até que você me diga o contrário.

Seonghwa afastou o rosto da camisa dele e procurou pela pegadinha no rosto do amigo, mas só encontrou seriedade.

— Como assim, Joong?

— Eu não vou me mudar, eu cancelei o contrato e a mudança, eu vou ficar — explicou ele, com a voz calma e devagar para que Seonghwa pudesse entender, para que não ficasse nenhuma dúvida.

— Mas... t-tava tudo pronto, você vai se mudar mês que vem. C-como assim cancelou? — Seonghwa gaguejava, tentando entender a situação, o que Hongjoong tinha feito por ele. Do que tinha aberto mão.

— Mas eu cancelei tudo, você precisa de mim aqui e é aqui que eu vou ficar — ele respondeu com um tom definitivo.

— Você precisa ir, Hongjoong. Não pode ficar aqui.

— Isso é você me expulsando? Eu não sabia que você 'tava tão ansioso para me ver longe — Hongjoong brincou, sabendo que essa estava longe de ser a verdade.

— Não é isso. Eu não quero que você se arrependa de desistir dos seus planos por mim, Joong.

Hongjoong levou a mão até os fios longos de Seonghwa, acariciando-os e deixando um beijo na testa do melhor amigo.

— Eu nunca vou me arrepender de ficar do seu lado quando você precisava de mim.

Seonghwa jamais teria palavras para agradecer por nada disso, mas sabia que não precisava, Hongjoong viu cada gota de gratidão em seus olhos enquanto ele chorava no ombro de seu amigo que não estava mais indo embora.


☆彡


Quando Seonghwa acordou no meio da noite, ele estava sozinho e precisou lutar com sua mente enevoada pelo sono para reconhecer seus arredores. A mensagem de Hongjoong em seu celular explicava sua ausência e ele se permitiu respirar aliviado ao ler a promessa de que ele passaria lá no dia seguinte.

O relógio eletrônico ao lado da televisão mostrava que já passava das 3:00 da manhã, mas Seonghwa perdeu o sono ao acordar e decidiu aproveitar para dar uma olhada em Seoyun que dormia em seu quarto.

O corredor estava escuro, porém ele conhecia o caminho e evitou os móveis sem problemas até chegar em seu quarto. A porta estava entreaberta e ele colocou a cabeça para dentro, olhando para a figura pequena e encolhida no meio da cama grande demais para uma criança, da forma mais adorável possível, virada com o rosto para a parede.

Seonghwa a observou por alguns minutos, tempo o suficiente para perceber os tremores e a forma como ela se mexia, incomodada. Ela estava tendo mais um pesadelo, um dos muitos que ele não compreendia. Os murmúrios, pedindo para alguém 'soltar ela' ou 'deixar ela em paz', diziam o suficiente. Ele se aproximou da cama com cuidado e tentou acordar Seoyun o mais delicadamente que conseguiu, mas mesmo assim ela acordou com um sobressalto, tentando se afastar de Seonghwa a todo custo e ele se apressou para acender a luz.

— Ei, estrelinha. Sou eu. Calma, eu não vou te fazer mal.

Seoyun respirava com dificuldade e ele se ajoelhou ao lado da cama, sem tocá-la, permitindo que ela reconhecesse onde e com quem estava antes de fazer qualquer outra coisa.

Levou algum tempo, mas eventualmente Seoyun começou a recuperar o ritmo da própria respiração e se acalmar. O medo não deixou os olhos dela e Seonghwa percebeu os tremores que ainda percorriam o corpo pequeno. Devagar, ele levou a mão às costas dela, fazendo movimentos circulares para ajudá-la. Aos poucos, ela foi se inclinando em direção ao toque e em pouco tempo ela estava no colo de Seonghwa com o rosto enfiado no pescoço dele, como se procurasse abrigo e ele sentiu como se alguém estivesse apertando seu coração com as mãos nuas.

— Calma, meu amor, eu ' aqui — assegurou, apertando o abraço em volta dela e acariciando os cabelos tão pretos quanto os dele com carinho, sentindo o nó em sua garganta crescer ao vê-la tão vulnerável.

Seonghwa respirou aliviado quando Seoyun finalmente relaxou contra seu corpo.

— Quer falar sobre isso, estrelinha?

Seoyun apenas negou com a cabeça e ele assegurou que estava tudo bem se ela ainda não se sentisse pronta para falar sobre isso. A essa altura, ele já tinha percebido que ela tendia a sempre dar respostas não-verbais por algum tempo depois de ter um pesadelo, então ele começou a facilitar as coisas fazendo perguntas que podiam ser respondidas com acenos de cabeça para sim ou não.

— Acha que consegue dormir de novo? — Ela negou com a cabeça mais uma vez. — Tudo bem. Quer montar lego comigo, então?

Isso finalmente atraiu a atenção dela e ela tirou o rosto do pescoço dele para encará-lo.

— Você já montou lego, estrelinha? — Outro aceno negativo. — Quer tentar?

Seoyun hesitou, mas eventualmente, deu um aceno de confirmação, o movimento tão pequeno que Seonghwa não teria notado se não estivesse acostumado com a comunicação não-verbal dela. Ele sorriu e saiu da cama com sua sobrinha no colo, apagando a luz do quarto e acendendo as do corredor e da sala depois de pegar uma das caixas de lego guardadas sob a cama.

Seonghwa a levou até a sala e se sentou no chão, em frente a mesa de centro de vidro, e colocou a caixa sobre a mesa. Seoyun finalmente começou a parecer mais curiosa do que ansiosa enquanto ele abria a caixa com cuidado, jogando as peças sobre a superfície e colocando o manual ao lado. Ele não prestou atenção em qual conjunto tinha pego, mas ficou feliz ao perceber que escolheu um dos vários conjuntos de Star Wars que tinha guardado, seu sorriso se alargando ao reconhecer o R2-D2 que Jongho e Yunho lhe deram de aniversário alguns meses antes.

— É bem simples, estrelinha, a gente vai olhando o manual e montando. Você sabe ler? — Seoyun negou. — Tudo bem, não tem problema, eu te ajudo.

Seoyun, apesar de curiosa, ainda parecia incerta, mas conforme eles foram montando o brinquedo, peça por peça, ela foi relaxando cada vez mais.

— Sabe, eu também tinha pesadelos quando era mais novo — contou, chamando a atenção da menina concentrada nas peças. — Meus pais... também não eram bons nessa coisa de ter filhos e eu acabei saindo de casa muito cedo, mas eles me falaram várias coisas ruins antes de eu ir embora. Eu sonhava com isso e não conseguia dormir. Hongjoong ficou preocupado quando viu que eu 'tava parecendo cada vez mais cansado, então ele me deu o meu primeiro lego de presente. Nós montamos juntos. Foi a primeira vez que eu dormi uma noite inteira em semanas.

Seonghwa ainda se lembrava do cansaço, da forma que ele era mais uma concha vazia do que uma pessoa porque não conseguia dormir. Ele se lembrava de como Hongjoong passou horas e horas montando lego com ele antes de Seonghwa dormir com a cabeça no ombro dele e como ele o carregou até o quarto, velando o sono dele para garantir que ele dormiria pelo menos uma noite. Hongjoong o fez prometer que ele procuraria por ele se tivesse problemas para dormir de novo e desde então Seonghwa usava lego para escapar da insônia e dos pesadelos. Não era infalível e ele passava mais noites acordado do que gostaria de admitir, mas era uma saída.

Seoyun escutou tudo com atenção, os olhos curiosos admirando a expressão do tio enquanto ele falava sobre a amizade que cresceu entre ele e Hongjoong.

Entre lego e histórias, não demorou para que Seoyun deixasse escapar o primeiro bocejo.

— Quer tentar voltar a dormir, estrelinha?

A incerteza e o medo estavam na cara dela e Seonghwa reconheceu o sentimento de não querer voltar a dormir, o medo de ter pesadelos de novo.

— Ajudaria se eu dormisse com você?

Seoyun ficou pensativa por alguns segundos antes de assentir, o que surpreendeu Seonghwa. Sua sobrinha normalmente negava o que era oferecido, mesmo quando ele sabia que ela precisava. Ela aceitar a ajuda tão facilmente só podia ser um indicativo de quão exausta ela estava.

— Tudo bem, então.

Ele se preparou para pegá-la no colo, mas Seoyun olhou para o lego não finalizado quase como se tivesse pena de deixá-lo para trás inacabado.

— Não se preocupe com ele, estrelinha, ninguém vai mexer e nós podemos terminar depois. Eu prometo.

Ela olhou para as peças por mais algum tempo antes de acenar com a cabeça e Seonghwa a pegou no colo, levando-a de volta para o quarto, mas dessa vez se deitando ao lado dela, que afundou o rosto no peito dele, como se estivesse se escondendo.

Seonghwa levou uma das mãos até o cabelo dela e começou a cantar, prestando atenção na forma como a respiração dela diminuía conforme o sono a reivindicava. Ele podia jurar que ela dormia e estava no processo de fazer o mesmo quando a voz infantil soou tão baixa que ele nem teria ouvido se o quarto não estivesse silencioso e eles não estivessem tão próximos.

— Boa noite, tio Hwa.

Respirando aliviado por ouvi-la falar pela primeira vez desde que acordou do pesadelo, Seonghwa deixou um beijo na testa dela.

— Boa noite, meu amor.


☆彡


Seonghwa mal tinha superado os primeiros desafios de cuidar de sua sobrinha quando mais deles bateram em sua porta.

Os primeiros raios do sol da manhã entravam pela janela da cozinha enquanto Seonghwa usava de toda sua concentração para fazer uma trança decente no cabelo de Seoyun, que permanecia parada como ele pediu entre as pernas longas. Ao mesmo tempo, Hongjoong fazia um esforço enorme para não rir da careta de concentração dele, com os lábios pressionados em uma linha e a ponta da lingua para fora, enquanto se movia pelo espaço, focado em fazer café da manhã para os três.

Sinceramente, os últimos quatro dias tinham sido o suficiente para que a vida — e a casa — de Seonghwa se tornasse totalmente diferente. Ele sempre soube que não era fácil tomar conta de uma criança.

Após o dia em que Seonghwa passou horas ajudando sua sobrinha a se acalmar após um pesadelo, os dois se tornaram mais próximos. Seoyun estava começando a relaxar quando estava na presença dele e de Hongjoong com mais facilidade. Além disso, os dois passaram a dormir juntos sempre porque, como ele desconfiava, dormir sozinha fazia com que Seoyun tivesse mais pesadelos. Ela ainda não tinha contado sobre o que eram, mas eles estavam caminhando para chegar lá.

Seonghwa também começou a colocar a própria rotina nos eixos, se afogando nas anotações que Yunho trouxe para ele enquanto ele estava fora, suas faltas justificadas pela emergência. As justificativas não eram vitalícias, no entanto, e chegou o dia em que ele precisaria voltar a frequentar as aulas e, além disso, começar sua nova função no estágio, fazendo com que ele precisasse se apressar para colocar Seoyun em uma escola, mesmo que doesse deixá-la longe ainda que só por algumas horas. Foi difícil e Seonghwa não sabia nem por onde começar, mas com a ajuda de Hongjoong e Yunho, ele conseguiu fazer a matrícula de Seoyun em uma escola relativamente perto. O grande problema foi que tudo isso coincidiu de começar no mesmo dia e eles não tiveram tempo de se adaptar a nenhuma dessas coisas antes de ter que fazer tudo de uma vez.

Por isso, Seonghwa se encontrava tentando arrumar a sobrinha para o primeiro dia na escola nova enquanto Hongjoong cozinhava.

— Não ficou bom como eu esperava, estrelinha. Desculpa, faz muito tempo desde que eu fiz uma trança no cabelo da Siyeon, acho que eu não lembro mais — se desculpou, colocando um espelho na frente do rosto de Seoyun para que ela pudesse ver o resultado.

A trança não estava de todo mal, mas estava longe de ser o ideal com alguns fios rebeldes que escapavam do trançado enquanto alguns outros estavam arrepiados no topo da cabeça e Seonghwa fez o que pode para puxá-los para trás.

— Não tem problema, tio. Eu não ligo.

Seonghwa tinha vontade de bater a cabeça no balcão de tão frustrado que estava, ele queria cuidar bem de sua sobrinha, mas falhou no ato mais simples.

— Eu vou melhorar, estrelinha, você vai ver! Quando menos esperar eu vou ser profissional — garantiu.

— Tudo bem, vocês dois. Venham comer antes que a gente se atrase.

Hongjoong esperava por eles para pegar carona com Seonghwa até a faculdade.

Os três tomaram café da manhã juntos com Hongjoong e Seonghwa conversando, o último mostrando algumas fotos que Jongho enviou com a mãe, dizendo que voltaria em breve para conhecer Seoyun. A menina comia em silêncio, como de costume, mas observava tudo com atenção.

Quando eles finalmente saíram de casa, Seonghwa dirigindo e Hongjoong e Seoyun no banco de trás, eles ainda tinham tempo para ir com calma.

Sim, toda a vida dele tinha virado de cabeça para baixo do dia para noite, mas ele sentiu que estava começando a lidar com as coisas melhor e tudo estava se encaminhando para a estabilidade que ele temeu nunca mais alcançar.

───── continua...


Notas da autora

Heeeeeeeeey, estrelinhas.

Perdão, eu esqueci de atualizar a fic ontem, acontece kkkkkkkkkkkkk.

Feliz ano novo, meus amores!!! Um feliz 2025 pra todos nós, eu tenho bastante coisa legal planejada para esse ano. 

Capítulo novo e cheio de coisas acontecendo.

Aqui a gente tem alguns acontecimentos mais domésticos — não entre os nossos sanhwa ainda, mas o momento deles vai chegar — e nossa princesa se acostumando com os meninos.

Eu tenho que confessar que eu amei escrever a cena do Seonghwa trançando o cabelo da Yun e eu nem sei porque eu gostei tanto kkkkkkkkkkkkkkkkkk.

Espero que tenham gostado, meus amores.

Se cuidem, bebam água e até a semana que vem ❤️❤️❤️

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