21

Karina's pov:

Minjeong está apoiada no sofá, vendo algo no celular quando desço para a sala numa manhã de segunda-feira. Tivemos um final de semana perfeito, fizemos várias coisas juntas como uma forma de aproveitar o tempo ao máximo. Ela passou a semana inteira se dedicado aos estudos, e eu, lidando com meu trabalho na Suneung. Então, pela primeira vez em alguns dias, escolhemos dedicar um tempo para aproveitar juntas a companhia uma da outra.

Fomos ao cinema assistir a filmes aos quais jamais teríamos assistido e amamos. Saímos para caminhar, e eu adorei. Tentamos criar artes gráficas só para dizer que podíamos. — Ela conseguiu, eu não.

No entanto, alguns dos meus momentos favoritos é quando estamos juntas na minha cama, sem fazer nada demais, apenas conversando sobre nada e sobre tudo. Nesses momentos, eu sinto que aprendo mais sobre a garota diante de mim. São momentos breves que eu adoro.

Percebo que Minjeong olha rapidamente na minha direção antes de voltar a focar no celular em suas mãos. Ela provavelmente nunca se tocou disso, mas sempre percebi quando ela estava me observando durante as aulas. Principalmente quando descobrimos nossa realidade de professora e aluna. Todo dia eu chegava no cursinho e a via. Foi isso que me deu esperança de que um dia ficaríamos juntas: o fato de ela continuar pensando em mim.

Me aproximo dela, colocando um braço em cada lado do seu corpo enquanto beijo seus lábios.

— O que você está fazendo aí? — Pergunto, olhando para o celular.

— Estou vendo meus horários de hoje — ela diz. — Queria que o final de semana tivesse durado mais.

— Eu também — digo. — Estou pensando seriamente em tirar férias.

Minjeong puxa meu rosto e me beija. Eu realmente adoro quando faz isso.

— Eu iria adorar isso — ela diz, sorrindo. — Mas agora é melhor eu ir. Preciso chegar cedo ao café e também não quero que você se atrase.

— Estou bem tentada a prender você um pouco mais aqui.

Ela arqueia uma sobrancelha.

— Que tipo de atitude é essa? Onde foi parar aquela professora responsável da minha primeira semana de aula?

— Ela está aqui em algum lugar, caso você queira procurar... — Provoco.

— Pare de fazer isso.

— Parar de fazer o quê?

— De tentar me seduzir.

— Eu não estou fazendo isso.

— Claro que está! Eu consigo ver nos seus olhos.

— Não. Sério. Eu entendo. Não é sua culpa ser uma pessoa completamente suscetível a minha incrível existência.

Minjeong tenta parecer entediada, mas um sorriso irrompe em seu rosto. Ela se inclina para a frente e me abraça; eu perco o equilíbrio, e nós duas caímos no sofá. Eu a rolo para que fique de barriga para cima e ela olha para mim, rindo.

— Nós duas precisamos trabalhar, então pode ir parando com os joguinhos.

Afasto o cabelo de seus olhos e passo o dedo em sua bochecha.

— Eu amo você, Minjeong.

— Também amo você.

Acomodo meu corpo em cima do dela, e entrelaçamos os dedos. Levo nossas mãos para acima da cabeça dela e as pressiono no sofá. Em seguida, me inclino como se fosse beijá-la, mas não a beijo. Descobri que gosto de brincar com ela quando estamos nessa posição. Quando meus lábios encostam um pouquinho nos dela, Minjeong fecha os olhos, e eu me afasto. Ela abre os olhos, eu sorrio e me inclino novamente. Assim que ela fecha os olhos, eu me afasto mais uma vez.

— Droga, Jimin! Me dá logo um beijo!

Ela agarra meu rosto e puxa meus lábios contra os dela. Não há nenhum barulho à nossa volta, apenas o som da nossa respiração. Ele aninha o corpo contra o meu e, pela primeira vez em muito tempo, sinto vontade de esquecer todo o resto e apenas ficar aqui.

— Jimin... — ela sussurra, afastando os lábios para me encarar. — Você gosta disso, não é? Desses pequenos momentos?

Fecho os olhos ao sentir sua respiração.

— Gosto.

Solto suas mãos e ela desliza os dedos por meu rosto.

— E disso? — Pergunta ela, com a voz baixa e suave. — De ser tocada sem todo o lance do sexo?

— Gosto.

Me aproximo mais, e ela coloca a outra mão na minha nuca. Seus dedos começam a massagear lentamente a minha pele, fazendo-me inclinar um pouco a cabeça.

— E você gosto disso?

Sim...

A coxa dela roça na minha e nossa respiração está em sintonia.

— Eu gosto disso — confesso, deslizando uma mão por seu pescoço. — Gosto desses momentos apenas apreciando a companhia uma da outra.

— Então, se você deixar — ela começa com a voz suave, puxando minha testa de encontro a sua. A respiração dela acaricia os meus lábios enquanto eu mantenho os olhos fechados. — Eu vou ficar mais um pouquinho assim com você.

Sorrio quando sinto sua boca outra vez na minha. Continuamos nos beijando até a noção das nossas responsabilidades nos obrigar a parar. Minjeong sai de baixo de mim e senta no sofá enquanto me levanto. Olho para ela que está sorrindo e sinto seu sorriso como se fosse em mim.

— Hora de ir trabalhar — ela avisa, e se levanta. — Até hoje à tarde. E não, não precisa me dar carona até o trabalho.

— Tudo bem, mas me mande uma mensagem quando chegar ao café — digo. Ela abre a porta e olha para mim enquanto sai de casa, fechando a porta lentamente.

— Mais uma vez? — pede.

— Eu amo você, Minjeong.

\[...]

Trinta minutos depois estou no estacionamento da Suneung. Assim que entro ouço a voz de Somi, toda a minha tranquilidade se vai e no seu lugar surge uma raiva que não sei se sou capaz de controlar. Não quero mesmo cruzar meu caminho com ela hoje. Vou direto para o meu escritório na esperança de conseguir esse feito, mas infelizmente isso não evita que ela bata na minha porta minutos depois. Fico em silêncio, esperando que ela vá embora.

Mas ela não vai. Somi abre a porta e entra, os olhos fixos em mim.

— Bom dia — ela diz, se aproximando. — Trouxe um café pra você. Com um pouco de açúcar e sem creme, exatamente como você gosta. — Ela coloca o café na minha mesa.

— Obrigada — digo. Ela está com o cabelo solto. Sei exatamente o que está fazendo. Uma vez eu disse que adorava quando ela usava o cabelo desse jeito. Não é nenhuma coincidência ela estar com o cabelo assim hoje.

— Então... eu estava pensando que a gente precisa colocar as novidades em dia. Talvez eu pudesse dar uma passada na sua casa em algum momento.

De jeito nenhum! Até parece! Era o que eu realmente queria dizer.

— Somi, não acho uma boa ideia. — É o que eu termino dizendo.

— Está tudo bem? — Ela pergunta, inclinando-se e passando a ponta dos dedos em minha camisa.

Fecho os olhos e respiro fundo, tentando manter a calma enquanto retiro sua mão de cima de mim.

— Vai ficar — respondo secamente.

— Sem toques, querida? — Ela provoca baixinho se entregando a mim.

Sexo para Somi sempre foi algo fácil, inúmeras vezes a tive aqui mesmo nesse escritório, apoiada na mesa, com suas pernas em volta do meu quadril e metade do uniforme ainda no corpo. Era uma forma de liberar a adrenalina, principalmente depois de um dia cansativo. Uma forma estranha de mascarar nossos sentimentos. Ou a falta deles.

— Somi, escuta bem o que eu vou te falar agora — digo ainda segurando suas mãos e olhando dentro de seus olhos castanhos. — Nunca mais fale comigo da maneira que você falou hoje, entendeu? — Aproximo-me um pouco e ela abre a boca sem acreditar no que digo.

Dá para ver que ficou ofendida.

— Olha, não quero ser mal-educada. É que...

— É por conta daquela garota, não é?

Minha respiração parece ficar presa na garganta.

— O quê?

— Você estava beijando sua aluna em frente ao Coffee Bar há alguns dias. — Ela diz isso como uma afirmação, mas chega aos meus ouvidos como uma pergunta.

Meu coração acelera dentro do peito. Minha mente completamente perdida. Ficamos despreocupadas demais. Ficamos íntimas demais. Cometemos um erro.

— Pela sua reação vejo que é verdade — As palavras saem de sua boca como se fosse algo repulsivo.

— Somi... — Alerto.

Ela ri e meu ódio aumenta.

— Você só pode estar brincando. — Ela se solta e afasta-se caminhando até um da cadeiras e sentando. — Eu até entendo essa sua fase de boa garota, compreendo o trauma que você passou, compreendo tudo — Somi fala dos meus sentimentos como se fossem apenas caprichos de uma garotinha. — Caramba, Jimin, eu estou com você, porra, eu te apoio em tudo, como sempre te apoiei, eu estou aqui, como sempre estive, compreendo que você já passou por momentos difíceis, mas está na hora de parar. — Ela me olha como se eu realmente fosse uma garota rebelde. — Você está passando dos limites, transar com uma aluna é uma coisa, agora entrar um relacionamento sério com ela e tratá-la como se fosse uma de nós...

— Cale a porra da sua boca! — Grito, e ela me olha assustada. — Ela não é igual a nós, ela não é nada parecida conosco, precisaríamos nascer de novo para saber o que é ser uma garota como a Minjeong. Ela é uma das pessoas mais íntegras e bonitas que eu já conheci, e eu estou falando do que ela é como pessoa, do seu coração...

— Eu não acredito! — Ela balança a cabeça, como se eu estivesse delirando. — Deixa Joohyun saber com quem a professora que ela tanto se orgulha está dormindo.

— Você não se atreveria.

— Está com medo de que manche a reputação da sua garota. Kim Minjeong, esse é o nome dela, não é? — Ela cospe a realidade como se fosse algo medonho, algo do qual eu deveria me afastar.

— Como você sabe? — Pergunto e me odeio por expor Minjeong a isso.

— Jimin, meu amor. — Ela se levanta e vem novamente até mim. — Não é tão difícil assim puxar a ficha de uma aluna, basta apenas algumas desculpas e a ficha da sua alunazinha caiu no meu colo. — Ela volta a tocar meu peito com a ponta dos dedos. — Quem poderia imaginar, hein? Quem diria que aquela carinha de boa moça esconderia uma espertinha.

Ela se afasta e passa a mão pelos cabelos arrumando-os no rabo de cavalo que ela sempre faz antes de trabalhar.

— Ela não brinca em serviço, hein? — Somi olha por mim por cima do ombro. — O que garante que ela não tenha te escolhido a dedo? Rica, bonita, bem relacionada... uma idiota facilmente enganável. — Ela se vira e passa por mim, põe a mão na maçaneta e diz: — Não ouse me ameaçar, Jimin, eu posso destruir a sua brincadeira em um estalar de dedos. Mas se você for boazinha e prometer se comportar, eu deixo você brincar de professora e aluna com ela mais um pouquinho, afinal de contas eu preciso admitir, eu adoraria ter ela na minha cama também, de preferência com você junto, ela é muito bonita. A típica bonitinha e ordinária.

Somi abre a porta e sai, permaneço no lugar sem saber o que pensar, ela é uma mulher sem escrúpulos e não consigo imaginar o que possa fazer para prejudicar Minjeong, mas sei que fará.

Esfrego as mãos no rosto sentindo-me repentinamente cansada e então me deixo cair no chão apoiando a cabeça na parede e imaginando uma maneira de proteger Minjeong de pessoas mesquinhas e maldosas como Somi. Se existe alguém no mundo que já sofreu demais, esse alguém é a minha garota. E no que depender de mim ninguém vai machucá-la novamente.

\[...]

Um pouco antes das 8hrs horas acelero minha moto pelas ruas de uma Seul noturna, sentindo o frio de outono contra minha pele enquanto tento reorganizar meus pensamentos. Parece que cada vez que um momento de felicidade aparece, é engolido pelas sombras. A vida não é justa, e eu me sinto uma tola por pensar que devia ser.

O dia de hoje no cursinho foi difícil. Eu sabia que precisava conversar com Minjeong, mas foi impossível fazer isso, uma vez que ela não havia ficado um minuto sozinha. Além disso, eu também estava extremamente ocupada com as questões do trabalho.

Depois de tudo o que aconteceu hoje não consigo relaxar e sei que vou passar uma noite difícil em casa, imaginando todas as coisas horríveis que podem acontecer. Minha cabeça está a mil e a única coisa que consigo pensar é que não consigo lidar com isso sozinha, eu preciso conversar com alguém e sei quem é a única pessoa capaz de me ajudar nesse momento.

Estaciono minha moto na entrada da casa de Yeoreum e salto, tirando o capacete enquanto avanço em direção a porta. Mas antes que eu tenha a oportunidade de tocar a campainha, meu celular começa a vibrar no bolso do blazer e vejo o nome de Minjeong na tela.

Eu não posso ignorá-la, mas definitivamente ainda não posso contar o que está acontecendo. Sei que Minjeong vai ficar preocupada e não quero isso.

— Oi, Minjeong. — Digo quando atendo, recostando-me na parede para poder ouvi-la.

— Está tudo bem?

— Está... — respiro fundo antes de continuar. — Mas acho que não vamos conseguir nos ver hoje.

— O que houve? — Ela pergunta, e posso ouvir pelo seu tom de voz que está preocupada.

— Apenas uma reunião de última hora, a gente se vê amanhã, tudo bem?

— Claro! Você está bem?

— Vou ficar, eu te amo — digo, sentindo meu peito apertar.

— Eu também.

A ligação finaliza e olho para o céu estrelado, pedindo silenciosamente para que ela fique bem, seja lá o que aconteça no futuro.

— O que foi que aconteceu? Espero que não seja uma emergência — Yeoreum reclama quando abre a porta.

— Posso entrar? — Pergunto sentindo-me cansada.

— Droga! É mesmo uma emergência, não é? — Ela diz ao ver minha cara, não me olhei no espelho e tenho certeza de que pareço alguém vindo do inferno porque é exatamente assim que me sinto. Assinto com a cabeça e espero que ela me dê passagem para entrar.

— Olha, eu preciso que você me avise quando vai aparecer aqui, Jimin, você não pode ir chegando e...

— Yeoreum, vamos nos poupar desse assunto, ok? — Digo a ela antes de colocar meu capacete de lado e sentar no sofá. — Eu sei que você e seu namorado estão... — Balanço a mão no ar sem coragem de colocar em palavras. — Enfim, você sabe o quê. Então, por favor, deixa esse assunto para outro dia.

— O que aconteceu? — Ela cruza os braços e me encara com a sobrancelha arqueada. — É mulher, não é? É a sua namorada? Eu sabia que você estava apaixonada — Yeoreum pergunta, mas não respondo. — Olha só, se ela estiver machucando você, eu juro que vou ter uma conversa com ela.

Sorrio porque não consigo acreditar que estou aqui sentada no sofá da casa da minha irmã, enquanto seu namorado dorme em sua cama, ouvindo-a ameaçar Minjeong por ter partido meu coração.

Inclino-me para frente e esfrego o rosto nas mãos.

— Não é nada disso — corto o assunto e vou direto ao ponto.

— Então o assunto é ainda mais sério do que eu imaginava — Ela diz e afasto as mãos do rosto e encaro minha irmã.

— Você não faz ideia.

— E então? — Ela volta a perguntar. — Começe a falar logo, maninha. — Ela parece tão confortável nesse ambiente pessoal, recomeçando a vida ao lado de um cara legal, que por alguns instantes penso em simplesmente me levantar e ir embora.

Mas não é o que faço.

— Yeoreum, eu preciso te contar uma coisa. — Eu começo a falar e, quando ela percebe a gravidade do problema, toda a leveza se esvai de seu rosto. Sinto-me mal por envolvê-la nos meus problemas, mas eu sei que, se existe alguém nesse mundo capaz de me indicar o caminho a se seguir, esse alguém é Yeoreum.

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