27
Karina's pov:
Minjeong parecia estar dormindo quando sai de casa, então fiz de tudo para não acordá-la. Ainda estou irritada, meu coração ainda está agitado no peito e estou repassando pela milésima vez a conversa que tivemos há pouco em minha mente. Não consigo acreditar que ela passou por uma situação daquelas por minha culpa, ainda não consigo acreditar que ela sorriu, mesmo depois de tudo. Coloco uma pilha de provas sobre a mesa no meu escritório enquanto aguardo o inevitável. Alguém bate na porta e peço que entre.
— Jimin. — Joohyun aparece na porta, com as mãos enterradas no bolso da calça social e o rosto sério de quem tem algo muito grave para contar. — Eu posso falar um pouco com você? — Ela pergunta.
Levanto-me apressadamente indo a seu encontro.
— Imagino que já saiba o que aconteceu hoje — digo, temendo ouvir a resposta.
— Sim, fiquei sabendo à pouco tempo. A mãe de um aluno estava no café e presenciou o ocorrido. — Ela esfrega a nuca e volta a falar. — Na verdade, ela não entendeu bem o que estava acontecendo e por isso não quis transformar essa questão em um caso público. — Joohyun desvia o olhar e sinto-me incomodada. — Mas deixou claro que eu precisava resolver essa situação o mais breve possível.
— Isso significa que vou ser demitida?
Ela arqueia uma sobrancelha.
— E porque eu faria isso quando foi Somi quem assediou uma das alunas da instituição? — Pergunta.
Olho na sua direção e noto a confusão em seus olhos, que também parecem inquisitivos. Então entendo que ela não sabe o real motivo que levou a toda aquela confusão no café. E mesmo que uma parte de mim queira manter as coisas como estão, eu sei que Somi não vai arcar sozinha com as consequências dessa história.
— Olha, Joohyun, eu juro que não falaria se não fosse algo que considero importante — digo em tom sério. — Droga, Somi não vai me deixar sair impune de qualquer forma.
— Eu adoraria que você fosse direto ao assunto, Jimin, porque estou começando a ficar extremamente preocupada.
— A aluna em questão é minha namorada — digo, encarando-a.
Seus olhos se arregalam e ela vira de costas para mim.
— Namorada? Como assim namorada? — Sua voz sai mais surpresa do que eu gostaria.
— Por favor, Joohyun. — Ergo as palmas e noto que estou um passo mais perto dela. — Se você me der espaço eu posso te explicar tudo, mas se começar a tirar conclusões precipitadas não vamos conseguir chegar a lugar algum.
— Tudo bem, fale logo!
Tranco a porta do escritório e ofereço a cadeira na frente da minha mesa para ela. Imploro silenciosamente para que ela me escute sem se deixar levar por pré suposições equivocadas. Eu não sei se conseguirei ser civilizada.
Então conto tudo a ela. Conto que conheci Minjeong quando voltava de uma viagem a Icheon e que voltamos a nos encontrar no café onde ela trabalha dias depois. Não sabíamos quase nada uma sobre a outra, mas acabamos criando uma certa ligação no tempo em que passamos juntas. Digo a ela que só soubemos da nossa real situação no dia em que a encontrei na Suneung e descobri que ela seria minha aluna. Conto que ainda tentamos nos afastar, mas que isso não foi possível.
Joohyun não me interrompe em nenhum momento e nem tenta me dar uma lista de opções do que eu deveria ou não ter feito. Não, ela apenas me ouve.
Quando conto que Somi descobriu a verdade e que esse foi o real motivo da confusão no Coffe Bar, ela cruza os braços e respira fundo.
— Então essa situação é ainda mais complicada do que eu imaginava.
Assinto com a cabeça.
— Eu sei que olhando pelo âmbito profissional, nada vai justificar minha atitude. Mas você precisa acreditar quando eu digo que realmente não sabíamos da nossa situação até o início do cursinho.
— Eu não estou em posição de julgamento, Jimin, mas é que você me pegou de surpresa... — Joohyun se inclina para frente e me olha nos olhos de uma forma que nunca fez, ela sempre age de forma gentil, e isso faz com que ela chame mais ainda a minha atenção. — Eu conheço você há bastante tempo e tenho total convicção sobre o seu caráter, mas tenho quase certeza de que Somi vai querer complicar ainda mais essa situação. As recentes atitudes dela só reforçam esse meu pensamento.
Esfrego minhas mãos no rosto, tentando não ter vontade de bater em Somi, mas seria mais fácil chover no inferno. As lembranças do nosso último encontro entram em minha mente e causam uma explosão em minhas veias. Tenho vontade de socá-la até que ela entenda que Minjeong não tem nenhuma relação com o nosso passado, ela foi envolvida e pagou um preço alto por isso.
Levanto-me e caminho até o outro lado da sala que parece ter diminuído de tamanho, Joohyun permanece quieta, mas suas mãos estão fechadas em punho, pronta para qualquer coisa. Droga, ela está aqui para me ajudar, mas saber que outra pessoa conhece a verdade, a verdade que tentamos tanto manter em segredo para evitar maiores consequências e saber que essa pessoa é justamente a Joohyun me deixa louca de inquietação.
— Obrigada por me escutar, Joohyun, mas eu já saiba das consequências dos meus atos e irei arcar com cada uma delas — digo apoiando meus braços na mesa.
— Eu agradeço pelo seu profissionalismo, Jimin — ela diz seriamente. — Mas antes de tomar qualquer decisão, gostaria de saber se existe alguma prova que possa expor o seu relacionamento com Minjeong.
— Nenhuma. Ainda não entendo por que Somi deixou isso passar, mas dado tudo o que aconteceu, ela de fato não tem nada que eventualmente possa se transformar em um escândalo para a Suneung.
Ela assente com a cabeça concordando com o que digo.
— Nesse caso, tenho um problema a menos com o qual me preocupar.
Joohyun se ajeita sentindo-se desconfortável. Em alguns momentos, ela é uma mulher difícil de ler, mantém suas emoções muito bem guardadas, em um lugar que somente sua esposa consegue alcançar.
— Eu agradeço que você tenha conseguido manter as coisas em um nível seguro com Minjeong. Ela parece ser uma boa garota. — Ela se levanta indo na direção da porta e sigo-a. — Sabe. — Ela se vira para mim. — Eu realmente não gostaria de precisar demitir minha melhor professora, quero dizer, não a menos de uma semana do exame nacional.
Olho para ela, surpresa.
— Isso significa que vou poder continuar trabalhando na Suneung?
Estava preparada para todas as resoluções possíveis: Demissão. Exposição ao público. Perder o direito de atuar na minha profissão. Mas não para Joohyun me ouvindo e tentando encontrar uma saída alternativa para minha situação.
— Bem, sim. — Ela responde em tom mais gentil. — Mas não posso ignorar o que me contou hoje. Sendo assim, temos uma reunião marcada amanhã pela manhã para resolvermos essa pendência.
Assinto com a cabeça.
— E quanto a Somi?
— Eu realmente não tenho muito o que fazer quando a ela. — Joohyun volta a enfiar as mãos nos bolsos. — E não digo isso por que vou ignorar o que aconteceu, mas Somi foi vista agindo de forma questionável com uma das nossas alunas. Mantê-la no corpo docente da Suneung só irá trazer mais problemas para a instituição, então preciso garantir que toda essa situação seja resolvida o mais breve possível.
Ela se perde em pensamentos e, por mais que eu me sinta grata pela forma com que está lidando com minha situação, sei que ainda tem um grande problema em mãos.
— Obrigada por ter vindo conversar comigo hoje — digo a ela e sinto uma vontade imensa de abraçar e proteger a minha garota e isso faz com que eu respire fundo, tentando desfazer o nó na minha garganta. Preciso ir logo embora daqui.
Depois que Joohyun sai, volto até minha mesa apenas para desligar meu computador e guardar meu material. As palavras dela flutuam em meu cérebro e de tempos em tempos sinto uma descarga de adrenalina, a ansiedade, a necessidade de finalmente me ver livre de todos esses problemas. Não quero mais saber de nada, tudo isso pode esperar... Mas Minjeong não. Saio do escritório ainda perdida em pensamentos, ouço alguém me chamar, mas não paro, continuo andando até que esbarro em alguém.
— Acho que essa pressa toda não é para me ver, certo? — brinca Somi.
Eu mal consigo olhar para ela. Jeon Somi parece uma estranha para mim.
— Você ainda está aqui.
— Joohyun me pediu para ir até a sala dela, então sim. — Ela diz, cruzando os braços. — Acredito que você já saiba como as coisas vão terminar para mim, não é?
— Acredito que você tenha conhecimento do que fez, Somi. Embora lá no fundo, eu não esperasse uma atitude daquelas vinda de você.
— Bem, talvez você não seja a única que tenha mudado um pouco. — Ela sorri de forma autodepreciativa e se aproxima de mim. — O que é que você está fazendo, Jimin? Saindo com uma garota?
Uau, ela ainda está presa nisso.
— Eu não estou saindo com uma garota — argumento. — Estou namorando a melhor pessoa que poderia querer ao meu lado.
— Por ora. Tipo, um dia ela vai se cansar dessa brincadeira e seguir em frente.
— Você deveria seguir esse conselho, Somi.
— Jimin... — Ela suspira, vira de costas e, depois, olha para mim. — Eu realmente não esperava que nosso lance terminasse dessa forma, mas vejo que não a mais nada que eu possa fazer quanto a isso. No final, sou eu que vou arcar com as maiores consequências agora.
— Eu avisei várias vezes para que você repensasse suas atitudes — digo, balançando a cabeça. — As coisas poderiam ter sido diferentes se você simplesmente parece de me envolver nos seus joguinhos.
— É, sim. Estou dizendo para você aqui e agora que reconheço isso. Eu sei que as coisas estão confusas, mas...
— Você não me deve mais nenhuma explicação, Somi.
— Então acho que isso é um adeus, não é?
— Sim. — Assinto com a cabeça. — Não podemos voltar no passado e mudar o que aconteceu, mas eu espero que você consiga seguir com a sua vida, Somi.
Preciso admitir que é boa a sensação de colocar um ponto final na nossa história. Sinto que eu mesma já havia colocado meu próprio ponto final há algum tempo, mas talvez fosse disso que ela precisasse.
\[...]
Assim que entro em casa, eu finalmente volto a me sentir em paz. Minjeong está apoiada no balcão da cozinha, com um pano de prato na mão, os cabelos negros ainda úmidos, um sorriso doce enquanto olha para mim. Me sinto a mulher mais sortuda do mundo por ter sido a sua escolhida, e essa noite mais do que nunca por poder aproveitar sua companhia. Sem hesitar, ela vem ao meu encontro e me puxa para um abraço. Fecho os olhos, em silêncio, agradecendo-lhe por ter sido ela a parede remota em que pude me apoiar.
Minjeong não me faz muitas perguntas de imediato já que tem uma noção de como foi o meu dia. Subo até o meu quarto para tomar um banho rápido e somente quanto estamos jantando, nos permitimos conversar abertamente sobre tudo o que aconteceu. Ela escuta atentamente tudo o que eu tenho a compartilhar e mesmo que no começo fique preocupada com o rumo que as coisas levaram, faço questão de que entenda que estamos diante do melhor cenário possível.
Agora estamos no meu quarto, deitadas na minha cama enquanto assistimos a um filme. Na verdade, Minjeong assiste. Eu estou mais interessada em ficar olhando para ela enquanto acaricio seus cabelos.
Minjeong apoia a cabeça em meu ombro, com os olhos voltados para a TV de tela grande pendurada na parede do quarto. De tempos em tempos, ela reage a alguma cena, e suas pernas descobertas se mexem sob a bainha de uma das minhas camisas sociais que ela fez questão de tomar posse. Estivemos tão ocupadas nos últimos dias com tudo relacionado ao cursinho que esse momento, apenas abraçadas enquanto assistimos TV, por mais simples que seja é infinitamente maravilhoso.
Apesar da sua presença em minha vida, apesar de tudo o que criamos juntas, e apesar do significado por trás disso, é só neste momento que a ficha parece cair. Estamos mesmo nos libertando. Em alguns dias, poderei finalmente amá-la abertamente.
Respiro fundo e olho para o teto.
— Você está quieta demais. — Ela diz, atraindo minha atenção. — Aconteceu alguma coisa?
— Não aconteceu nada. — Digo, depositando um beijo em seus cabelos. — É só que é a primeira vez que preciso ter uma reunião de trabalho para falar sobre o fato de que estou namorando uma das minhas alunas.
Inclinando-se para frente para que eu olhe para ela, Minjeong pergunta:
— Você preferia que as coisas fossem diferentes?
— Apenas aquelas relacionadas a Somi — declaro com voz séria, observando enquanto ela me olha atentamente. — Essa é a única parte dessa história que eu gostaria que fosse diferente.
— Você acha que ela realmente vai nos deixar em paz agora?
— Eu acredito que sim — respondo, sentindo um incomodo no peito com as lembranças da nossa última conversa. — Somi tem outras prioridades com as quais lidar no momento, incluindo evitar que seu nome seja envolvido em um escândalo.
— Nossa — sussurra Minjeong, balançando a cabeça e mordendo o lábio inferior. — Você não faz ideia como é bom ouvir o que você acabou de dizer.
Dou um sorriso para ela e tiro alguns fios de cabelo do seu rosto.
— Você acha que Joohyun vai querer conversar comigo? — Ela pergunta, segurando a minha mão em seu rosto.
Balanço a cabeça.
— Acredito que não, eu fui bem clara quanto a não envolver você ainda mais nessa história. E Joohyun também quer resolver tudo da forma mais discreta possível.
— Acho que fico mais tranquila assim, porque não consigo imaginar a reação da minha mãe ao chegar em Seul e se deparar com toda essa situação.
Fico em silêncio. Ainda estou digerindo a informação de que a mãe de Minjeong vem à Seul no próximo fim de semana para uma visita. Mesmo que agora as coisas estejam enfim se acertando, ainda sinto meu estômago se revirar na expectativa de conhecer a família dela.
Caramba... eu nem ao menos sei o que a mãe dela pensa sobre mim, ainda não conversamos sobre isso, já foi uma surpresa saber que ela falou de mim para Taeyeon. A verdade é que eu mal sei como agir, desde que fiquei sabendo dessa novidade minha maior preocupação tem sido evitar que alguma situação constrangedora aconteça.
— Por acaso esse silêncio significa que você está considerando desistir de conhecer minha mãe? — Minjeong pergunta com um sorrisinho.
Balanço a cabeça.
— Claro que não — digo, segurando sua mão e entrelaçando nossos dedos. — Eu só estou me sentindo um pouco ansiosa com a perspectiva de que isso está mesmo acontecendo.
— Acho que você vai sobreviver.
— Bom saber — digo, olhando para os nossos dedos juntos.
— O que foi? — Ela pergunta.
— Eu só estou pensando que tenho que agradecer a sua mãe por ter apoiado que você viesse para Seul. Foi graças a isso que pude conhecer a felicidade.
— Pare com isso, Jimin. — Ela diz em tom sério. — Não quero começar a ficar emotiva agora. Já tenho certeza de que vou ficar assim quando ver minha mãe.
Sorrio, passando o nariz em seu pescoço, e subindo uma de minhas mãos pela sua coxa, por baixo da camisa.
— Então quer dizer que você não está interessada em romantismo hoje — murmuro em seu ouvido, deslizando minha mão por cima da sua calcinha. — Talvez esteja interessada em outra coisa então.
— Talvez você tenha razão — Ela suspira quando começo a acariciá-la, e joga a cabeça para trás. Isso me faz sorrir.
— Presta atenção no filme. Você pode perder alguma coisa importante.
Ela me lança um sorriso convidativo enquanto a acaricio, e sinto minha pele aquecer. Não importa quantas vezes façamos isso, a intensidade é sempre a mesma.
— Vamos esquecer o filme — murmura, me puxando para um beijo profundo, que leva a outro, e mais outro, e mais outros...
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E aí, galera!
Como sempre, estou passando aqui para avisar que a fic está na reta final. Acredito que temos apenas mais quatro capítulos pela frente.
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