26
Winter's pov:
Nos dias que se seguem, faço de tudo para aproveitar o fim de semana com Jimin. Não saímos muito, mas nos permitimos criar algumas lembranças especiais. Hoje, no entanto, estou preparando a máquina de café e como sempre me lembrando dela e de quando a vi no café pela primeira vez, tudo aqui me lembra ela, a porta de entrada, a mesa que ela e Aeri frequentam, o caixa, os chicletes de menta, absolutamente tudo. Estou tão absorta em minhas lembranças que não a ouço entrar.
— Bom dia!
Sua voz aquece meu interior fazendo-me rir voluntariamente, faz pouco mais de doze horas desde que nos
vimos pela última vez e já sinto saudade. Viro-me para encontrar seus olhos castanhos e seu sorriso de covinhas me saudando.
— Bom dia! — falo quase que em um suspiro e agradeço mentalmente pelo café ainda estar tranquilo, pois tenho certeza de que pareço uma boba sorridente.
— Acordei atrasada hoje, acho que preciso de um expresso — Ela debruça sobre o balcão como se estivesse em casa.
— Você não toma café expresso.
Seu sorriso debochado faz meu coração quase parar.
— É verdade, mas eu sempre faço isso quando preciso fazer algo que
estou sem coragem.
— E o que você precisa fazer que necessite de um sacrifício tão grande?
— Brinco.
— Preciso convidar uma garota para um encontro — ela diz baixinho.
— Garota de sorte. — Pego uma xícara e encho com o café, entregando-a. — Ela deve ser muito especial para te fazer vir até aqui para tomar um café.
— Você não imagina o quanto... — Jimin sorri desviando o olhar para a xícara fumegante que coloco à sua frente. — Não precisava ter enchido a xícara. — Ela olha para o líquido com uma cara que me faz rir.
— Se ela é tão especial assim,
acho justo que seja uma xícara à sua altura.
— Tudo bem. — Ela pega a xícara nas suas mãos e respira fundo. — Por ela eu faço esse sacrifício. — Ela faz uma careta quando toma o primeiro gole.
— Tomar esse café é uma verdadeira prova de amor.
Me apoio no balcão, rindo da cara da minha namorada enquanto ela bebe o café como se sua vida dependesse disso.
— Minjeong... — Ela coloca a xícara vazia no balcão e me encara. — Aceita ir ao 19th comigo esse fim de semana?
Eu não consigo controlar minha risada.
— Você só pode estar brincando comigo... — Começo a limpar o balcão, obrigando ela a levantar os braços para que eu não o atinja. — Que tipo de pergunta é essa?
— Bom, sua prova também é no próximo fim de semana, então achei que seria bom descontrair um pouco — Ela sorri. — E aí? Apenas diga sim e deixe o resto comigo.
— É claro que minha resposta é sim, Jimin — digo, sorrindo. — Vai ser ótimo relaxar um pouco depois de um dia tenso de provas.
Um aceno de cabeça é tudo o que ela me dá, e um aceno de cabeça é tudo de que preciso. Jimin se despede e segue por entre as mesas até desaparecer do lado de fora. Meus olhos a seguem, em silêncio, agradecendo-lhe por fazer parte da minha vida.
Depois de alguns instantes, volto a focar exclusivamente no meu trabalho. Enquanto Ningning prepara o pedido de um cliente, me mantenho firme na decisão de não pensar em nada além disso. Sunghoon ligou avisando que chegaria tarde por conta de um imprevisto, o que significa que fico responsável pelo caixa e minha amiga está completamente sozinha atendendo os clientes.
Eu já estou novamente focada em minha função quando uma cliente se aproxima.
— Ai, meu Deus... Então você realmente trabalha aqui? — Levanto a cabeça e vejo Somi olhando para mim, e tudo que posso fazer é encará-la. Ela se debruça sobre o balcão, com uma expressão completamente relaxada.
De repente me sinto intimidada por uma estranha sensação de desconforto, e passo os dedos no meu cabelo.
— Você não brinca mesmo em serviço, hein? — Ela sorri com facilidade, mas isso não parece nenhum pouco natural. — Então, tem como tirar um tempinho para conversar comigo?
— Não, como você pode ver, eu estou trabalhando — Rapidamente me afasto. Não estou nenhum pouco interessada em interagir com ela.
— Ah, é mesmo? — Ela dá uma risadinha, esfregando o queixo com a palma da mão. — O que acha de falar sobre a Jimin? Temos esse assunto em comum e posso te passar ótimas dicas se estiver interessada.
— Não, obrigada. Não preciso de nada disso, preciso que você me deixe em paz.
Ela não se abala com meu comentário rude e continua sorrindo.
— Vamos, não vai ser tão ruim assim. É só a gente voltar rápido. Jimin nem precisa saber dessa nossa pequena interação.
— Eu já disse que não quero. Você se incomodaria de ir embora? — Viro as costas para ela, esperando que isso seja o suficiente.
— Tudo bem. Mas o que será que a diretoria da Suneung vai achar quando descobrir que uma de suas professoras está namorando uma aluna?
Fico imóvel como uma pedra enquanto observo seus lábios formarem as palavras, e o medo abala todo o meu ser. Quero saber o que ela realmente pretende vindo aqui, mas a verdade me acerta como um soco. Somi não conseguiu absolutamente nada provocando Jimin, então resolveu mudar a sua abordagem da forma mais infantil possível.
Eu encaro seu rosto. Estou prestes a perguntar o que está planejando, mas esqueço assim que a mão dela agarra meu braço.
— O que foi? — Ela provoca. — Achei que estava gostando da minha companhia. Afinal, você parece ter uma preferência por professoras, não é?
— Me solta — Tento me desvencilhar de seu aperto. Ao perceber minha resistência, seu rosto se escurece, e ela me puxa em sua direção.
— Não é nada pessoal — ela diz com um sorriso convencido no rosto. — Mas sua namoradinha parece ter me apagado da vida dela e acho que encontrei a melhor forma de me reaproximar. — O rosto dela se aproxima do meu, e minha pulsação dispara no peito. É diferente de quando Jimin faz meu pulso disparar. Desta vez, é mais algo instintivo, dizendo para eu fugir ou lutar.
Penso em gritar, mas não quero criar uma cena no meu local de trabalho. Tento me mexer, mas a mão dela continua apertando meu pulso, fazendo com que fique impossível de eu me soltar.
Fecho os olhos. Pense, Minjeong. Pense.
Quando estou prestes a chamar Ningning, Somi se afasta. Mas ela continua indo para trás. Alguém a está puxando para longe de mim. Ela cambaleia por entre algumas mesas, chamando a atenção de alguns clientes. Jimin está parada a alguns passos de distância, os punhos fechados enquanto a encara com um olhar firme.
— Você perdeu a noção da realidade, Somi? — Ela diz. Vejo a raiva passar pelos olhos castanhos que conheço tão bem.
Somi passa a mão nos cabelos e dá uma risada sarcástica.
— Logo você me perguntando isso, Jimin? — Ela diz. — Entendo que você decidiu seguir sua vida, mas não imaginei que fosse fazer isso da forma mais improvável possível. Parece que eu me enganei mais uma vez.
Dou a volta no balcão e me aproximo de onde elas estão. Quero saber o que está acontecendo aqui, mas Jimin me lança um olhar de preocupação e pânico, como se quisesse que eu não me envolvesse nessa situação. Baixo a cabeça brevemente em resignação antes de dar um passo para trás.
— Esse não é o melhor lugar para termos essa conversa — Ela diz, olhando em volta.
Por sorte o movimento continua tranquilo e não temos exatamente uma plateia nos observando.
— Acho que não temos mais nada para conversar. — Diz somi com desdém. — Pelo que vejo você já foi mais do que clara na sua decisão.
Jimin fica em silêncio, mas vejo que respira fundo. Antes que eu tenha a chance de dizer qualquer coisa, os olhos de Somi estão sobre mim e ela abre a boca para falar:
— Você ao menos sabe as consequências que um relacionamento como esse pode trazer?
Vejo o corpo de Jimin se retesar e quando ela faz menção de avançar na direção dela, seguro o seu braço.
— Você não tem esse direito, Somi — Ela diz, entredentes.
Somi arregala os olhos, fingindo surpresa.
— O que? Eu não posso apontar os riscos que existem em um relacionamento entre uma professora...
— Certo, agora já chega! — Ningning diz, materializando-se ao nosso lado. — Você aí, caso não queira criar problemas com a justiça, eu aconselho que vá embora. Agora.
— Como é? — Somi pergunta, sorrindo de forma autodepreciativa.
— Por acaso você esqueceu que o café tem câmeras de segurança? — Minha amiga diz em um tom desinteressado. — Eu me pergunto o que vai ser da sua carreira profissional quando vier a público que você estava assediando uma aluna no local de trabalho dela?
Somi faz uma careta e passa as mãos pelo rosto. Ela fica em silêncio por alguns instantes e noto que pela primeira vez parece realmente preocupada com a possibilidade de se envolver em problemas.
— Nós não precisamos levar as coisas para esse rumo — Ela diz, compreendendo a constatação de Ningning. — Eu reconheço que passei dos limites e... Não se preocupem, já estou de saida.
Somi se vira e segue para a porta de entrada, mas antes que saia Jimin chama seu nome.
— Eu só quero deixar bem claro que se você chegar perto dela outra vez, eu vou tomar medidas drásticas — ela diz, sua voz está tão fria como nunca ouvi antes
Somi fecha a cara. Então, fazendo um sinal com a cabeça, como se fosse a única despedida de que é capaz, vai embora. Depois que ela sai, Jimin volta sua atenção para mim. Seus olhos me observam, cautelosos. Ela me observa atentamente, como se procurasse por alguma lesão. Nenhuma de nós diz nada. Eu, porque ainda estou sem reação diante do que aconteceu. Jimin porque... não sei por quê. Ficamos em silêncio até ela dar um passo cambaleante para trás.
— Ahhh, eu não acredito que tudo deu certo! — Ningning diz, sobrepondo-se ao breve silêncio que se instalou. — Caramba, Jimin! Você chegou na hora certa.
Ela assente com a cabeça.
— Na verdade, eu estava no estacionamento quando vi Somi entrar. Fiquei preocupada que ela pudesse tentar alguma coisa e resolvi esperar.
— Jimin... — sussurro.
— Está tudo bem — ela diz, mas é óbvio que não está. O que aconteceu hoje só reforça esse sentimento.
Balanço a cabeça e arregalo os olhos, em choque.
— Como pode estar bem? Somi ainda pode tentar fazer alguma coisa.
— Confie em mim, Minjeong — ela sorri na tentativa de me acalmar. — Eu vou resolver toda essa situação ainda hoje.
Eu a encaro, séria.
— Acho que vocês precisam de um tempo — Ningning troca um rápido olhar com ela antes de voltar a me encarar e dizer: — Vá para casa, Winter, eu cuido de tudo por aqui.
Instantes depois, estou acompanhando Jimin até o estacionamento do café. Só percebo o quanto estou tensa quando o ar frio do outono entra em contato com a minha pele. Adoraria que a última hora da minha vida pudesse ser esquecida. Mas também agradeço por Jimin ter voltado e evitado que algo pior acontecesse.
— Jimin... — Penso em falar com ela, mas acabo desistindo, estou me sentindo confusa.
— Você está preocupada, não é? — Ela pergunta.
Assinto com a cabeça.
— É... Talvez. Só estou um pouco cansada de tudo isso.
— Eu também estou — Ela se aproxima um pouco mais, envolvendo os braços em minha cintura. Enquanto fala, sua voz fica mais baixa. — Eu sei que não está sendo fácil lidar com toda essa situação, então obrigada.
— Por que você está me agradecendo?
— Por ser a garota que eu amo. Eu nunca soube que precisava de você, mas eu precisava. Eu preciso. — Ela olha para mim com um meio sorriso, aquele que sempre faz meu coração palpitar. — Depois do acidente, as únicas pessoas que eu tinha de importante na vida eram Yeoreum e Giselle, sabe? Agora, também tenho você.
— Você quer saber um segredo? — Pergunto.
— Quero.
— Eu acho que você é a pessoa mais gentil da cidade.
Ela ri.
— E essa pessoa gentil pode cuidar um pouco de você agora?
Eu sorrio na hora. Eu preciso disso. Preciso dela ao meu lado para me afastar um pouco de todos os problemas.
— Está bem — falo, soltando o ar e relaxando um pouco. — Eu só não quero ir para minha casa.
— Posso te levar para a minha se você quiser e se sentir bem, mas se não quiser...
— Tudo bem, pode ser.
\[...]
Vinte minutos depois estamos estacionando na entrada da casa de Jimin, salto da moto e espero por ela, que sorri para mim, embora seus olhos estejam cansados. Ela parece alguém que acaba de lutar uma batalha, está cansada e mesmo assim não quis me deixar sozinha. Ficamos em silêncio enquanto ela nos leva até a entrada, abre a porta e espera até que eu entre.
— Por favor, fique à vontade — diz ao fechar a porta. — Quer alguma coisa? Está com sede?
Balanço a cabeça, retirando meus tênis e caminhando até o sofá.
— Não imaginei que meu dia ia começar dessa forma — digo, sentando-me e olhando para o teto.
— Eu também não. — Jimin concorda.
Ela se aproxima, senta ao meu lado e me envolve em seus braços em um abraço carinhoso, apoio a cabeça em seu peito e ficamos um momento assim, apenas sentindo a presença uma da outra, enquanto mais um dia avança lá fora.
— Eu gostaria de poder ter evitado que você passasse por aquilo hoje — ela diz com os lábios próximos ao topo da minha cabeça. — Gostaria de nunca ter conhecido Somi para poder te proteger. Eu sinto muito, Minjeong, sinto tanto que nem sei o que te dizer.
Me afasto e acaricio seu rosto com a mão. É perceptível o quanto ela está se sentindo culpada mesmo quando não tem nenhum motivo para isso.
— Não se sinta mal por mim. — Digo em tom gentil — Não foi sua culpa Somi ter agido daquela forma.
— Eu não pude fazer nada antes, mas eu estou aqui agora e posso fazer tudo para protegê-la.
Sorrio de forma singela. Desejo gravar esse momento para que eu me lembre dele para sempre, porque eu posso jurar que não há no mundo inteiro uma imagem mais bela do que essa mulher linda e tão forte, que teve uma vida tão difícil e que mesmo assim está me permitindo ficar.
— Você ainda está aqui — beijo seus lábios como se precisasse garantir que ela é real. — Não desistiu ao descobrir que Somi sabia sobre nós. Nem está me olhando de outra forma que não a mesma de sempre, você ainda está me abraçando e dizendo coisas gentis.
Ela olha para baixo, e vejo que, de alguma forma, em algum momento, minha mão encontrou a dela e eu entrelacei meus dedos nos dela. Eu me aproximei mais dela e nem notei.
— Mesmo quando você achou que essa era a melhor saída, teve medo que eu concordasse, não é? — Ela diz quase em um sussurro. — Que eu desistisse de nós por conta das ameaças de Somi?
Fecho os olhos e assinto com a cabeça.
— Sim, porque eu nunca quis de fato abrir mão do que temos.
— Eu sei — Ela diz, com a voz grave e suave. — Mas eu sempre estarei aqui, Minjeong.
— Então eu vou ficar bem.
Ela se aproxima mais e coloca a outra mão na minha nuca. Seus dedos começam a massagear lentamente a minha pele, fazendo-me inclinar um pouco a cabeça.
— Isso é tudo o que eu quero.
— Vai ser ainda mais fácil com você fazendo isso — Confesso, colocando as mãos no peito dela.
— Então, se você deixar — ela começa com a voz suave, encostando a testa na minha. A respiração dela acaricia os meus lábios enquanto eu mantenho os olhos fechados. — Eu vou ficar abraçadinha com você.
Jimin me ergue nos braços e me coloca em seu colo. Eu a envolvo com as pernas, e ela me abraça. Eu estou tão perto que minha cabeça pousa no peito dela. Estamos tão próximas que cada vez que eu respiro, escuto as batidas do seu coração.
Uma respiração, uma batida. Duas respirações, duas batidas.
— Jimin — sussurro enquanto seus dedos brincam com meu cabelo. — Posso pedir para você fazer uma loucura?
— É só dizer o que você quer.
— Será que você pode me levar para o seu quarto e ficar deitada lá comigo e só me abraçar por um tempo?
Sem dizer mais nada, ela me levanta no colo e segue para o quarto, onde me coloca suavemente na cama e se acomoda ao meu lado. Ela me puxa para perto e eu me aconchego ao seu corpo. Seu calor me envolve por inteiro e eu inspiro todos os cheiros dela. Jimin parece o meu cobertor favorito, e eu quero ficar agarrada com ela pelo maior tempo possível.
Não há nenhum barulho à nossa volta, apenas o som da nossa respiração. Ela aninha os lábios no meu pescoço e, pela primeira vez desde que o dia começou, sinto que estou exatamente onde deveria estar.
— Jimin? — sussurro, aproximando-me ainda mais dela.
— Hã?
Respiro fundo e solto o ar devagar.
— Eu te amo. Eu te amo ainda mais agora por saber que você passou por tanta coisa horrível e mesmo assim está aqui comigo, por me permitir aproximar de você, por confiar em mim.
Ela sorri e beija meus lábios inúmeras vezes até que eu também esteja sorrindo.
— Eu te amo demais, Minjeong. Eu nem sequer sabia que era possível amar dessa maneira, mas não me arrependo de nada.
Suas palavras são suficientes para acalmar meu coração.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top