24

Karina's pov:

Minjeong ficou chateada quando acordou na quarta-feira de manhã e viu que eu já tinha ido embora. Diz que não foi justo ela ter dormido o tempo inteiro na nossa primeira manhã juntas na sua casa. Independentemente disso, eu gostei. Fiquei vendo-a dormir por um tempo antes de voltar para casa.

Desde então não nos metemos em mais nenhuma situação em público. Acho que nós duas estamos preocupadas que Somi possa conseguir alguma prova de que temos um relacionamento, então estamos evitando que isso aconteça. Pelo menos até o próximo final de semana quando as aulas do cursinho estão oficialmente encerradas e ela deixa de ser minha aluna e passa a ser unicamente a garota que eu amo.

Agora estou na minha sala, preparando o simulado que devo aplicar em alguns dias enquanto sou encarada pela única pessoa de quem quero manter distância. É constrangedor e irritante. Pela maneira como Somi age, parece que estou mesmo em suas mãos. Mas discutir com ela sobre o assunto agora só vai mostrar o quanto está conseguindo me afetar. A última coisa que quero fazer antes do próximo fim de semana é criar problemas, então resolvo esperar mais uma semana antes de mencionar o assunto.

— Somi, você deveria estar se preparando para sua aula — digo, sem desviar o olhar do notebook a minha frente. Ela continua olhando para mim.

— Jimin, você está sendo metida — sussurra. — Não entendo por que não quer nem falar comigo. Se tivesse mesmo esquecido o que aconteceu entre nós, o que te contei da última vez não a incomodaria tanto assim.

Não acredito que ela realmente esteja pensando que não esqueci o que aconteceu entre nós. Esqueci o que aconteceu entre nós no dia em que vi Minjeong pela primeira vez.

— Eu esqueci a gente, Somi. Já se passou um ano. Você também já esqueceu. Mas é que sempre quer o que não pode ter, por isso está com tanta raiva. Isso não tem nada a ver comigo.

Ela cruza os braços e se recosta no batente da porta.

— Você realmente não mudou nada, não é? — Ela me fulmina com o olhar e fecha a porta da sala. — Alguém já disse que você é uma babaca?

Dou uma risada.

— Na verdade, sim. E mais de uma vez.

— Eu não me importo muito com isso — Ela se aproxima e se recosta na beirada da minha mesa, sua proximidade me sufoca. Quero gritar para que ela fique longe de mim, mas não posso fazer uma cena no meu local de trabalho. — Eu achei que você tinha entendido o que eu disse da última vez. — Ela puxa uma mecha do meu cabelo e se inclina na minha direção: — Você sabe que eu posso destruir a sua brincadeira em um estalar de dedos, não é? Você sabe que é a única que pode evitar isso.

— Você está me vigiando? — Pergunto, agarrando seu pulso e retirando sua mão de cima de mim. Um sentimento conhecido e avassalador ameaça me sufocar.

— Não! — Ela diz rapidamente assustada com minha constatação. — Porra, Jimin... Claro que não, eu só achei que seria bom te lembrar, caso você tivesse esquecido.

— Você realmente acredita que vai conseguir alguma coisa comigo assim?

— Eu não acredito que estou ouvindo isso — ela responde irritada.

— Sejamos sinceras, Somi. — Minha voz se altera e respiro fundo. A raiva começa a me fazer perder a razão. — Se você tivesse provas que pudessem prejudicar a mim ou a Minjeong, já teria feito isso. A razão de ainda estarmos nesse joguinho só mostra o quanto você está sem alternativa.

— Você deveria tomar cuidado, Jimin. — Ela ameaça e não sou mais capaz de evitar.

— E você realmente deveria arrumar o que fazer e me deixar em paz, afinal não tem obrigação nenhuma comigo e não estou interessada em transformar nossa situação em um caso judicial. — Olho em volta como se, de repente, estivesse sendo vigiada por alguém.

— Que ridículo! — Ela balança a cabeça, como se eu estivesse delirando. — Talvez eu deva mesmo sair daqui, ir até a sala da Joohyun e esclarecer toda essa situação com ela.

— Você acha mesmo que ela vai querer envolver a Suneung num escândalo sem provas? — Pergunto, minha voz regada de escárnio. — Porque eu vou negar tudo até o último minuto e toda essa história não vai passar de um boato infundado — me levanto e aproximo meu rosto do seu. — A única que vai se queimar aqui é você, Somi. Está mesmo disposta a continuar seguindo por esse caminho?

Ela se afasta, olhando para mim como se já não me reconhecesse.

— Nossa, Jimin, não me interprete mal, eu só quis cuidar de você.

— Saia da minha sala, Somi — digo, sem querer continuar com essa conversa.

— Por que você está namorando uma garota como aquela? — Ela pergunta, ignorando-me.

— Como é que é?

— Ela não é a pessoa certa para você, Jimin. Você merece alguém do seu nível.

— E você definitivamente não é esse alguém — retruco com uma risada sarcástica.

— Você realmente me superou, não é? Não existe mais espaço para mim na sua vida, Jimin? Parece que você até esqueceu do quanto a gente se divertia juntas.

Será que ela não vê? Como é irônico me falar essas coisas quando nosso relacionamento não passava de algo casual.

— Eu não vou ter essa conversa com você — aviso.

— Tudo bem, então, está claro que você não quer conversar comigo nem me quer por perto. Mas você realmente deve tomar cuidado com o que faz da sua vida, Jimin

Somi abre a porta e sai, esfrego as mãos no rosto sentindo-me repentinamente cansada e então me deixo cair na minha cadeira apoiando a cabeça no encosto e imaginando uma maneira de colocar um ponto final em toda essa situação desgastante.

\[...]

O decorrer do meu dia na Suneung é difícil. Eu estou cansada e preocupada. Tudo por conta das atitudes recentes de Somi. Ela de fato não parece ter nada que possa prejudicar Minjeong, mas eu não descarto a possibilidade de estar planejando algo.

Logo antes da minha aula começar, vejo que Minjeong está com Yuna. Ela tem estado em sua companhia nos últimos dias, geralmente nos intervalos entre as aulas. E embora hoje eu saiba que elas são apenas amigas, ainda não consigo evitar um pequeno incômodo ao ver a maneira como elas estão próximas.

Minjeong parece perceber a minha presença, porque ela diz a Yuna que elas se falam depois e se aproxima de mim.

— Aconteceu alguma coisa?

Não respondo, apenas peço para que ela me acompanhe até o meu escritório.

Assim que Minjeong fecha a porta, eu finalmente volto a respirar tranquila, ela me olha daquela maneira inocente que me deixa louca e eu a puxo para mim sem nada dizer, a abraço com força mantendo-a em meus braços por mais tempo do que o normal e desejando poder deixá-la aqui para sempre.

— Eu posso saber o que aconteceu? — Ela me pergunta quando finalmente a solto.

— Eu te amo — digo do fundo do
meu coração.

— Eu também te amo, mas está acontecendo alguma coisa. — Ela me lança um olhar desconfiado, é algo que faz sempre que suspeita que estou omitindo alguma coisa para protegê-la.

— Eu só estou tendo um dia ruim e você deve imaginar por que — digo.

— Somi continua com as ameaças? — Ela pergunta, segurando a alça da mochila enquanto permaneço parada na porta, olhando para a minha pequena guerreira e relembrando as palavras dela.

Assinto com a cabeça.

— Ela esteve aqui mais cedo e quase tivemos uma discussão — digo chamando sua atenção.

— Ela não vai causar problemas para você, né? — Minjeong pergunta, visivelmente preocupada.

— Eu realmente não sei, ela parece ter feito disso uma missão de vida... Que desgraçada.

— Minha nossa... — Minjeong se senta na cadeira com as mãos na boca. — Claro! Ela não me parece o tipo de pessoa que desiste fácil das coisas. — Ela volta a me olhar e vejo o medo que surge cada vez que ela fala de Somi. — Eu não quero que você saia prejudicada nessa história por minha causa, Jimin.

— Não se preocupe, Minjeong, ela não fez nada. — Me abaixo na sua frente segurando-a pelo quadril. — Somi é um problema, mas um com o qual eu posso lidar. Vai ficar tudo bem.

Ela balança a cabeça e beijo seus cabelos puxando-a para meu peito.

— Apenas confie em mim.

Uma sensação ruim passa por mim ao imaginar o tipo de situação à qual ela poderia ser exposta por minha causa e o que teria que suportar por conta disso. A admiração pela garota à minha frente cresce a cada nova descoberta, Somi tem razão quando diz que ela não é do meu nível, mas uma coisa que ela não sabe é que Minjeong é muito superior, muito mais forte do que a grande maioria, e eu sou uma mulher de sorte por tê-la ao meu lado.

— Jimin? — Ela sussurra, chamando minha atenção.

— O que?

— Eu estava pensando — ela se afasta, com seu sorriso estampado no rosto e um olhar maroto. — Quer fazer uma loucura hoje?

\[...]

Eu deveria permanecer na Suneung para uma reunião de trabalho hoje, mas não é o que faço. Passo a maior parte da tarde ao lado dela, aproveitando sua companhia, protegendo-a e me apaixonando ainda mais. Minjeong faz questão de manter a conversa leve enquanto vamos à um café e passeamos por Itaewon, eu a beijo delicadamente a cada episódio e sinto ela se relaxar lentamente. Quando a noite enfim começa a cair, ela se recusa a ir para casa antes de realizamos a verdadeira loucura da qual falava.

— Tudo bem, espere um pouco! Só um pouquinho. — Minjeong faz uma careta no estúdio de tatuagem quando Ryujin está prestes a encostar a agulha na parte de trás do seu ombro.

— A gente já está esperando há quinze minutos. — Dou uma risada. — É agora ou nunca.

— Você pode segurar a minha mão? — Ela pede. Eu entrelaço meus dedos nos dela.

— Vai ficar tudo bem. Você vai ver que não é tão ruim quanto parece.

Ela me olha por um instante como se tivesse vendo um fantasma, seus lábios se abrem como se fosse dizer alguma coisa. Ela se vira para Ryujin e assente com a cabeça.

— Tudo bem. Estou pronta.

É mentira.

Na hora em que a agulha encosta na pele dela, Minjeong fecha os olhos e quase dá um salto enquanto aperta a minha mão com uma força ridícula.

— Tente relaxar — sugiro.

Ela respira fundo e assente com a cabeça.

— Você está bem? — Pergunta Ryujin. — Tem certeza de que vai querer tatuar uma kitsune? Você pode fazer algo menos detalhado.

Shin Ryujin é uma velha conhecida, ex namorada da minha melhor amiga, e voltou para Seul alguns anos atrás, quando seus pais não tinham mais condições de arcar com todas as despesas que uma vida na capital exige. Ryujin é praticamente a única pessoa da cidade com quem eles podem contar.

Nós somos próximas, pelo menos tão próximas quanto nossos encontros ao acaso permitem, o que não é muito. O corpo dela tem tatuagens em vários pontos, mas nada que atraia todos os olhares do mundo para ela. Ryujin passa todo o tempo livre trabalhando na loja de tatuagens que fica no centro da cidade. Tem cabelos claros que sempre mantém impecáveis, e um piercing no nariz.

Se você passar por ela na rua, pode ficar pensando se tratar de uma delinquente até que Ryujin comece a falar sobre a última máscara de abacate que descobriu. Ela é uma das pessoas mais sensatas do mundo, e por isso conseguimos manter contato mesmo depois do seu término com Giselle.

— Não — declara Minjeong com veemência. — Eu consigo. Eu só... — Ela respira fundo e eu aperto sua mão na minha. — Eu consigo fazer isso.

— Tudo bem, então, mas já que estamos fazendo isso, será que podemos conversar sobre o fato de que em vez de quebrar os meus dedos, você poderia simplesmente reclamar da dor? — Pergunto.

Ela dá uma risada.

— Acho que é mais forte do que eu, mas posso tentar evitar isso.

— Eu agradeceria.

Quando Ryujin pega um ponto mais sensível no braço de Minjeong, ela aperta minha mão com mais força ainda, e eu deixo.

— Você consegue.

Ela assente com a cabeça.

— Eu consigo.

E ela consegue. Leva tempo, e algumas reclamações de dor, mas o resultado fica perfeito. Ela fica de costas para o espelho, olhando por sobre o ombro para ver a obra de arte: uma raposa asiática está traçada na parte inferior do seu braço, o desenho e a escolha de cores parecendo ganhar vida em sua pele clara.

— Você gostou? — Pergunta ela com um sorriso no rosto.

— Eu amei. — Coloco a mão na cintura dela e dou um beijo em seu rosto. — Ficou perfeito.

— Também achei — ela concorda, olhando para mim. — Mas nós temos que fazer mais uma coisa.

— O quê?

Ela puxa um cartão.

— Espero que você não se importe, e se você realmente odiar a ideia, não precisa fazer, mas vi que esse kanji significa liberdade em japonês. Pensei que talvez pudéssemos tatuar a impressão em alguma parte do nosso corpo como um lembrete daquilo que uma proporcionou a outra.

Aperto o topo do nariz e pigarreio.

— Você é sempre assim?

— Assim como?

— Perfeita.

Fazemos a tatuagem da impressão do kanji na parte inferior do pulso, a minha do lado esquerdo, e a de Minjeong do lado direito. Ela não faz ideia do quanto me confortou nesse dia. Minjeong não faz ideia de quanto vem me confortando nos últimos meses.

— Tudo bem. E agora? — Pergunto, beijando a testa dela quando terminamos tudo.

Ela abre um sorriso enorme, e isso me faz sorrir também.

— Sorvete, mas primeiro vou ao banheiro.

— Boa ideia. A gente se encontra lá na porta.

Quando ela sai, Ryujin abre um sorriso e balança a cabeça.

— O quê? — Pergunto.

— Nada. É só que fica muito bem em você. Isso é tudo.

— O que fica bem em mim?

— A felicidade.

Sorrio enquanto caminho até a porta. As luzes de uma Seul noturna lembram-me de ter que enfrentar a realidade na manhã seguinte. Não tenho certeza se estou muito interessada nisso. Respiro fundo e fecho os olhos por alguns instantes. Permito que minha mente permaneça no presente. Como é sempre perfeito estar na companhia de Minjeong, como é libertador quando ela quebra minha rotina dessa forma.

O som da porta se abrindo atrás de mim me obriga a abrir os olhos. Balançando a cabeça, passo a mão nos cabelos e olho para o lado. Ela ainda está aqui. É bom saber que ela ainda está ali, sorrindo para mim tranquilamente. Por um tempo fico apenas observando-a, a maneira como sua presença modifica toda a minha existência.

— Aconteceu alguma coisa? — Minjeong pergunta.

Balanço a cabeça e enfio a mão no bolso.

— Só estava admirando a garota linda a minha frente.

Ela revira os olhos, daquela forma divertida que sempre faz, e se aproxima.

— Você quer conversar?

Arqueio uma sobrancelha, e ela continua sorrindo. Cuidadosamente, começa a tirar alguns fios de cabelo do meu rosto.

— Eu sei que você ainda está pensando no que aconteceu mais cedo — diz.

Sorrio.

— Eu realmente estou. Mas agora... — Envolvo meus braços em sua cintura e beijo seus lábios. — Neste momento, vamos apenas aproveitar tudo isso um pouco mais.

— Certo — Ela diz, sorrindo. — Pronta para nossa próxima loucura?

— Com você ao meu lado, eu estou sempre pronta.

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