19

Winter's pov:

O sol entra pela janela, iluminando o quarto onde passamos a noite. Um sorriso escapa dos meus lábios quando lembro dos seus olhos em mim enquanto estávamos juntas, suas mãos me adorando, sua boca me tocando, nossos corpos juntos em harmonia. Foi perfeito, na verdade foi mais que perfeito. Quando estamos juntas sinto como se todo o resto deixasse de existir e apenas o momento importasse.

Sinto o toque delicado de sua mão em meu quadril, ouço o farfalhar dos lençóis sendo afastados e, em seguida, sinto seus lábios em minhas costelas, subindo por minha barriga, minha clavícula até chegar ao meu pescoço, onde ela salpica vários beijos.

— Não me diga que isso é um sonho — murmuro, ainda de olhos fechados, enquanto sinto seus lábios em minha pele.

— É claro que é um sonho, e não vamos acordar dele nunca. — Jimin me vira de barriga para cima e o que acho impossível acontece. Ela está ainda mais linda.

Seu rosto delicado está iluminado com um sorriso, os olhos, tão castanhos e intensos como se não fossem capaz de estar de outra forma. Os cabelos desmanchados, caindo em seu rosto, profundos tons de castanhos que fazem um contraste perfeito com sua pele.

— Bom dia, Minjeong. — Ela acaricia meus cabelos enquanto me observa.

— Bom dia, Jimin — repito suas palavras e ela me puxa para seu peito, envolvendo-me em um abraço caloroso.

E eu a amo um pouco mais porque sei que por baixo dessa mulher forte e decidida, há uma alma nobre, alguém em quem posso confiar. Amo que tenhamos essa conexão. Amo a maneira com que me encaixo tão bem ali ao seu lado, envolvida por seus braços, sentindo seu coração bater, ouvindo sua voz rouca de quem acabou de acordar. Amo tanto tudo isso que não quero me mover para não estragar o momento.

— Está com fome? — Ela pergunta, passando os dedos em meus cabelos para que possa olhar para mim.

— Estou... — respondo e ela ri, uma risada gostosa que me faz tremer.

— Ótimo, então vamos tomar café da manhã.

Jimin se levanta e meus olhos recaem sobre a tatuagem no lado esquerdo do seu ombro e braço, grande e majestosa, destacando-se em sua pele branca.

— Não canso de olhar para ela. — Estico meus dedos e toco sua pele.

Jimin olha para sua tatuagem como se a tivesse notado apenas nesse instante.

— Significa sabedoria, força e proteção — ela diz.

— É linda. — Me inclino para observá-la melhor.

— Como te falei, meus planos eram apenas acompanhar Giselle, mas quando percebi estava voltando para casa tatuada. — Ela sorri, provavelmente se lembrando do dia.

— Aeri também têm uma? — Pergunto enquanto observo os detalhes do desenho.

— Sim, ela tem. Mas não queira saber onde está.

Caio na gargalhada ao imaginar onde pode estar essa tatuagem. Com certeza, não demorará muito para que eu descubra. Ningning fará questão de me dizer.

— Fique tranquila, professora Ciumenta, não tenho olhos para ninguém além de você. — Deixo um beijo em seu rosto antes de me afastar.

— Obrigada. Agora me sinto muito melhor. — Ela sorri e se levanta, esticando os braços no ar.

Jimin caminha pelo quarto e pega uma camisa social que está jogada em uma poltrona e me acomodo nos travesseiros, que mais parecem nuvens, para apreciar a beleza que é vê-la ao acordar. Ela olha sobre o ombro para mim e pisca, ciente de que está fazendo um estrago em meus nervos ao se mover dessa forma lenta e feminina. Abre a porta do banheiro e desaparece de vista.

Fico ali pelo que parece uma eternidade até Jimin voltar para o quarto, vestindo apenas a peça de roupa que pegou e secando os cabelos úmidos com uma toalha. Ela abre o guarda-roupa e remexe nos cabides até pegar uma camisa e volta para a cama com ela nas mãos.

— Vista isso, você não pode andar nua por aí. — Ela me estende a peça como se eu não tivesse outra opção.

— Se não me engano eu tenho roupas em condições de uso aqui, Jimin. — Devolvo-lhe a camisa e me levanto puxando o lençol junto comigo.

— Minjeong — ela me chama daquele jeito que faz meu coração errar uma batida e se inclina, dizendo em meu ouvido: — Não me faça implorar. — Ela coloca a camisa novamente em minhas mãos e se afasta. — Eu quero vê-la usando algo meu. — Ela sai pela porta em direção à cozinha.

Quando tenho certeza de que estou sozinha deixo o lençol cair e entro no banheiro. Tomo um banho rápido, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo. Quando saio, visto sua camisa e como imaginei fica enorme. Eu poderia estar usando o lençol que não faria diferença, mas como ela pediu, quase implorou, eu a visto e dobro as mangas para que eu possa me mover.

Ao sair do quarto e descer até a cozinha, encontro Jimin preparando o café a manhã enquanto cantarola baixinho uma canção. Ao me ver, ela me olha como se eu estivesse vestida com o mais belo vestido de festa.

— Linda...

Meu rosto se aquece com essa simples palavra. Não. Na verdade, meu corpo inteiro se aquece e vou até ela, puxando-a para um beijo.

— Satisfeita, professora?

— Melhor que isso, só se você não estiver usando nada. — Sua voz sai mais rouca que o normal, ela me puxa pela cintura para mais um beijo e me dá um dos seus sorrisos perfeitos.

— Adoro essa pintinha — confesso enquanto acaricio seu queixo.

— Eu sei — ela diz em um tom de voz convencido.

— Sabe?

— Ah, sim — Ela diz e beija meu pescoço, fazendo com que eu me desconcentre. — Você deixou isso nítido.

— Eu? — Ignoro o arrepio que seu beijo me causa quando seus lábios tocam a parte sensível atrás da minha orelha. — Você só pode estar sonhando.

— Acredite, eu não estou. — Ela sorri enquanto me levanta e me senta no balcão como se eu fosse uma garotinha. — Acho que... foi na primeira vez que saímos juntas. — Um sorriso debochado surge em seus lábios e minha boca se abre.

— Mentirosa! — Dou um tapa em seu ombro e ela ri. — Eu me lembraria se tivesse feito isso.

— Você fez, Minjeong. — Ela contorna o meu rosto com seus dedos, como se estivesse gravando-o em sua memória. — Foi no dia em que fui buscar você na sua casa para o nosso primeiro encontro. — Ela diz, segurando meu queixo na ponta dos dedos. — Enquanto estávamos conversando, eu percebi a forma como você me olhava e isso me fez repensar várias coisas na minha vida.

Sorrio, lembrando daquele dia tanto tempo atrás.

— Você já estava nos meus pensamentos antes mesmo de termos alguma coisa. Sua boca linda, pequena, rosada. Como eu queria beijar a sua boca. — Seus dedos passam por meus lábios desenhando seu contorno.

— Você pode beijá-la agora — digo, e ela me beija lentamente.

— Isso nunca tinha acontecido comigo antes... Essa conexão que temos — Ela se inclina e deixa um beijo na minha testa antes de continuar: — Eu amo você, Minjeong.

Jimin tem uma capacidade ímpar de falar o que sente, todos os seus sentimentos estão expostos para mim quando estamos juntas, sinto o peso de cada uma de suas palavras porque sei que são verdadeiras. Eu posso senti-las. Mas as vezes me pergunto se vou ser capaz de sustentá-las.

— Você sabe quem sou — digo olhando em seus olhos. — Sabe o passado que carrego nas minhas costas, não vim de lugar nenhum, não sei se tenho algo para te oferecer. Para merecer tudo isso.

— Como não? — Ela diz em tom firme. — Você tem isso aqui. — Ela espalma sua mão em meu coração. — E para mim já basta.

— Então sou sua.

Ela se inclina e me beija. Sinto como se o ar houvesse fugido dos meus pulmões, meus olhos se fecham e meus lábios se perdem nos seus. Estou vivendo um sonho e gostaria de nunca acordar dele, mas então me lembro da nossa realidade e torço silenciosamente para que tudo fique bem no final.

\[...]

Jimin para a moto na frente do café, ainda é cedo, mas ela tem uma reunião e precisamos sair de casa antes do meu horário. Coloco meu capacete de lado enquanto ela salta da moto.

— Minjeong... — Sua expressão de repente está séria e ela me olha como se tivesse algo muito importante para dizer.

— Oi. — Ajeito a gola de sua camisa, deixo um beijo rápido em seu queixo e me afasto. — O que foi?

— Estou triste — Ela diz ainda com seus olhos fixos em mim. Acaricio seu rosto evitando bagunçar seu cabelo. — Queria que pelo menos tivéssemos oportunidade de nos ver fora do horário de aula no cursinho. Nunca ficamos juntas por muito tempo sem que eu tenha que correr de volta para o trabalho.

Seria de se esperar que, por nos encontrarmos em vários momentos durante o dia, tivéssemos todo o tempo do mundo para ficar juntas. Mas não é o caso. Nas últimas semanas, Jimin tem andado bem ocupada com o trabalho na Suneung. E quando estamos em casa, ela ainda não consegue se livrar totalmente disso, e eu, passo um bom tempo estudando para o exame nacional. Quando essa fase mais intensa do cronograma acabar, as coisas devem melhorar. Mas no momento, a única coisa que não temos é muito tempo livre para nós.

— Vamos dar um jeito — digo. — Sempre damos um jeito.

Jimin puxa meu rosto e me beija. Já faz mais de um mês que a beijo todos os dias e continuo achando cada vez melhor.

— É melhor eu ir — ela diz finalmente. — Preciso chegar cedo e ir à minha sala para finalizar o material da reunião. Também quero ver como está o edital da Yonsei, já que pretende cursar arte gráfica nela.

Nós rimos disso agora, mas em alguns meses será nossa realidade. É uma ideia que me deixa ansiosa.

— Espere. Antes de você ir... acha que vai conseguir estar livre amanhã à tarde?

Ela revira os olhos.

— Nem que eu precise trabalhar até tarde da noite hoje, vou conseguir fazer isso.

— Ótimo. Passe na minha casa às 16h.

Ela se anima e sorri.

— Está querendo um encontro de verdade comigo, é?

Assinto com a cabeça.

— Bem, você é péssima com essas coisas. Às vezes, uma mulher prefere que a namorada pergunte se ela quer sair, e não que ela simplesmente diga quando é o encontro. — Ela está tentando dar uma de difícil, o que é inútil, pois já é minha. Entro na brincadeira mesmo assim. Eu levo a mão ao peito e faço uma mensura, olhando em seus olhos.

— Yu Jimin, você me dá a honra de me acompanhar num encontro amanhã à tarde?

Ela se recosta na moto e desvia o olhar.

— Não sei, estou meio ocupada. Vou ver minha agenda e depois aviso. — Jimin tenta parecer entediada, mas um sorriso irrompe em seu rosto. Ela se inclina para a frente e me abraça; eu apoio minhas mãos em seus ombros e olho para ela, rindo.

— Pare de fazer graça.

— Está bem. Passo na sua casa às 16h.

Afasto o cabelo de seus olhos e passo o dedo em sua bochecha.

— Eu amo você, Jimin.

— Também amo você. — Ela diz, beijando meus lábios suavemente.

Envolvo meus braços em seu pescoço enquanto aprecio um pouco mais a sua companhia, Jimin deita a cabeça em meu ombro, parecendo ter o mesmo pensamento. Permanecemos assim por algum tempo até que uma batida forte ao lado da moto chama nossa atenção e Jimin se afasta, soltando-me.

— Olha a pornografia gratuita a essa hora da manhã, garotas! — Ningning diz na frente da moto, gargalhando.

— Acho melhor você ir — digo ao me afastar, ela pega o capacete e monta na moto enquanto Ningning entra no café segurando a porta aberta. — A gente se vê mais tarde. — Me inclino e beijo-a mais uma vez.

— A gente se vê. — Ela sai com a moto e observo minha professora deixar para trás meu coração remendado e cheio de esperança.

— Você teve uma manhã perfeita, né? — Ningning passa o braço por meu ombro quando entro no restaurante.

— Como você sabe? — Pergunto olhando para ela assustada com sua mania de fazer coisas estranhas.

— Minjeong, eu tenho um detector para essas coisas embutido aqui dentro. — Ela aponta para a cabeça. — Vamos ter uma conversinha depois. — Ela pisca para mim e sai na frente, trazendo alegria ao meu dia que mal começou.

\[...]

Passo o dia inteiro sorrindo, ao meu lado uma também sorridente Ningning cantarola e assim as horas voam como em um passe de mágica. Minha amiga está ainda mais agitada que o normal, se é que isso é possível, ela não para de falar o dia inteiro sobre a maravilhosa noite que passou com Aeri e o quanto ela está apaixonada.

— Você... Apaixonada? — Pergunto sem acreditar. — O que aconteceu com a garota que gosta de curtir a vida?

Ela está reluzindo, seus olhos brilham, seu sorriso é contagiante e eu começo a temer estar tão ridícula quanto ela.

— Minjeong, se a sua professora for tão incrível quanto a minha contadora... — Ningning respira fundo, balanço a cabeça, sorrindo, enquanto ela fala sobre o quanto Aeri é... boa.

Sinceramente, quando me mudei para Seul eu jamais imaginei que um cenário como esse fosse possível. Eu jamais imaginei que minha vida tomaria rumos tão arriscados. E, principalmente, eu jamais imaginei que estaria disposta a seguir cada um deles.

— Winter — Ningning me chama. — Onde fica a tatuagem da Jimin?

— No ombro — digo rapidamente antes que ela comece com as insinuações.

— No ombro? — Ela repete desanimada como se esperasse ouvir algo imoral.

— É. No ombro, e a da Aeri? — Pergunto de forma despretensiosa.

— No quadril — ela responde e me lança um olhar travesso. — E minha nossa... que tatuagem.

Caímos em risadas enquanto compartilhamos informações sobre as tatuagens das nossas “garotas”, me sinto um pouco mau por estar curiosa com as coisas que ela me diz, mas não tem como evitar. Ningning é o tipo de pessoa que ao descrever um prato de arroz com ovo é capaz de nos deixar com água na boca. Imagine ao falar de uma mulher como Aeri?

Logo estamos nos preparando para ir embora e, enquanto Ningning troca algumas farpas com Sunghoon, eu pego meu celular que está vibrando no bolso da calça e vejo que o nome da minha mãe aparece na tela.

Taeyeon andou quieta na última semana, o que normalmente significa que esteve bem ocupada com o trabalho. Como descobri nos meus anos de convívio com ela, a vida de médico não é tão simples quanto pensei. Minha mãe tem uma agenda regrada a palestras, congressos, o hospital, jantares de reunião e, sempre que possível, eu. Quando atendo, sinto um pouco de paz ao escutar sua voz familiar.

— Espero não estar te atrapalhando — ela diz do outro lado da linha. — Sei que nesse horário você costuma estar trabalhando, mas eu estava com saudades da minha filha.

Sorrio.

— Você está com sorte, mãe. Sua filha acabou de encerrar o turno e está a disposição para conversar.

Escuto sua risada baixa.

— Então, como estão as coisas em Seul?

— Estão agitadas — digo com voz baixa. — Com essa coisa do cursinho e o trabalho no café.

Deixo que minha mãe fique ciente da minha rotina de estudos, por que prefiro compartilhar essas informações a contar o que está acontecendo no âmbito emocional da minha vida. Ela não pode saber dessa parte. O fato de que estou namorando com minha professora não é algo para se conversar com minha mãe no momento.

— Como andam as aulas? — Ela pergunta.

— Ótimas — respondo. — Os professores são reconhecidos pela alta taxa de aprovação de alunos no exame nacional. É ótimo conhecer pessoas que de fato são qualificadas e conhecem a melhor forma de aplicar isso.

— Fico feliz por isso — ela diz em tom gentil. — Já foi difícil o bastante não poder te auxiliar com a mudança, imagina se não estivesse gostando do seu cursinho.

— E como andam as coisas por aí? — Interrompo, sentando-me em um banco nos jardins e tentando não pensar em tudo o que envolve essa questão da minha vida.

— Está tudo bem aqui em casa — minha mãe diz. — As coisas ainda estão um pouco agitadas no hospital, mas estou conseguindo tirar um tempo para mim.

Respiro fundo e encaro o céu ensolarado. Sei que ela espera que eu comente mais alguma coisa, mas não consigo. Lembrar de casa inevitavelmente me trás algumas recordações indesejadas. O silêncio cresce, até que minha mãe finalmente o quebra.

— Na verdade, estou pensando em ir a Seul em breve — ela diz, deixando-me completamente surpresa.

— O quê?

— Ainda não decidi nada, porque preciso ver o cronograma do hospital. Mas assim que conseguir alguns dias de folga irei fazer uma visita.

Eu não respondo porque não sei o que dizer.

— Agora eu preciso ir, está bem? — Minha mãe diz. — Só liguei porque queria matar um pouco a saudade, mas preciso voltar ao trabalho.

Depois que ela desliga, deixo minha mão cair ao lado do corpo enquanto sinto meu coração acelerar diante do futuro iminente.

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