20

Winter's pov:

Na tarde de sábado, estou terminando de me arrumar enquanto tento não pensar sobre a ligação que recebi no dia anterior. Em vez de me afogar em um mar de preocupação, decido que aproveitar a tarde com minha namorada é uma opção melhor. Afogar-me em seus braços parece mais promissor.

— Ningning, já chega! Eu não vou para nenhuma festa hoje. — Digo, tentando desviar das investidas da minha amiga, que por alguma razão acha que estou indo para um evento de gala.

— A sua sorte é que você é linda, Minjeong — ela diz enquanto verifica o visual pela quarta vez nos últimos dez minutos. Ela também tem um encontro com o Aeri e quer estar impecável.

— Você também é linda e está perfeita.

As vezes ainda não acredito que vivi para ver minha melhor amiga agindo dessa forma por conta de uma pessoa. Ela está escovando os cabelos e para subitamente, virando-se para mim.

— Aeri me pediu em namoro.

Eu me viro para Ningning, surpresa. Ela não tinha comentado nada sobre isso durante nossas infinitas conversas

— Isso é sério? — murmuro.

— É. — Ela faz uma pausa. — Eu aceitei.

Arregalo os olhos.

— Você está brincando?

Ela não está. Observo sua cabeça pender para o chão e um sorrisinho surgir em seus lábios.

— Ela é diferente, Minjeong. As garotas que ficavam dando em cima de mim só estavam em busca de diversão, e eu compartilhava do pensamento. Mas Aeri quer um relacionamento sério...

Ningning faz uma pausa, relembrando do dia em questão. Sorrio quando vejo a expressão apaixonada em seu rosto.

— Eu fui a um jantar na casa dela. E, depois disso, tivemos um momento superintenso, que deu a sensação de algo sólido, quando senti que realmente estávamos juntas. Senti tanta vontade de fazer parte da vida dela, e ela fez questão de verbalizar isso, e foi tão...

— Lindo? — Termino com uma pergunta no tom de voz.

— É... — Ela diz, pensativa. — Então, você pode ficar chocada, eu também fiquei... Mas realmente quero embarcar nessa com aquela mulher.

Sorrio e assinto com a cabeça. Sua confissão veio de surpresa, mas no fundo, eu sei exatamente como ela se sente.

— Se você está feliz, então tem o meu apoio, Ningning.

Ela dá uma risadinha.

— De qualquer forma, existe uma primeira vez para tudo nessa vida.

Caímos em risadas enquanto terminamos de nos aprontar. Minutos depois saímos em direção ao jardim onde Aeri e Jimin conversam animadamente.

— Somos mesmo duas garotas de muita sorte. — Ningning me dá uma cotovelada enquanto faz uma vistoria minuciosa em sua acompanhante. — Olha só as mulheres que conseguimos fisgar.

Olho para Jimin e não sei como, mas consigo me sentir ainda mais apaixonada do que há cinco minutos. Sinto que estamos caminhando na mesma direção, agora que ela sabe minha história; e mesmo que eu ainda tenha minhas inseguranças, eu confio que ao seu lado eu conseguirei superar cada uma delas. Ela me olha e o seu sorriso se transforma ao me ver, sinto uma explosão de sentimentos surgirem dentro de mim e quando vejo estou sorrindo de volta.

— Olá, garotas! — Ningning cumprimenta cada uma delas antes de segurar o braço em Aeri.

Jimin se aproxima de mim e me beija suavemente nos lábios.

— Oi — ela sussurra em meus lábios antes de se afastar.

— Oi.

— Tchau, Minjeong! — Ningning grita, se afastando enquanto Aeri segura a porta do carro aberta, rindo das loucuras da minha amiga. — Divirta-se, mas lembrem de se hidratar.

— Isso não tem graça! — Grito de volta, mas ela já se foi. Sinto minhas bochechas arderem e Jimin fica tão corada quanto eu.

— Então — Ela estende o braço para mim em uma postura galanteadora e eu aceito. — Aonde minha garota vai me levar?

Sorrio.

— Bom, tem um lugar que eu quero muito conhecer.

\[...]

— Eu não acredito que eu passei dois dias inteiros pensando nos melhores lugares em que poderíamos ir e você acaba escolhendo esse aqui — Jimin diz ao saltar da moto e tirar o capacete.

Estamos no estacionamento do moderno edifício espelhado da SM. Média Group. Ele é lindo, os tons de preto e cinza deixam o lugar com um ar sofisticado.

— Em minha defesa eu preciso te dizer que sua irmã me convidou para fazer uma visita quando fomos jantar na casa dela. — Olho para o alto do prédio e tenho certeza que dali a cidade inteira é resumida a minúsculos pontos luminosos aqui embaixo. — E também tenho certeza que a vista de lá deve ser linda.

Jimin sorri.

— Eu sou obrigada a concordar. — Ela se aproxima de mim lentamente, envolve seus braços em volta de mim e sussurra: — Mas posso saber qual o seu real interesse vindo aqui?

— Bom, eu queria conhecer uma empresa que trabalha na área em que pretendo me formar — Ela se inclina aproximando seu rosto do meu e me puxa para um beijo.

— Porque não me falou antes? Eu poderia ter providenciado isso — ela diz em meus lábios e volta a me beijar. Assim como em todas as vezes que ela me toca em público, seu beijo é lento, suave, gentil, como se apenas precisasse se encaixar, ocupar seu espaço aos poucos sem a necessidade de se aprofundar.

Aos vinte anos, eu só beijei duas mulheres em toda a minha vida. E até o dia em que Jimim me beijou naquele estacionamento do 19th, eu só conhecia uma sensação: a de não ser correspondida. Beijar Minju sempre teve um sabor indiferente, ela me exigia, mas não demonstrava nada, como se eu não significasse nada.

Jimin é diferente. Embora seja uns bons centímetros maior do que eu, seu beijo é leve, é suave, é como flutuar sem ter medo de cair. Sinto-me em uma experiência quase fora do meu corpo, como se eu fosse capaz de nos observar enquanto nos beijamos, ela sempre explora cada canto da minha boca, sem pressão, apenas a sua essência natural fundindo-se com a minha.

— Minjeong... — ela sussurra.

— Oi... — falo ainda de olhos fechados, sentindo o sabor de seus lábios e do beijo que, em minha opinião, terminou cedo demais.

— O que acha de comermos algo?

— Desde que não precisemos sair daqui está ótimo — digo ainda com os braços em volta do seu pescoço, obrigando-a a se manter inclinada para mim.

Ela ri e me abraça.

— Ah, Minjeong. Pode deixar que eu vou providenciar um tour pelos setores que sei que você gostar.

Jimin olha para um dos seguranças, que acena positivamente com a cabeça. Não me surpreende que a maioria dos funcionários a conheçam. Ela segura minha mão enquanto seguimos em direção aos ruídos de vozes abafadas.

Entramos no impressionante café no primeiro andar do prédio, que tem piso claro e polido, janelas que vão do chão ao teto e vários conjuntos de móveis elegantes dispostos de forma intimista. Tudo está perfeitamente arrumado e com um aroma agradável, a única coisa humana são as pessoas transitando e conversando, contrastando com a sombriedade do ambiente, provando que há vida nesse lugar que irradia elegância corporativa e mais parece ter saído de uma revista de decoração.

Jimin guia-me até uma das mesas mais reservadas e dez minutos depois estamos comendo enquanto conversamos sobre coisas triviais: filmes preferidos, estilos musicais, comida, doenças da infância. O tempo parece ter parado, evito olhar para o relógio, não quero saber que horas são, nem o que acontecerá amanhã, quero apenas viver esse momento e tudo o que ele reservou para mim.

— Qual o lugar mais incrível que você já conheceu? — Pergunto, e ela demora para responder.

Fico pensando em quantos lugares ela já percorreu, quantas culturas diferentes, quanta história e quantas experiências ela carrega consigo enquanto eu ainda me sinto emocionada por estar em um lugar como esse.

— O café onde você trabalha — ela responde finalmente.

— Como? — Me sinto um pouco confusa com sua resposta. — Acho que não entendi.

— No dia em que coloquei meus pés naquele lugar e vi você, foi como ter acendido aquela parte do nosso subconsciente onde ficam os nossos sonhos, sabe? — Ela coloca um dedo na cabeça. — Eu me senti exatamente como se estivesse em um sonho. O meu sonho e nenhum lugar no mundo se compara.

Sorrio e me encanto com sua resposta, Jimin não cansa de me surpreender, quando acho que já vi tudo o que ela é capaz de mostrar, ela me surpreende com uma resposta que demonstra o quanto tudo o que temos é importante para ela.

— E você? — Ela pergunta antes de beber mais um gole do seu café.

— Eu não sei, acho que nunca conheci nenhum lugar especial — admito e ela me estende a mão acariciando a minha antes de falar.

— Tenho certeza de que ainda conhecerá muitos lugares incríveis.

Terminamos a nossa refeição enquanto ela fala sobre algumas experiências familiares e quando menos percebo a conversa seguiu por um rumo delicado, mas que ainda assim me interessa. Jimin lança um olhar indecifrável para mim enquanto diz:

— Apesar do status que minha família tem, meus pais nunca foram pessoas pretensiosas. Pelo contrário, eles eram educados e calorosos. Pessoas capazes de te apoiar sempre que fosse possível.

Jimin sorri, mas posso ver a tristeza em seus olhos.

Aperto sua mão, como forma de tentar lhe passar conforto.

— Você sente muita falta deles, não é?

Ela assente com a cabeça.

— Não dormi nada a noite inteira depois do acidente. Não sabia nem como as coisas ficariam à partir dali...

— Nós não precisamos ter essa conversa agora, Jimin — digo em tom gentil.

— Não, está tudo bem. Você já compartilhou tantas coisas sobre a sua vida que sinto a necessidade de fazer o mesmo.

Nós duas suspiramos. Agora não há nenhuma energia no café. É como se um buraco negro tivesse sugado toda a diversão.

— Você sabe o que é viver com arrependimento? — Ela pergunta.

— Não sei se estou acompanhando, Jimin.

Ela respira fundo, inclinando-se para a frente e cruzando as mãos sobre a mesa. Pela expressão em seus olhos, percebo que se lembrou do quão desagradável o seu passado é. Ela fica em silêncio por um tempo, evitando meu olhar.

— Como te falei, eu não estava em Busan... quando aconteceu. Não estava presente quando meus pais morreram.

Respiro fundo e fico em silêncio, em respeito a Jimin, e espero ela continuar. Estou começando a me sentir bem pequena.

— Disseram que o carro foi perda total. Quando a primeira pessoa chegou ao local do acidente já não tinha nada que pudesse ser feito por eles. — Ela limpa a garganta, e eu não digo uma palavra. — Meus pais tinham me convidado para passar o fim de semana com eles dois dias antes do acidente. Estavam com saudades, queriam passar um tempo comigo. Eu recusei o convite. Tinha alguns trabalhos para entregar na faculdade e achei que seria mais produtivo usar o fim de semana para estudar.

Jimin desvia o olhar para a janela. Não diz nada por um tempo; fica apenas observando o estacionamento à medida que ele lentamente se esvazia. Sua mão vai até o rosto, e parece que ela está limpando os olhos. Minha vontade é puxá-la em meus braços e pedir para que pare, mas sei que ela precisa fazer isso.

Depois de um tempo, ela se vira mais uma vez na minha direção.

— Fiquei com ódio de mim. Fiquei com tanta raiva que passei dias em reclusão. Eu tinha escolhido a droga do meu curso em vez da minha própria família. Passei um ano tentando me convencer de que as coisas aconteceram como deveriam. Então conheci você... E quando achei que a vida enfim estava sorrindo para mim, descobri que era minha aluna. Eu sabia que seria difícil manter um relacionamento como esse. Sabia das consequências que isso poderia causar. Mas eu também sabia que precisava ter você na minha vida.

Lentamente, ela segura minha mão sobre a mesa. Olha para mim, que estou com lágrimas nos olhos.

— Passei os últimos meses me questionando se tomei a decisão certa para nós. Mas a verdade é que eu não poderia cometer o mesmo erro uma segunda vez. E quanto ao meu emprego? À minha carreira? À vida que estou tentando construir? Eu levo isso muito a sério. É, sim, algo importante. É muito importante mesmo para mim. Mas jamais irá apagar o significado do que temos, Minjeong.

Ela fica em silêncio, dando um tempo para que eu absorva o que acabou de compartilhar. Mas nesse momento, não há palavras que possam consolá-la. Nada que eu fizer vai apagar essa dor, então, faço a única coisa que posso fazer — eu me levanto de onde estou e sento ao seu lado.

— Jimin... — Ela vira na direção da minha voz. O sorriso triste que ela me dá quase parte meu coração.

— Desculpa por ter estragado o clima agradável da nossa conversa.

Balanço a cabeça e passo meus dedos em seu rosto. Jimin merece mais, muito mais do que o mundo lhe deu. Ela merece a felicidade mais do que qualquer um. Eu odeio o fato de a vida ter sido tão dura para alguém tão boa. Eu odeio que coisas ruins engulam o coração da mulher mais incrível que eu já conheci.

Minhas mãos envolvem seu pescoço e puxo sua boca para a minha, beijando-a de forma casta, sentindo seu sorriso contra os meus lábios.

— Eu te amo — digo, articulando os lábios sem emitir som.

Ela continua sorrindo, e sua mão mergulha carinhosamente em meus cabelos.

— Eu também te amo — Ela diz também só mexendo a boca e sem produzir som.

\[...]

Passamos a maior parte da tarde na SM. Média Group e como prometido, Jimin me leva para um pequeno tour pelos setores de arte e criação, seja para plataformas tradicionais ou digitais. Fico completamente fascinada enquanto exploramos cada ambiente, ouvindo os comentários que cada profissional responsável tem a compartilhar sobre o seu trabalho. Embora isso não seja de total interesse de Jimin, ela não parece entediada ao me acompanhar na minha pequena pesquisa de mercado.

Quando o sol já está se pondo, saímos do edifício e caminhamos até o estacionamento. O clima está agradável. Descobri recentemente que gosto desses momentos sem compromisso já que passam uma sensação de liberdade.

— Então, você não vem mesmo muito a empresa? — Pergunto.

Ela assente com a cabeça.

— Isso. Como você tem acompanhado, minha rotina de trabalho é muito intensa, o que significa que preciso priorizar aquilo que tiver mais urgência no momento. A empresa da família está em boas mãos com minha irmã a frente dos negócios, então geralmente só compareço nas reuniões de acionistas.

Olho para Jimin, que me encara com uma expressão séria. Nem preciso dizer o quanto estou surpresa e encantada com o fato de ela ter tirado o dia para compartilhar detalhes da sua vida comigo.

— Acho que nunca imaginei que teria uma namorada professora e executiva nas horas vagas — comento.

Vendo a expressão no meu rosto, ela sorri de forma travessa e diz:

— Bom, para o seu conhecimento, eu realmente tenho um escritório na diretoria. Se for do seu interesse, podemos marcar uma visita particular qualquer dia desses.

Sinto minha face esquentar, porque sei exatamente do que ela está falando.

— Não sei de onde você tirou que essa presunção toda e atraente... — digo, fingindo indiferença.

Jimin se inclina para trás e coloca a mão no peito.

— Presunçosa? Eu?! De jeito nenhum. Você está perdidamente enganada, Kim Minjeong.

Ela ri de suas palavras — e de mim, que estou revirando os olhos.

— Se você estiver tentando me seduzir, vai precisar se dedicar um pouco mais.

Ela se inclina para mim.

— Ah, é mesmo?

Tento ignorar a intensidade com a qual essas palavras me atingem.

— Então, isso significa que vou precisar usar de todas as armas que tenho a disposição — ela continua quase num sussurro. — Você quer mesmo que eu faça isso?

Sorrio.

— Na verdade, tenho que confessar uma coisa.

Ela olha para mim, relutantemente.

— O quê?

— Estou pedindo silenciosamente para que esse fim de semana demore a passar e tenhamos mais tempo juntas.

Ela sorri para mim, aliviada por ter sido essa a confissão.

— Eu também. Vou até me dispor a ignorar tudo relacionado ao trabalho pelas próximas horas.

Encosto-me na moto e sorrio para ela.

— Ótimo, agora não me sinto tão ridícula.

— Isso não significa que agora você está menos ridícula — ela diz. — Apenas que nós duas somos ridículas. — Ela se aproxima e agarra minha camisa, me puxando para perto. Seus lábios encostam nos meus, e ela sussurra: — Quais são seus planos para a próxima hora?

As palavras fazem minha pulsação disparar e meus braços se arrepiarem. Ela encosta o rosto no meu e sussurra ao meu ouvido:

— Vamos passar um tempinho lá em casa. Fazer uma pequena prévia do que eu estava propondo para fazermos no meu escritório.

Ela nem precisa perguntar duas vezes.

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