25

Winter's pov:

Na sexta-feira, Ningning faz questão de me levar até o cursinho. Tenho sentido que ela está desconfiando que algo está acontecendo, mas agradeço por ainda não ter comentado nada. Quando paramos no estacionamento, me despeço e saio do carro, com minha mochila nas costas, e abraçada a um livro. O plano é fazer todo o possível para ficar fora do caminho de Somi. Agora que ela sabe a verdade, temo que possa fazer alguma coisa.

Era muito mais fácil me sentir à vontade com toda essa situação quando ninguém da Suneung sabia sobre ela. Agora eu só sinto apreensão quando venho ao cursinho.

— Como está a sua ansiedade para o vestibular no próximo fim de semana, Minjeong? — Han me cutuca de lado com um sorriso. Imagino que tenha chegado à pouco tempo, porque nem percebi quando ele se aproximou. — Ih, pela sua reação já vi que a coisa está tensa.

Dou uma risada.

— Talvez você tenha razão. E como está se sentindo em relação a isso?

— Que vou ser avaliado como se fosse um aluno da Harvard. — Han revira os olhos. — Vou ter sorte se passar para uma das faculdades que escolhi. — Parece que ele está dizendo isso mais para si mesmo, então prefiro não comentar. — Pelo menos vou me livrar um pouco das cobranças dos meus pais quando me tornar um universitário.

— Eu pensei que eles já tivessem aceitado sua escolha de não cursar direito.

— Isso não muda o fato de que eles querem que eu seja o melhor em tudo. Acho que vou conseguir respirar um pouco depois que tudo isso passar. — Ele sorri antes de correr até um dos seus amigos.

Respiro fundo e olho para o prédio da Suneung. Diversas pessoas circulam como se soubessem exatamente aonde estão indo. Exatamente qual é o próximo passo. No momento a única coisa que quero é terminar meu cursinho com o mínimo de dano possível.

Quando entro, vou direto para minha aula de literatura coreana. Jimin está ligando seu notebook quando me vê e abre um sorriso discreto. Retribuo o gesto e vou para minha mesa. Ela fica sempre tão linda em suas roupas sociais, assim fica quase impossível disfarçar o que sinto.

Observo Jimin pegar uma caneta para quadro branco e sentar-se na beira de sua mesa, daquela sua maneira relaxada de sempre.

— Boa tarde, pessoal. Fico feliz em ver que todos parecem estar animados para a aula de hoje. Espero que estejam igualmente preparados para o simulado surpresa que estou prestes a aplicar.

Um alvoroço de resmungos toma conta da sala, mas eu permaneço em silêncio. Com tudo o que tem acontecido na minha vida ultimamente, fazer um simulado é o menor dos meus problemas.

— Professora Yu, você não faria isso, não é? — Han ri. — Está apenas brincando com sua turma preferida.

Os olhos de Jimin se estreitam para ele. Ela ergue uma sobrancelha e um dos cantos de sua boca transforma-se em um sorriso. Será que ela sabe o quanto esses pequenos gestos ainda mexem comigo?

— Brincadeira? — murmura Jimin. — É? — Pergunta, batendo a caneta para quadro na pilha de papéis sobre sua mesa.

Yuna é a primeira a falar:

— Derrotada por uma professora, Han!

A turma cai na risada, e eu não consigo parar de sorrir. Queria estar chocada por Jimin conseguir quebrar o clima tenso antes de uma prova, mas é claro que ela faria isso. Ela é incrível além da conta.

Jimin levanta as mãos, fazendo a turma, às gargalhadas, silenciar.

— Muito bem. Então, o que eu quero de vocês é que deem o seu melhor nesse simulado, no qual irão encontrar questões que foram aplicadas nas provas dos dois últimos exames nacionais... — Ela levanta a pilha de papel e começa a entregá-las para nós —, e quero que levem isso a sério. Na próxima semana, iremos revisar toda a matéria. E, no próximo domingo, espero que estejam preparados para conquistar uma vaga na faculdade que escolheram. — Ela coloca minha prova na minha mesa e sorri. É o mesmo sorriso amável que eu recebo quando estamos as sós. — Façam cada minuto valer a pena.

A hora seguinte é dedicada inteiramente ao simulado. Assim como meus colegas de sala, faço questão de me concentrar totalmente nas questões, evitando assim pensar nos problemas que envolvem a minha vida. Apesar de terminar rápido, fico relendo algumas respostas apenas para esperar o tempo passar.

Quando a aula é encerrada, todos se apressam em entregar as provas e a sair da sala. Eu não entendo por que tem sempre tanta pressa para sair. É a minha aula favorita, da qual me despeço lentamente.

Yuna diz que me encontra na próxima aula. Depois que ela sai, levanto a cabeça e vejo os olhos de Jimin em mim. Parece que ela tira um grande peso dos ombros quando nossos olhares se encontram. Sinto que meu corpo também se livra desse peso.

Seus lábios se transformam em um meio-sorriso e os meus lábios seguem, dando-lhe a outra metade. Fazemos uma a outra sorrir, sem dizer uma palavra sequer.

Esses são os meus sorrisos favoritos.

Levanto-me da cadeira e coloco tudo dentro da minha mochila, exceto a prova em minhas mãos. Coloco-a sobre a mesa e, quando penso em sair da sala, escuto Jimin dizer meu nome. Me viro na sua direção.

— Tenho certeza de que se saiu muito bem nesse simulado — sussurra. Meu rosto fica quente. Ela dá uma risada baixa. — Eu apenas confio no potencial da minha aluna preferida.

— Sério?

— Sério, mas não deixe ninguém saber disso.

Balanço a cabeça e sorrio.

— Me pergunto o que os outros alunos achariam se soubessem que a tão popular professora Yu tem uma aluna preferida — Brinco.

Ela sorri, levando a mão aos cabelos. Quando olha para mim, prendo a respiração. Seus olhos parecem estar ainda mais intensos, vividos, como imagino que seus pensamentos também estejam.

— Digamos que ela me deu motivos mais do que necessários para isso — diz naturalmente, mas posso notar o tom provocativo em sua voz. — Desculpe se foi uma competição injusta, mas não tenho como voltar atrás na minha decisão.

Arqueio uma sobrancelha.

— O que você está insinuando, Jimin? — sussurro, aproximando-me de sua mesa.

— Talvez possamos conversar depois? De preferência hoje à noite na minha casa.

Sinto meu rosto ficar ainda mais quente.

— Como uma professora tão inteligente pode ser tão presunçosa?

— Desculpe atrapalhar...

Viro-me para a porta e encontro a professora Hwang olhando para nós. Vejo a surpresa em seus olhos ao me ver.

— Ah... Oi, Minjeong! — Ela entra na sala de aula e se aproxima da mesa de Jimin. — Posso voltar mais tarde se preferir.

— Não, está tudo bem, Yeji. — diz Jimin com um tom de voz suave. — Só estávamos discutindo algumas questões do simulado que apliquei hoje.

— Sério? — A professora Hwang se inclina mais para perto, sussurrando para Jimin. — Não me diga que a professora estrela da Suneung pegou pesado com sua tão amada turma?

Eu não quero sorrir, mas acabo sorrindo.

— Na verdade...

— Minjeong... — diz Jimin, colocando sua mão no eu ombro. — Converso com você depois, ok?

— Não se preocupe. Só passei para dizer oi. Aqui. — Yeji puxa um envelope da bolsa e o coloca na mão de Jimin — Esse é o edital que você me pediu da Yonsei. E aproveitando que estou aqui, o pessoal vai ser reunir no 19th hoje a noite. Apareça por lá. — Ela me dá seu típico sorriso leve. — Eu espero que você também esteja preparada para o meu simulado amanhã, Minjeong. — Então desaparece da sala de aula, deixando-me perdida.

Jimin olha para o envelope e abaixa a cabeça, esfregando a nuca.

— Ela sabe? — Pergunto.

— Está tudo bem. — Ao notar minha ansiedade, ela diminui o tom de voz como se tentasse me acalmar mesmo sem saber o motivo. — Nós estamos bem.

Nossa, eu amo tanto essa mulher... sim eu a amo, muito mais do que imaginei ser capaz de amar alguém, amo sua bondade e paciência, amo sua inteligência e elegância, amo a maneira carinhosa como ela sempre cuida de mim, amo seu sorriso e seu olhar, amo sua voz e a forma como ela me beija. Amo seu coração puro, sua beleza, não apenas a que todos veem, mas aquela que apenas quem a conhece sabe. E ela é linda.

— Podemos nos ver depois?

— Claro, Minjeong — Ela olha em direção ao corredor, então pega uma mecha do meu cabelo e desliza atrás da minha orelha. — Eu te mando uma mensagem quando terminar tudo por aqui. Não se preocupe.

Eu me viro e sigo em frente, e quando já estou fora de seu campo de visão, sorrio ainda mais.

Abro um sorriso tão largo que minhas bochechas começam a doer.

\[...]

As horas seguinte passam como a anterior: completamente voltadas para o cursinho. Quando enfim caminho pelos corredores no fim da tarde, fico imaginando como será minha última semana de aulas aqui. Vou até o estacionamento na lateral do prédio enquanto vejo as horas no meu celular. Yuna combinou de me dar uma carona até em casa, mas antes disse que passaria na biblioteca. Então termino o que estou fazendo e caminho até o seu carro.

— Já está de saída? — Uma voz feminina me distrai e sou obrigada a virar para olhar na sua direção. E quando vejo quem está na minha frente, me arrependo de não ter continuado andando.

— Olá, professora Jeon — digo de maneira casual. — Pois é, minhas aulas de hoje já foram finalizadas. — Sorrio forçadamente.

— Não quis fazer nenhuma aula extra, querida? — Ela me provoca de maneira infantil e ridícula.

Contenho a vontade de não responder, mas tenho certeza de que se eu fizer isso ela vai encarar como medo e não como o desprezo que merece, então dou de ombros e digo:

— Não, eu não faço aulas extras.

— Nem mesmo de literatura coreana? — Ela sorri ironicamente, erguendo uma de suas sobrancelhas perfeitas. Sei que está me provocando e, quando abro a boca para responder, Yuna se aproxima como se pressentisse que uma catástrofe está prestes a acontecer.

— Minjeong, desculpe ter demorado — Ela diz quando passa por Somi, que apenas a cumprimenta brevemente antes de se afastar.

Ela não parece nem um pouco preocupada de Yuna ter nos visto juntas. Na verdade, age como se nada demais tivesse acontecido. Ela anda de um jeito que faz parecer que tudo no mundo a entedia. Ela simplesmente passa do ponto A para o ponto B sem o menor interesse de explorar a ideia de um ponto C.

— E então, o que estava acontecendo aqui? — Pergunta Yuna, curiosa.

Entendo a reação dela, não é comum os professores da Suneung ficarem conversando por ai com seus alunos. Difícil não notar que tem algo estranho e isso é apenas mais um agravante que me deixa ainda mais intimidada, além disso o fato de que Somi parece decidida a encontrar uma forma de prejudicar Jimin faz com que eu tenha que me segurar para não sair correndo como um cachorrinho de rua.

— Estava apenas pegando algumas dicas de redação — minto e sorrio para Yuna, tentando ignorar o buraco onde me sinto caindo.

— Mesmo? Então vai ter que compartilhar comigo no caminho para casa — ela diz e não me deixa responder, continua falando sem parar. — Confesso que não tenho dado tanta atenção a essa matéria quanto deveria, mas com a aproximação do vestibular...

O caminho até minha casa é regrado a conversas aleatórias. Ao chegarmos, agradeço pela carona e saio, então escuto Yuna me chamar.

— Amanhã combinei de encontrar com Han para revisarmos as matérias do cursinho juntos. Você quer se juntar a gente?

Sinto-me ansiosa de novo só de pensar na prova que se aproxima. Mas Yuna tem se mostrado uma amiga bem prestativa, então acho que vai ser bom estudar um pouco em grupo.

— Claro. Te encontro lá.

— Certo. Então até amanhã — Ela diz antes de dar partida no carro.

Quando entro em casa, encontro Ningning sentada no sofá assistindo a um programa aleatório.

— Ah, oi, Winter. — Ela abre um sorriso enquanto toma um gole de suco. — Venha aqui. Preciso conversar com você. — Sua mão acaricia o lugar no sofá ao lado dela.

Deixo minha mochila no batente da sala e me sento ao seu lado. Ela coloca seu copo sobre a mesa de centro, então sorri e aproxima-se mais, virando o corpo em minha direção.

— Como você está?

Como eu devo responder a isso?

Bem. Odeio as reviravoltas que minha vida adora fazer.

Bem. Adoro passar um tempo com meus amigos. As únicas pessoas que realmente parecem me entender.

Bem. Continuo namorando minha professora e estávamos lidando com isso da melhor forma possível. Então agora tudo parece ter mudado de repente, sem explicação.

— Estou bem — murmuro.

Ela franze a testa.

— Minjeong, estou tentando ao máximo ficar na minha. Estou mesmo. Mas você não consegue disfarçar sempre! Está óbvio que tem alguma coisa acontecendo entre você e a Jimin.

Respiro fundo, sabendo que não vou conseguir fugir dessa conversa por muito mais tempo.

— Você quer a verdade ou a mentira?

— Sempre a verdade.

Ela pega o controle e desliga a TV, dedicando toda a sua atenção a mim.

— Então, o que aconteceu?

Solto uma risada.

— Para ser sincera, eu nem sei por onde começar.

— Bem, eu não tenho mesmo nada para fazer hoje à noite — ela brinca. — Então, comece pelo começo.

E é o que eu faço.

Conto para Ningning tudo que tem acontecido entre mim e Jimin e, quando as lágrimas começam a cair dos meus olhos, ela se põe a enxugá-las. Ela não tenta me aconselhar nem me dar uma lista de opções do que eu devo ou não fazer. Não, ela apenas me ouve.

Às vezes, tudo que uma pessoa precisa é de alguém para ouvir as batidas vacilantes de seu coração. Quando acabo de contar tudo, ela aperta meu joelho de leve.

— Então, você não está bem.

— Mas vou ficar.

— Com certeza — Ela assente com a cabeça. — Você vai ficar muito bem. Mas, até lá, precisamos lidar com isso da melhor forma possível. Você tem mesmo certeza que essa tal de Somi não tem nenhuma prova que possa prejudicar você ou a Jimin?

— Certeza, eu não tenho... Mas penso que se ela tivesse algo, já teria feito algum movimento. Porque não vai ganhar nada se continuar com esse joguinho.

— Eu sei, mas não confio, e você também não deve fazer isso. Mesmo sem provas, essa mulher pode tentar criar alguma situação constrangedora. Além disso, falta apenas uma semana para o seu cursinho chegar ao fim. Então, vamos tentar manter a calma e redobrar o cuidado em relação a tudo isso.

Sinto um frio descer pelo meu corpo enquanto lembro do meu breve encontro com ela no estacionamento da Suneung.

— Toda essa situação está sendo tão sufocante. As vezes sinto que estou sendo vigiada, como se tivesse perdido minha liberdade.

— Eu entendo você. — Ela faz uma pausa e franze o nariz. — Gostaria de poder me livrar dessa Somi.

— E eu gostaria que isso fosse possível. — resmungo.

Ningning ri.

— Bom, já que não podemos fazer nada quanto a essa situação no momento, que tal uma noite de filmes? Relembrar os velhos tempos.

Ningning tem mesmo o dom para melhorar o clima. É nessas horas que eu agradeço por ela fazer parte da minha vida.

— Claro, porque não? — respondo, sorrindo. — Comer besteiras enquanto assisto filmes aleatórios com minha melhor amiga é a melhor forma de lidar com meus problemas.

Ela me lança uma piscadinha.

— Você entendeu o espírito, garota. — Diz. — Agora vai subir para tomar um banho enquanto eu preparo tudo por aqui. Podemos até debater sobre formas de silenciar essa tal Somi.

Dou uma risada.

— Acho que esse vai ser o ponto alto da minha noite.

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